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Problemas enfrentados pelos operadores do direito com a comunicação eletrônica

2 A COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS NO PROCESSO ELETRÔNICO

2.3 Problemas enfrentados pelos operadores do direito com a comunicação eletrônica

As reformas trazidas pelo processo eletrônico no ordenamento jurídico pátrio tornam em primeiro momento a justiça ainda mais célere, proporcionando às partes acesso da movimentação processual, de modo que não precisa mais dos autos físicos para obter conhecimento dos atos processuais.

Contudo, existem divergentes posicionamentos sobre a efetividade da comunicação automática dos atos processuais, principalmente quanto à publicidade destes, ferindo princípios básicos de nosso ordenamento jurídico.

Nesse sentido, tece o seguinte comentário o autor Almeida Filho (2012, p. 225):

A prática dos atos processuais por meio eletrônico não é novidade no Brasil. Contudo, a norma recém editada não se apresenta tão simples de ser adotada, a não ser com o grande trabalho que a doutrina e a jurisprudência deverão apresentar a fim de sanar o grande vazio que se encontra no texto legal. Reprisamos que as decisões judiciais devem estar atentas à evolução da sociedade e do próprio processo, sob pena de verificarmos [...] um verdadeiro anacronismo.

Contudo, a Lei que ditou as regras para a informatização do processo judicial foi questionada pela Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 3.880/07, ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, sobre as transformações do processo eletrônico no âmbito judicial brasileiro, principalmente quanto à sua segurança e ao ato da intimação eletrônica, chamado de sistema da auto-intimação.

Deste modo, a Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 3.880/07 faz uma análise crítica sobre a intimação eletrônica realizada ao profissional do direito, requerendo seja julgada inconstitucional a Lei, no que concerne ao seu artigo 5°, por entender que a intimação eletrônica fere a publicidade dos atos judiciais, dificultando aos operadores de direito a sua eficácia cotidiana.

Para Almeida Filho (2012, p. 267), “a ficção da intimação pessoal é por demais perigosa no processo eletrônico, diante da insegurança dos nossos sistemas tecnológicos, já que o Brasil encontra-se muito atrasado em termos de tecnologia.”

Nesse contexto, menciona Paulo Takimitsu Schime (2007, p. 6):

Observa-se, assim, a preocupação da Ordem dos Advogados do Brasil no apontamento da suposta inconstitucionalidade dos artigos 4º e 5º da Lei 11.419/2006, que tende a ferir os princípios da publicidade e da isonomia, interferindo na classe dos advogados,

economicamente heterogênea, pois há os que possuem

computadores conectados à Internet e os que não dispõem deste meio, por falta de recursos ou disponibilidade técnica. Outro aspecto relevante é a necessidade de um meio de comunicação tecnologicamente estável para a transmissão de dados e com bom nível de segurança, objetivando preservá-lo de possíveis invasões nas mensagens que possam alterar o conteúdo ou obstaculizar o seu recebimento.

Sobre as dificuldades enfrentadas no dia-dia pelos profissionais de direito, comenta Almeida Filho (2012, p. 63, grifo do autor):

Os tribunais estão lançando, cada vez mais, procedimentos a serem raticados por meios eletrônicas e inexiste uma padronização para o peticionamento que está dificultando os profissionais do direito e reclama imediata solução. O ordenamento jurídico material ainda não se encontra suficientemente dotado de mecanismo de controle desta

sociedade da informação tecnológica e a importância do direito

processual se apresenta neste novo cenário. Contudo, é preciso vencer barreiras que nos parecem, ainda, instransponíveis.

Destaca Reinaldo Filho (2007, p. 7), “que o cadastramento do usuário implica em expresso compromisso de acessar periodicamente o site próprio do tribunal, para ciência dos atos e termos processuais.”

Deste modo, caso não ocorra por parte do usuário o acesso ao site, ocorrerá a intimação do mesmo após dez dias que incluída a intimação no site, consoante se estabelece no § 3º, do artigo 5º da Lei do Processo Eletrônico:

§ 3o A consulta referida nos §§ 1o e 2o deste artigo deverá ser feita em até 10 (dez) dias corridos contados da data do envio da intimação, sob pena de considerar-se a intimação automaticamente realizada na data do término desse prazo.

Oportuno mencionar que a intimação no processo judicial é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e termos do processo, para que faça ou deixe de fazer alguma coisa, conforme dispõe o artigo 234, do CPC.

Neste aspecto, destaca Schime (2007, p. 14):

É de esperar, portanto, que o disposto na parte final do artigo 5º da Lei 11.419/06 somente seja aproveitável quando todos os advogados forem cadastrados no sistema judiciário e as comunicações, independente de seu destinatário, sejam enviadas a todos os envolvidos no processo. Há que se acautelar, contudo, para que essa forma de comunicação não sobrecarregue os meios de comunicação, tanto na sua origem (cartório) quanto no seu destino (advogados).

Sabe-se então do estudo realizado, que a partir do momento em que a parte aderir a termo constante nos sítios dos Tribunais, a sua simples entrada na movimentação do processo certificará a prática do ato processual, considerando a intimação fictícia e a contagem do prazo.

Para Moraes (2008, p. 37), a nova forma de intimação causará prejuízo ao processo no que concerne a natureza de urgência, considerando-a inadequada:

Sem dúvida, o prazo de 10 dias concedido ao advogado inviabilizará, na maioria dos casos, a intimação via PPA em processos de natureza urgente, v.g., pedidos de medidas cautelares, forçando, assim, excepcionar a utilização do DJe do tribunal para advogados cadastrados. Na prática, o prazo de 10 dias fará com que o advogado cadastrado tenha que consultar além do seu PPA também o DJe do tribunal, pois, a depender da urgência da intimação, este substituirá aquele.

Assim, no processo eletrônico, as partes interessadas devem realizar cadastro em área específica, apenas tomando ciência da comunicação dos atos do processo, caso verifiquem diariamente a movimentação do processo, ferindo desta forma, os princípios constitucionais da publicidade e da isonomia.

Sobre a publicidade da intimação menciona Schime (2009, p. 12);

A intimação tem dupla finalidade: cientificar o profissional da necessidade de sua intervenção no processo e levar ao

conhecimento dos interessados, especialmente do patrocinado pelo advogado intimado, de que está havendo uma movimentação processual que afeta seu direito.

Almeida Filho (2012, p. 265), destaca que “não há como garantir o recebimento da intimação por meio eletrônico, ocorrendo dessa forma, um grave problema no texto legal e violação ao direito da ampla defesa e contraditório.”

Neste sentido, refere ainda o autor (2012, p. 265 e 271) sobre a citação eletrônica:

Há um grave problema no texto legal. Trata-se da citação por meio eletrônico. Não há como garantir o recebimento da citação por meio eletrônico. A citação eletrônica ainda é prática não aconselhada e felizmente o texto legal ressalva que a mesma poderá assim proceder. [...] Não se trata de norma de direito cogente. Ocorrendo a citação nos termos das legislações específicas, nada impede que haja uma digitalização com autenticação eletrônica e a certificação nos autos de sua juntada. Neste primeiro momento, é o que mais de seguro se pode pensar.

Vale destacar que a citação é o ato pelo qual se chama a juízo o réu ou interessado a fim de se defender, consoante se verifica do art. 213 do CPC, tendo como finalidade dar o conhecimento ao réu ou interessado da ação, para poder exercer o direito do contraditório e da ampla defesa.

Contudo, conforme dispõe o art. 5º da referida Lei n° 11.419/06, o acesso ao Portal Próprio é restrito aos advogados cadastrados das partes.

Outro aspecto considerável é questão da segurança e o vazamento de informações. Neste sentido, dispõe Almeida Filho (2012, p. 288) sobre a segurança atinentes à comunicação dos atos eletrônicos:

Os hackers, krackers e os lammers não pouparão esforços no sentido de interceptarem comunicações entre os tribunais e o citando. Isto sem considerar que a mensagem poderá não chegar ao destinatário por motivos diversos dos ataques, como a mudança de correio eletrônico ou indisponibilidade do sistema.

Analisando a maneira como ocorrerá a intimação, verifica-se que no Diário de Justiça eletrônico disposto no art. 4° da Lei, o acesso será permitido ao público em geral como as partes, advogados, terceiro interessado, sem necessidade de prévio cadastramento, já a comunicação dos atos realizada por Portal Próprio do Advogado, conforme art. 5° da Lei só terá acesso o profissional que estiver devidamente cadastrado.

Para Moraes (2008, p. 25):

O atual procedimento de intimação desde a prolação da decisão até sua efetiva realização, acaba por concluir que é inapropriada a Lei nº 11.419/2006 na parte que supõe que o sistema eletrônico não atenderá tão bem às urgências quanto o sistema tradicional.

Menciona o Almeida Filho (2012, p. 226), que “a Lei n° 11.419/2006, em verdade, não possui natureza meramente processual. Até mesmo porque a figura do processo parcialmente digital não se apresenta razoável.

Assim, operador do direito, mais precisamente o advogado, precisará consultar diariamente todos os seus processos pra ter a cientificação da intimação do processo eletrônico. Deste modo, o risco de vulnerabilidade desse sistema informatizado viola os princípios basilares de nosso sistema processual, sendo que a publicidade dos atos processuais no processo eletrônico, deve ser analisada com cuidado, em respeito ao princípio da dignidade humana e contraditório.

Destaca Almeida Filho (2012, p. 417):

O homem deve pensar e utilizar a máquina como um instrumento a mais para a concretização da cidadania. Pensar o processo sobre um novo prisma, revistar conceitos e teorias, adotar a idéia da dicotomia homes x máquina pode deixar de ser uma oposição, e ao contrário, transforma-se em união. Em suma, o eletrônico, sob nossa visão, humaniza o Direito, ao passo que em que o Direito não se torna eletrônico pela informatização.

Para concluir, descreve ainda Almeida Filho (2012, p. 288), que a questão posta diz respeito ao acesso à Justiça e, para que isso ocorra, é preciso que as normas processuais estejam adequadas a uma realidade nacional e para todos.

CONCLUSÃO

O presente estudo objetivou compreender melhor o funcionamento do processo eletrônico no ordenamento jurídico brasileiro, bem como analisar se a comunicação automática dos atos processuais eletrônicos possibilita celeridade, publicidade e segurança jurídica a seus operadores e às partes interessadas nas demandas judiciais.

Sabe-se que a sociedade vem evoluindo aos passos da tecnologia de maneira acelerada, de modo que a prestação jurisdicional deve acompanhar esta inovação. Neste ponto, a lei n° 11.419/06 que ditou as regras sobre a informatização da justiça brasileira, traz grande expectativa de aceleração das demanda judicias, informatizando o processo com essa nova técnica diferenciada na justiça brasileira, possibilitando a comunicação de todos os atos processuais através da internet.

Assim, estabelece a Lei do processo eletrônico, que o processo físico, em papel, tende a desaparecer, sendo que os operadores de direito poderão ter acesso virtual de todos os atos do processo, podendo ingressar com ação, juntar petições, interpor recursos, manifestar-se aos autos, dentre outras vantagens, sem necessidade de se deslocar até os cartórios judiciais, o que representa grande inovação ao procedimento processual brasileiro, melhorando a prestação jurisdicional, tornando-a mais célere e efetiva.

Contudo, existe ainda muita dúvida e desconfiança neste sistema de processo eletrônico, principalmente quanto a segurança e efetividade dos atos, pois há grande resistência entre os operadores de direito para a adoção deste procedimento. Para

muitos operadores, este novo procedimento ainda é desconhecido, o que traz dificuldades na sua operação, e até, aceitação.

Deste modo, percebe-se que a segurança e a publicidade dos atos processuais são os pontos que mais causam preocupação pelos operadores de direito e profissionais da área.

Em última análise, é possível dizer que o processo eletrônico se apresenta como um grande avanço ao direito processual brasileiro, mas necessita ainda de estudo quanto à sua idealização para atingir seu fim que é dar celeridade e segurança na prestação jurisdicional, garantindo acesso à justiça a todos que interessa.

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