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Capítulo II Metodologia

2.1. Problemática do estudo

O surgimento da questão problema que leva a que este trabalho seja elaborado (“Qual o papel do professor de EE na construção da escola inclusiva?”), nasce de seis anos de prática docente enquanto professora de EE. Nesse período, a autora deste estudo trabalhou em diversos Agrupamentos e em vários tipos de apoio, iniciando a prática na área da EE como docente do Apoio Educativo, regulamentado pelo DL nº 319/91 e passando pela alteração da forma como é definida a inclusão dos alunos com NEE nas escolas regulares, pelo atual DL nº 3/2008.

Desta forma, e de acordo com o que nos indica Stake (2009, p. 53) sobre o conceito de compreensão experiencial, “os investigadores qualitativos privilegiam a compreensão das complexas inter-relações entre tudo o que existe”, ou seja, procuramos, com este trabalho, compreender de que forma pode o professor de EE agir para que a escola onde trabalha se torne efetivamente inclusiva, em particular, para os alunos com NEE.

O trabalho elaborado nesses vários Agrupamentos enquanto professora contratada foi muito diverso: apoio em sala de aula, em sala de apoio, em ambas as vertentes e ainda em UEEA. Conforme a maior ou menor importância dada pela liderança do Agrupamento à inclusão dos alunos com NEE, o trabalho obteve melhores ou piores resultados, respetivamente. Na ausência de indicações dadas pela Direção, surgia a interrogação de qual deveria ser o papel do professor de EE: se facilitador da inclusão ou potenciador das competências específicas dos alunos com NEE em apoio individualizado. E esse apoio individualizado deveria ser dado dentro ou fora da sala de aula? O aluno com NEE deve estar incluído na turma o máximo tempo possível ou nem sempre deve ser assim?

Tal como nos informa Máximo-Esteves (2008, p. 69), não sabemos muito sobre o grau de aceitação das publicações teóricas na prática, “o modus

operandi das orientações teóricas, as adaptações efetuadas perante a

realidade dos diversos contextos, em suma, o impacto que a teoria tem, realmente, sobre as vantagens da investigação-ação nos professores e na vida

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das comunidades escolares”. De acordo com este autor, os professores orientam os seus estudos empíricos de acordo com três dimensões: pessoal, profissional e empírica.

A primeira traduz-se em pesquisas sobre os princípios gerais ou as teorias curriculares ou de instrução, procurando compreender e aperfeiçoar a prática quotidiana. Muitos estudos centram-se, desta forma, nos alunos, evidenciando que se trata do seu principal foco de interesse. Nesta motivação, inclui-se ainda a autoconsciência que os professores-investigadores têm da sua prática, “manifestando a necessidade de clarificar as suas próprias assunções sobre educação (Zeichner & Nofke, 2001, citados por Máximo- Esteves, 2008, p. 71).

A dimensão profissional orienta a investigação-ação no sentido dos contextos de trabalho dos professores, contribuindo para o seu aperfeiçoamento e para desenvolvimento profissional, quer ao nível da produção teórica, quer no do desenvolvimento das condições humanas. Visa influenciar e mudar esses contextos de trabalho, quer social, quer institucionalmente, assumindo uma dimensão política.

A última dimensão está presente nos professores que pensam que a sala de aula é “o terreno mais adequado para desenvolver projetos de investigação-ação, por ser o palco onde se desenrolam as interações diárias com os alunos, os colegas, os pais e ser, por isso, o espaço que melhor precisam de conhecer em proveito dos seus alunos e de si próprios” (Máximo- Esteves, 2008, p. 73).

Tendo em conta este ponto de vista, pretendemos incluir as três dimensões neste trabalho: por um lado, perceber se os alunos com NEE estão realmente incluídos nas classes regulares e, por outro, de que forma podem os professores de EE alterar o contexto para que essa realidade exista, melhorando as práticas e procurando atender às necessidades dos professores do ER e dos alunos. A um nível mais lato, transversal a todas as questões e na conceção das estratégias a implementar com alunos com NEE, a dúvida de se a legislação em vigor é ou não promotora da inclusão está sempre presente,

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pelo que também foi considerada como uma dimensão de análise, neste trabalho.

A perspetiva de um estudo com a realização de entrevistas a profissionais pretende reproduzir a atitude de “vigilância crítica” que exige o rodeio metodológico e o emprego de “técnicas de rutura” que se afigura tanto mais útil para o especialista das ciências humanas, quanto mais ele tenha sempre uma impressão de familiaridade face ao seu objeto de análise (Bardin, 1995). No dizer de Lazarsfeld (citado por Bardin, 1995, p. 28), “é uma tentativa de negar a leitura simples do real, sempre sedutora, forjar conceitos operatórios, aceitar o caráter provisório de hipóteses, definir planos experimentais ou de investigação, a fim de despistar as primeiras impressões.” Conversando com colegas de grupo disciplinar, percebemos que essas questões também lhes eram comuns, pelo que decidimos partir para um estudo envolvendo professores de EE em entrevistas que pretendem aferir quais os seus pareceres sobre qual deve ser o seu papel enquanto docente. Assim, e procurando organizar todas estas questões, chegamos a três dimensões centrais:

(i) como é atualmente realizado o trabalho do professor de EE nas escolas,

(ii) como é organizado o trabalho relacionado com a EE

(iii) e, finalmente, qual a opinião dos profissionais sobre a atual legislação relacionada com a EE.