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4. Livro de Artista

4.3 Principais Precursores

Seguidamente distinguem-se alguns dos mais relevantes exemplos de autores e obras, que embora não se dedicassem apenas ao Livro de Artista, nem chamassem

14 Disponível no site: http://livrosdeartista.ibn-mucana.com/apresentacao.htm, consultado a

2/11/2011

de livros às suas peças, certo é que, estes mesmos, deram origem às principais linhas orientadoras no que respeita, tanto à conceção, como à formalização daquilo que hoje entendemos como Livro de Artista.

De acordo com José Tomás Feria16 existem várias obras que influenciaram o aparecimento do Livro de Artista, sendo estas: A famosa “caixa verde” de Marcel Duchamp em 1929, os romances em colagem de Max Ernst, em 1934 e El Lissitzky com as suas experiências tipográficas em 1923. Para Féria, estes exemplos não são designados por Livro de Artista. Estas edições, assim como as de outros vanguardistas dos anos 1920-30 resultantes de experiencias futuristas, construtivistas e dadaístas, são como casos isolados, um parêntesis na história do livro.

Após os exemplos acima referidos, consideramos de grande importância salientar outros autores particularmente relevantes na compilação da rede histórica de referências do livro de artista. Entre estes evidencia-se o artista Apollinaire e os seus calligrammes que se leem de cima para baixo ou ao contrário do sentido habitual de leitura. Em 1909, o artista Marinetti destaca-se neste sentido na criação de um livro sobre uma estética do Futurismo, vanguarda da qual este autor é um dos principais membros, onde o propósito recai sobre a expressão da revolução gráfica, tipográfica e artística. Nas décadas de 1950 e 60, Bruno Munari cria o “Livro Ilegível” que tinha como finalidade: “o objetivo da experimentação foi ver se é possível usar o material com que se faz um livro como linguagem visual”. (Munari, 1981, p: 221) Pela mesma altura Henri Matisse desenha na cor e recorta papeis que seriam posteriormente montados por assistentes gráficos de impressão, criando um Livre de Paintre sobre a improvisação das cores. (Neves,2009)

No entanto, a noção de livro de artista com intenção de ser reproduzido surge definitivamente a partir dos anos 60 do século XX, tendo dois artistas como

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principais precursores: Dieter Roth (1930) no âmbito europeu e Edward Ruscha (1937) no circuito norte-americano.

É de notar o consenso existente entre vários autores, de que Edward Ruscha seria aquele que os críticos têm definido como um exemplo paradigmático dos livros de artista, nomeadamente através do seu emblemático trabalho: Twentysix Gasoline Stations (1963). Este trabalho é composto por uma série de 26 fotografias de estações de gasolina, sem texto, só com legendas a identificar a marca e a localização das estações. Esta obra surge como um apontamento meramente documental. Ruscha refere que “Twentysix Gasoline Stations”começa com um jogo de palavras, onde o título aparece mesmo antes de ter pensado nas imagens. O facto é que este livro, e os seguintes por ele publicados, transformaram-se numa genuína obra, única no seu género, acabando por servir de modelo a criações posteriores de outros artistas. Ruscha publicou mais livros idênticos, usando a fotografia como linguagem visual. Em todas as suas obras é o artista que controla todo o processo: fotografa, compõe as imagens nas páginas e por último imprime- as. O artistanão se interessa por edições manuais ou artesanais e com tiragens de poucos exemplares. Aquilo que mais o motivava era o facto do livro de artista poder parecer idêntico a outros livros ditos comuns e poder ser encontrado numa livraria. (Feria, s,d17)

Noutra linha de pensamento, Dieter Roth tira partido de vários tipos de publicações, sendo pioneiro na utilização de jornais e revistas de banda desenhada, explorando-as plasticamente. Nos seus trabalhos, Roth recorta, cola e inverte as leituras com o propósito de criar um livro que exibe a reciclagem de materiais. Evidenciemos também o alemão Anselm Kiefer, especialmente com o seu livro The Books of Anselm Kiefer (1969-1990). A aludida obra, em forma de catálogo de uma exposição dos seus livros de artista, compila uma retrospetiva das suas obras, tendo lugar em 1991. Os livros de Kiefer são peças únicas, sem edição, praticamente sem texto, em que as imagens encontradas apresentam

17Disponível no site: http://livrosdeartista.ibn-mucana.com/apresentacao.htm, consultado a

características íntimas e expressivas. O artista utiliza nos seus livros os mais diversificados materiais tais como: papel de diferentes gramagens, fotografia, gravura, carimbos de batata, papel de parede, tela queimada, chumbo, óleo, cola, acrílico, tintas, carvão, areia, cinza, argila, entre outros. (Feria, nota de rodapé) Este criador aproxima-se da estética do livro-objeto, particularmente com a confeção de livros de chumbo, sendo estes livros pesados, não transportáveis e sem texto ou imagens.

Concluindo esta mostra panorâmica sobre os precursores do tema deste capítulo, os exemplos expostos são notórios no universo preponderante do Livro de Artista, dado que lhe confere novas presenças e identidades singulares. De acordo com Feria, a história dos Livros de Artista continua em aberto e a ser preenchida todos os dias por novas obras.

“A história destes escreve-se todos os dias, bastando para isso… fazê-los. Para artistas plásticos, sobretudo para artistas conceptuais, pode ser uma ferramenta

importante na experimentação e conceptualização de novas ideias”.18

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