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Constitucionalmente, o Ministério da Saúde tem a responsabilidade de ordenar a formação de pessoal no campo da saúde e de incrementar na sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico. Esta responsabilidade tem sido dividida com os demais gestores estaduais e locais do SUS, sob a sua coordenação quanto à formu-lação de políticas orientadoras de formação.

Assim é que, o Sistema Único de Saúde (SUS) constituiu, em 2004, através da Portaria nº 198/GM/MS, a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, que instrumentaliza estados e municípios na construção de processos educativos na busca de qualificar os serviços de Saúde.

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A Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (EPS) como estratégia de formação dos trabalhadores do SUS, considera a responsabilidade do Ministério na consolidação da Reforma Sanitária, especialmente em seus aspectos quanto à descentralização da gestão, integralidade da atenção e do fortalecimento da participa-ção social nas decisões do Sistema Único de Saúde (SUS). Destaca ainda, a importân-cia da integração entre ensino e serviço para a qualificação das práticas em saúde e da educação dos profissionais. Considera, também, que o processo de educação perma-nente em saúde, agrega aprendizagem – reflexão crítica sobre o trabalho –, “resolutividade” da clínica e da promoção da saúde coletiva.

As orientações e diretrizes para operacionalização da Política Nacional de Edu-cação Permanente em Saúde, como estratégia do SUS para a formação e desenvolvi-mento dos trabalhadores para o setor, inscritas no anexo II da Portaria 198, que institui a Política de Educação Permanente, estabelece que educação permanente é aprendi-zagem no trabalho, onde o aprender e o ensinar se incorporam ao cotidiano das organi-zações e ao trabalho. Propõe-se que os processos de capacitação dos trabalhadores da saúde tomem como referência as necessidades de saúde das pessoas e das populações, da gestão setorial e do controle social em saúde, tendo como objetivo a transformação das práticas profissionais e da própria organização do trabalho e sendo estruturados a partir da problematização do processo de trabalho. Isto exige uma ação articulada entre o sistema de saúde e as instituições de ensino.

A partir da identificação das necessidades de formação e de desenvolvimento dos trabalhadores do SUS, o Ministério da Saúde do Brasil orienta a implementação das diretrizes curriculares nacionais para o conjunto dos cursos da área da saúde e a transformação de toda a rede de serviços e de gestão em rede-escola.

Assim, para compreender as bases que orientam a formação técnica em saúde tomamos como suporte os Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissio-nal de Nível Técnico - Área ProfissioProfissio-nal - Saúde, proposto pelo Ministério da Educa-ção, no ano de 2000.

Inspirado nos valores da Reforma Sanitária Brasileira, os Referenciais Curriculares orientam as escolas de formação – cursos técnicos para a área da saúde – de forma que estes, indispensavelmente, respondam aos desafios quando da constituição de currícu-los. Considera-se indispensável, que:

• Busquem responder as exigências geradas pelo perfil demográfico, epidemiológico e sanitário da população brasileira.

• Possibilitem a formação de profissionais que compreendam o seu processo de trabalho específico e também o processo global de trabalho em saúde, e

que tenham autonomia e iniciativa, mas ao mesmo tempo sabendo trabalhar em equipe.

• Tornem presente, em todo o desenvolvimento dos cursos, as questões relativas à ética, ao exercício profissional, à cidadania, ao meio ambiente e à visão holística de saúde.

• Sejam flexíveis de modo a atender à realidade regional ou local.

• Favoreçam a interdisciplinaridade e o contato precoce do aluno com a prática profissional, rompendo com a dicotomia teoria/prática.

• Estejam atualizados e sintonizados com as novas tecnologias.

• Possibilitem o desenvolvimento de habilidades ligadas ao uso fluente de softwares específicos, bem como de comunicação oral no idioma inglês e espanhol a partir de uma base já estabelecida no ensino médio.

Os Referenciais Curriculares da Formação Técnica destacam ainda as compe-tências, habilidades e bases tecnológicas como elementos que embasam a organização dos currículos da educação profissional. A Resolução nº 4/99 do Conselho Nacional de Educação (CNE) apresenta as competências profissionais gerais do técnico da área da saúde em seu item 17.2, deixando as competências particulares de cada habilitação a serem definidas pela escola para complementar o currículo, em função do perfil pro-fissional de conclusão da habilitação. Referida Resolução define competência, em seu art. 6º, como: “entende-se por competência profissional a capacidade de mobilizar, articular e colocar em ação valores, conhecimentos e habilidades necessários para o desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza do trabalho”.

Frente a esta noçäo de competência, compreendemos a importância de destacar o contexto da ação bem como a perspectiva coletiva do “desempenho eficiente”. En-tendemos competência como processo, e não como produto. Podemos defini-la como a capacidade de uma pessoa agir, mobilizando seus pares e recursos disponiveis, de ma-neira pertinente em uma dada situação contextualizada, para atender aos objetivos propostos. Há, portanto, uma interação dialética entre conhecimento, habilidade e ati-tude, compreendidas respectivamente e de maneira articulada, como o saber, o saber-fazer e o saber-ser. Perrenoud (2000, p.07), um dos autores que tem influenciado os conhecimentos de docentes brasileiros nesta discussão sobre competências, ao qual nos associamos, define competência “como sendo uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles.” Segundo ainda o citado autor, “competente é aquele que julga, avalia e pondera; acha a solução e decide, depois de examinar e discutir determinada situação, de forma conveniente e adequada”. (PERRENOUD, 2000, p.13)

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Estes temas expostos compõem um dos campos de nossa problematização, arti-culando os propósitos da Política de Educação Permanente em Saúde, do Ministério da Saúde e as orientações emanadas pelo Ministério da Educação e Conselho Nacional de Educação (e, no caso local, do Conselho de Educação do Ceará - CEC), com o desenho e desenvolvimento dos instrumentos curriculares dos cursos técnicos da Es-cola de Saúde Pública do Estado do Ceará, permeados pelas contribuições das teorias. Com base nestes referenciais, os currículos dos cursos técnicos na área da saú-de precisam evisaú-denciar pressupostos saú-de uma formação por competências, em uma perspectiva emancipatória e respondendo aos desafios conceituais e operativos pro-postos pelo SUS.

Por outro lado, no leque de possibilidades de formação profissional para a área da saúde, os cursos técnicos são os que viabilizam o acesso de camadas economica-mente desfavorecidas e menos escolarizadas da população a uma atividade qualificada no campo da saúde. A formação técnica pode abrir possibilidades para uma atividade profissional mais bem remunerada e, em alguns casos, viabilizar o posterior acesso ao estudo universitário.

Do ponto de vista da gestão do sistema de saúde, os cursos técnicos possibilitam a formação de profissionais qualificados, em um período de tempo mais curto que o ensino superior, a um custo substancialmente menor e que podem assumir uma série de funções de fundamental importância para o bom desempenho do sistema. Entretan-to, para que estes objetivos sejam atingidos, é preciso que estes cursos ofertem uma programação capaz de auxiliar no desenvolvimento de profissionais eticamente com-prometidos com a saúde coletiva, autônomos, críticos, e, fundamentalmente, capazes de desenvolver com competência as ações que serão de sua responsabilidade nos ser-viços públicos de saúde.