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A nível pessoal e profissional, há expetativa com a realização da presente dissertação, pois, a apresentação crítica do Projeto “Boca Aberta” (PBA), na vertente em que diretamente alia as preocupações artísticas e pedagógicas, a mesma, poderá ser útil não só aos agentes e intervenientes no processo, como, também, estimular a reflexão de outras estruturas que desenvolvem ou pretendem desenvolver intervenções desta natureza. Uma das motivações para a elaboração deste estudo assentou no facto de existirem poucas investigações neste âmbito, que acompanhem a relação entre Teatros e Estabelecimentos de Educação/Ensino. A receção dos espetáculos em contextos de educação formal, assim como a formação de docentes, através de dinâmicas criadas em/por Teatros, surgem aqui, simultaneamente, como motivações que levaram à realização do estudo. Importa, igualmente, referir que a investigação incide na vertente da fruição e na vertente da formação dos educadores, interligando-se, ambas, indiretamente, na experimentação, pelas crianças e educadores, assim como nas práticas metodológicas dos educadores. O gosto por lecionar e o interesse por questões educativas relacionadas com a Educação Artística (EA), em especial aquelas que são relativas ao Teatro, enquanto disciplina única e autónoma nas escolas, também contribuíram para a definição da problemática.

Há, de facto, um desejo de teatro e por espetáculos para crianças e com crianças, com a sua dimensão artística e, também, pedagógica.

É de referir, igualmente, a sensibilidade para as questões relativas às inovações pedagógicas, tão debatidas atualmente, e respetivas dinâmicas metodológicas que poderão ser desencadeadas por docentes empenhados para motivar, estimular, reconhecer, encorajar a aventurar-se a ir sempre mais além, a olhar alto, e a varrer novos horizontes… Educar não é mais do que a arte de cativar (Torrado, 2002).

O presente capítulo, para além da definição da problemática do estudo, apresenta as suas questões orientadoras e os respetivos objetivos gerais.

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3.1 Definição da problemática do estudo

O interesse em levar adiante esta pesquisa, indagando processos desencadeados por um Teatro público, surgiu após termos proposto ao Teatro Nacional D. Maria II (TNDM II) o estudo da relação entre este e os estabelecimentos de educação, através da investigação do seu projeto para a infância – Projeto “Boca Aberta” (PBA), que, em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa, iniciou a 4ª edição no ano letivo 2018-2019.

Em curso desde o ano letivo 2015-2016, o projeto tem como objetivo a criação de pequenos espetáculos teatrais para a infância. É um projeto que tem vindo a merecer o seu espaço, pois trabalhar em continuidade é um luxo, como afirmara Catarina Requeijo, no dia 6 de outubro de 2018, aquando da apresentação do Programa Infância e Juventude, à Comunidade Educativa, no Salão Nobre do TNDM II. O PBA tem tido continuidade, de ano para ano, e graças ao vínculo e à fidelização do elenco e da equipa artística, desde o início, tem vindo a contagiar o tecido escolar da cidade de Lisboa na valência de Educação Pré-Escolar (EPE). Esta integração, por sua vez, também tem vindo a ampliar- -se, de edição para edição, uma vez que o mesmo começou pelas instituições da envolvente do TNDM II e, no ano a que este estudo é referente, alargou-se a outras comunidades escolares.

O desafio, por nós lançado, foi aceite, iniciando-se as várias etapas da investigação. Assim sendo, a pergunta de partida foi estruturada, permitindo-se clarificar de forma objetiva a linha orientadora do estudo, pois a investigação, segundo Almeida e Pinto (2001), inicia- -se pela “definição de um problema” (p.37):

Em que medida um projeto de Teatro para a infância contribui, nas vertentes da fruição e da formação docente, para a educação artística dos públicos-alvo (crianças em idade pré- escolar e educadores de infância)?

A pergunta de partida, segundo Quivy e Campenhout (2005), não é mais do que o “primeiro fio condutor da investigação” (p. 44). O problema da investigação, como refere Coutinho (2005), tem cinco funções básicas numa investigação: organiza o projeto, dando-lhe direção e coerência; delimita-o, mostrando as suas fronteiras; focaliza o

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investigador para a problemática do estudo; fornece um referencial para a redação do projeto; aponta os dados que será necessário obter.

É acreditando na EA dos públicos-alvo que se trilha o caminho da investigação e se partiu, por conseguinte, para a formulação de questões orientadoras e dos objetivos do estudo.

3.2 Questões Orientadoras e Objetivos do Estudo

Decorrente da problemática do estudo, são questões orientadoras desta dissertação:

i. De que forma o TNDM II integra as crianças e os docentes nas diferentes vertentes do projeto “Boca Aberta”?

ii. Em que medida a participação dos docentes nas Oficinas de Formação favorece e potencia os propósitos artístico-pedagógicos de espetáculos de Teatro para a infância?

iii. De que forma os docentes integram as práticas artísticas, em particular na dimensão da fruição de espetáculos, na abordagem curricular?

A primeira questão orientadora pretende conhecer que dinâmicas de acolhimento, divulgação e integração pensadas e organizadas pela equipa do TNDM II, com vista a manter e potenciar a participação do público-alvo (educadores de infância e crianças em idade pré-escolar) envolvido no processo do PBA.

A segunda questão orientadora tem como objetivo perceber se os docentes, tendo especialmente em conta a sua participação nas práticas e nas reflexões proporcionadas pelas Oficinas de Formação dinamizadas pelo TNDM II, ficam mais aptos a compreender, e, portanto, também a fomentar junto das crianças, os propósitos artístico-pedagógicos do PBA.

A terceira questão orientadora pretende perceber se os docentes, participantes no PBA, integram práticas artísticas, em especial na dimensão da fruição, nas suas abordagens em contexto de sala e, nos casos em que acontece, como as pensam e organizam.

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Tendo em conta estas questões orientadoras, definimos, em direta relação, os seguintes objetivos gerais para o estudo:

• Perceber os fatores que levam os docentes a participarem num projeto de Teatro para a infância, nas vertentes da formação e da fruição de espetáculos;

• Conhecer as apreciações artístico-pedagógicas dos docentes, bem como as suas perceções sobre as opiniões das crianças, quanto aos espetáculos do Projeto “Boca Aberta”;

• Identificar iniciativas, diretamente relacionadas com o Projeto “Boca Aberta”, desencadeadas pelos docentes;

É de salientar que tivemos sempre presente a relevância do desenvolvimento de um processo de reflexão, com flexibilidade, que permitisse novas oportunidades de exploração, mudanças de direção sempre que oportuno, mantendo coerência com a problemática e os objetivos estabelecidos.

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