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7.2 – PROBLEMAS E/OU VANTAGENS PARA O PROCESSO COMUNICATIVO RESULTANTES DO USO DO “CHATÊS”

Por vezes este tipo de comunicação provoca alguma confusão entre o emissor e o receptor, pois se o segundo não tiver a mesma prática nesta linguagem que o emissor, pode vir a não o perceber.

Entrevistado 1

Preconiza-se, como foi referido anteriormente, que o emissor e o receptor têm de partilhar o mesmo código para que a descodificação da mensagem se processe, ou seja, para que exista, de facto, compreensão dos significados veiculados pelos signos. Também é certo que todos os estudiosos deste tema/processo sabem que raramente aquilo que o emissor transmite corresponde ao que, na realidade, ele elaborou em pensamento, assim como o que o receptor compreende raramente é igual ao que, no acto de recepção, ele escutou/leu/viu e vai processar como material inteligível para si. O próprio canal pode apresentar características que facilitem ou não a compreensão das mensagens e a sua correcta circulação, características que promovam a redundância273 e impeçam que o acto comunicativo seja demasiado afectado pelo ruído (cf. nota de rodapé nº270).

O tipo de mensagens de que tenho vindo a falar neste trabalho está, julgo, muito mais sujeito aos efeitos do ruído do que qualquer outro. A partilha de um código, como o usado pelos utilizadores dos Chats, SMS e MSN, que não corresponde ao código dominante, que não prevê uma aprendizagem (pelo menos, de acordo com os modelos tradicionalmente definidos para isso), que está em constante mutação e introduz fortes

273 Diz F

ISKE (2002:25-26-27) a propósito: «A redundância é aquilo que, numa mensagem, é previsível ou

convencional. (…) Na comunicação, a redundância não só é útil como absolutamente vital (…) A redundância ajuda a superar as deficiências de um canal com ruído. (…) Aumentar a redundância ajuda também a superar os problemas de transmissão de uma mensagem entrópica [ou seja, o oposto de uma mensagem redundante]. (…) A escolha do

marcas individuais dos utentes, como foi descrito nos Capítulos 5 e 6 (sobretudo, este último), está muito exposto aos efeitos do ruído. Os meus entrevistados, todos eles utilizadores destes serviços, têm essa mesma consciência. Vejamos o que diz a Entrevistada 12:

[A] nível da mensagem, esta só poderá ser descodificada se ambos (emissor e receptor) conhecerem esse código, que partilhem o mesmo canal e que obviamente não haja qualquer ruído (físico) durante o acto comunicativo.

As próprias características do meio de comunicação podem conduzir a situações de confusão, caso os utilizadores não dominem completamente o manuseamento tecnológico dos mesmos, como refere a Entrevistada 9:

Essa situação é bastante visível no MSN. Na maioria das vezes, um dos interlocutores não aguarda a resposta do outro e quando a lê não percebe a que se refere. Este facto provoca o chamado “ruído” comunicacional, porque dificulta a compreensão da mensagem na sua plenitude.

A Entrevistada 13 reconhece que este problema é muito claro, porque «[n]em tudo se pode reduzir a uma "abreviatura"», ou seja, o “não dito”274 tem, neste tipo de comunicação, uma dimensão muito própria e que poderá resultar no aumento dos níveis de incompreensão das mensagens. Na verdade, quase podemos extrapolar as palavras de Adriano Duarte RODRIGUES275 (1990) para esta realidade:

Os processos comunicacionais não abrangem, no entanto, apenas os actos expressivos e os actos pragmáticos explicitamente manifestados através de signos e comportamentos materiais. Uma palavra esperada mas não enunciada ou uma acção não realizada mas esperada ou virtualmente sugerida são igualmente actos comunicacionais. É por isso que o silêncio e a omissão podem comunicar de maneira tão forte como uma palavra proferida ou uma acção efectivamente realizada. Por vezes, a força do silêncio é ainda maior do que um longo discurso. Aquilo que não se disse e aquilo que se deixou por fazer pertencem igualmente ao domínio da comunicação, na medida em que são processos transformadores de interacções.

274Os teóricos apontam para a existência de vários níveis, se assim os pudermos designar, dentro de uma mensagem:

aquilo que claramente é enunciado e constitui a "face iluminada" dos media – o dito; o que não é dito, mas "está lá" e o que pura e simplesmente é interdito defender ou pronunciar.

275Adriano Duarte Rodrigues é Professor Catedrático da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade

Nova de Lisboa, desde 1980. Doutorado em Comunicação Social, pela Universidade Católica de Lovaina (1977) tem ainda duas licenciaturas, uma em Sociologia e outra em Teologia e lecciona na área da Comunicação e da Linguística

[dados obtidos a partir do sitiohttp://www.fcsh.unl.pt/hp/UNIDADES/Cecl/curriculos/adriano/adr.html, consultado a

Ao pensar algo, um emissor está a fazer um exercício em tudo diferente àquele no qual transforma esse pensamento em palavras, recorrendo à linguagem verbal, quer escrita, quer oral. Se essa produção oral for (e é muito difícil que não o seja) acompanhada de gestos e expressões faciais, podemos afirmar que a mensagem transmitida ganhou um grau superior de complexidade e não é mais igual à que, em pensamento, foi elaborada pelo emissor. E nem vamos falar das circunstâncias em que a emissão da mesma decorre, que igualmente aumentariam essa complexidade. Vamos apenas pensar no canal e código usados pelo emissor para transmitir a mensagem e na sua recepção. Transmitir uma mensagem oralmente já implica a possibilidade de distorção e desgaste, fenómenos intimamente relacionados com o ruído, ou seja (de forma simples), com tudo o que, durante a transmissão, possa alterar a mensagem e dificultar a sua correcta recepção e descodificação. Se pensarmos que essa mensagem pode ser transmitida através de um canal ainda mais sofisticado, como é o caso dos que estão em análise neste trabalho – telemóveis/SMS e computadores/chat e MSN –, que, ainda por cima, pressupõem que emissor e receptor não estejam em presença um do outro, que ambos tenham um bom conhecimento do código usado (que combina linguagens mistas, possuidoras de elementos textuais e icónicos e que tem uma prevalência muito alta de marcas individuais de cada emissor), pressupõem (como também já foi visto nos dois Capítulos anteriores) a troca síncrona ou assíncrona da mensagens e que o ruído seja mínimo, então, tudo ganha novos contornos.

O não dito está presente nas mensagens que recorrem ao “chatês” de uma forma muito vincada, até porque, pelas próprias características dos meios usados para as transmitir, se torna necessário dar grande relevo a alguns dos seus aspectos formais, para garantir a correcta descodificação, senão vejamos:

⋅ Por se recorrer à escrita, perdem-se elementos que conferem significado às mensagens, como todos os que se relacionam com a prosódia (SANTOS, 2003:30 e SEGERSTAD, 2002:44-45, 70,

200), logo, há que tentar “suprir” essa falta e, por isso, surgem, p. ex., as onomatopeias, a pontuação excessiva/exagerada e os próprios emoticons;

⋅ Factores como idade, sexo, formação académica e outros “pesam” na hora de escrever/criar mensagens, bem como na de as receber (como se viu anteriormente – cf. nota de rodapé nº 270 e

Capítulos 5 e 6, quando se refere as diferenças entre a produção textual destinada a pais e a produção textual destinada a amigos da mesma faixa etária);

Tudo o que se relaciona com a construção/design dos softwares empregues para codificar as mensagens escapa ao controlo dos utilizadores (emissores e receptores) e influencia, decisivamente, a construção das mensagens (basta pensar, p. ex., que se um utilizador estiver a usar uma versão mais antiga do MSN não disporá de tantas funcionalidades como outro que esteja a usar a versão mais actual, como poder convidar diversos “amigos” incluídos na sua lista de contactos para uma mesma conversa); ⋅ A própria “capacidade” das máquinas usadas (memória,

interfaces, velocidade, tipo de ligação à rede) influenciam o processo em construção/envio/recepção de mensagens.

Estes são apenas alguns dos aspectos que revelam o que não está dito, mas “está lá” e por vezes influencia mais do que tudo o que é dito276.

Por sua vez, a já mencionada criatividade individual que marca a produção textual do “chatês” também traz os seus problemas. Cada um é livre de introduzir novos signos (icónicos ou textuais – as abreviaturas não convencionais, p. ex.) no discurso277 e pode fazê-lo em qualquer altura, sem que o(s) receptor(s) tenha conhecimento prévio do significado que é atribuído a esses signos por parte do emissor. A norma não existe claramente definida278 e isso permite que se gerem problemas. Podem, pois, surgir interpretações diversas e conflituosas entre si. Quase que poderíamos afirmar que a arbitrariedade é, no “chatês”, “levada ao extremo”, podendo dificultar aquele que é o objectivo último do processo comunicativo e da comunicação: a existência de partilha de conhecimentos/significados. Como afirma em jeito de exemplo a Participante A

276Edmundo C

ORDEIRO (1995), Professor da Universidade da Beira Interior, diz, citando Michel Foucault na sua

obra A Ordem do Discurso: «A palavra é alvo do exercício de poderes que a controlam; os poderes não incidem apenas sobre os corpos, mas também sobre as palavras. E porque sucederá isso? Ao que parece, pela suspeita de que há na actividade discursiva «poderes e perigos que imaginamos mal» (Ibidem) – e porque o discurso é também objecto do desejo, porque «o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas é aquilo pelo qual e com o qual se luta, é o próprio poder de que procuramos apoderar-nos.» (Ibidem)».

277O Entrevistado 7 diz que «cada um tem a sua maneira de escrever», reforçando esta ideia.

278Vimos, anteriormente, que o “chatês” utiliza as estruturas sintácticas/semânticas das línguas maternas dos seus

utilizadores e, nesse sentido, pode-se pensar na norma dessas mesmas línguas como aplicável a este “código”, mas, todavia, essa norma será sempre alterada, em função de características presentes no “chat~es” e que não são contempladas pela norma da língua escrita, como a presença dos emoticons.

Grupo 1, dos Focus Groups de alunos: «Às vezes tens de voltar atrás para dar sentido à frase por causa das abreviaturas». Basta pensarmos em alguns casos relacionados com a Literatura, para podermos ter uma perspectiva mais concreta disto mesmo. James Joyce, o famoso romancista e Prémio Nobel da Literatura Irlandês, escreveu o seu livro Ulisses recorrendo, nos seus dezoito capítulos, a uma linguagem e sintaxe re-inventadas, explorando processos de associação de imagens e recursos verbais, fazendo paródias estilísticas, usando o fluxo da consciência e incorporando teorias da psicanálise freudiana sobre o comportamento sexual279. José Saramago, Prémio Nobel da Literatura português, também recorre nos seus trabalhos a “formas” , chamemos-lhe assim, “não muito ortodoxas” de escrever280. E é frequente ouvir os leitores, que habitualmente não estão familiarizados com estas “escritas” queixarem-se, revelando dificuldades de compreensão.

Usando de algum sentido de humor, podemos dizer que até ORWELL (1948), na

sua famosa obra 1984, ao “criar” o “Newspeak”281, previa algum tipo de norma, já que o próprio personagem principal, Winston Smith, trabalhava como “seleccionador” de documentos e de novos termos a usar nessa língua imposta e artificialmente criada.

O reportório do receptor é, pois, determinante para que a descodificação seja bem sucedida, como salienta o Entrevistado 2:

[o uso do “chatês”] Pode criar [problemas] se houver uma grande diferença entre a capacidade de compreensão de um dos comunicadores, relativamente a este código. Falando por mim, quando teclo com alguém que sei ser menos “viajado” por este tipo de conversações, tenho cuidado e evito certas expressões que lhe possam ser desconhecidas. Regra geral todos podem compreender a linguagem ao absterem-se do

279Vejamos um pequeno excerto dessa obra (J

OYCE, 1922, Episode 18 - Penelope), onde se vêem claramente marcas

diferentes da norma, como a não utilização de pontuação, exclusão de apostrofes (determinantes, na Língua Inglesa), entre outras: «Monday frseeeeeeeefronnnng train somewhere whistling the strength those engines have in them like big giants and the water rolling all over and out of them all sides like the end of Loves old sweet synnnng the poor men that have to be out all the night from their wives and families in those roasting engines stifling it was today Im glad I burned the half of those old Freemans and Photo bits leaving things like that lying around hes getting very careless and threw the rest of them up in the W C».

280Curiosamente, os professores do grupo 1 usando de algum sentido de humor, referem-se aos textos deste autor

como algo que «é capaz de ser pior do que o “chatês”!....».

281George O

RWELL (1948a), na sua obra 1984, “fantasiava” sobre a criação de uma nova língua, que substituiria o

Inglês, a que deu o nome de “Newspeak” e que serviria os objectivos políticos do ditador descrito na história, o

famoso “Big Brother”. O próprio ORWELL (1948b), no texto The Principles of Newspeak, um apêndice à edição de

1984 publicada em 1948, dizia: «Newspeak was the official language of Oceania, and had been devised to meet the

ideological needs of Ingsoc, or English Socialism. In the year 1984 there was not as yet anyone who used Newspeak as his sole means of communication, either in speech or writing. The leading articles of the Times were written in it, but this was a tour de force which could only be carried out by a specialist, It was expected that Newspeak would have finally superseded Oldspeak (or standard English, as we should call it) by about the year 2050. Meanwhile, it gained ground steadily, all party members tending to use Newspeak words and grammatical constructions more and

Português a que estão habituados e tentarem compreender as palavras pela sua sonoridade, à excepção de determinados termos que abreviam expressões (algumas de origem não portuguesa) e que necessitam de ser definidos. (Exemplo: lol = laught out

loud. Expressão muito utilizada para definir o acto de “rir”).

Vantagens do “chatês” para o processo comunicativo, existirão? Para além das que já foram descritas pelos próprios utilizadores que colaboraram neste estudo – rapidez, economia, promoção da objectividade (no sentido de limitar as mensagens apenas à ideia central que se pretende transmitir) –, creio que a mais evidente se prende com o desenvolvimento da criatividade de cada um dos jovens que a ele recorre, criatividade que se justifica e exprime de formas já anteriormente descritas/analisadas.

7.3 – “CHATÊS” VERSUS PORTUGUÊS OU “CHATÊS”, «UM “ANEXO” DA LÍNGUA»?

Será, então, que o “chatês” está a influenciar o Português, a alterá-lo substancialmente? Estará o nosso idioma a ser “prejudicado”, ao ponto de podermos alguma vez chegar ao extremo de um “Newspeak”?

Mais uma vez, as opiniões dividem-se quanto a este assunto, não só entre os meus entrevistados, como, na sociedade em geral282. A Entrevistada 8, por exemplo, entende que a «aprendizagem da língua materna pode ser condicionada se o uso dos Chats e dos SMS for de tal forma extenso que o falante perca o sentido original da sua língua». E dá como exemplo «o caso de "Tiveste no cinema?" em vez da forma correcta "Estiveste no cinema?"».

A Entrevistada 3 diz:

[P]or um lado acho que prejudica, isto porque existe muita gente que já está tão acostumada a utilizar este tipo de comunicação, que, em certas alturas que deve utilizar o português correcto, engana-se e deixa de desenvolver o vocabulário correcto. Por outro lado, apura o nosso raciocínio a nível da compreensão rápida; afinal, em pouco tempo temos de descodificar um monte de mensagens que vem escrita de uma determinada forma e sempre diferente.

282 Outras sociedades debatem o mesmo tema: será que este novo código afecta as línguas maternas, a sua

aprendizagem e uso correctos? A confirmação pode ser feita através dos artigos recolhidos em órgãos de comunicação estrangeiros (e nacionais) e que se encontram nos anexos deste trabalho.

O uso do “chatês” pode, de acordo com as Entrevistada 4 e 5 trazer «dúvidas» na hora de recorrer ao Português padrão e até mesmo «confusão», nas palavras da Entrevistada 6. Esta ideia é reforçada por aquilo que se dizia na discussão mantida nos Focus Groups de alunos, Grupo 1, quando a Participante A dizia: «eu nunca tive muitos problemas de erros e ultimamente, desde que utilizo mais o MSN, muitas vezes vou escrever e tenho dúvidas se é assim ou não que se escreve».

A Entrevistada 12 refere a utilização de «abreviaturas, como por ex.: tb para também, k para que» e de «estrangeirismos» como a mais visível consequência para o Português padrão do uso do “chatês”. Os professores do Grupo 1, nomeadamente a Participante P2, salientam que as abreviaturas, o uso do x cada vez surgem mais nas produções textuais dos alunos, e notam, mesmo que «as regras de acentuação, com estas mensagens, são uma coisa que eles podem estar a esquecer, porque podem acentuar um bué, mas podem estar a esquecer as regras de acentuação, porque estas mensagens não necessitam».

Os professores sentem, pois, a presença deste tipo de comunicação nas suas salas de aulas, como me foi dito pelos Entrevistados 13, 10 e 12, respectivamente:

Já tive uma aluna que me respondeu num teste de avaliação com recurso à linguagem de código. E, não era a brincar...

[O]s alunos quando escrevem demonstram já uma grande tendência para o uso desse tipo de linguagem em trabalhos escolares e até mesmo nos testes, principalmente, quando o fazem condicionados pelo factor tempo, sem se darem conta disso.

Alguns alunos misturam, por vezes, ambos os tipos de códigos quando tiram um apontamento ou mesmo num teste.

Encontram-se registos nas produções textuais dos estudantes, nomeadamente em testes, trabalhos escritos e composições, como os que a seguir se introduzem como exemplo e foram recolhidos durante o ano lectivo de 2005/2006 na Escola Secundária de Silves.

Excerto 1

Teste da Disciplina de Português, 10º Ano, realizado a 05/12/2005

Excerto 2

Excerto 3

Composição para a Disciplina de Cidadania e Mundo Actual, CEF Electricistas de Instalações T5, realizado a 24/11/2005

Excerto 4

Composição para a Disciplina de Cidadania e Mundo Actual, CEF Electricistas de Instalações T5, realizado a 24/11/2005

Não é só em Portugal, mas no resto do planeta, que se observa este fenómeno, como também se pode comprovar pela leitura das notícias que se encontram nos anexos deste trabalho e pelo excerto que a seguir se reproduz, relatando um caso no Reino Unido:

Inovação Aluna Escreve Composição em Linguagem "SMS"

"My smmr hols wr CWOT. B4, we used 2go2 NY 2C my bro, his GF & thr 3:- kids FTF. ILNY,i's a gr8 plc". Este é apenas um excerto da composição escrita por uma aluna inglesa de 13 anos sobre as suas férias de Verão.

Perceber o texto, escrito em linguagem "sms" - o sistema "short message system" utilizado nos telemóveis - torna-se difícil, se não impossível, a quem estiver menos familiarizado com este código. Atónito, o professor que tinha pedido a redacção bem se esforçou por tentar compreender: "Não queria acreditar no que estava a ver", contou ao "Daily Telegraph", citado pela Reuters. (…)

Excerto 5

Composição para a Disciplina de Cidadania e Mundo Actual, CEF Electricistas de Instalações T5, realizado a 24/11/2005

Excerto 6

Jornal PÚBLICO, Terça-feira, 04 de Março de 2003

http://www.saladosprofessores.com/modules.php?name=Forums&file=viewtopic&t=1766

Na Finlândia, esses efeitos e medos são experimentados, da mesma forma, pelos docentes, como relatam KASESNIEMI e RAUTIAINEN (KATZ e AAKHUS, 2003:183-184):

Finnish teachers have been worried about the negative effects that the free- form, often quickly written text messages may have on teenagers’ capacity for written expression. (…) Teachers presume that these elements will be transferred from text messages to more formal texts. They are partly right. More than girls, Finnish boys have a tendency to resent official teaching of Finnish, and their texts are short and less expressive. So the negative transfer from SMS communication to essays written once or twice a month is possible.

Tendo os factos anteriores em consideração e pensando no impacto que as estatísticas de utilização destes serviços têm nos media e os relatos relacionados com o uso do “chatês”, percebe-se que a preocupação dos docentes do nosso país surja muitas vezes expressa, até na comunicação social. Temem que a Língua Portuguesa esteja a sofrer um impacto negativo, queixam-se – porque os pude ouvir durante os 12 anos de carreira docente que tive – que se escreve cada vez pior, que não há cuidado com a acentuação e a pontuação, que não há aprofundamento de ideias, nem uma correcta articulação das mesmas. Cristina GRADIM (2006:41), uma professora de Português do

Ensino Secundário, num artigo publicado na Revista Pontos nos ii, afirma:

Às vezes pergunto aos meus alunos como conseguem defender um ponto de vista ou organizar o dia que têm pela frente, sem construírem um discurso lógico. Respondem-me que se entendem assim.

Do meu ponto de vista, começa a ser perigoso porque apenas nomeiam, não estabelecem relações entre as ideias, não têm vocabulário suficiente para se expressarem.

Os próprios alunos se apercebem cada vez mais do surgimento deste tipo de marcas dentro da sala de aula, ou porque são chamados à atenção por isso, ou porque