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Princípios institucionais do Ministério Público

O Ministério Público está inscrito no capítulo da CF/88 que trata das funções essenciais à Justiça. O instituto desvinculou-se da composição dos chamados Poderes do Estado, ganhando dessa maneira autonomia, sendo que tanto os Promotores de Justiça como os Procuradores, sejam na esfera estadual ou federal, cumprem importante papel na defesa da população e no cumprimento da ordem jurídica no país.

A partir da CF/88, o Ministério Público ganhou autonomia e passou a desenvolver um papel importante junto ao funcionamento do Sistema de Administração da Justiça. Ou seja, o Sistema de Administração da Justiça é composto pelo Poder Judiciário, pelo Ministério Público e pela Advocacia. Tais instituições são independentes, sendo que cabe a cada uma delas exercer o papel que a CF/88 determinou. Ocorre que, num certo ponto elas se unificam para um único sentido, com o objetivo de garantir o acesso de uma maneira justa à ordem jurídica (RIBEIRO, 2010).

No Sistema de Administração da Justiça o Ministério Público cumpre importante papel. Nesse sentido, Luiz Werneck Vianna e Marcelo Burgos (apud RIBEIRO, 2010, p. 165) afirmam que cabe ao Ministério Público: “a representação funcional dos interesses estratégicos da sociedade brasileira.”

Desse modo, segundo Ribeiro (2010), o Ministério Público, diante da sua missão institucional, atua em diferentes frentes e o Poder Judiciário acaba sendo um espaço excepcional dessa atuação. Por tais razões e considerando a indispensabilidade para a construção do projeto democrático, onde a Carta Magna de 1988 define o Órgão Ministerial como instituição permanente, é o que resulta o seu caráter de cláusula pétrea.

Por tais motivos, a CF/88 estabeleceu princípios para a instituição e enumera-os no art. 127, parágrafo primeiro. São eles o princípio da indivisibilidade, da unidade e da independência funcional. Tais princípios regem a organização da Instituição e definem como o Ministério Público deve agir.

2.2.1 Princípio da autonomia institucional

Segundo Ribeiro (2010), a autonomia que a CF/88 instituiu ao Ministério Público foi consequência da complexificação social e democrática que se acelerou a partir da metade do século XIX. A autonomia institucional aparta qualquer vínculo que exista de subordinação hierárquica entre o Órgão Ministerial e as outras instituições que compõem os Poderes do Estado.

2.2.2 Princípio da unidade e da indivisibilidade

Para Ribeiro (2010), o princípio da unidade conforma a estrutura administrativa do Órgão Ministerial, sendo órgão único, composto por Promotores de Justiça sob a direção do Procurador Geral de Justiça.

Ocorre que, com o passar do tempo, a visão que era meramente estrutural desse princípio, sendo que se em algum momento foi pertinente para a evolução histórica do Ministério Público, hoje é insuficiente. Isso porque nos dias atuais tomou uma conotação política, indo além dos aspectos estruturais que até os dias de hoje integram o seu conteúdo, passando a informar e orientar a atuação político-institucional (RIBEIRO, 2010).

Quando se fala em unidade, está se afirmando que o Ministério Público deve ser visto como uma instituição única, sendo que sua divisão é apenas funcional. Não se cogita um Promotor substituir o outro, mas sim que vai representar o Órgão Ministerial. A unidade se encontra no órgão e não na pessoa que exerce a função.

A propósito, Mendes, Coelho e Branco (2008, p. 994) se manifestam sobre o tema, enfatizando que:

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O princípio da unidade significa, basicamente, que os promotores, os procuradores, integrem um só órgão, sob a direção de um só chefe. A indivisibilidade significa que os integrantes da carreira podem ser substituídos uns pelos outros, desde que da mesma carreira, segundo as prescrições legais. Consequências práticas importantes podem ser deduzidas desses princípios. O princípio da independência funcional torna cada membro do Parquet vinculado apenas à sua consciência jurídica, quando se trata de assunto relacionado com a sua atividade funcional. A partir do princípio da independência funcional, e tendo em mira resguardá-lo, veio a ser deduzida a doutrina do promotor natural, como meio de defesa do membro do Ministério Público até mesmo em face do chefe da Instituição. Foi o que ensinou o Supremo Tribunal Federal no HC 67.759/RJ, ao dizer que “esse princípio (do promotor natural) consagra uma garantia de ordem jurídica destinada tanto a proteger o membro do Ministério Público, na medida em que lhe assegura o exercício pleno e independente do seu ofício, quanto a tutelar a própria coletividade, a quem se reconhece o direito de ver atuando, em quaisquer causas, apenas o Promotor cuja intervenção se justifique a partir de critérios abstratos e pré-determinados, estabelecidos em lei. A matriz constitucional desse princípio assenta-se nas cláusulas da independência funcional e da inamovibilidade dos membros da Instituição.

Isso reforça a importância que a CF/88 deferiu ao Ministério Público enquanto entidade que tem um caráter essencial para a Justiça.

A conotação do princípio da indivisibilidade é meramente procedimento processual. Ou seja, como o Ministério Público é uma instituição uma, os Promotores podem ser substituídos no mesmo processo por outro colega sem que isso cause prejuízo para o exercício das funções institucionais que norteiam a instituição. Em outras palavras, quem figura no pólo ativo dos processos e procedimentos é o Ministério Público e não a pessoa física, o Promotor de Justiça, sendo que este apenas representa a Instituição (RIBEIRO, 2010).

Além dos princípios acima trabalhados, Ribeiro (2010) ressalta que a Carta Magna de 1988 incumbiu ao Parquet a defesa da democracia. Essa democracia é social, econômica e participativa. Isso significa a implementação de políticas públicas que promovam a erradicação da pobreza, reduzindo as desigualdades sociais, ou seja, materializando os direitos fundamentais.

Depreende-se daí que o Promotor de Justiça deve estar atento às mudanças que ocorrem na sociedade e, principalmente, se o Poder Executivo está cumprindo com os programas de governo, se realmente está atendendo às demandas sociais e utilizando-se dos meios inerentes à sua função para realizar seus objetivos.

Com efeito, o Ministério Público como defensor do povo, encontra-se vinculado a este projeto, tanto na defesa da ordem jurídica e dos interesses sociais e individuais, competindo- lhe interpretar e aplicar o direito (RIBEIRO, 2010).

Bernardo Strobel Guimarães (apud RIBEIRO, 2010, p. 383) observa que o Órgão Ministerial deixou de ter atribuições relativas apenas às causas penais e passou a exercer o papel de defensor da cidadania, incluindo-se nessa defesa, os interesses difusos e indisponíveis, ou seja, aqueles interesses que “não são imputados a uma esfera jurídica específica e, portanto, vão além das formas de tutela compreendidas no conceito de direito subjetivo.”

Salienta-se que a CF/88 deixa transparecer de forma muito clara que o Ministério Público é uma Instituição – garantia, redesenhando a construção de um novo Ministério Público, pois seu objetivo é o de instituir uma garantia ao povo. Ou seja, a garantia de que os Promotores de Justiça sempre enfrentam vários setores da sociedade, que praticam atos ilícitos, e precisam fazer cumprir com o determinado na Constituição Federal. Efetivamente, o Órgão Ministerial é uma instituição voltada à defesa da cidadania e dos interesses da sociedade. Dessa forma, Ribeiro (2010) afirma que a sociedade precisa de agentes que representam o povo, no caso o Ministério Público, instituição livre de pressões políticas e econômicas, para que possam atuar seguros no cumprimento da lei e da estratégia institucional.

2.2.3 Princípio da independência funcional

O objetivo desde princípio visa a garantir ao Promotor de Justiça o exercício independente de suas atribuições funcionais, tornando-o imune às pressões externas (agentes do poderes do Estado e poderes econômicos) e internas (administração superior). Por tal princípio entende-se que na estrutura organizacional não existe hierarquia (RIBEIRO, 2010).

Tudo isso remete ao juízo de convicção que cada Promotor de Justiça possui, podendo agir de forma livre em suas atividades, sem estar hierarquicamente submetido aos Procuradores Gerais no que diz respeito a suas convicções. “Os membros do MP não se submetem a qualquer poder hierárquico no exercício de seu mister, podendo agir no processo, da maneira que melhor entender” (LENZA, 2010, p. 174).

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Segundo Lenza (2010), a hierarquia que existe no Ministério Público refere-se às questões meramente administrativas, estruturais da carreira, do serviço em si, mas nunca diz respeito ao juízo de convencimento que o Promotor faz em relação ao processo em que atua.

2.2.4 Princípio do promotor natural

Ribeiro (2010) afirma que este princípio é uma garantia que o cidadão possui de que vai ser julgado por um órgão independente do Estado. Este princípio encontra respaldo no art. 5º, inciso LIII, da Carta Magna de 1988, que assegura: “que ninguém vai ser processado nem sentenciado senão pela autoridade competente.”

O princípio do promotor natural consagra quatro aspectos, os quais são apresentados a seguir por Ribeiro (2010):

a) aspecto social: garante à sociedade um porta-voz na defesa dos seus interesses, sendo que

este agente está imune à imposição da Administração Superior;

b) aspecto individual: cada cidadão tem o direito de ser investigado, processado em Juízo

ou em procedimento administrativo, por membro do Ministério Público;

c) aspecto institucional: veda a interferência ilegítima de órgãos superiores nos órgãos de

execução;

d) aspecto funcional: o Promotor de Justiça tem assegurado o exercício pleno e

independente de suas funções.

Tal princípio acaba por consagrar uma garantia de ordem jurídica, reservada tanto a proteger o Promotor de Justiça, na medida em que lhe assegura o exercício pleno e independente de seu ofício, quanto a tutelar a própria coletividade (RIBEIRO, 2010).

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