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3 APRESENTANDO OS CAMINHOS (MÉTODOS)

3.1 PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

Tão importante quanto chegar a algum lugar é conhecer os caminhos percorridos. Considerando que nosso objetivo de estudo foi investigar e analisar o processo de inclusão de alunos com NEEs nos diferentes espaços-tempos da/na escola, sob a perspectiva do aluno com ênfase na Educação Física, optamos pela ―estrada‖ da pesquisa de campo qualitativa, com características etnográficas, valendo-nos de estudos de caso e da observação participante.

O estudo de caso etnográfico pode contribuir para uma investigação sistemática das situações do cotidiano escolar. De acordo com André (2007, p. 49), ―O estudo de caso etnográfico possibilita uma visão profunda e ao mesmo tempo ampla e integrada de uma unidade complexa [...], permite a descoberta de aspectos novos ou pouco conhecidos do problema estudado‖.

Yin (apud ANDRÉ, 2005, p. 51) aponta três pontos para justificar a presença do estudo de caso etnográfico em uma pesquisa, os quais se identificam na proposta de estudo do presente trabalho. São eles:

[...] (1) as perguntas das pesquisas forem do tipo ‗como‘ e ‗por que‘; (2) quando o pesquisador tiver pouco controle sobre aquilo que acontece ou que pode acontecer; e (3) quando o foco de interesse for um fenômeno contemporâneo que esteja numa situação de vida real.

Os pontos citados acima estão presentes neste estudo, já que nossa principal indagação foi: como ocorre o processo de inclusão no cotidiano escolar de alunos com NEEs nos diferentes espaços-tempos da escola?, entre outras questões que nos levaram a realizar esta pesquisa. Trata-se, portanto, de um estudo de caso do tipo etnográfico e de caráter interpretativo, pois

Uma investigação que assume o formato de estudo de caso, no quadro de uma perspectiva interpretativa e crítica e que se centra

nos fenômenos simbólicos e culturais das dinâmicas de ação no contexto organizacional da escola é um estudo de caso etnográfico (SARMENTO, 2003, p. 152, grifos do autor).

A pesquisa qualitativa em educação tem como enfoque a perspectiva interpretativa que permite perceber os problemas, as angústias, as conquistas reais, uma vez que o pesquisador se encontra inserido e atuante no universo de determinada realidade social.

Aproximamos-nos da etnometodologia pois esta ―[...] tem como preocupação central o estudo dos métodos empregados por membros na produção da realidade na vida cotidiana‖ (FLICK, 2004, p. 36), entendendo-a como uma realidade endógena das ações locais do contexto estudado, com grande interesse nas interações. Além disso, ―enxerga‖ a escola como um espaço dialético, de construção social, estando, assim, em consonância com a perspectiva histórico-cultural.

Segundo André (2005), as pesquisas sobre o cotidiano escolar no Brasil ganharam popularidade na década de 1980. Os primeiros trabalhos apresentavam muitos problemas e fragilidades do ponto de vista teórico e metodológico. Por isso a necessidade de se ter cuidado, no que diz respeito à diferença da etnografia no campo da Sociologia (descrição cultural feita pelos antropólogos) e dos pesquisadores da educação.

Daí também a advertência da autora para o fato de que, em educação, os estudos têm características etnográficas apenas, não caracterizando uma etnografia propriamente dita. Para a mesma autora, as pesquisas sobre cotidiano da escola são uma forma privilegiada de compreender e refletir sobre a prática escolar.

Ezpeleta e Rockwell (1989), baseadas na teoria do cotidiano de Agnes Heller, falam sobre a necessidade de percebermos a dimensão da vida cotidiana, objetivando principalmente documentar sua diversidade. A heterogeneidade caracteriza as atividades da vida cotidiana e somente na vida cotidiana os homens se apropriam dos usos e costumes produzidos na história e com a história. É no contexto cotidiano que as contradições, as ambiguidades, os paradoxos, as necessidades, as rotinas, os conflitos se videnciam como viés da vida social. A escola não pode ser entendida

apenas como o lugar onde as crianças aprendem, e sim como um espaço que reflete a dinâmica social como um todo.

Ao discorrer sobre a pesquisa no cotidiano, essas mesmas autoras inferem que não se trata de simplesmente ―analisar‖ o cotidiano, com descrições que se encerrem em si mesmas, ou que tenham um cunho exemplificador, mas que esses estudos têm como ―[...] desafio apreender analiticamente o que a vida cotidiana reúne‖, mas é preciso também que se evite

[...] a transferência mecânica desses conceitos que, embora tendo uma tradição consagrada nas ciências sociais, foram elaborados e definidos como objetos de estudo pertencentes a outro nível. O trabalho teórico exige, para dar conta da especificidade e da complexidade da vida que se desenrola numa instituição como a escola, ‗tanto um uso peculiar daquelas categorias como a construção de novas categorias pertinentes ao nível com que nos ocupamos‘ (EZPELETA e ROCKWELL, 1989, p. 13-14).

Também muito contribuíram para nosso entendimento metodológico, neste trabalho, os estudos de Macedo (2000), quando o autor explicita que

A valorização do cotidiano possui certa sabedoria que se consubstancia na crença de que, para que uma mudança seja profunda, é necessário partir da intimidade das coisas; para entrar na intimidade das coisas, é preciso partir delas, conviver com elas; então podemos distinguir as que não interessam, e, a partir de dentro, montar o caminho da transformação mais relevante e pertinente, dentro da radicalidade que não desreferencializa, não arrasa (MACEDO, 2000, p. 63).

Ao elegermos o aluno como foco de nossas observações e como principal ―informante‖ sobre o processo de inclusão, reportamo-nos a Sarmento e Pinto (1997) que colocam o estudo do tipo etnográfico como um recurso metodológico privilegiado para a coleta das vozes das crianças, pois torna possível a aproximação com a situação pesquisada, e

[...] visa apreender a vida, tal qual ela é quotidianamente conduzida, simbolizada e interpretada pelos actores sociais nos seus contextos de acção. Ora, a vida é, por definição, plural nas suas manifestações, imprevisíveis no seu desenvolvimento, expressa não apenas nas palavras, mas também nas linguagens dos gestos e das formas, ambígua nos seus significados e múltipla nas direções e sentidos por que se desdobra e percorre (SARMENTO, 2003, p. 153).