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· Problemas de design não podem ser compreensivelmente estabelecidos · Problemas de design requerem interpretação subjetiva

· Problemas de design tendem a ser organizados hierarquicamente · Existe um número inesgotável de soluções diferentes

· Não existem soluções ótimas para os problemas de design · Soluções de design são freqüentemente respostas holísticas · Soluções de design são uma contribuição ao conhecimento · Soluções de design são partes de outros problemas de design · O processo de design é interminável

· Não existe processo infalivelmente correto

· O processo envolve descoberta assim como solução de problemas · Design inevitavelmente envolve julgamentos subjetivos de valor · Design é uma atividade prescritiva

· Designers trabalham no contexto de uma necessidade de ação Problemas de design: Soluções de Design Processo de design:

muitas delas viáveis. Disso se conclui que não existe uma solução única, mas, sim, soluções adequadas e algumas mais adequadas do que outras.

O processo de design envolve a solução do problema, mas também a descoberta, a geração de algo novo. Essa afirmação colabora com a opinião de Galle e Kovács (1996), a respeito da imaginação e do raciocínio como ati- vidades mentais imprescindíveis para a realização de um projeto em design. Dessa forma, a atividade projetual do design possui também relações muito próximas com o processo criativo3, além do processo de solução de problemas.

Cross (2004) comenta que a estratégia de solução de problemas utilizada pelos designers experientes parece ser diferente das estratégias empregadas por especialistas de solução de problemas de outras áreas, os quais usual- mente tentam definir ou compreender completamente o problema antes de realizarem tentativas de solução. Contudo, o autor salienta que muitos estudos que buscam a compreensão do comportamento de designers expe- rientes, sugerem que os designers desenvolvem conjecturas iniciais de solução, e utilizam-nas como uma ferramenta a mais, um meio de explorar e definir juntamente o problema e a solução. Percebe-se de maneira óbvia, nesse caso, que grande parte dos designers experientes não utiliza uma forma rígida de método projetual, muito menos um método projetual com características de linearidade. Pode-se também verificar que quanto mais experiente o designer se torna, maior é o seu repertório de conhecimento de processo e, por isso, ele pode optar por alguns atalhos no processo.

Lloyd, Lawson e Scott (1994 apud CROSS, 2004) afirmam que os designers experientes utilizam com maior intensidade o raciocínio gerador, em contraste ao raciocínio dedutivo que é empregado pelos designers menos experientes. Além disso, em casos especiais, os designers com experiência específica num tipo de problema tendem a abordar a atividade de design por meio de conjec- turas de solução, ao invés da análise do problema. Nesse caso, identifica-se um atalho direto para a solução. Os designers especializados em determinadas categorias específicas de produtos realizam processos específicos, notadamente de identificação do problema, de pesquisa e de análise, já tendo muitos desses processos assimilados e, assim, passam diretamente para a solução do problema, concentrando-se em propor uma solução adequada, mas que seja diferente das anteriores que já foram realizadas.

Outro aspecto importante, citado na pesquisa de Lloyd, Lawson e Scott (1994 apud CROSS, 2004), foi o fato de que as atividades de estruturação do problema, não são apenas dominantes no início da atividade projetual em

3 Maiores informações a respeito do processo criativo podem ser encontradas em GOMES L. V. N. Criatividade: projeto, desenho, produto. Santa Maria, sCHDs, 2001. Nesta publicação o autor apresenta o processo criativo com ênfase na atividade projetual, além de demonstrar comparativamente modelos e processos criativos de diversos autores.

design, mas também reaparecem periodicamente ao longo da tarefa. Como o problema é também estruturado com base em conjecturas de solução, e como as soluções se modificam com o decorrer do processo, a estrutura do problema acompanha muitas vezes essas modificações.

Cross (2004) observa que existe a possibilidade dos designers experientes produzirem conceitos iniciais adequados, conceitos esses que não necessitam de alteração radical durante um desenvolvimento posterior. Mas também existe a possibilidade dos designers experientes serem capazes de modificar facilmente e fluentemente seus conceitos de acordo com as dificuldades en- contradas. Comenta ainda que, de qualquer modo, os designers experientes permanecem relutantes em abandonar os conceitos iniciais para gerar uma série de alternativas de solução. Esse resultado da pesquisa parece estar em conflito com um dos maiores princípios do design, recomendado por pesqui- sadores da área, que é a geração de diversas alternativas de solução a partir de tarefas de identificação, pesquisa e análise do problema.

Os designers experientes são, segundo Cross (2004), solucionadores “mal- comportados” de problemas, principalmente no que se refere ao tempo e à atenção que dedicam à definição do problema. Por outro lado, isso parece ser um comportamento adequado para o design, pois, segundo o autor, estudos sugerem que a sobrecarga de concentração de esforços na solução do problema não necessariamente conduz ao sucesso dos resultados. Para o autor, o com- portamento mais adequado à atividade do design não é baseado em análises extensivas do problema, mas, sim, em realizar adequadamente o “escopo do problema” e abordar de forma focada e com prioridade de critérios a reunião de informações do problema.

Sendo assim, é possível verificar que os designers experientes se con- centram na solução e não no problema, e isso parece ser uma característica da atividade do design que surge com o aprendizado e com a experiência. A geração de uma ampla série de soluções alternativas é uma recomendação de teóricos e educadores, mas não parece ser uma prática comum entre os designers experientes. Esses preferem, por sua vez, apegarem-se a conceitos de solução iniciais e relutam em abandoná-los frente às dificuldades. Cross (2004) comenta que se poderia pensar numa modificação dessa situação por meio da educação, contudo, tentar modificar a natureza “sem princípios” e “mal-comportada” da atividade projetual do design pode ser trabalhar contra aspectos que são características efetivas e produtivas do conhecimento espe- cializado nessa área. Para o autor, gerar uma ampla gama de alternativas pode ser algo indesejável, pois alguns estudos realizados sugerem que a geração de uma quantidade relativa e limitada de alternativas pode ser o modo de trabalho mais apropriado.

Estratégias utilizadas

no desenvolvimento de projetos em design

Kruger e Cross (2006) realizaram uma pesquisa para buscar mais informa- ções a respeito dos diferentes tipos de comportamentos demonstrados pelos designers durante o desenvolvimento de seus processos projetuais. Partiram do desenvolvimento e apresentação de um modelo conceitual de método projetual para nove designers, e então, em sessões de análise de protoco- lo, solicitaram que esses designers desenvolvessem um projeto específico a partir de um mesmo problema. Os autores comentam que essa proposta de modelo de processo em design não é diferente de modelos propostos por outros autores, apenas foi desenvolvid0 considerando as características do experimento. O modelo utilizado pode ser visto na figura 2.9.

O processo de desenvolvimento do projeto foi gravado e analisado por meio da técnica de análise de protocolo. Os resultados finais dos projetos realizados pelos designers foram julgados por uma comissão selecionada de designers experientes que emitiram suas avaliações de acordo com uma lista estipulada de critérios como criatividade, aspectos técnicos, estética, ergonomia e aspectos de mercado. Segundo Kruger e Cross (2006), conside- rando a análise dos dados e as evidências do comportamento dos designers com base nos protocolos verbais, foram identificadas quatro estratégias de desenvolvimento do projeto em design, que são:

• A projetação guiada pelo problema • A projetação guiada pela solução • A projetação guiada pela informação • A projetação guiada pelo conhecimento

Embasados na análise do experimento e no julgamento realizado a partir dos resultados projetuais dos designers, Kruger e Cross (2006) apresentam algumas características salientes de cada uma dessas estratégias.

• A projetação guiada pelo problema

Segundo os autores, os designers que desenvolveram sua atividade projetual guiados pelo problema concentraram-se, basicamente, no problema que foi determinado para o experimento e utilizaram apenas a informação e o co- nhecimento que eram estritamente necessários. A ênfase residiu na definição desse problema e em encontrar uma solução tão rápido quanto possível.

Os designers selecionaram somente a informação que possuía relação di- reta com os requisitos e restrições do projeto, e essa busca por informação não foi exaustiva, mas focada no auxílio da definição do problema. Essa estratégia de trabalho levou a duas formas de definição do problema. A primeira resultou num problema altamente especificado, com pouco espaço para alternativas

de solução. A segunda resultou num problema definido num nível mais abs- trato, deixando mais espaço para soluções alternativas. Nesta estratégia os designers identificaram poucos requisitos de projeto.

Figura 2.9 – representação gráfica do método projetual conceitual de Kruger e Cross (2006).