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Tratadística

5.4. Uma arma para atacar, defender e contra-atacar

5.4.3. Problemas e limitações

Tal como foi explicado anteriormente o objetivo de uma armadura é proteger de proteger o seu utilizador e permitir a maior amplitude de movimentos possível, no entanto por cada peça de armadura que utilizamos o peso que temos que transportar aumenta, o que por sua vez aumenta o nível de cansaço. Por norma quem utiliza uma armadura possui várias camadas de proteção corporal, a primeira são as suas roupas normais, a segunda camada é o acolchoamento e a terceira camada acaba por ser a sua armadura por si, que no caso do século XIV existe uma quarta camada que é a adição de um peitoral de aço por cima da cota de malha, existindo também um tabardo que podia ser utilizado por cima desta armadura.

Sobre o acolchoamento por norma era utilizada uma coifa para proteger a cabeça do elmo, mas também era utilizado um perponto318, que protege o tronco e os braços dos impactos das maças de armas e de outras armas, porque apesar de uma armadura impedir os cortes, na realidade é este tipo de acolchoamento que protege o corpo humano dos impactos. Se pensarmos agora nas armaduras do século XIV que são maioritariamente compostas por cota de malha, podemos afirmar que a utilização da cota de malha, é perfeita para impedir cortes no corpo, é bastante fácil de reparar caso um dos seus anéis se quebre319 e a sua manutenção é também bastante simples, porque se for utilizada constantemente a fricção entre os anéis acaba por limpá-los de qualquer ferrugem sendo apenas necessário passar um óleo fino por estes anéis para fazer a sua

317 RECTOR, Medieval Combat…, placas 70-73 e 128-150. 318

WAGNER, Medieval Costume…,parte II placa 10 e placa 15.

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manutenção. No entanto, quando vestimos uma cota de malha descobrimos que o peso é principalmente suportado pelos nos ombros e com a utilização de um cinto, o peso passa também por ser suportado pela cintura, mas mesmo com a utilização de um cinto, os ombros continuam a suportar maior parte do seu peso. Sem a utilização do cinto iriamos verificar um grande desequilíbrio provocado pela armadura, porque uma vez que esta não está fixa ao corpo irá abanar de um lado para o outro consoante o movimento do seu utilizador. E se o seu utilizador estiver em cima de um cavalo, é possível ver a cota de malha de deslocar-se constantemente de um lado para o outro e se esta pessoa não estiver a utilizar um cinto, este poderá cair ao chão devido ao peso e desequilíbrio exercidos pela armadura quando o cavalo fizer uma curva. Como foi referido anteriormente, o século XIV foi um século de transição, em que a cota de malha começou a ser lentamente trocada por placas de aço e em muitos dos casos, a as placas de aço estavam a ser utilizadas diretamente por cima da cota de malha, como é o exemplo dos peitorais de aço. No entanto o peso da armadura não era distribuído por todo o corpo o que por sua vez limitava ligeiramente a amplitude de movimentos e aumentava o cansaço.

No princípio do século XV as armaduras começam a ser compostas maioritariamente por placas de aço, sendo a cota de malha utilizada apenas para proteger pequenas zonas da armadura que têm que ser flexíveis, mas que não podem ser protegidas pelas placas de aço, como é o exemplo da zona genital ou a zona por debaixo das axilas.320 Por estas razões o peso das armaduras passou a ser menor, mas também começou a ser muito mais destruído pelo corpo, o que por sua vez significa que quem utilizava estas armaduras podia fazer quase tudo o que uma pessoa sem armadura podia fazer, o seu utilizador não se cansava tanto, todavia existiam certas desvantagens para a utilização desta armadura. Verificamos que uma pessoa necessita sempre de ajuda para se equipar e desequipar, por sua vez aumentou também o tempo que uma pessoa demorava para vestir e despir estas armaduras, mas o maior problema de todos, é o aumento do risco de desidratação, porque com o corpo todo coberto por placas de aço, ocorre um aumento da temperatura corporal que em casos poderá levar à morte.

Apesar de a utilização de uma armadura ter como objetivo permitir o maior número de movimentos possível e ao mesmo tempo proteger o corpo de qualquer ataque, em alguns casos verificamos que dependendo da armadura que está a ser

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utilizada o corpo humano deixa de conseguir movimentar-se de maneiras especificas, como por exemplo elevar os braços acima do nível dos ombros. Contudo, não nos podemos esquecer do maior problema e limitação que existia numa armadura, que era a utilização de um elmo, pelo simples facto de que apesar de um elmo proteger o crânio do seu utilizador, em muitas das situações o elmo reduzia de forma drástica a visibilidade do seu utilizador, o que por sua vez deu origem a elmos com viseiras que podiam ser levantas retiradas. Mas um dos grandes problemas da utilização de um elmo, é o peso extra que este coloca na cabeça do seu utilizador, aumentando por sua vez o nível de desequilíbrio. E devido à evolução das técnicas de combate, em algumas situações era possível segurar no elmo do adversário e derrubá-lo321, mas também surgem técnicas de combate onde o pomo da espada é utilizado para no elmo do seu utilizador, o que por sua vez podia provocar a desorientação do adversário e por sequência a morte.