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CAPÍTULO 2 PROFESSORAS E LUDICIDADANIA: HISTÓRIAS DE VIDA

2.2. Resultados da pesquisa de campo

2.2.5. A principal tarefa do educador

Sobre a principal tarefa do educador nos dias de hoje, as respostas das professoras entrevistadas podem ser agrupadas em dois grandes blocos: um, mais para o individual e outro mais para o coletivo. No primeiro bloco, concentram-se as propostas que envolvem a melhoria da relação professor-aluno direcionada para o estímulo ao desenvolvimento e acolhimento individual do estudante. Seja a partir do professor que “estuda o tempo todo”, ou que sabe da “importância de ser referência na vida do aluno”, ou a partir do aluno, buscando despertá-lo para o valor do conhecimento, ou estimulando sua auto-estima. Posso afirmar que metade das professoras aproxima-se desta visão.

No segundo bloco estão as propostas de contribuição para que o aluno amplie a forma de ver o mundo, reduza o individualismo, posso enxergar o outro, seja um cidadão participativo e integrado á sociedade. Claro que não são dois blocos rígidos e estanques, algumas colocações são permeáveis a ambos os aspectos; entretanto, é perceptível que a maioria das falas ainda não está plenamente integrada ou complementar – como parece ser o mais desejável no tipo de prática educativa que essas professoras estão buscando. Vale ressaltar, também, que a valorização da transmissão de conteúdo está presente em todos os depoimentos, assim como a importância de não permanecer restrito e estacionado nesta função. Sem dúvida, este é um excelente sinal dos tempos, ainda mais quando registrado por aquelas que estão entre as consideradas melhores nas sua escolas.

No bloco que pode ser considerado com uma certa ênfase no aspecto individual estão os seguintes depoimentos:

Ter consciência que deixa marcas nos alunos para o resto da vida (professora Albertina)– Estudar o tempo todo, buscar o novo sem desprezar o velho (professora Beatriz) É a demanda do acolhimento. O acolher pra poder nutrir alguma coisa para esses meninos. Nutrir um carinho uma consideração para vivenciar alguma coisa. Não é estar por estar. Não é só estar passando um conteúdo, é você estar junto da criança, ouvindo, trocando (professora Dárcia).

São tantas as principais tarefas. Olhe, a principal tarefa de um educador é as estratégias, sabe, pra despertar o aluno. Hoje não, sempre, eu acho. É você achar o caminho pra despertar ele pro conhecimento. São as estratégias que você usa pra despertar a importância do conhecimento na vida da criança. Então, isso já ajuda muito, porque depois que ele aprende a estudar, não é que aprenda a estudar, mas que ele saiba o valor do conhecimento, ele não se torna ignorante nunca mais (professora Gatrícia).

A principal tarefa? Uma só? Não sei se seria passar conhecimento de vida, conhecimento no sentido geral.; Não sei se seria ser um referencial, ou seria, também, uma forma de passar conhecimento, de lidar com as competências. Acho que é isso, como professor, saber lidar com as competências. Saber dosar essa questão. De passar conhecimento, de lidar com a auto-estima, de desenvolver atividades lúdicas; assim... não sei uma coisa específica. De passar esse tipo de informação, de ser um referencial (professora Halza).

Os cinco depoimentos que considerei com uma certa tendência a valorizar mais o aspecto coletivo estão apresentados a seguir.

Dentro de tudo isso que a gente colocou, fazer com que o aluno seja um cidadão, e se sinta participativo e integrante da sociedade, e que esteja ligado com as coisas que acontecem

(professora Egina). Trabalhar com amor, resgatar o amor também nas crianças, o potencial

que trazem. Trabalhar com amor é reduzir o individualismo, o preconceito; poder enxergar o outro, compartilhar com outro. Tornar seu aluno um ser social, tornar ele um ser que convive em sociedade bem, emocionalmente bem, você está trabalhando o básico, que é o amor

(professora Cristina).

Eu acho que é mediar o ensino. Mediar o que o aluno já traz com ele e ver como que você faz essa junção do que ele traz, o que a escola e o espaço te oferece, do que você traz de sua vida e do conteúdo de sua matéria (professora Fátima). È com a auto-estima, estimular a autoconfiança, colaborar para a formação de um sujeito que se respeite e que saiba sua função no meio, escola, trabalho, família, nas brincadeiras, na sociedade (professora Ísis ). Passar conhecimento, não só conteúdo, ampliar a forma de ver o mundo, ampliar o autoconhecimento (professora Jindimeire).

Após a reflexão sobre a principal tarefa do educador, perguntei-lhes se elas consideravam que realizavam (ou) não tal tarefa. Todas disseram que sim e creditam isso, principalmente, ao esforço e compromisso pessoal, à idade, aos cursos de atualização e vivências. Várias afirmaram que as vivências ajudam muito: para uma delas foi extremamente marcante a postura de um coordenador de vivência que ajudou aos professores, que também são pais, a refletirem e liberarem as culpas pelas lacunas na educação dos próprios filhos – “cada um educou o seu filho o melhor possível, segundo as circunstâncias”; foi também numa atividade desta natureza que, outra professora, deixou de carregar a culpa por não ter curso superior. Muitas também creditam à família, boas marcas de uma infância considerada legal e à busca espiritual; vocação para ser professora, busca de fazer o melhor. È importante registrar uma

ausência: nenhuma das entrevistadas referiu-se ao curso de magistério ou pedagogia como ponto de apoio para o fato de exercerem bem suas atividades profissionais.

Outras duas colocações merecem destaque. Para uma professora, ela consegue desempenhar um bom papel de educador por causa de seu contato com a arte e a prática de autoconhecimento:

Ter trilhado pelo caminho da arte foi fundamental. E aliado a ter descoberto a arte, ter participado de grupo de teatro, ter viajado, ter começado o auto-conhecimento, da busca da espiritualização. Com a arte, com o auto-conhecimento, eu aprendi a não discriminar. E isso é muito importante, porque eu levo isso para os meus alunos; normalmente, eles terminam um desenho e já começam a depreciar a eles mesmos. E no caminho da auto-estima, do autoconhecimento isso muda. No caminho da espiritualidade você não discrimina; mesmo quem lhe discrimina você não sente raiva, pensa: ‘poxa, ele ainda não está preparado, ele ainda não chegou lá, é uma pena’, só fica dolorida porque você vê que tem pessoas que ainda não estão pensando a mesma coisa que você (professora Fátima).

A professora Beatriz acredita que consegue praticar a principal tarefa do educador porque ela não tenta impor um jeito adulto de ser às crianças:

Tenho uma aceitação do jeito natural da criança –correndo, suando, falando muito– pois, lembro que eu também era assim. Não estou preocupada só com a minha própria vida, o meu próprio desempenho. É preciso escutar a criança, olhar no olho, buscar confiar, ter flexibilidade para perceber o que é prioridade em cada momento (às vezes, não estava previsto parar para escutar a criança naquele exato momento, mas se surge uma necessidade real, paro tudo e vou ouvir).