4. A gestão de conflitos no trabalho de projeto
4.2. Procedimento
Quanto ao projeto desenvolvido ao longo estágio, embora não tenha seguido as fases acima mencionadas devido à falta de tempo, este teve como tema “Os Animais”. Os alunos disponibilizavam de 1h por dia para trabalhar no projeto que coincidia com a disciplina de Estudo do Meio. Apesar disso, foi entendido que para realizar este projeto com sucesso teríamos que utilizar as metodologias de gestão construtiva de conflito e o método que mais se enquadrou foi a negociação. Foi escolhida esta abordagem por ser um método de diálogo centrado na resolução de um conflito entre as partes envolventes, segundo Munne, & Mac-Cragh (2006 cit. Monteiro, 2013). Na negociação, apenas existem duas partes envolventes onde o objetivo é a tomada de decisão tendo em conta a vontade de ambas as partes. Neste projeto, a negociação foi trabalhada de duas formas: aluno-aluno e professor-aluno.
A primeira tarefa, foi a auscultação dos alunos de uma questão/curiosidade sobre os animais que gostariam de obter resposta, que foi registada numa folha em branco, previamente distribuída a cada um. Após as curiosidades dos alunos, selecionámos os subtemas que iriam ser abordados e organizamos os grupos de trabalho. Mais tarde, foram fornecidos aos alunos guiões de pesquisa, de acordo com os animais que iriam abordar neste trabalho (Apêndice I, II, III e IV).
Para a elaboração deste trabalho, adequamos a intervenção proposta por Bodine, Crawford e Schrumpf (1994), tal como já foi mencionado no enquadramento teórico, sobre a negociação colaborativa e que está compreendida em seis etapas: a concordar em
negociar, a primeira etapa, os alunos como demonstram vontade de trabalhar em
conjunto, foram distribuídos por grupos. O desenvolvimento do trabalho era realizado, por semana, através de pesquisas na internet ou em documentos fornecidos pelos
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estagiários, ambos acompanhados por um guião de pesquisa e orientações de trabalho. O grupo que estava a fazer pesquisa na internet tinha um acompanhamento permanente por um estagiário devido aos perigos que a internet pode representar para as crianças. A segunda etapa conhecer os diferentes pontos de vista, os alunos (já a funcionarem em grupo) expõem as suas ideais uns aos outros. Na terceira etapa encontrar os interesses em
comum, a fase crucial no processo da negociação, é subdividida em três pontos
importantes: 1- Podem ser encontrados interesses em comum latentes na negociação, apenas não se encontram percetíveis à primeira vista; 2- Os interesses comuns são oportunidades de os alunos chegarem a um acordo; 3- Os alunos, realçando os seus interesses em comum, podem avançar no trabalho de grupo com mais facilidade.
Na etapa criar opções em que todos ganham é o ponto de situação em que os alunos procuram todas as soluções possíveis para que cada ideia/opinião dos intervenientes seja aproveitada no trabalho. Principalmente nesta etapa, a negociação não foi o único método de gestão construtiva de conflitos utilizada, pois também, segundo Munne, & Mac-Cragh (2006 cit. Monteiro, 2013), a conciliação, que consiste num método de diálogo entre duas partes envolventes (neste caso, os alunos) onde há a assistência de um terceiro envolvente, o conciliador, (podendo ser a professora cooperante/professores estagiários) que ajuda as partes envolventes a decidir, tendo em conta os seus interesses e necessidades. O conciliador pode apresentar propostas de solução em que os alunos podem aceitar ou não, pois a decisão pertence-lhes só a eles, seja ou não a solução dada pelo conciliador.
Na quinta etapa, avaliar as opções, é o ponto de situação em que os alunos analisam todas as possibilidades e onde consideram o que fazer. Mais tarde, na sexta e última etapa, formalizar o acordo, é necessário que os alunos estejam todos de acordo no trabalho (e forma de apresentação do mesmo) que estão a realizar para evitar mal- entendidos. Após a resolução do conflito e a conclusão de todos os grupos na sua respetiva parte do trabalho, procedeu-se à apresentação ao resto da turma.
Neste projeto, houve uma outra situação pontual em que um ou outro aluno não tinha o comportamento adequado (mau comportamento) para trabalhar em grupo com os colegas. Quando isso se sucedeu, tentamos através da negociação, uma abordagem professor-aluno onde era discutido com o aluno. Neste momento, foram dadas duas opções ao aluno: ou ele melhorava o seu comportamento e podia continuar a realizar o trabalho de grupo com os colegas ou, como castigo, faria um trabalho sozinho e não
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participava mais no trabalho de projeto. Estabelecendo uma decisão, o aluno voltava ao grupo na condição de melhorar o seu comportamento e participar colaborativamente no desenvolvimento do trabalho.
Este trabalho de projeto, permitiu observar que em contexto escolar podem ocorrer uma grande diversidade de conflitos, daí a necessidade de os reconhecer para uma intervenção adequada. Face às tipologias de Torrego (2000), destacamos dois tipos de conflitos escolares que foram evidenciados durante este processo: os conflitos de relação/comunicação, onde durante a realização do trabalho os alunos tinham diferentes perceções entre eles; e os conflitos por atividade, onde os alunos eram gerados por desacordos sobre a forma de realizar um trabalho.
Como produto final, podemos encontrar diversos trabalhos, desde cartazes e textos em banda desenhada realizados pelos alunos, onde em jeito de conclusão do projeto construímos um livro com todos os trabalhos realizados pelos alunos.
64 Imagem 1 - Livro do trabalho de projeto
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Conclusão
O Estágio é o momento em que aplicamos os diversos conhecimentos que fomos aprendendo ao longo do percurso académico, mas acima de tudo permitiu-nos ter a perceção que todos os alunos são diferentes uns dos outros, quer a nível de aprendizagem, necessidades, ideologias, quer mesmo de métodos de trabalho. Ao longo da prática pedagógica tentámos desenvolver atividades que envolvessem situações problemáticas e de conflito, cuja resolução foi sendo feita através da negociação colaborativa. Os alunos aprenderam a analisar e a diagnosticar o conflito, a respeitar e a identificar os interesses das partes envolventes e a saber encontrar os termos de concordância para a resolução do conflito. Esta estratégia permitiu aos alunos a estruturação de aprendizagens necessárias dos conteúdos e o desenvolvimento de competências procedimentais, conceptuais e atitudinais (como por exemplo: o respeito, a compreensão e a colaboração).
De acordo com a temática trabalhada, o recurso à estratégia do trabalho de grupo foi importante para a assimilação de ideias. Inicialmente, os alunos discutiam entre si para delimitarem o seu trabalho e depois, já em grupo, cada um deles defendia a sua apreciação e contestava a dos outros grupos em debate. O professor tem um papel preponderante nestas situações. Para além de pedagogo, assume-se como facilitador e orientador em situações de aprendizagem individuais ou de grupo. Não obstante, o seu papel como negociador, mediador, árbitro e conciliador só mostra como um professor pode alterar a sua postura conforme o conflito que possa surgir. Quanto ao nível de aprendizagem, adquirimos competências em três níveis diferentes: no domínio cognitivo (saber-saber), no domínio psicomotor (saber-fazer) e no domínio sócioafetivo (saber-ser/saber-estar). Destaco, principalmente, o domínio sócioafetivo devido a ser um domínio ligado às reações e às emoções, que fazem com que se criem vínculos entre o professor e os alunos, sendo estas umas das principais fontes motivacionais do ensino e da aprendizagem.
A prática de ensino supervisionada, do ponto de vista pessoal e profissional, permitiu-nos estar em contacto com a realidade educativa na qual pretendemos trabalhar, mostrando-nos as dificuldades que fomos enfrentando e ultrapassando. Quando chegamos às escolas, as primeiras abordagens dos alunos deram-nos a entender que eles nos perpecionavam como condescendentes por sermos professores estagiários. A maior dificuldade foi em remover esse estereótipo dos alunos e conseguir concretizar uma
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lecionação adequada. Apesar de, ao longo deste tempo, termos mantido uma postura reflexiva, as críticas e as ideias apontadas pelos professores cooperantes, foram sempre vistas como uma possível margem de progressão e como críticas construtivas.
Em suma, o facto de termos tido estes períodos de estágio fez-nos crescer quer a nível pessoal como profissional, crescimento esse que será muito importante para o nosso futuro como docentes. Considerámos que esta experiência foi muito positiva, uma vez que nos permitiu realizar uma preparação para conseguir lidar com a dinâmica escolar, vivenciando e participando em situações reais que nos permitiram evoluir e aprender.
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Apêndices
O leão
1. Abre a página de pesquisa da internet do computador;
2. Coloca na barra de pesquisa o seguinte link:
http://www.junior.te.pt/servlets/Bairro?P=Animais&ID=1096
3. Faz uma leitura do texto que lá encontras.
4. Discute com os teus colegas de grupo sobre o que retiras do texto.
5. Em grupo respondam às seguintes questões:
a) Que tipo de animal é o leão?
________________________________________________________________
b) De que se alimenta o leão? Podemos dizer que este é carnívoro? Justifica. ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________
c) Por que motivo o leão tem juba? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________
d) Normalmente, em que altura do dia é que o leão costuma rugir?
_________________________________________________________________ _________________________________________________________________
1. Sabias que, para acasalar o pinguim oferece um seixo àquele que quer que seja seu companheiro?
Faz uma pesquisa no seguinte página da internet no seguinte site e descobre esta e outras coisas sobre o pinguim: http://www.junior.te.pt/servlets/Bairro?P=Animais&ID=352.
a) Discute com os teus colegas o que aprendeste sobre os pinguins.
b) Elaborem um pequeno texto onde expliquem o que aprenderam. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________
1. Lê atentamente o seguinte texto.
Por que é que as aves voam?
As aves voam porque têm duas asas muito fortes e músculos também muito fortes. O facto de serem leves também ajuda. Os seus ossos são ocos e as suas patas pesam muito pouco.
Para além de tudo, aprenderam a mexer as asas de maneira a aproveitar as correntes de ar e o vento.
Sabem como hão de fazer para voar mais depressa, para planar, para levantar voo e para aterrar. Foi a observar as aves que muito se aprendeu para fazer os aviões voar.
2. Discute com os teus colegas o que aprendeste com o seguinte texto.
2.1. Cria, com o restante grupo, uma banda desenhada onde explique o que aprendeste com
o texto.
1. Lê o seguinte texto.
Por que é que o camaleão muda de cor?
O camaleão muda de cor conforme o sítio onde está para se poder esconder dos seus inimigos. Mas não penses que o faz de propósito.
O camaleão muda de cor porque tem uma pele muito sensível e com três tons de cores diferentes: vermelho, amarelo e castanho. Quando o camaleão está assustado com alguma coisa ou apanha demasiado sol, ou a temperatura do seu corpo desce, o camaleão muda de cor. A parte boa é que muda para a cor do ambiente à sua volta! Por exemplo, se o camaleão estiver na sombra de uma árvore, num sítio fresquinho, o seu corpo fica verde. Mas, se estiver num tronco, ao sol e à vista dos seus inimigos, o seu corpo fica castanho.
No entanto, esta mudança de cor não serve só para se defender dos inimigos. Também é muito boa para caçar os insetos dos quais o camaleão se alimenta.
Para caçar, o camaleão fica muito quietinho, disfarçado no ambiente que o rodeia. Quando passa um inseto, ele estende a sua língua e apanha-o rapidamente.