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PRINCIPAIS MÉTODOS DE CENÁRIOS E SUAS ABORDAGENS

As diversas técnicas de cenários prospectivos têm como principal objetivo articular hipóteses envolvendo eventos futuros por meio de uma metodologia que possibilita identificar o contexto em que estes eventos poderão ocorrer e gerar as diversas situações futuras, ou seja, os prováveis cenários. Sendo assim, o método de cenários visa construir representações dos futuros possíveis, bem como dos caminhos que a eles conduzem (GODET, 2000).

Para Polacinski (2011, p. 77), cenários representam uma excelente opção para os estudos do futuro, pois “constituem uma forma de integração com outras informações úteis e são excelentes para comunicarem resultados aos usuários em geral”. O autor ainda ressalta que os métodos de prospecção também são recomendáveis quando existem expectativas de mudanças estruturais nos fatores determinantes de tendências futuras, no surgimento de novas tecnologias e até mesmo quando o assunto em estudo se configura como algo novo.

A essência da metodologia para a construção de cenários reside na delimitação e no tratamento dos processos e dos eventos incertos. De acordo com Buarque (2003), o poder da metodologia de cenários decorre da habilidade e da capacidade para a organização lógica (causal) de um grande volume de informações e dados relevantes e diferenciados. O autor complementa que a metodologia de cenários precisa de um modelo teórico para assegurar a plausibilidade das hipóteses e analisar a consistência das combinações delas, de modo que a descrição da realidade futura seja fundamentada.

Segundo Godet (2000), em qualquer das metodologias existem três passos essenciais: - Identificar as variáveis-chave;

- Colocar as questões-chave para o futuro;

-Reduzir a incerteza sobre as questões-chave e definir os cenários mais prováveis para a envolvente.

De acordo com Van Notten (2006, apud SOUZA, 2012), são estabelecidas ao menos duas abordagens para o desenvolvimento de cenários, as quais resume da seguinte maneira: - Abordagem intuitiva: Depende do conhecimento qualitativo e de insights a partir dos quais os cenários são elaborados mediante a exploração da criatividade;

- Abordagem analítica: Trata da quantificação das incertezas identificadas e emprega tanto modelos conceituais quanto modelos aritméticos e simulações obtidas por softwares.

Quanto à classificação, conforme Godet (2000, p.19), os cenários podem ser classificados como:

- Exploratórios: Partem das tendências passadas e presentes e conduzem a futuros verossímeis;

- Normativos ou de antecipação: São construídos a partir de imagens alternativas do futuro, podem ser desejados ou, pelo contrário, temidos. São concebidos de forma retroprojetiva.

Para Nóbrega (1999, p.14), de um modo geral, o método de cenários consiste nos seguintes passos:

- Análise do sistema;

- Retrospectiva da evolução do sistema; - Estratégia de atores;

- Elaboração de cenários;

- Estudo das implicações dos cenários.

Para tanto, apresenta-se a seguir exposições acerca de alguns métodos de autores tradicionais que trabalham com cenários prospectivos:

a) Método Global Business Network (GBN)

De acordo com Breternitz (2013, p. 6), a organização Global Business foi criada por Peter Schwartz, responsável por desenvolver o método GBN. O método costuma construir três cenários (otimista, pessimista e neutro), a composição do grupo que desenvolverá os cenários deve envolver os mais altos níveis da organização e pessoas suficientemente criativas e capazes de trabalhar em equipe. Segundo Marcial e Costa (2001), este método é o único que não trabalha com probabilidade em momento algum, com o intuito de evitar a tendência de levar em consideração apenas o cenário de maior probabilidade.

b) Método de Porter

Para Círico (2006, p. 36), o foco principal do método de prospecção de cenários de Porter é o da indústria e seu objetivo é elaborar cenários industriais, considerando sempre o comportamento da concorrência. Estes cenários seriam a melhor ferramenta existente para elaboração de estratégias competitivas num ambiente repleto de incertezas. De acordo com o método existem cinco forças que regem o ramo da indústria e relacionam-se com as incertezas:

- Entrada de novos concorrentes no mercado; - Ameaças de produtos substitutos;

- Poder de negociação dos compradores; - Poder de negociação dos fornecedores; - Rivalidade entre concorrentes.

Porter (1998) sugere os seguintes passos para a construção de cenários: identificar incertezas que podem afetar a estrutura industrial; determinar os fatores causais que as conduzem; fazer uma série de suposições plausíveis sobre cada fator causal importante; combinar suposições sobre fatores individuais em cenários internamente consistentes; analisar a estrutura industrial que prevaleça sob cada cenário; determinar as fontes de vantagem competitiva, bem como prever o comportamento da concorrência sob cada cenário.

c) Método de Grumbach

De acordo com Círico (2006, p. 39), o conceito da prospectiva de que existem vários futuros possíveis e que o futuro não será necessariamente uma repetição do passado em ciclos é o principal conceito que embasa o método de Grumbach. Este define quatro passos para a elaboração de cenários:

- Definição do problema; - Diagnóstico estratégico; - Processamento dos dados;

- Sugestão sobre o que foi construído.

Após a construção dos cenários de acordo com o método escolhido, é chegado o momento de apresentá-lo aos planejadores e decisores da organização. Estes poderão então se posicionar diante das possibilidades de futuro, considerando os recursos disponíveis pela organização.

Dentre as alternativas existentes, Breternitz (2013, p. 7), cita: Ficar com um único cenário: alternativa usualmente muito arriscada, mas que pode, por oposição, trazer resultados extraordinariamente bons; Buscar flexibilidade, para poder explorar diferentes cenários; Desenvolver e manter “rotas de fuga”, no caso de materializarem-se situações adversas ou protegerem-se do risco através da adoção de políticas de hedge (aqui entendido como um mecanismo, usualmente utilizado no mercado financeiro, para se proteger o ativo de flutuações indesejadas), busca de parcerias ou diversificação.

Independentemente do método escolhido, a formulação de cenários possibilita a redução de possíveis erros e incertezas perante o planejamento estratégico e a tomada de decisão bem como a antecipação das organizações diante de eventos futuros. Desta forma, a construção de cenários mostra-se ideal para trabalhos relacionados aos estudos de futuro.

Em sequência apresenta-se de forma mais detalhada a metodologia de cenários de Michel Godet, considerada uma das mais consolidadas na área de estudos prospectivos, a qual mostra-se eficaz para compreensão do futuro. Esta metodologia foi adotada nesta pesquisa por oferecer ferramentas que mostram-se adequadas para trabalhar as variáveis e atores deste estudo, além de dispor de software gratuitos para essas análises que auxiliaram na construção de cenários futuros para o mercado editorial nacional do livro digital.