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6.1 – Principais limitações do estudo

Qualquer um dos modelos estudados por Altman (1983), Altman et al. (1995), Ohlson (1980) e Zmijewski (1984) foram construídos em realidades substancialmente diferentes das que conhecemos e que estão presentes no setor agrícola português.

a. Nenhum dos modelos originais de Altman (1983)87, Altman et al. (1995)88, Ohlson (1980) e Zmijewski (1984) se baseiam no setor agrícola. E mesmo que esses modelos tivessem utilizados dados de empresas agrícolas, só o facto de as

87 Tanto o modelo original de 1968 (Z-Score) como na posterior adaptação de 1983 (Z’-Score) foram usadas

empresas industriais.

88 Na evolução do modelo, Altman et al. (1995) para o modelo Z’’-Score foram usadas empresas não

industriais e industriais ou empresas estabelecidas em países em desenvolvimento. O estudo de 1995 incidiu sobre empresas mexicanas.

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estruturas fundiárias serem substancialmente diferentes em diferentes países89, obrigaria a uma calibração das variáveis explicativas de cada um dos modelos. b. Nos estudos originais de Altman (1968) e Ohlson (1980), selecionaram-se

empresas falidas de acordo com a Lei Nacional de Falências dos Estados Unidos da América e que é diferente da lei portuguesa. Já Zmijewski (1984) usou a mera apresentação de um pedido de falência90 para qualificar essas empresas como falidas. Os diferentes conceitos de falência não são assim totalmente coincidentes. c. Enquanto que os modelos de Altman (1983) e Altman et al. (1995) usam quatro variáveis explicativas, o modelo de Ohlson (1980) usa nove variáveis explicativas e o modelo de Zmijewski (1984) usa apenas três variáveis explicativas. Se por um lado um baixo número de variáveis pode resultar num fraco poder explicativo do modelo, um elevado número de variáveis poderá resultar em multicolinearidade. d. Para uma correta adaptação dos modelos ao mercado português nos subsetores económicos em estudo, as variáveis explicativas a selecionar poderiam não ser exatamente as mesmas, o que introduziria um fator de enviesamento dos resultados face aos resultados deste trabalho e que se baseiam nos modelos originais.

e. Considerando que apenas as empresas que entregaram as IES em pelo menos um dos cinco anos analisados foram analisados neste trabalho, todas as entidades que não o fizeram ou que a tal não estão obrigadas91 (caso dos empresários em nome individual inseridos no regime simplificado de tributação) introduzem um fator de limitação da representatividade dos subsetores. Além disso, os dados estatísticos apontam para um crescimento muito acentuado de empresários em nome individual e trabalhadores independentes na agricultura, conforme se pode verificar na tabela 52.

Tabela 52: Número de empresários em nome individual e trabalhadores independentes na agricultura em Portugal no período compreendido entre 2011 e 2015. Fonte: INE, PORDATA

f. A existência de valores extremos em algumas das variáveis dos modelos compromete a comparabilidade e obtenção de resultados fiáveis, pelo que se optou pela utilização da mediana como medida de localização calculada sobre a média dos períodos analisados para cada uma das variáveis explicativas. Não sendo uma limitação critica do estudo, há que considerar esta opção numa eventual confrontação de resultados com outras metodologias.

89 A título de exemplo, a União Europeia (UE) com cerca de 134 milhões de ha dispõe de um terço dos

terrenos agrícolas (que são três vezes mais produtivos) dos Estados Unidos da América (EUA) que dispõe de 425 milhões de ha. Já o sector agrícola na UE abrange mais de 7 milhões de explorações agrícolas, ou seja, três vezes e meio os 2 milhões de explorações agrícolas dos EUA. Dados de 2000. (Fonte: OCDE e Eurostat).

90 A expressão usada por Zmijewski (1984) é “the act of filing a petition for bankruptcy” (p.63).

91 Existe a regra geral, e conforme disposto nas obrigações legais em vigor até 2017 que as empresas que

não estão obrigadas a terem contabilidade organizada também não estão obrigadas a entregar a IES (salvo algumas exceções).

2011 2012 2013 2014 2015

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g. A agricultura é um setor em forte desenvolvimento tecnológico. Não é só o aumento notável das produtividades agrícolas92, mas fundamentalmente o impacto que a tecnologia tem na estrutura das próprias sociedades, e a revolução que provoca no tecido empresarial. Usar modelos de risco de crédito que foram criados na segunda metade do séc. XX em empresas e subsetores da atualidade é um exercício arriscado.

h. A literatura existente sobre esta temática é vasta e variada, existindo autores que sugerem outros modelos de risco de crédito que não os abordados neste trabalho. Cada modelo de risco de crédito baseou-se numa determinada amostragem de empresas e por isso mesmo a sua capacidade preditiva é afetada quando utilizados noutras amostragens. Por exemplo, Campbell et al. (2008) desenvolveram um modelo em que acreditam ter vantagens empíricas significativas sobre os modelos propostos por Altman (1968) e Ohlson (1980) e com maior poder explicativo sobre modelos de última geração como é o caso do modelo de Shumway (2001). Existem ainda outros autores que apontam as virtudes de outros modelos alternativos. Não é possível por isso concluir consistentemente sobre qual o melhor modelo a utilizar, sendo certo que quanto mais modelos forem utilizados para uma determinada realidade, maior será a capacidade preditiva e melhores conclusões se obterão sobre o risco de crédito de uma determinada entidade ou setor.

92 A título de exemplo, e segundo os registos do Banco Mundial, na década de 80 do séc. XX produzia-se

em média 1.000 kg de cereais por hectare. Nos dias de hoje consegue-se produzir quase 4.500 kg na mesma área.

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