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PARTE II DA PROBLEMÁTICA À METODOLOGIA

1. PROBLEMATICA E QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO

Nas últimas décadas, como temos referido ao longo deste estudo, tem-se verificado um aumento progressivo da população idosa, marcado essencialmente pelo aumento da esperança de vida, mas também pela redução dos índices de natalidade, a melhoria das condições de vida e os avanços da medicina. O envelhecimento da população, numa sociedade em constante mudança e desenvolvimento, acarreta implicações sociais, económicas e políticas (Coimbra, 1999).

Salientamos que o envelhecimento é um processo complexo onde intervêm fatores biológicos, sociológicos, económicos e culturais, num sistema que envolve indivíduos, a sociedade e o meio ambiente.

As atitudes face aos idosos têm sofrido variações ao longo dos tempos, de acordo também com os valores e contextos económicos, filosóficos e religiosos da sociedade em que se insere (Caldas et. al, 1999).

Segundo o estudo de Minkler (1985) sobre a relação entre o apoio social e o envelhecimento, existem três acontecimentos que geram stress no processo de envelhecimento, nomeadamente, o luto, a reforma e a saída do lar. Neste sentido e conforme refere Whitaker (2007), a sociedade precisa de ser educada para compreender o envelhecimento.

Também Fernández-Ballesteros (1993) refere que um dos aspetos mais marcantes nesta fase da vida é a ausência da atividade laboral, conduzindo a um sentimento de inutilidade e a uma inatividade, repercutindo-se negativamente no bem-estar do idoso.

Rubenstein e Shaver (1982, citado por Neto, 2000) obtiveram através de um inquérito realizado à população em geral, um conjunto de quatro sentimentos que as pessoas referiam sentir quando se encontravam sós, tais como: desespero, depressão, aborrecimento e auto depreciação.

Savikko et al. (2005), citado por Fernandes (2007), num estudo que realizaram na Finlândia,

subordinado à temática “Análise da prevalência da solidão” com uma amostra de 3915 pessoas

idosas com idade igual ou superior a 75 anos, demonstraram que 39% da amostra referia sentimentos de solidão, sendo que 5% sofria de solidão frequentemente ou sempre. A sensação subjetiva de solidão, era geralmente mais sentida entre os idosos mais velhos que viviam em zonas rurais, do que entre os que viviam nos centros urbanos.

O estudo efetuado por Melo e Neto (2003), em Portugal, contraria o estudo de Savikko et al., tendo estes autores verificado que no meio rural o idoso tem um nível de vida melhor com maior bem-estar. O idoso é mais autónomo, ainda trabalha e todos são mais ou menos conhecidos entre si.

Também em Portugal, Reis e Fradique (2001) citados por Reis (2005) realizaram um estudo com o objetivo de conhecer se existiam divergências nos processos de saúde e doença. Os achados deste estudo revelaram que cerca de 20% dos idosos destacaram o isolamento social e a solidão como causa de doença.

Partindo destas conclusões de estudos, emerge a necessidade de um debruçar atento sobre as perceções dos idosos, sentidas e refletidas de modo diferente pelas pessoas, inseridas no seu ambiente rural.

Salientamos que o ponto de partida de uma investigação consiste numa situação considerada como problema, isto é, que desencadeia uma inquietação, que exige uma explicação ou uma melhor compreensão do fenómeno observado. Diers (1979) citado por Fortin (2009, p. 66), refere que “um problema de investigação é uma situação que necessita de uma elucidação ou de uma modificação”. Assim, a escolha de um problema de estudo, não deve ir só de encontro às inquietações pessoais mas mais além, estas devem ir de encontro com a sua pertinência na atualidade e com os contributos para a prática da Enfermagem (Idem).

Neste sentido, não restam dúvidas que a intensidade do envelhecimento, os aspetos que envolve, assim como os novos desafios e oportunidades que se deparam numa sociedade cada vez mais constituída por pessoas mais velhas, tornam este tema sempre atual. Acresce que o processo de envelhecimento provoca alterações na vida quotidiano das pessoas, exigindo uma adaptação a novas situações e vivências que levam frequentemente ao isolamento e à perda de relações sociais, pelo que a construção de uma velhice com mais saúde e qualidade de vida exige uma análise multidimensional e uma intervenção multiprofissional dos profissionais de saúde.

O enfermeiro atua ao longo do ciclo vital na promoção da saúde, na prevenção da doença e reabilitação, prestando cuidados às pessoas, sendo um agente facilitador para que as pessoas, famílias e grupos desenvolvam competências para um agir consciente quer em situações de crise quer em questões de saúde/doença.

Quanto às questões pessoais, a opção pelo estudo da solidão nas pessoas idosas, relaciona-se com o facto, da investigadora exercer a sua atividade profissional numa instituição de idosos e, através dos discursos destes, constatar a manifestação de sentimentos de solidão, sendo muitas vezes este referido como um dos motivos para o ingresso na instituição. A escolha pelo concelho de Monção prende-se com o facto de se tratar de uma comunidade rural do interior Norte, com um elevado índice de envelhecimento populacional. Além disso, a investigadora é natural deste concelho e exerce aí funções, pelo que se reúnem fatores que facilitem a acessibilidade na colheita de dados, quer por uma questão de gestão de tempo, quer por se tornar num aspeto facilitador da aceitação por parte dos idosos em aderir à investigação.

Para a identificação dos idosos residentes neste concelho, foi solicitada a colaboração da junta de freguesia de Monção que, gentilmente, cedeu a listagem com todas as pessoas, com sessenta e cinco e mais anos, recenseadas. Tendo em conta que se tratava de um número elevado de idosos (786 pessoas com 65 e mais anos recenseadas), foi pedida a colaboração a uma residente no concelho, que detém grande conhecimento da população, por ser uma presença assídua nos atos religiosos e por se tratar de uma ministra da comunhão.

Consciente que esta área de estudo não é de todo fácil por se tratar de um tema com caráter subjetivo, torna-se aliciante, no sentido em que se conhece a perceção dos idosos acerca da solidão, ou seja, a forma como cada idoso identifica, carateriza e vivência a solidão. Neste sentido,

pretende-se com este estudo contribuir para uma prática clinica mais humana, minimizando os efeitos da solidão e potencializando uma velhice bem-sucedida.

Para o presente estudo foi enunciada a seguinte questão de investigação: Que implicações têm a solidão nos idosos para potencializar uma velhice bem-sucedida? Questão esta, que segundo a Fortin (2009, p. 67) “(…) vem precisar o ângulo sob o qual o tema em estudo será considerado”.

Foram ainda formuladas outras questões orientadoras do estudo: - Qual a relação/comunicação idoso-família?

- Qual o conceito que o idoso tem de solidão? - Qual o impacto da solidão na pessoa idosa? - Quais as causas que levam ao isolamento social? - Qual o sentido que a vida tem para o idoso?

- Quais as estratégias que o idoso utiliza para minimizar a solidão?

Com o propósito de dar resposta às questões formuladas, definimos o seguinte objetivo geral:

Perceber as implicações da solidão nos idosos para potencializar uma velhice bem- sucedida.

Compreender esta realidade inclui os seguintes objetivos específicos: - Identificar o conceito de solidão na perspetiva do idoso; - Identificar o impacto que a solidão tem na pessoa idosa; - Identificar os aspetos que levam ao isolamento social; - Identificar o projeto pessoal do idoso perante a solidão;

-Identificar as estratégias utilizadas pelos idosos para minimizar a solidão;

-Identificar, junto do idoso, a sua perceção relativamente à relação/comunicação estabelecida com a sua família.

Assim partiu-se para a fase exploratória do estudo através da realização de onze entrevistas semiestruturadas.