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A organização, quando passou a ser considerada sob influência de aspectos fenomenológicos estabelecidos socialmente, tornou-se “resultado de esforços não apenas de ações humanas intencionais ou planejadas, mas também de interações políticas, culturais, processos cognitivos e simbólicos (elementos não racionais)”. (QUINELLO, 2007, p. 32). Assim, nasceu a Teoria Institucional sob intensa vertente sociológica.

Até o trabalho de Robert Merton, no final da década de 1940, as organizações não eram reconhecidas como fenômenos sociais, que pudessem merecer estudos próprios. Embora, inicialmente, os estudos de Merton não tenham o referencial de efeito social, “as organizações, vistas como sociedades em microcosmos, ofereciam a oportunidade de

condução do tipo de pesquisa comparativa necessária ao exame empírico dos princípios funcionalistas”. (TOLBERT; ZUCKER, 1998, p. 198).

Na oportunidade, Merton trabalhou a análise das organizações sob a vertente da dinâmica da mudança social, baseando-se em duas premissas: (1) a sobrevivência de um sistema depende da integração de seus componentes estruturais, ou seja, se de fato se constitui uma mudança em determinado setor, outros setores também sofrerão mudanças; e (2) as próprias estruturas ajudam para o “funcionamento de um sistema social”, viabilizando equilíbrio para o sistema, sem o qual o sistema não resistiria (TOLBERT; ZUCKER, 1998, p. 198).

Já Selznick (1949) também foi considerado um dos precursores da Teoria Institucional, no clássico estudo realizado na Tennessee Valley Aythority (TVA), uma instituição criada pelo Congresso dos EUA, que pretendia discutir se as iniciativas ali propostas deveriam ser administradas pelo Estado ou por particulares. Como ressaltam Motta e Vasconcelos (2008, p. 139),

A direção da TVA preocupou-se assim em planejar de forma integrada o uso racional dos recursos naturais disponíveis. Como a estrutura formal da organização era pequena, contou-se com o apoio da comunidade local para tomar decisões sobre a alocação desses recursos, compra de propriedade, distribuição de fertilizantes e contratação de pessoal. A direção da agência resolveu consultar a comunidade local de forma democrática.

Daí surgiu a política do grass roots (ainda sem tradução para o português, mas entendida como uma relação de dependência mútua entre os envolvidos) baseada nos princípios da cooptação informal (luta de poder e formação de alianças) e formal (legitimação de cooptação informal). No caso da TVA, a autonomia gerencial da agência ou de seu representante sobre as decisões a serem tomadas, a participação da comunidade, que também se manifestava dentro do processo decisório, e a correlação TVA e governo local, onde a agência assumia o papel de coordenadora entre os representantes das quatro esferas, municipal, estadual, federal e o Distrito Federal (MOTTA, VASCONCELOS, 2008).

Selznick (1949) observou, ainda, que algumas expressões, como, por exemplo, “política popular”, “bem comum”, foram acolhidas pela comunidade sem críticas, e foram incorporadas à cultura organizacional, legitimando tais expressões. O autor não deixou de evidenciar, porém, conceitos paradoxais nesse processo, da mesma forma que Merton: (a)

contradições entre o discurso e a prática; (b) dilema entre participação e escolha seletiva, afinal de contas, é necessário decidir por algo; (c) mutabilidade e fluidez das políticas que se adaptavam às mudanças locais; e (d) apego às normas dificultava a inovação (MOTTA; VASCONCELOS, 2008, p. 140).

É certo que as organizações, segundo a visão de Selznick, “estão inseridas em uma matriz institucional, o que quer dizer que o meio ambiente exerce forças que fazem as estruturas organizacionais se ajustarem continuamente a elas”. (MOTTA; VASCONCELOS, 2008, p. 141).

Institucionalização, portanto, para Selznick (1971, p. 14), “[...] é um processo. É algo que acontece a uma organização com o passar do tempo, refletindo sua história particular, o pessoal que nela trabalha, os grupos que engloba com os diversos interesses que criaram, a maneira como se adaptou ao seu ambiente”.

Conforme Meyer e Rowan (1977 apud CARVALHO; VIEIRA; GOULART, 2005, p. 862), institucionalização é “o processo pelo qual processos sociais, obrigações ou circunstâncias assumem o status de norma no pensamento e na ação sociais”. (MEYER; ROWAN, 1977, p. 341).

A perspectiva institucional ganhou espaço definitivamente no campo de estudos organizacionais sociais na década de 1970 (CARVALHO, 2005), no entanto, foi por volta da década de 1950, como fora dito, que o meio passou a ser considerado influente, quando se deixou de considerar as organizações como sistemas fechados, para então serem vistas como sistemas abertos, sujeitas assim às intervenções do ambiente onde estão inseridas. A partir desse ponto é que se pode considerar o início da perspectiva institucional, que enfoca, dentre outras questões, a continuidade das ações desenvolvidas no decorrer do tempo, voltadas para o alcance de um propósito comum.

Pode-se afirmar que a Abordagem Institucional tem sido capaz de oferecer explicações aos processos atrelados ao que impera sobre as relações sociais, por preocupar-se com o que há de cristalizado na sociedade em termos de valores, ações, padrões que são construídos e legitimados a partir das relações entre os diversos atores organizacionais. (ROSA; COSER, 2004, p. 3).

A proposta de Meyer e Rowan (1977) também altera o modo de ver a estrutura formal. Conforme esclarece Kamens (1977 apud TOLBERT; ZUCKER, 1998, p. 200),

(…) as estruturas formais têm tanto propriedades simbólicas como capacidade de gerar ação. Em outras palavras, as estruturas podem ser revestidas de significados socialmente aceitos e então, além das funções ‘objetivas’, podem servir para informar um público tanto interno quanto externo sobre a organização.

March e Simon (1975) denominam institucionalização como “deslocamento de objetivos”, e que esta ocorre quando alguém, sob certo estímulo, repete tanto uma atividade que ela passa a ser natural (reforço), ou quando há uma escolha cuja consequência possa ser prevista. A situação relatada anteriormente pode levar ao engessamento do comportamento das pessoas, mas “dá indícios das primeiras reflexões sobre a ação e a participação dos indivíduos na criação de normas que moldarão a conduta organizacional”. (QUINELLO, 2007, p. 35).

Quinello (2007) reforça a teoria de March e Simon (1975), acreditando que, ao se constituir norma de atuação, ao mesmo tempo em que se protege contra ameaças externas, se dificulta a mudança, e só quem pode efetivamente mudar são os próprios componentes da organização, justamente por estes conhecerem os processos.

Já a contribuição de Scott (1995) apresentou a análise institucional em três elementos: (1) regulador - que trata da fixação das normas; (2) normativo - baseado nos valores e normas estabelecidos; e (3) cognitivo - que envolve subjetividade na interpretação das ações e da realidade social. Ao conjunto de tais elementos, Scott (1995) atribui à legitimidade organizacional, tema a ser discutido em segmento posterior desse capitulo.

Berger e Luckmann (1967 apud MOTTA; VASCONCELOS, 2008, p. 382) trazem a concepção dos agentes sociais quando esclarecem que

A institucionalização ocorre sempre que houver uma tipificação recíproca de papéis e ações rotineiras por tipos de ator. Institucionalizar regras, por exemplo, é torná-las habituais e rotineiras. A institucionalização gera, pois, efeitos práticos importantes: um valor institucionalizado é um valor que inspira ações concretas por parte dos atores sociais.

Conforme Berger e Luckmann (1967 apud TOLBERT; ZUCKER, 1998), a institucionalização segue três etapas - exteriorização, objetividade e interiorização. Para os autores, a institucionalização é um processo central na criação e perpetração de grupos sociais duradouros, sendo seu estádio final definido como tipificação de ações tornadas habituais por determinados tipos de agentes individuais, e não organizacionais, como ressalta Quinello (2007).

Zucker (1987), no entanto, amplia o conceito até as organizações, como salienta Quinello (2007). Para Zucker (1987, apud MOTTA; VASCONCELOS, 2008, p. 383), “a institucionalização é assim o processo pelo qual atores individuais transmitem o que é socialmente definido como real”. Nesta linha de raciocínio, Tolbert e Zucker (1998, p. 204) esclarecem que

(…) ações tornadas habituais referem-se a comportamentos que se desenvolveram empiricamente e foram adotados por um ator ou grupo de atores a fim de resolver problemas recorrentes. Tais comportamentos são tornados habituais à medida que são evocados com um mínimo esforço de tomada de decisão por atores em resposta a estímulos particulares.

O modelo proposto por Tolbert e Zucker, segundo Quinello (2007, p. 83), foi um aprimoramento do modelo de Berger e Luckmann (1967), com outros enfoques – “autoridade hierárquica, responsabilidades específicas, período de vida potencialmente ilimitado, entre outros, que alteraram o processo institucional das organizações em diferentes níveis”.

Tanto em um modelo como em outro, a institucionalização pode ocorrer de maneira parcial ou total, mas sempre requer estádios de evolução, uma vez que, cada um desses estádios recebe interferência de fatores como mudanças tecnológicas, legislação, forças de mercado, monitoramento organizacional, entre outros, que serão esclarecidos no capítulo que trata da abordagem institucional.

O Quadro 5 apresenta um resumo dos principais autores e dos relevantes pontos abordados em suas respectivas teorias que, juntas, fundamentam a Teoria Institucional.

Período Autores Fatores Determinantes Finalidade

1960 a 1970

Berger e

Luckmann Elementos sociais

Construir uma realidade social.

1970 a 1980

Meyer, Scott

e Zucker Valores determinam padrões e práticas.

Legitimar a interação de padrões e estruturas. 1980 a 1990 Powell e DiMaggio

Forças coercitivas, miméticas e normativas.

Reconhecer organizações homogêneas e similares.

Quadro 5: Principais autores da Teoria Institucional Fonte: Adaptado de Hall (1999 apud Quinello, 2007, p. 61).

O tópico seguinte apresenta um paralelo entre os estudos da Teoria Institucional, considerando ideias defendidas pelos teóricos logo no início da análise da teoria (“velho institucionalismo”), e o que é considerado como “novo institucionalismo”.