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1. Diarreia Pós-Desmame

1.3. Diagnóstico

1.5.2. Estratégias Terapêuticas Não Farmacológicas

1.5.2.2. Probióticos

Os probióticos são alimentos funcionais contendo microrganismos viáveis definidos num número suficiente, que alteram o microbioma intestinal do hospedeiro, promovendo efeitos benéficos para o organismo e a saúde animal.4,64 Estes microrganismos têm de ser capazes de se tornar parte da população bacteriana comensal do hospedeiro, aderir

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livremente à mucosa intestinal e sobreviver ao ambiente acídico gástrico (pH 2.0-2.5) e aos sais biliares. Para além disto, têm de apresentar uma gama de mecanismos para competir e superar as bactérias patogénicas, promovendo a redução de infeções intestinais. O efeito dos probióticos pode ser potenciado com administração destes pré-desmame e de forma prolongada.65,66 Com a suplementação dos leitões com os probióticos espera-se uma redução

da ocorrência de distúrbios intestinais e da mortalidade na fase pós-desmame, diminuindo a incidência de DPD.

As três categorias de microrganismos mais comumente utilizados como probióticos são os Bacillus, as bactérias produtoras de ácido lático como Lactobacillus, Bifidobacterium e Enterococcus, as leveduras e estirpes de E. coli não patogénicas sem genes de virulência.66,67 A suplementação com L. rhamnosus, Bacillus cereus, Lactobacillus K7, E.

faecium, Bacillus licheniformis e Bacillus subtilis, quatro espécies de Lactobacillus, E.

faecium, Saccharomyces cerevisiaee E.coli Nissle 1917 reduziu a incidência de diarreia e a taxa de mortalidade de leitões desmamados com DPD causada por ETEC.67-71 Estes compostos bioativos promovem o crescimento e a performance dos leitões. Estudos demonstraram que membros do género Bacillus induzem melhoria do crescimento nos leitões desmamados72, mas não após aplicação de B. toyoi.73 Por outro lado, a adição de E.

faecium à dieta dos animais aumentou a performance dos leitões.58,68,71 As culturas de leveduras, quando adicionadas à dieta destes animais, promovem melhoria da performance do crescimento e da saúde intestinal destes em alguns estudos.74 Com a suplementação com

Saccharomyces cerevisiae induz-se melhoria na performance do crescimento pós-

desmame.74,75 Assim, a suplementação dos leitões com probióticos promove o crescimento dos animais e a redução da incidência de DPD.

Os probióticos, quando inseridos na alimentação dos leitões, têm efeitos benéficos manifestados no balanço microbiano intestinal, com diminuição dos níveis de microrganismos patogénicos, e na integridade do epitélio intestinal. Para além disto, promovem a maturação apropriada dos tecidos associados ao trato digestivo e das suas funções neuroendócrinas, promovendo a exclusão competitiva de bactérias patogénicas.64 A

suplementação dos leitões com membros do género Bacillus reduziu o número de

Enterococci, Bacteroides e coliformes intestinais, e a severidade da diarreia causada por E. coli, enquanto que a adição na dieta de Lactobacillus acidophilus promoveu uma diminuição

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Lactobacillus K7 reduziu o número de E. coli e a severidade dos sintomas clínicos de DPD.78

Para além da alteração do microbioma intestinal, a suplementação com Saccharomyces

cerevisiae induziu melhoria na altura das vilosidades e na proliferação das células

epiteliais.59,74 A melhoria da integridade e da função da mucosa intestinal foi também conseguida com Lactobacillus plantarum e uma mistura de B. licheniformis e B. subtilis.

67,73 Por outro lado, a adição de E.coli Nissle 1917 na dieta dos leitões reduziu a secreção de

cloreto e eliminou a permeabilidade paracelular70. Assim, a suplementação dos leitões com

probióticos promove o balanço microbiano intestinal e a integridade estrutural e funcional do epitélio intestinal, reduzindo a incidência de DPD.

Os probióticos induzem a diminuição das populações de microrganismos patogénicos, como Salmonella e E. coli, por exclusão competitivae por produção de ácidos orgânicos, com diminuição do pH, e compostos como bactericinas, com efeito semelhante aos antibióticos.64,79 Esta diminuição do número de microrganismos patogénicos reduz a sua subsequente adesão à mucosa intestinal. Estudos revelam que a suplementação dos leitões com L. sobrius 001T contra ETEC K88 induz melhorias no ganho de peso corporal e reduz a abundância de ETEC no íleo, no entanto não reduz a diarreia.79 A adição na dieta dos animais de uma estirpe de Enterococcus faecium ou da estirpe 104R de Lactobacillus

fermentum inibiu a adesão de ETEC K88 à mucosa do intestino delgado dos leitões.80,81

Adicionalmente, a adesão à mucosa do íleo de ETEC:F4 foi reduzida após administração de uma mistura de probióticos de Pediococcus acidilactici e Saccharomyces cerevisiae

boulardii, comparativamente ao tratamento farmacológico com clorotetraciclina e

tiamulina.82Assim, os probióticos promovem a redução de ETEC e a sua adesão intestinal, reduzindo a incidência de DPD.

Os probióticos promovem um aumento da atividade de enzimas probióticas microbianas e da digestibilidade dos alimentos, a estimulação do sistema imune, com aumento da produção de imunoglobulinas e da atividade de macrófagos e células NK, e regulação da inflamação.77,83 A suplementação dos leitões com Bifidobacterium lactis

HN019 induziu respostas imunes celulares como a fagocitose e respostas linfoproliferativas, e aumentou a quantidade de anticorpos específicos contra microrganismos patogénicos intestinais.84 A suplementação com leveduras, como a Saccharomyces cerevisiae spp.

boulardii, aumentou o número de macrófagos ao longo do intestino delgado dos animais.75

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T citotóxicas (CD8+), sem influenciar a distribuição e o número dos péptidos antimicrobianos.85 No entanto, o probiótico Enterococcus faecium promoveu a diminuição dos níveis de IgG e do nível de células T CD8+ no epitélio do jejuno destes animais.86 A suplementação dos leitões com Lactobacillus plantarum, Lactobacillus rhamnoss GG e

Bifidobacterium animalis MB5 reduziu a inflamação, com redução da expressão de citocinas

pró-inflamatórias e inibição da transmigração de neutrófilos, e a diarreia.87 Assim, os probióticos quando adicionados na dieta dos leitões vão promover redução da inflamação e estimulação do sistema imune do animal, promovendo a redução da incidência de DPD.

Concluindo, os probióticos demonstram ser aditivos alimentares interessantes no desenvolvimento de uma formulação para tratamento não farmacológica de DPD. Estes promovem a manutenção do equilíbrio da microflora intestinal, a melhoria da integridade estrutural e funcional intestinal, a estimulação do sistema imune do animal e a redução da inflamação induzida pela infeção por ETEC. Para além disto, promovem o crescimento e a performance dos animais e reduzem a incidência de diarreia e a taxa de mortalidade de leitões desmamados com DPD causada por ETEC. Na literatura existem alguns resultados contraditórios,64,66,88,89 mas estes podem ser explicados por diferenças no tipo, na dosagem e na estabilidade dos probióticos utilizados, no ambiente sanitário a que os animais estão sujeitos e na idade e predisposição genética para DPD dos leitões. Para além disto, existe ainda a influência de diferentes condições de armazenamento, tecnologia e matriz alimentar, onde os probióticos são inseridos, no efeito dos probióticos.74,90 Assim, estes compostos bioativos demonstram impedir a proliferação de microrganismos patogénicos como ETEC e, consequentemente, reduzir a incidência de DPD. Pesquisas futuras devem ser feitas avaliando a influência do tipo e dosagem de probiótico nos resultados e identificando quais as condições que promovem de forma consistente a saúde intestinal e melhoram a performance dos leitões na fase pós-desmame.