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3. MÉTODO DE PESQUISA

3.1 Problema de pesquisa, modelo teórico e hipóteses

O problema fundamental deste estudo, conforme apresentado na seção de introdução, questiona quais seriam as relações entre a compatibilidade diática dos valores dos gestores e de seus subordinados e o estado pessoal de qualidade de vida no trabalho desses gestores e subordinados.

Segundo a discussão teórica sobre compatibilidade diática, essa relação pode ser obtida por uma fonte subjetiva ou objetiva (ANDERSON, 1994; KRISTOF-BROWN; ZIMMERMAN; JOHNSON, 2005). Como teoricamente as duas formas de compatibilidade apresentam relações com outras variáveis, este estudo teve como objetivos principais:

(a) investigar a associação entre a compatibilidade dos valores pessoais dos subordinados e os valores sociais dos subordinados com relação aos seus gestores (compatibilidade subjetiva) e o estado pessoal de qualidade de vida no trabalho desses subordinados,

(b) pesquisar a associação entre a compatibilidade dos valores pessoais de gestores e dos subordinados (compatibilidade objetiva) e o estado pessoal de qualidade de vida no trabalho desses gestores e subordinados.

Decorrente dos objetivos primários, este estudo buscou destacar qual dos tipos de compatibilidade ! subjetiva e objetiva ! teve mais efeito sobre o estado pessoal de qualidade de vida no trabalho dos membros da díade, conforme recomendações de futuras

pesquisas de Schwartz (2011). Segundo questionamento do autor: “O que é mais crítico: a compatibilidade com os valores reais ou com os percebidos no ambiente? Será que a compatibilidade de alguns valores tem mais impacto no bem-estar que a compatibilidade de outros?”29 (SCHWARTZ, 2011, p. 312, tradução nossa). No entanto, faz-se importante

destacar que por limitações operacionais deste estudo não foi pesquisada a influência da compatibilidade subjetiva na perspectiva dos gestores.

Para esta pesquisa, conforme discutido no referencial teórico deste trabalho, entende-se valores pessoais dos subordinados ou dos gestores como “[...] um princípio analógico implícito construído a partir do julgamento sobre a capacidade das coisas, pessoas, ações e atividades de garantir a melhor forma de viver possível.”30 (ROHAN, 2000, p. 270, tradução

nossa). Esses valores representam direcionadores motivacionais pessoais, que orientam escolhas, decisões, comportamentos, ações, e que são organizados em torno dos seguintes tipos motivacionais: hedonismo, realização, poder, autodeterminação, estimulação,

conformidade, realização, benevolência, segurança, universalismo (SCHWARTZ, 1992;

2005b). As oposições e adjacências entre os valores evidenciam a divisão dos tipos motivacionais em duas dimensões bipolares ou valores de ordem superior que são opostas entre si: abertura à mudança-conservação e autopromoção-autotranscendência (SCHWARTZ, 1992).

Os valores sociais dos subordinados com relação aos seus gestores foram entendidos como a percepção desses subordinados sobre os valores pessoais de seus gestores. Esta abordagem baseia-se na definição de Rohan (2000) sobre o sistema de valores sociais: “Sistemas de

valores sociais representa a percepção das pessoas sobre o julgamento dos outros quanto a

capacidade dos entes de possibilitarem a melhor forma de viver possível, sendo isso os valores prioritários dos outros.”31 (ROHAN, 2000, p. 270, grifo da autora, tradução nossa).

29 “What is more critical: the fit with the actual or with the perceived values in the environment? Does the fit on

some values have more impact on well-being than the fit on others?” (SCHWARTZ, 2011, p. 312).

30 “A value is an implicit analogical principle constructed from judgements about the capacity of things, people,

actions, and activities to enable best possible living.” (ROHAN, 2000, p. 270, grifo da autora).

31 “Social value systems concern people’s perception about others’ judgments concerning the capacity of entities

Segundo a autora, esse classificação de valor deve seguir a mesma estrutura dos valores pessoais de Schwartz (1992).

O estado pessoal de qualidade de vida no trabalho, para este trabalho, baseou-se nos estudos de Limongi-França (1996; 2009), Martel e Dupuis (2006), Rice et al. (1985) e Paschoal e Tamayo (2004) e é entendido como a condição experimentada por um indivíduo resultante da

comparação cognitiva entre sua posição atual de vida no trabalho e seu padrão desejado, levando em conta o conjunto de escolhas de comportamento, metas e estímulos do ambiente que esse indivíduo experimentou até um determinado ponto no tempo, bem como suas expectativas futuras de resultados.

Ademais, a compatibilidade diática de valores entre gestores e subordinados foi compreendida como a congruência dos tipos de valores descritos anteriormente na relação diática entre

gestor e subordinado. Conforme discutido no referencial teórico, essa compatibilidade

compreende as dimensões da similaridade (compatibilidade suplementar) e da complementaridade (compatibilidade complementar) entre o indivíduo e seu gestor (KRISTOF-BROWN; ZIMMERMAN; JOHNSON, 2005).

O modelo teórico da regressão polinomial utilizado neste estudo é apresentado na Equação 1 abaixo:

Zi = !0 + !1di1 + !2di2 + ... + !kdik + ei, (1)

em que:

- Zi = estado pessoal de qualidade de vida no trabalho do i-ésimo indivíduo;

- dip = a distância das p-ésima questão de valores para o i-ésimo indivíduo;

- ei ~ N(0, !2), independentes.

Vale destacar que dip pode representar as distâncias algébrica (X-Y), absoluta (|X-Y|) ou

quadráticas (X-Y)2. Assim sendo, o conceito de compatibilidade como a distância entre duas variáveis (KRISTOF-BROWN; ZIMMERMAN; JOHNSON, 2005) ainda é considerado para a medição da compatibilidade. No entanto, pelas limitações apresentadas anteriormente, é

necessário alocar essa medida em um outro contexto, o da regressão polinomial, a fim de melhor representar o fenômeno.

O problema da pesquisa pode ser visualizado no modelo teórico proposto na Figura 5 a seguir.

Figura 5 ! Modelo teórico da pesquisa.

FONTE: elaborada pelo pesquisador.

Decorrentes do modelo e dos objetivos da pesquisa, três hipóteses foram testadas neste estudo. No primeiro caso (H1), baseando-se nas associações entre compatibilidade subjetiva

de valores e estresse negativo de Bouckenooghe (2005) e Rohan e Maiden (2000) apud Rohan (2000), admitiu-se que quanto maior fosse a compatibilidade diática subjetiva dos valores, maior seria a avaliação do estado pessoal de qualidade de vida no trabalho dos subordinados. Analogamente, no segundo e terceiro casos (H2 e H3), baseada nos achados das associações

entre compatibilidade objetiva de valores e o bem-estar de Sagiv e Schwartz (2000), também adotou-se que quanto maior fosse a compatibilidade diática objetiva dos valores, maior seria a avaliação do estado pessoal de qualidade de vida no trabalho dos membros da díade.

Finalmente, com relação ao objetivo secundário desta pesquisa, tomou-se como base estudos anteriores como o de Enz (1988), Rohan e Maiden (2000) apud Rohan (2000) e Harrison, Price e Bell (1998), para se admitir que a compatibilidade subjetiva de valores tenha maior associação com o estado pessoal de qualidade de vida no trabalho do que a compatibilidade objetiva de valores.