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Princípios Gerais e Objetivos Gerais da Lei de Bases do Sistema Educativo

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO E METODOLÓGICO

CAPÍTULO 1 – Discurso Oficial Orientador da Prática Pedagógica

1.1. Princípios Gerais e Objetivos Gerais da Lei de Bases do Sistema Educativo

A Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE) veio assegurar, no ano de 1986, as diretrizes essenciais do sistema educativo português, garantindo o direito à educação e à cultura a todos os membros da sociedade. A primeira etapa da educação básica deve iniciar-se com a educação PE, a crianças a partir dos três anos de idade, de acordo com a Lei-Quadro (Lei n.º 5/97, de 10 de fevereiro).

De acordo com a LBSE, a educação deve ser ministrada através de um conjunto de estruturas e ações variadas, desenvolvidas por instituições ou entidades de caráter público, particular ou cooperativo.

Segundo Dinis (1994), a LBSE envolve um conjunto de finalidades: “cultural, personalizadora, socializadora, produtiva, igualizadora” (p. 9). Mas acima de tudo, a autora defende que todas elas divergem para uma “finalidade última: um novo cidadão” (p. 9).

Através de um conjunto de meios potenciadores, isto é, de “meios próprios que determinam as situações de aprendizagem” (Dinis, 1994, p. 8) a LBSE pretende o “desenvolvimento pleno e harmonioso da personalidade” e do caráter de indivíduos

R E L A T Ó R I O D E E S T Á G I O D E M E S T R A D O | P á g i n a 6 “livres, responsáveis, autónomos e solidários”, assegurando a igualdade de oportunidades de acesso e o sucesso escolar, promovendo uma adequação às necessidades decorrentes da realidade social (ME, 1986).

Além disso, a educação deve proporcionar o desenvolvimento do “espírito democrático e pluralista, respeitador dos outros e das suas ideias, aberto ao diálogo e à livre troca de opiniões” (Patrício, 1994, p. 12), de forma a criar cidadãos críticos e criativos em relação ao meio e à sua formação.

No que concerne à organização geral, além da educação PE, o sistema educativo português compreende, segundo a LBSE, o ensino básico, secundário e superior, e a educação extraescolar, que incluem atividades formais ou informais de aperfeiçoamento. Contudo, Dinis (1994) afirma que a ação educativa deverá ter um caráter contínuo e permanente em relação às estruturas e funções da educação, seja ela escolar ou extraescolar.

1.2. Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar

As Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar (OCEPE) surgem em agosto de 1997, como um documento orientador ao processo educativo a desenvolver por parte do educador para com as crianças. Em 2016 surge uma revisão das antigas orientações, após realizadas as atualizações necessárias que decorreram depois de 20 anos de prática.

A elaboração deste documento afigurou-se num quadro de referência para educadores de infância, dado que este define os conteúdos de aprendizagem a abordar na fase da educação PE. Além disso, Ludovico (2007) afirma que o documento surgiu também com o objetivo de “apoiar os educadores de infância a exercer as suas competências de uma forma mais adequada e criteriosa” (p. 34).

No entanto, as OCEPE (Silva, 2016) não devem ser olhadas como um programa, mas sim como “um conjunto articulado de princípios que permitam ao educador fundamentar as decisões da sua prática, isto é, destinam-se a apoiar o planeamento e a avaliação do processo educativo a desenvolver com as crianças” (Silva, 1996, citado por Ludovico, 2007, p. 35). Assim sendo, as orientações também se diferem da perspetiva de currículo, dado que assumem um caráter mais geral e flexível, permitindo fundamentar as variadas opções educativas.

Segundo Oliveira-Formosinho et al. (2007), “ a definição das orientações curriculares para a educação pré-escolar foi uma consequência lógica desta integração progressiva da educação pré-escolar no Sistema Nacional de Educação” (p. 9) e denota a importância da frequência de crianças na pré-escola, no sentido que nela “se desenvolvem competências e destrezas, se aprendem normas e valores, se promovem atitudes úteis para o desenvolvimento de crianças, para a sua inserção social, para o seu sucesso na escola e para a sua cidadania presente e futura” (Oliveira-Formosinho et al., 2007, p. 9).

De acordo com o Ministério da Educação (ME), a educação é um processo essencial ao desenvolvimento humano e social em todas as fases da vida, mas destaca a fase inicial, até aos seis anos, como o momento que merece mais atenção. Neste período crítico, desenvolvem-se atitudes e valores estruturantes para aprendizagens futuras. Apesar da Lei-Quadro da Educação Pré-Escolar e da LBSE não contemplar a educação antes dos três anos, as OCEPE (Silva, 2016) reconhecem esse direito, sendo que se devem reger pelos mesmos princípios e fundamentos.

Nas OCEPE (silva, 2016) é defendida a Educação PE como o modelo para todo o sistema educativo, devido à articulação do currículo. Neste nível, pretende-se a gestão flexível dos espaços e a participação ativa das crianças nas suas aprendizagens, gerindo projetos, experienciando e integrando as suas vivências.

Segundo o Silva (2016), o educador deve reconhecer a criança como um ser único, em relação às suas caraterísticas, necessidades e interesses, e proporcionar oportunidades de aprendizagem. Além disso, ela deve ser encarada como o sujeito e o agente do processo educativo, pelo que o educador deve valorizar as suas opiniões, experiências e valores. Deste modo, deverá ser dada uma educação de qualidade a todas as crianças, através da adoção de práticas educativas diversificadas que permitam à criança desenvolver um sentido de segurança, autoestima e inclusão. Brincando, explorando e descobrindo, as crianças deverão desenvolver competências globalizantes e transversais a todas as áreas. As OCEPE (Silva, 2016) alertam ainda para a necessidade da intencionalidade educativa da ação profissional. Através do ciclo – observar, planear, agir e avaliar – os educadores devem tomar decisões em relação à sua ação, de forma a adequá-la ao grupo e ao contexto.

Por fim, estas orientações apontam algumas recomendações no que concerne à organização do espaço educativo, sendo este facilitador do processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças. São apresentadas três Áreas de Conteúdo: a Área de Formação Pessoal e Social; a Área de Expressão e Comunicação, na qual se inserem os

R E L A T Ó R I O D E E S T Á G I O D E M E S T R A D O | P á g i n a 8 domínios da Educação Física, da Educação Artística, da Linguagem Oral e Abordagem à Escrita, e da Matemática; e a Área do Conhecimento do Mundo.

Importa salientar que a Educação Pré-Escolar deve dar continuidade a um processo de desenvolvimento e aprendizagem ocorrido no meio familiar ou numa instituição. Além disso deve ser assegurado que as crianças transitem com sucesso para o 1.º ciclo e é esperado que neste ciclo sejam realizadas aprendizagens contínuas àquelas já ocorridas na Educação Pré-Escolar.