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Capítulo II- Desenho da estratégia de investigação O Projeto Centro Cultural de Amarante: Orquestra Geração enquanto problema sociológico, modelo de análise e

2.1. Problema científico e modelo de análise

A investigação apresentada centra-se na temática da música como uma forma de inclusão social, no caso específico a inserção de crianças em risco de abandono escolar numa Orquestra com características particulares, que se baseia num contexto de educação não formal. A música tem vindo a ganhar terreno “nos projectos que procuram o pleno exercício da cidadania de crianças e adolescentes em risco (…) Estudos específicos realçam o impacto que projectos de inclusão social que utilizam a música como eixo condutor têm tido no processo de recuperação da identidade e da auto-estima” (Elvas, 2010, p.294). Assim, a Orquestra Geração de Amarante propõe-se a reaproximar o aluno da escola e da sociedade.

O Projeto Centro Cultural de Amarante: Orquestra Geração, enquanto objeto de estudo, proporciona a exploração da questão do ensino musical como uma possibilidade para a inclusão social. Segundo Kater, a educação musical proporciona aos alunos a hipótese de se estruturarem e se organizarem a nível pessoal, a experimentarem novas formas de relacionamento, a terem contacto com outros valores e referências (Kater, 2004, p.49). Desta forma, a música possui a objetivação de uma autorrealização, autoconfiança e socialização no que diz respeito à procura da autonomia quando os alunos são motivados para a ação (Canto, 2010, p.41). A música revela-se importante para a construção da identidade e da construção da cidadania, na medida em que pode proporcionar aos alunos não só o seu desenvolvimento na área musical como, também, noutras áreas curriculares (expressão dramática, expressão plástica, educação físico-motora, estudo do meio, língua portuguesa e matemática). Mas, para além do desenvolvimento de características curriculares, a música possibilita a apreensão e desenvolvimento de particularidades sociais que, quando assimiladas, permitem aos alunos em risco de abandono escolar não só a sua aproximação ao contexto escolar como a sua inclusão social.

A evolução da função da escola levou a uma “descolarização social sobre a função reprodutora no ensino formal” (Arroteia, 1991, p.48). Surge, deste modo, a articulação entre a educação formal e os diversos géneros de educação não formal. No caso específico da Orquestra Geração de Amarante é apresentada uma educação não formal. As características principais de uma educação deste tipo são a organização e a vertente educativa, ao mesmo tempo que possibilita determinadas aprendizagens e constitui processos educativos integrais, mas não tem um currículo definido. Neste sentido, a educação não formal “é complementar

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ao sistema de educação Formal, devendo esta desenvolver-se em articulação permanente, quer com a educação Formal” (Canto, 2010, 35). A Orquestra pretende funcionar em parceria com a escola para tentar contornar a exclusão social e alcançar resultados que não se limitam à aprendizagem de música, mas que através de todos os seus contornos conduz a um caminho de inclusão social, adotando uma estratégia de ensino muito específica. Desta forma, pretendemos compreender se o caminho seguido através do ensino da música na Orquestra proporciona a inclusão social dos alunos.

Os alunos que integram a Orquestra são, em primeiro lugar, sinalizados pela psicóloga do agrupamento de escolas como em risco de abandono escolar. O que significa que são alunos com ausência de ambições escolares, de interesse pela escola, pela matéria e pelas aulas, mas com ambição em relação ao mundo do trabalho. Consequentemente o aluno que se encontra em risco de abandono escolar é “em geral mais velho que os colegas do mesmo grau de ensino, fruto de repetências, não aparece apoiado pelas famílias, vive num meio familiar e intelectualmente desfavorecido e tem em geral um rendimento escolar insuficiente” (Carneiro, 1997, p.319). O abandono escolar demonstra a rejeição da escola por parte dos alunos que, na maioria das vezes, acabam por ser excluídos pela instituição, o que torna o abandono escolar um problema “pelas repercussões que terá na vida dos indivíduos e das suas sociedades” (ibidem, p.302). Todo este trabalho é elaborado tendo em consideração que existe uma população-alvo definida. Por isso, os alunos a quem se destina o projeto têm determinadas características, sendo que o sexo e o género não são variáveis que interferem para a sua seleção. Outras especificidades como o grau de escolaridade, o contexto escolar e familiar e o contexto sociodemográfico e socioeconómico são tidos em conta, uma vez que a Orquestra integra alunos em risco de abandono escolar e estas são variáveis que podem ajudar a definir o perfil de um aluno nesta situação e que pode integrar o projeto.

Ao fazerem parte do projeto os alunos tendem a sentir o seu impacto a vários níveis, quer estes sejam positivos ou negativos para eles. Esta questão não vai apenas depender da Orquestra Geração, já que os alunos possuem representações sociais sobre o projeto e vão criar um grau de identificação quando são incluídos nas atividades. Mediante este aspeto é necessário compreender o modo de integração dos alunos na Orquestra, perceber o seu contexto escolar e familiar, tal como compreender quais os alunos que frequentam a Orquestra Geração de Amarante.

Antes de existir abandono do aluno da instituição escolar existe o insucesso, é nesta fase que os alunos são sinalizados pela psicóloga. O insucesso começou por ser visto como um sinal da exigência do sistema educativo e, quando resultava em abandono escolar, era tido

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como uma forma de ajustamento (Carneiro, 1997). Consequentemente, a responsabilidade do insucesso era do aluno e não eram tidos em conta outro tipo de fatores. Atualmente, o insucesso escolar já não é visto desta forma, as suas causas são variadas e dependem de fatores exógenos e endógenos. Todas as crianças têm direito a serem inseridas no sistema educativo, mas elas não são iguais em termos intelectuais, de apoio dos pais, da família, dos amigos e do grupo, na sua condição socioeconómica e cultural (Tavares, 1999). Assim, para perceber as razões do insucesso escolar e para serem encontradas respostas é preciso entender que ele não está apenas centrado no aluno, existem outros agentes que têm de ser equacionados.

Neste intuito, o papel dos encarregados de educação/pais é importante, pois “têm um papel insubstituível no desenvolvimento educativo” (Carneiro, 1997, p.297) dos alunos. Os acontecimentos e assuntos presentes na escola interferem e fazem parte da relação pais-filhos, uma vez que as vivências da escola são parte fundamental da comunicação em família, o que torna a escola um fator muito presente na definição da relação pais-filhos. O insucesso ou sucesso na escola define o ambiente familiar. Logo, é “necessário incentivar todo o tipo de acções desenvolvidas pelas instituições escolares no sentido de aproximar os pais da vida escolar dos filhos, muito embora o sucesso dessa aproximação pareça estar dependente, em muitos casos, de variáveis pessoais nem sempre presentes na maioria das situações” (Azevedo; Silva; Fonseca, 2000, p.12). Observa-se, então, o importante papel da família, uma vez que a comunicação com esta é, por vezes, difícil devido à falta de informação e de capacidades sociais que possam levar a uma melhoria da comunicação e interação. Torna-se importante uma aproximação para que seja possível o surgimento dos estímulos necessários que proporcionem uma participação positiva. Isto revela-se mais importante nas famílias desfavorecidas, onde se observa uma maior dificuldade em entender os projetos educativos. Logo, propomo-nos a entender quais as representações sociais dos encarregados de educação em relação à participação dos seus educandos na Orquestra Geração de Amarante. Surgindo, desta forma, como hipótese teórica: os encarregados de educação passam a acompanhar o desempenho escolar dos seus educandos mais regularmente.

Outra questão relevante é a missão dos professores, já que na prática educativa deve existir uma concordância entre a igualdade, a tolerância, o respeito e o diálogo entre os docentes e alunos. Todavia, hoje em dia, verifica-se uma certa discordância entre o multiculturalismo e os conteúdos programáticos, o que suscita um sentimento de deslocalização dos alunos que não se identificam com o que está a ser lecionado. Para que se verifique uma melhor comunicação e interação entre professor e aluno é necessária uma

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planificação das várias estratégias de ensino e aprendizagem, com o objetivo de existir respeito e justiça.

A educação não formal através da música torna-se, assim, uma mais-valia para a inclusão social e para o desenvolvimento dos alunos. O que indica que a educação não pode corresponder apenas à transmissão de conhecimentos é preciso ter em consideração a diversidade dos alunos e os vários ritmos de aprendizagem. O que torna a educação uma forma de desenvolver a comunicação, a expressividade, a criatividade, a socialização e os laços com a sociedade que não se podem limitar a estarem apenas presente na escola, pois “A educação pode fazer a diferença no futuro, uma vez que o futuro será, sem sombra de dúvida uma sociedade baseada no conhecimento” (Canto, 2010, p.30). Na perspetiva de Teixeira Fernandes, “Hoje (…) a função educativa das sociedades modernas extravasa o sistema escolar” (Fernandes, 2002, p.183). A educação não formal é a base do ensino do Projeto Centro Cultural de Amarante: Orquestra Geração, pois apesar de não ser um projeto inserido no ensino escolar funciona em parceria com a escola, para “ensinar e motivar a aprendizagem através de actividades/iniciativas conjuntamente lúdicas, motivadores e desafiantes, que permitam ao grupo alvo um maior e mais eficaz desenvolvimento pessoal e social” (Quintas; Castanõ cit. por Canto, 2010, p.33). Desta forma, a Orquestra para poder funcionar corretamente tem um espaço físico definido, que lhe permite lecionar as aulas de música. Está assente numa pedagogia e organização, que proporciona a planificação do ano letivo e que estão intrinsecamente ligadas aos objetivos.

Importa, então, perceber o impacto da Orquestra Geração de Amarante na vida dos seus alunos, a nível escolar e social. O que nos leva a colocar como hipóteses teóricas que o tipo de pedagogia adotada tem suscitado resultados positivos na inclusão social dos alunos e que os mesmos deixam de estar identificados como em risco de abandono escolar.

Nesta perspetiva, tentamos percecionar o Projeto Centro Cultural de Amarante: Orquestra Geração enquanto realidade microssocial, em que todas estas características podem contribuir para a inclusão social. Por isso, é importante questionar: de que forma o ensino da música e a integração numa Orquestra Juvenil, com características específicas, permite a inclusão social dos alunos em risco de abandono escolar? Tendo em consideração que a Orquestra integra alunos entre os 10 e os 15 anos de idade, do Agrupamento de Escolas Amadeo de Souza-Cardoso, é sobre esta população que recai a nossa perspetiva e análise. Assim, os alunos que integram o projeto são a população-alvo definida para esta investigação. Mediante estas questões desenhámos o Modelo de Análise apresentado na Figura 2.1.

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Figura 2.1: Modelo de análise

2.2. O Projeto Centro Cultural de Amarante: Orquestra Geração. Da