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PRIVAÇÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS

No documento O direito ao voto do preso provisório (páginas 33-36)

Como visto, o cidadão pode, excepcionalmente, ser privado dos direitos políticos, em definitivo ou temporariamente, o que importará, com efeito, imediato, a perda da cidadania política. Deixa, imediatamente, de ser eleitor, se já o era, ou torna-se inalistável para tal, assim, como conseqüência, fica privado da elegibilidade e de todos os direitos fundados na qualidade de eleitor.

Para Bulos a privação dos direitos políticos se divide em perda e suspensão e assim se diferenciam:

Pela linguagem constitucional, diz-se perda a privação definitiva dos direitos políticos positivos, ensejando ao indivíduo o término de sua condição de eleitor e de todos os direitos decorrentes de sua cidadania [...] já a suspensão é a privação temporária daqueles direitos de votar e ser votado, configurando autêntica medida transitória que só dura enquanto persistir o motivo que a ensejou. Findados tais motivos, a providência efêmera deixa de existir, readquirindo o cidadão os direitos políticos suspensos.30

A privação definitiva denomina-se “perda” dos direitos políticos; a temporária é a sua “suspensão”. A constituição veda a cassação de direitos políticos, e só admite a perda e suspensão nos casos indicados nos incisos do artigo 15, ou seja,

29

SILVA, 2007, p. 212.

30

I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; II - incapacidade civil absoluta; III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.31

Como se nota, "a Constituição Federal não aponta as hipóteses de perda ou suspensão dos direitos políticos, porém a natureza, forma e, principalmente, efeitos das mesmas possibilitam a diferenciação entre os casos de perda e suspensão.”32, de maneira que casos de suspensão configuram-se nos incisos II, III e V do art. 15; os outros são de perda.

Para Silva, perda dos direitos políticos “consiste, na privação definitiva dos direitos políticos, com o quê o indivíduo perde sua condição de eleitor e todos os direitos da cidadania nela fundados.”33 Portanto, retira do cidadão o seu status de eleitor e impede o mesmo de concorrer às eleições.

Com probidade, Bulos aduz as hipóteses, com seus feitos, que ensejam a perda dos direitos políticos:

Cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado (CF, art.15, I)_ cancelada a naturalização, o indivíduo retorna à condição de estrangeiro. Não

poderá alistar-se como eleitor (CF, art.12, § 2º) nem pleitear postos eletivos (CF, art. 14, § 3º, I). È a Justiça Federal quem decreta a perda nessa hipótese (CF, art. 109, X); Escusa de consciência (CF, art. 15, IV)_ o descumprimento de obrigação a todos imposta ou a recusa à realização de uma prestação alternativa fixada em lei (CF, art.5º, VIII) geram a perda dos direitos políticos. É o Poder Judiciário, e mais ninguém, que deve decretá-la. Aquisição de outra nacionalidade por

naturalização voluntária (CF, art. 12, § 4º, II)_ sendo a nacionalidade brasileira

pressuposto para a aquisição de direitos políticos, aquele que perde, por decisão administrativa, adquirindo outra por vontade própria, passa a ser estrangeiro. Como o estrangeiro é inalistável, não pode votar, muito menos ser votado. Logo, os que adquirem outra nacionalidade por naturalização voluntária perdem os direitos políticos. Vício de consentimento no ato jurídico (erro, dolo, coação, fraude ou

simulação)_ sendo anulada judicialmente o procedimento de naturalização, por erro,

dolo, coação, fraude ou simulação, o indivíduo volta a ser considerado estrangeiro, perdendo os direitos políticos ativos e passivos. Essa hipótese de perda não consta no art.15 da Carta Magna, mesmo assim encontra-se implícita no sistema constitucional.34 (grifo do autor)

Suspensão é a privação temporária dos direitos políticos ativos (votar) e passivo (ser votado). Suspensão não se confunde com perda. Nesse sentido, tem-se também a posição

31 BRASIL, 1988. 32 MORAES, 2007, p. 235. 33 SILVA, 2007, p. 231. 34 BULOS, 2009, p. 867.

de Cretella Júnior, que diz: “suspensão é interrupção temporária daquilo que está em curso, cessando quando terminam os efeitos de ato ou medida anterior”.35

Para tanto, configura-se suspensão dos direitos políticos nas seguintes hipóteses:

Incapacidade civil absoluta (CF, art 15, II)_ quem não responde pelos atos da

vida civil demonstra incapacidade para participar do governo de um país. É o caso do interditado. A sentença judicial que decreta sua interdição suspende seus direitos políticos. Cessado o interdito, retornam as capacidades de votar e ser votado.

Improbidade administrativa (CF, art. 15, V)_ a improbidade administrativa,

como causa de suspensão de direitos políticos, foi uma novidade da Carta de 1988. Desse modo, cumpre ao Poder Judiciário decidir a respeito dos atos dos ímprobos.

Condenação criminal transitada em julgado (CF, art. 15, III)_ enquanto durarem

os seus efeitos, a condenação criminal transitada em julgado constitui uma das causas de suspensão dos direitos políticos.36 (grifo do autor)

Ramayana considera ainda, aspectos importantes relativos a ponto de diferença fundamental entre a perda e suspensão dos direitos políticos. Assim leciona:

[...] na perda, o cidadão ficará afastado de suas capacidades ativas e passivas (direito de votar e ser votado) por absoluta impossibilidade (reaquisição) destes direitos/deveres ou, ainda, por ato de omissão voluntária. Não Haverá estipulação de prazo final do cerceamento das capacidades eleitorais. Na suspensão dos direitos políticos, o cidadão sofre a restrição por prazo fixado na lei ou aguarda a aquisição do direito pelo transcurso do prazo legal como no caso do menor de 16 anos de idade.37

No direito brasileiro, além dos direitos políticos positivos, qual seja, votar, ser votado, de iniciativa popular, de organizar e participar de partidos políticos, caracterizando assim, os direitos políticos positivos, tem-se também os direitos políticos negativos, onde, o nacional é privado de exercer seus direitos políticos, através da perda ou suspensão dos mesmos. Em capítulo oportuno, abordar-se-á melhor a questão relativa à suspensão e reabilitação dos direitos políticos decorrentes de condenação criminal transitada em julgado, sendo então que a peculiaridade desse assunto mostra-se necessário ao fundamento do tema.

35

CRETELLA JÚNIOR, José. Comentários à constituição brasileira de 1988. São Paulo: Forense Universitária, 1989, p. 165.

36

BULOS, 2009, p. 868.

37

4 O PRESO PROVISÓRIO

Entende-se, como preso provisório, aquele que perdeu a sua liberdade, provisoriamente, assim, mantido encarcerado em prisão processual, justificada, pela segurança do efetivo processo legal. Para tanto, Capez descreve o preso provisório como:

[…] aquele que teve sua liberdade de locomoção despojada sem sentença penal condenatória transitada em julgado, ou seja, aquele que aguarda julgamento do seu processo recolhido à prisão. Esta provisoriedade se manifesta como medida cautelar necessária para se atingir os fins colimados pelo Estado.1

Em primeiro lugar, se faz necessário, esclarecer quem são os presos provisórios, tendo-se como: o preso autuado em flagrante delito, o preso preventivamente, o preso pronunciado para julgamento diante do Tribunal do Júri popular, o condenado por sentença penal recorrível, o preso em razão de prisão temporária.

Assim, percebe-se que não é difícil encontrar-se, esses encarcerados em grande número nos presídios nacionais, visto as diversas hipóteses de cabimento de prisão provisória. Para tanto, todos estão amparados pelo princípio da presunção de inocência e sua prisão, acarreta, pura e simplesmente a perda de sua liberdade.

No documento O direito ao voto do preso provisório (páginas 33-36)

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