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PROBLEMAS SOCIAIS

No documento Cooperativas de trabalho (páginas 33-38)

21 Conferência proferida no Congresso Internacional de Direito Material e Processual do Trabalho realizado em Florianópolis SC em 1991, promovido pelo Tribunal do Trabalho da 12a Região e

1.3. PROBLEMAS SOCIAIS

Com a revolução tecnológica, que gerou o rápido avanço da globalização nos últimos anos, criou-se a idéia de que o Direito do Trabalho neces­ sita de reformas, e que estas se orientam em dois sentidos: mediante uma significa­ tiva revisão, corrigindo o que se tornou inconveniente para os novos tempos, porém

fortalecendo e mantendo os direitos conquistados pelos trabalhadores por mais de um século de lutas, ou através do caminho da flexibilização.

Quanto à revisão das normas existentes, o que se busca é man­ ter o Direito do Trabalho no que ele tem de essencial e em virtude do que ele foi concebido: a proteção do trabalhador subordinado, sem esquecer contudo, como destaca ROMITA, que use o Direito do Trabalho se propõe a realizar o social­ mente desejável, encontra limites no economicamente possíveF'’ 25

Ninguém pode negar que “estamos vivendo um processo de revolução tecnológica, cujas conseqüências, com toda probabilidade, vão superar as conseqüências da revolução industrial”26. A conseqüência imediata dessa nova re­ volução é, sem dúvida, a globalização da economia, que na área social vem provo­ cando efeitos extremamente nocivos ao trabalhador, mormente no que se refere ao desemprego.

O desemprego pode ser atribuído a duas causas principais:

a) a supressão de postos de trabalho, que, por sua vez, é decor­ rência de duas outras circunstâncias:

a.l.) a substituição do homem pela máquina de alta tecnologia, não raramente robotizada;

a.2.) o desaparecimento de empreendimentos gerados por cri­ ses econômicas.

b) os excessivos e crescentes encargos sociais incidentes nas relações de emprego.

24 OIT. EI desempleo nel mundo. Relatório publicado em Genebra em 1995. Endereço eletrônico ini1eg@ilo.org.

25 ROMITA, Arion Sayão. Sindicalismo, Economia e Estado Democrático. S.Paulo: LTr, 1993, p. 36.

1.3.1. - SUPRESSÃO DE POSTOS DE TRABALHO

Convém observar primeiramente que não se pode confundir com desemprego, sob o ponto de vista social, o natural rodízio de empregados em tomo de um posto de trabalho. Essa circunstância está dentro da normalidade e o Direito do Trabalho regula a matéria, dispondo sobre o tratamento jurídico cabível em cada caso. O que se examina aqui, é a supressão do próprio posto de trabalho, responsável pela elevação da taxa de desemprego.

A supressão de um posto de trabalho decorre de problemas de natureza econômica, administrativa ou técnica, mas seus efeitos atingem direta­ mente a sociedade. Qualquer que seja a causa da supressão do posto de trabalho, o problema há de ser visto e apreciado sob tríplice aspecto: econômico, social e polí­ tico.

O ponto de partida é de natureza econômica e está intimamente ligado ao fator lucro, isto é, se a mão-de-obra é indispensável ao lucro, a oferta de empregos é o corolário natural, caso em que, quanto mais mão-de-obra, maior a produção e, por conseguinte, maior o lucro.

O problema surge quando o caminho é inverso, e sua solução depende da combinação de elementos econômicos e sociais, através da atuação conjunta do Direito do Trabalho e da Economia.

1.3.2. - A SUBSTITUIÇÃO DO HOMEM PELA MÁQUINA

Uma das razões do desemprego crescente no setor secundário da economia é, sem dúvida, o aprimoramento da tecnologia. Empresas industriais investem na tecnologia não só para melhorar o padrão do produto, mas também para

reduzir seu custo, ambos essenciais à competitividade. No que se refere à redução dos custos do produto, o preço da mão-de-obra é um de seus componentes.

1.3.3. - O DESAPARECIMENTO DO EMPREENDIMENTO

Se a empresa não investe em tecnologia, estará fadada a perder espaço no mercado e o empreendimento, por via de conseqüência, não resistirá à concorrência daquelas outras empresas que aprimoraram seus meios de produção. Essa estagnação e a crise econômica que dela deriva, determinará forçosamente o desaparecimento do empreendimento, e ocasionará a supressão dos postos de tra­ balho que a empresa oferecia.

Como facilmente se conclui, tanto pela opção da empresa em investir em tecnologia quanto pela de não investir, a perspectiva de supressão de postos de trabalho é real. Sob o ponto de vista social as duas situações são danosas ao trabalhador. Sob o ponto de vista econômico, entretanto, os efeitos diferem, sen­ do a primeira opção considerada positiva, e a segunda, recessiva.

1.3.4. - OS EXCESSIVOS E CRESCENTES ENCARGOS SOCIAIS

Como se não bastasse a tendência brutal ao desemprego gerada pelas razões econômicas e tecnológicas antes mencionadas, há uma outra razão, eminentemente política, que é a incidência de excessivos e crescentes encargos so­ ciais nas relações de emprego. Essa tem sido a causa determinante do trabalho in­ formal, que mais apropriadamente poderia ser chamado trabalho marginalizado, uma vez que nele o trabalhador não possui qualquer garantia ou acesso aos progra­ mas de segurança social. A conseqüência é que, diante da inacessibilidade ao em­ prego formal e dispendioso, o trabalhador sujeita-se a trabalhar na chamada infor­ malidade, “sem carteira assinada”, o que equivale a dizer, sem qualquer tipo de

proteção social. E o que é mais alarmante: hoje no Brasil, mais de 50% dos traba­ lhadores estão nesta situação.

É possível, diante disso, manter os mesmos critérios que vem sendo aplicados aos trabalhadores, aperfeiçoados nos últimos tempos através do Direito do Trabalho?

A resposta deve ser cuidadosamente dada para que não pareça sugerir a substituição do Direito do Trabalho por qualquer idéia exótica e leviana. O que se sugere, na verdade, é o aprimoramento do Direito do Trabalho, a sua ade- quação aos novos tempos. É um direito mais amplo, que regule não somente a rela- ção de emprego tradicional e cada vez menos abrangente, mas que reconheça a le­ gitimidade e regule também outras relações jurídicas de trabalho, não vinculadas à atividade-fim da empresa, de modo que o trabalhador em geral, e não somente o trabalhador-empregado, possa beneficiar-se de todas as formas de segurança como conseqüência de seu trabalho.

O estímulo à negociação coletiva nos últimos anos, embora importante, não tem sido adequadamente utilizado pelas entidades sindicais. En­ quanto isso, a oscilação dos problemas econômicos tem gerado sucessivas crises sociais, que o Direito do Trabalho, no estágio em que se encontra, não é capaz de resolver.

Muitas soluções vem sendo propostas, mas possivelmente a que tem provocado um maior número de divergências doutrinárias é a da flexibili­ zação laborai, também denominada de flexibilização das condições de trabalho, de adaptação ou desregulação, que ROBORTELLA aponta como “um dos mais ex­ traordinários temas do moderno Direito do Trabalho’'' e lembra que pela sua atuali­ dade “a matéria também é desenvolvida sob outros títulos, tais como Direito do

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Trabalho da crise ou da emergência”.

27 ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim. A Flexibilização do Direito do Trabalho. Crise econômica, novas tecnologias e política social do Estado, in Estabilidade, flexibilização e formas de solução dos conflitos do trabalho. Curitiba: Juruá, 1991, p. 183

Todos esses vocábulos, e outros mais que tem sido propostos, evidenciam a dificuldade de caracterizar esse fenômeno atual e ainda indefinido, que alguns juristas italianos chegaram a chamar de Direito Emergencial do Traba­ lho. Revelam, de qualquer forma, que o Direito do Trabalho tradicional precisa ser revisto e reformulado, a fim de adequar-se aos novos tempos, em que as relações de ' trabalho tomaram-se extremamente complexas.

O que se questiona na flexibilização, como proposta emergen­ cial de adaptação, é a possibilidade de compatibilizá-la com o princípio da proteção, que é, em suma, a própria razão histórica e filosófica da existência do Direito do Trabalho.

Mas seria a proteção inflexível a única maneira de compensar o desnível econômico e o estado de subordinação do empregado ?

As propostas de flexibilização laborai procuram responder a essa indagação de duas maneiras:

a) permitindo alterar condições dentro da relação de emprego; b) permitindo a terceirização de serviços em atividades-meio

da empresa, isto é, fora da relação de emprego.

O que se examina neste trabalho é, exclusivamente, a segunda hipótese: a terceirização, como gênero, e o trabalho prestado por cooperativa de trabalhadores, como espécie.

No documento Cooperativas de trabalho (páginas 33-38)