• Nenhum resultado encontrado

PROBLEMAS E PERSPECTIVAS DE INVESTIGAÇÃO

No documento Radiocarbon dating of aeolianite formation (páginas 155-160)

CONCHEIROS MESOLÍTICOS Mariana Diniz 1 & Pablo Arias

3. PROBLEMAS E PERSPECTIVAS DE INVESTIGAÇÃO

No âmbito dos projectos em curso, a caracterização do paleo -estuário do Sado, em particular no intervalo de tempo entre 6250 e 5000 cal BC, que corresponde ao momento de formação e uso dos concheiros mesolíticos, constitui -se enquanto linha prioritária de análise, uma vez que depende da reconstituição específica das dinâmi- cas, das potencialidades e dos limites, da paleo -paisagem, a formulação dos quadros interpretativos do registo arqueológico.

A reconstituição do cenário ambiental depende da realização de perfurações/son- dagens geológicas em diferentes pontos do vale ocupado pelos caçadores -recolectores do Mesolítico, da existência de indicadores de maior ou menor índice de salinidade das águas do rio e de amostras datáveis a obter, ao longo das colunas sedimentares.

Em simultâneo, ampliar o número de análises de isótopos de δ13C e δ15N de res- tos humanos, que devem ser datados, permitirá confirmar, ou infirmar, o peso dos recursos terrestres, nomeadamente vegetais na dieta dos grupos construindo -se assim um modelo dinâmico de uso de território que conjugue, para além dos dados relativos ao recuo da linha de costa, a informação proveniente dos diferentes concheiros em função da sua posição geográfica, das dietas aí praticadas e da sua cronologia de ocu- pação.

É necessário esclarecer a diferença detectada, ao nível das dietas, entre os indivíduos de Arapouco e de Poças de S. Bento e os restantes esqueletos provenientes de outros concheiros. Esta diferença pode traduzir apenas a exploração de ambientes diferencia- dos, ao longo deste segmento do paleo -estuário, por distintos grupos que apresentariam assim uma dieta hiper -regionalizada, própria de comunidades com níveis de mobilidade muito baixos, ou pelo contrário reflectir a existência de diferentes opções de uso dos recursos, numa paisagem semelhante, apontando para uma explicação de ordem cultural e não ambiental.

Neste sentido, a problemática paleo -ambiental assume, perante a questão “Quão diferentes são efectivamente os concheiros do Sado?”, um peso decisivo, uma vez que importa avaliar se a escassez de conchas de moluscos e de restos ictiológicos, se o pequeno volume dos depósitos conquíferos detectados e se as dietas escassamente

155

O povoamento humano do paleo -estuário do Sado (Portugal): problemáticas em torno da ocupação dos concheiros mesolíticos

aquáticas são o resultado de condicionalismos ambientais ou das opções culturais des- tas comunidades.

AGRADECIMENTOS: Este trabalho foi realizado no âmbito do projecto Plan Nacional de I+D+i

“Coastal transitions: A comparative approach to the processes of neolithization in Atlantic Europe” (COASTTRAN) (HAR2011 -29907 -C03 -00) do VI Plan Nacional de Investigación Científica, Desarrollo e Innovación Tecnológica 2008 -2011 do Ministério  de Economía e Competitividade do Goberno de Espanha.

As intervenções de terreno e as prospecções decorreram ao abrigo do Projecto “SADO -MESO”, aprovado pelo IGESPAR (2010 -2013).

As datações foram calibradas segundo a curva IntCal09 (Reimer et al. 2009), excepto as que apresentam indícios de estar afectadas pelo efeito de reservatório, para as quais se utilizou Marine09 (Reimer et al. 2009), ou uma combinação de ambas, utilizando os valores do factor ΔR, calculado por António Monge Soares para estes contextos específicos. Queremos agradecer ao Eng.º Monge Soares, a sua valiosa colaboração para a calibração das datas.

BIBLIOGRAFIA

Alday M., Cearreta A., Cachão M., Freitas M.C., Andrade C. & Gama C. 2006. Micropalaeontolo-

gical record of Holocene estuarine and marine stages in the Corgo do Porto rivulet (Mira River, SW Portugal). Estuarine Coastal and Shelf Science 66: 532 -543.

Arnaud J.M. 1987. Os concheiros mesolíticos dos vales do Tejo e Sado: semelhanças e diferenças.

Arqueologia 15: 53 -64.

Arnaud J.M. 1989. The Mesolithic Communities of the Sado Valley, Portugal, in their Ecological Set-

ting. In BONSALL, C., ed. – The Mesolithic in Europe. III International Symposium. Edimburgo: John Donald : 614 -632.

Arnaud J.M. 1990. Le substrat mesolithique et le processus de neolithisation dans le sud du Portugal.

In: D. Cahen & M. Otte (eds.) Rubané et Cardial. Actes du Colloque de Liège. Liège: Service de Préhis- toire de la Université de Liège: 437 -446.

Arnaud J.M. 2000. Os concheiros mesolíticos do vale do Sado e a exploração dos recursos estuarinos

(nos tempos pré -históricos e na actualidade). Actas do Encontro sobre Arqueologia da Arrábida. Tra- balhos de Arqueologia 14. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia: 21 -43.

Cearreta A., Alday M., Freitas M.C. & Andrade C. 2007. Postglacial foraminifera and paleoenviron-

ments of the Melides lagoon (SW Portugal): Towards a regional model of coastal evolution. Journal of Foraminiferal Research 37 (2): 125 -135.

Cearreta A., Cachão M., Cabral M.C., Bao R. & Ramalho M.J. 2003. Lateglacial and Holocene

environmental changes in Portuguese coastal lagoons 2: microfossil multiproxy reconstruction of the Santo André coastal area. The Holocene 13 (3): 449 -460.

Cunha E. & Umbelino C. 2001. Mesolithic people from Portugal: an approach to Sado osteological

series. Anthropologie 39 (2 -3): 125 -132.

Dean R. 2010. Mesolithic shellfish remains from Amoreiras, São Romão, Portugal. In: J. Gibaja & A.F.

Carvalho (eds.) Os últimos caçadores ‑recolectores e as primeiras comunidades produtoras do sul da Península Ibérica e do norte de Marrocos. Promontoria Monográfica, 15. Faro: FCHS.

Detry C. 2002/2003. Estudo arquezoológico de um concheiro mesolítico do Sado – Cabeço do Pez

(Alcácer do Sal, Portugal). Trabalho de introdução à investigação histórico -arqueológica do Curso de Doutoramento em História – variante Arqueologia. Universidade Autónoma de Lisboa e Universi- dade de Salamanca (Inédito).

156

Mariana Diniz & Pablo Arias

Detry C. 2007. Paleoecologia e Paleoeconomia do Baixo Tejo no Mesolítico Final: O contributo do

estudo dos mamíferos dos concheiros de Muge. Salamanca. Tese de Doutoramento em História variante Arqueologia, pela Universidade de Salamanca (Policopiada).

Diniz M. 2010. O concheiro mesolítico do Cabeço das Amoreiras (S. Romão do Sado, Alcácer do Sal):

um (outro) paradigma perdido? In: J. Gibaja & A.F. Carvalho (eds.) Os últimos caçadores ‑recolectores e as primeiras comunidades produtoras do sul da Península Ibérica e do norte de Marrocos. Promon- toria Monográfica, 15.Faro: FCHS: 49 -62

Fontanals ‑Colls M., Marín ‑Moratalla N., Ruiz J. & Subirá M.E. (no prelo). The Mesolithic people

from Sado valley, a study of the human diet from stable isotopes analysis. The Eighth International Conference on the Mesolithic in Europe. Santander.

Freitas M.C., Andrade C. & Cruces A. 2002. The geological record of environmental changes in sou-

thwestern Portuguese coastal lagoons since the Lateglacial. Quaternary International 93 -94:161 -170.

Garcia ‑Guixé E., Richards M.P. & Subirà M.E. 2006. Palaeodiets of humans and fauna at the Spa-

nish mesolithic site of El Collado. Current Anthropology 47 (3): 549 -556.

Ghesquiére E. & Marchand G. 2010. Le Mésolithique en France. Archéologie des derniers chasseurs‑

‑cueilleurs. Paris: La Découverte / INRAPP.

Gutiérrez ‑Zugasti I., Andersen S.H., Araújo A.C., Dupont C., Milner N. & Monge ‑Soares A.M.

2011 Shell midden research in Atlantic Europe: State of the art, research problems and perspectives for the future. Quaternary International 239: 70 -85.

Larsson L. 1996. Late Atlantic settlement in Southern Portugal. Results of an excavation of a mesoli-

thic shell midden by the River Sado. Current Swedish Archaeology 4: 123 -139.

Marchand G. 1999. La néolithisation de l’ouest de la France : caractérisation des industries lithiques.

British Archaeological Reports. International Series, 748. Oxford: Archaeopress.

Lentacker A. 1986. Preliminary results of the fauna of Cabeço de Amoreira and Arruda (Muge, Por-

tugal). Trabalhos de Antropologia e Etnologia 26 (1 -2) : 9 -26.

Queiroz P.F. & Mateus J.E. 2004. Paleoecologia litoral entre Lisboa e Sines. Do Tardiglaciário aos

tempos de hoje. In: A.A. Tavares, M.J.F Tavares & J.L. Cardoso (eds.) Evolução Geohistórica do Litoral Português e Fenómenos Correlativos. Geologia, História, Arqueologia e Climatologia, Actas. Lisboa: Universidade Aberta: 257 -304.

Reimer P.J., Baillie M.G.L., Bard E., Bayliss A., Beck W.J., Blackwell P.G., Bronk Ramsey C., Buck C.E., Burr G.S., Edwards R.L., Friedrich M., Grootes P.M., Guilderson T.P., Hajdas I., Heaton T.J., Hogg A.G., Hughen K.A., Kaiser K.F., Kromer B, McCormac F.G., Manning S.W., Reimer R.W., Richards D.A., Southon J.R., Talamo S., Turney C.S.M., Van der Plicht J. & Weyhenmeyer C.E. 2009. IntCal09 and Marine09 radiocarbon age calibration curves, 0–50,000 years cal BP. Radio‑

carbon 51: 1111 -1150.

Richards M.P. & Hedges R.E.M. 1999. Stable isotope evidence for similarities in the types of marine

foods used by Late Mesolithic humans at sites along the Atlantic coast of Europe. Journal of Archaeo‑ logical Science. 26:717 -722.

Roche J. 1964 -1965. Note sur la stratigraphie de l’amas coquillier mésolithique de Cabeço de Amo-

reira (Muge). Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal. 48:191 -200.

Roche J. 1967. Seconde note sur la stratigraphie de l’amas coquillier mésolithique de Cabeço da

Arruda (Muge). Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal. 51:243 -252.

Roche J. 1972. Le gisement mésolithique de Moita do Sebastião (Muge, Portugal). Lisboa: Instituto de

Alta Cultura.

Santos M.F. 1967. Concheiro mesolítico do Barranco da Moura. Grândola. O Arqueólogo Português.

Série 3,1:113 -114.

Santos M.F. 1968. Concheiro mesolítico da Fonte da Mina. Grândola. O Arqueólogo Português. Série

157

O povoamento humano do paleo -estuário do Sado (Portugal): problemáticas em torno da ocupação dos concheiros mesolíticos

Santos M.F., Soares J. & Silva C.T. 1972. Campaniforme da Barrada do Grilo (Torrão – vale do

Sado). O Arqueólogo Português. Série 3, 6: 163 -192.

Santos M.F., Soares J. & Silva C.T. 1974.O concheiro epipaleolítico do Cabeço do Pez (Vale do Sado

– Torrão). Primeira notícia. Actas do III Congresso Nacional de Arqueologia. Vol. 1. Porto: Imprensa Portuguesa:173 -189.

Silva C.T., Soares J., Cardoso J.L., Cruz. C.S. & Reis C.A. 1986. Neolítico da Comporta: aspectos

cronológicos (datas 14C) e paleoambientais. Arqueologia 14: 59 -82.

Umbelino C. 2006. Outros sabores do passado. As análises de oligoelementos e de isótopos estáveis na

reconstituição da dieta das comunidades humanas do Mesolítico Final e do Neolítico final/Calcolítico do território português. Tese de Doutoramento apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (Policopiada).

159

PRELIMINARY ANALYSIS OF THE SPATIAL

RELATIONSHIPS BETWEEN FAUNAL AND LITHIC

No documento Radiocarbon dating of aeolianite formation (páginas 155-160)