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A GEOGRAFIA DA ESPADA

3.3. PROCESSOS DE DISTRIBUIÇÃO

Tal como foi observado anteriormente nos últimos séculos da Idade Média, existiam locais onde homens livres que não fossem nobres poderiam transportar dentro das cidades espada ou outro tipo de armas, e se não pudessem transportar armas na rua, teriam algum tipo de armamento defensivo e ofensivo em sua casa. Ora, para que estas pessoas pudessem ter o seu próprio armamento, era necessário que existissem processos de distribuição definidos. A forma de obter equipamento é comprando-o diretamente a um armeiro localizado não muito longe, ou efetuar encomendas a oficinas localizadas a distâncias bem maiores, o que envolve um processo mais complexo e dispendioso, sobretudo ao nível dos processos de transporte. Existiam três formas para transportar mercadorias e bens durante a Idade Média. A primeira forma estava no uso das vias terrestres usando mulas, carroças e variados tipos de carretas122, que transportavam os bens requisitados através de várias estradas. Mas existem limitações para a quantidade de mercadorias que aqueles animais e veículos podiam transportar, a condição das estradas, a distância e o clima, são fatores que influenciam a qualidade e o tempo de deslocação. O grande sistema de transporte preferido pelas várias sociedades medievais europeias é, sem dúvida, o fluvial. Se existe um rio que faça a ligação direta entre o local de partida e o ponto de chegada, as mercadorias eram rapidamente despachadas através de barcas, que garantiam um transporte mais rápido, em maiores quantidades e bem mais barato123. Contudo, o transporte fluvial estava limitado à navegabilidade de cada rio e às tarifas de fretagem das embarcações e às sucessivas portagens. Fatores que também afetavam o transporte por meios terrestres. A quantidade de taxas aplicadas ao longo das distâncias percorridas podia ser significativa e ainda carece de estudos de maior pormenor:

«O tráfego rodoviário repartia com o tráfego flutuante a crescente praga de taxas e impostos sobre a passagem de mercadorias. Nos anos de anarquia, entre aproximadamente 850 e 950 a 1000, os senhores locais exigiam pedágios dos viajantes mesmo daqueles que não estavam envolvidos em comércio»124.

122 HODGETT, História Social e Econômica da Idade Média, pp. 126-128. 123

Idem, pp. 128-131.

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«A rota rodoviária entre Flandres e a França, muito frequentada no século XIII, tinha numeroso postos de pedágio, muitos dos quais, no trecho do Norte da França, não podiam ser evitados. Os rios eram similarmente taxados. Os viajantes eram pesadamente taxados nos rios Loire, Somme, Oise, Ródano e Garona e no rio Sena as taxas sobre o cereal transportado numa distância de 320 quilômetros equivaliam a mais da metade de seu preço de venda»125.

Caso não fosse vantajoso fazer o transporte de mercadorias por via terrestre, ou por via fluvial, podia ser feito o transporte por via marítima, o que permitia um transporte a uma maior distância e com um maior número de carga, desde que as condições climáticas assim o permitissem. Um processo de transporte vital para o progresso dos reinos português e castelhano nos finais do século XIV e do século XV:

« Up to the last fourteenth century most of the scant long-distance trade of Portugal had been directed northwards, especially to Flanders, England and Normandy (…)»126

.

«Iron, the pother (and older) trump card of Castile, was the special asset of the Basques, who in 1293 had exported about 4,500 tons of it, chiefly to northern Europe, and maintained a lively economic pace in the harder times that followed. By the fifteenth century a number of Basque merchant ships frequented the Mediterranean»127.

«Nuremberg at that time (1304-7) produced linen and iron ware, but was not a great exporting center. In 1332, however, we hear that its citizens enjoyed cost reductions in 69 cities, and a little later arms made in Nuremberg are mentioned in Spain, Italy and Flanders»128.

«(…) None of these things was at all surprising, for a clump of swords all mixed together like that could not have been casually lost, or ritually deposited. That part of the Dordogne was the principal supply-route from the great English base at Bordeaux to the up-river castles which in the 1420s and 1440s were still precariously held by the English during the closing years of the Hundred Years’

125 HODGETT, História Social e Econômica da Idade Média, p. 129. 126 CLARKE, The Cambridge Economic History of Europe…, pp. 395-396. 127

Idem, p. 396.

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War. They were evidently (or at least, presumably) in a barge which in some way was sunk, going up to Bergerac or Castillon with supplies»129.

Tendo em conta que vários tipos de mercadorias eram transportadas por via marítima entre Portugal e a Europa do Norte e também com a Itália podemos considerar que para além de matérias-primas era transportado armamento, como as espadas:

«(…) Not always, we know, for blades were exported packed in crates and barrels just as they were later, (…)»130

.

«(…) It was later established that the swords (no sign of scabbards or metal scabbard – mounts was found) were in a chest, and that chest was in a barge»131.

Uma outra forma onde se deve considerar o sistema de distribuição de espadas é através dos arsenais132. Estes armazéns militares de armamento podiam pertencer a um rei, ou a um nobre, ou até mesmo às cidades burguesas europeias atlânticas e mediterrânicas. Na eventualidade de um conflito, o rei ou um nobre, tinham o dever de ter os seus arsenais em boas condições, bem recheados, e de armar devidamente os seus súbditos. No fim do conflito todo o armamento cedido tinha de ser devolvido ao arsenal de onde tinha saído. Também as cidades possuem arsenais – uma evidência dos finais da Idade Média – como as cidades germânicas, onde cabia às corporações de armeiros e demais homens livres, providenciar um efetivo suprimento de armas, de tipos e formas muito variadas. Estes arsenais davam a essas cidades uma efetiva e muito eficaz capacidade bélica:

«The fifteenth century also saw the rise of civic armories with their stockpiles of weapons, with both citizenship and guild membership sometimes linked to providing weapons and armor for the armory. The armory both provided a means of arming the poorer members of the citizenry in case of emergencies, and also – perhaps more important – ensured that the government was at least as well-armed as its people»133.

129

OAKESHOTT, Records of the Medieval Sword, p. 11.

130 OAKESHOTT, The Archaeology of Weapons…, p. 326. 131 OAKESHOTT, Records of the Medieval Sword, p. 11. 132

BARROCA, Nova História Militar de Portugal…, p. 190.

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«While ordinary citizens were charged only with maintaining ‘protective armor or a good man´s arms’ for themselves and other members of their household, privileged members of society had to provide horses and both weapons and support for several armed me. Even among those of similar social status who faced the same requirements, the quality and type of weapons maintained by each citizen naturally varied widely. Some men had less disposable income than others to invest in weapons, and others chose to spend more on them out of personal interest. On the lower end of the social scale, citizens and town residents who because of youth or poverty were without appropriate arms (poorer journeymen, apprentices, day laborers and servants, for example) might be outfitted by the civic armory in case of an emergency»134.

134 Idem, p. 18.

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