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Problemas municipais

No documento Estud. av. vol.15 número42 (páginas 82-85)

SANTO SIQUEIRA – Queria agradecer o convite, no sentido de que aprendi

muito. Minha função aqui é pontuar, com alguns exemplos, o que ocorre na escola. Com relação à municipalização, vou mencionar casos que têm acontecido em Cotia e pode estar acontecendo em muitos outros municípios. Por volta de julho do ano passado, terminou a gestão do Conselho do FUNDEF Municipal de Cotia. Foi eleito um outro grupo de representação e não foi dada posse ao novo grupo. Quando se chegou à nova administração, porque houve mudança de prefeito, em janeiro, foi pedido ao Conselho eleito, mas não empossado, que seus membros assinassem o balancete da gestão anterior. Eles fizeram algumas perguntas, havia um conselheiro muito atento, e como se recusaram a assinar, não tomaram posse, sendo eleito um novo grupo, um novo Conselho. Mas o conselheiro referido conseguiu se eleger no

novo grupo e, assim, ainda não assinaram o balancete porque há muitos problemas. É muito difícil, mesmo agora com esse Conselho, ter acesso a dados totalmente transparentes. Não se tem controle exato, mesmo que se façam cálculos: tem-se “x” profissionais, dividindo-se o bolo “y” por por este “x”, qual seria o salário? Esses profissionais deveriam estar todos na escola, porém, alguns podem estar recebendo pelo FUNDEF e trabalhando no gabinete do vereador, no gabinete do prefeito. Em Cotia não temos tido condições de acesso a esses dados. Os 962 funcionários que estão recebendo, estão todos na rede? Consegue-se até saber o montante que chega à prefeitura. No final do ano a prefeitura havia anunciado que daria um bônus de

R$ 1400. Depois que as contas foram feitas, esse bônus acabou sendo de R$ 400. Ninguém sabe realmente onde está esse dinheiro. Em Cotia, grande parte dos professores foi municipalizada. Há quase 80 escolas municipalizadas, a maior parte de 1ª a 4ª séries. Diga-se de passagem, houve grande preocupação em separar de 1ª

a 4ª séries e de 5ª série para cima pelo governo Covas. Foi exatamente para municipalizar de 1ª a 4ª séries, porque os prefeitos tinham receio de assumir até a

8ª série. Se fossem separadas, ficaria mais fácil para a prefeitura ficar com as escolas de 1ª a 4ª séries. Esses professores, são mais de mil, não têm pensão, aposentadoria. Recebem pelo estado R$ 800 integrais, porque não pagam imposto de renda, já há nove anos, desde a rede da pré-escola, e nos últimos quatro anos, com os alunos de

1ª a 8ª séries. Não pagam contribuição, cada prefeito joga para a frente. Não se sabe como é que vai ficar em caso de morte, de invalidez, porque nada é recolhido dos professores na rede municipal nos últimos três anos. Há ainda outro problema. Os vereadores interferem muito na rede municipal. Praticamente, o pessoal tem uma distribuição: no bairro tal, é um vereador que indica o diretor, o vice-diretor, e tenho a impressão, por contato com pessoas de outros municípios, que isso se dá em muitos deles. A influência do clientelismo dentro da rede municipal. Aliás, essa era uma das preocupações dos nossos sindicatos maiores, quando se posicionavam contra a municipalização. Além disso, acho que a municipalização empobreceu o currículo, o trabalho dos profissionais da educação. Mas empobreceu-se muito, eu conheço a rede municipal, além da estadual. Em Cotia percebe-se que as escolas estão virando escolinhas para atender ao ensino fundamental. Por exemplo, a secretária da Educação anterior do município ia às escolas municipais, fazia reuniões com os pais de alunos, obrigando-os a irem à escola, sob diversos pretextos. E dizia: “Quando uma professora faltar na 2ª-feira, quem é que pode ira à casa dela? E na 3ª

quem é que pode? ...” Ao invés de o sistema ter uma forma de reposição... Ontem fui visitar uma escola municipal e encontrei duas turmas de alunos que estão há 40

dias estudando na mesma sala de aula, porque faleceu a professora de uma das classes. Não há um sistema de substituição.

No caso da pré escola, há uma classe adaptada, com 43 alunos que ela não comporta. A sala ao lado está vazia, com 25 cadeiras vazias. No outro caso, há 40

dias a professora faleceu, em exercício. Quando falta um professor, como não tem coordenador pedagógico, a diretora fica com a classe, porque não pode dispensar os alunos. Então, acredito, que do ponto de vista da municipalização, empobreceu-se

muito, dificultou... É verdade que os prefeitos querem esses recursos do FUNDEF. Na minha opinião, teria sido preferível – São Paulo tem uma rede que é quase a de um país – mas nos municípios pequenos, a politicalha invade o ensino municipalizado e ele fica muito pobre. Não tem sequer um sindicato forte para fazer frente a esses problemas. A municipalização veio trazer um empobrecimento do ponto de vista do ensino. Tem-se recursos, talvez maiores, mas de fato não contribuíram para uma melhoria de qualidade do ensino.

Do ponto de vista da remuneração, o estado de São Paulo tem divulgado que tem dado nos últimos anos um percentual muito alto no que se refere a aumento salarial. Não é verdade. O que se ouve é que ocorreu uma manipulação no valor da hora/aula. Por exemplo, quem ficasse com uma classe de 3ª série, PEB 1, ficaria das

7 às 12 h, recebendo por 200 aulas. De três anos para cá, esse professor passou a receber por 150 aulas. O aluno teve uma hora/aula diminuída do seu currículo. Como é que o professor não reclamou? Não reclamou porque ele passou a ganhar mais por aula. Mas se se comparar o hollerit dele de anos atrás e o de agora, é a mesma coisa. Ele ganha mais por hora aula agora, mas todo o PEB 1 do estado de São Paulo ganha por 150 horas, e cada aula custa mais, quando anteriormente ele recebia por 200 aulas. O percentual de aumento por aula que eles divulgam é alto, mas, no banco, quando cai o salário, é a mesma coisa, porque o professor perdeu 50

aulas. É a mesma situação do professor do curso noturno. Ele recebia por 25 aulas semanais, cinco por noite. Houve mudança e em vez de pagar aulas de 40 minutos, estão pagando aula de 50 minutos. O professor ganha por aula, só que se ele der todas as aulas da semana, em vez de receber por 25 aulas, recebe por 20. Estatis- ticamente, foi aumentado o valor da aula, mas o professor não recebe mais do que recebia. Enquanto se anuncia que houve aumento – se de quatro para cinco, o

estado de São Paulo não divulga porque diz que a presença da mídia é muito forte – não se divulga que as aulas caíram de 30 para 25 por semana. Tirou-se uma aula por dia. No colegial havia aulas de psicologia, sociologia, filosofia, que foram tiradas, e de três aulas de educação física, agora só há duas. De três aulas de geografia ou história, só há duas também.

NILSON – É aí que se revela o escândalo de se remunerar o professor por hora/aula. Professor não é táxi. Pagar por empreitada é coisa para táxi. A cada vez

que se vai fazer uma tabela de salário, é feita uma projeção para 40 horas semanais, portanto, 200 horas/mês. Só que na realidade, os professores estão ganhando por 150. Bem, a discussão poderia se prolongar ainda por muito tempo, despertando grande interesse, como se pode depreender das fecundas intervenções. Contudo, já ultrapassamos todo o tempo disponível para essa mesa. Agradecemos a presença de todos e convidamos para o lançamento da revista.

ALFREDO BOSI – Realmente, superou as expectativas. Quantas coisas aqui

foram ditas, inclusive denúncias, mas sem nenhum tom demagógico, tudo feito com muita exatidão. Queremos melhorar a educação, essa é a nossa finalidade.

SIGLAS

C

EDEPLAR

– Centro de Desenvolvimento e Planejamento - Belo

Horizonte,

MG

C

EFAMs

– Centros de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério

No documento Estud. av. vol.15 número42 (páginas 82-85)