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Procedimento de análise dos dados

PARTE 2: ENTRANDO NA SALA DE AULA DE MATEMÁTICA

2.1. O problema e o método

2.1.3 Procedimento de análise dos dados

Procedemos à transcrição na integra dos registros em áudio e vídeo obtidos tal

como descrito antes. Esta transcrição foi submetida a dois tipos de análise: a análise

proposta por Fávero (2005) e aquela proposta por Leinkin (2005).

Fávero (2005) tem desenvolvido pesquisas que adotam um procedimento centrado

no trabalho com grupos de professores, nos quais são privilegiadas as interlocuções

verbais. Por meio dessas mesmas interlocuções, são evidenciadas as representações sociais

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aprender, o que é ser um bom professor, quais as concepções presentes sobre as áreas do

conhecimento mediadas pela escola. Ou seja, nessas interlocuções são expostos os

fundamentos representativos que baseiam as práticas escolares docentes. “Não se trata de

abordar técnicas didáticas particulares; trata-se, em última análise, de trazer para a

discussão o campo conceitual da própria psicologia do desenvolvimento e sua relação com

a aquisição de conhecimento” (Fávero, 2005, p. 23).

Sua proposta articula as representações sociais, a linguagem e a mediação semiótica

com a Psicologia do Desenvolvimento, no sentido de compreender o processo de

compartilhamento de significados sociais no meio escolar. Ela toma os atos da fala como

unidade de análise. Esta autora fundamenta sua proposta em Vion (2000) e em Chabrol e

Bromberg (1999), que defendem que o ato da fala repousa essencialmente no conceito de

inter-ação.

Assim, os atos da fala constituem uma forma de interação entre as pessoas, pois o

entendimento desse processo repousa na ação produzida pela fala no outro com o qual está

interagindo. Por essa razão, a função da linguagem vai muito além de transmissão e

recepção de uma mensagem. É um ato social no qual as pessoas trocam significados,

interagem entre si, afetam uns aos outros, numa contínua construção intersubjetiva. Dessa

forma, os sujeitos envolvidos constroem juntos a realidade na qual estão inseridos. Para

Chabrol e Bromberg (1999):

É preciso dizer que a teoria dos atos de linguagem repousa essencialmente sobre o conceito de ação, enquanto a noção de ato da fala repousa essencialmente no conceito de inter-ação. Nessa perspectiva, a interação constitui um processo através do qual os atores sociais se constituem como sujeitos, constroem suas identidades através dos jogos complexos, do papel e das expectativas recíprocas, colaboram para a construção e para a manutenção de uma realidade social comum” (Chabrol &

104 Bromberg, 1999, p. 296, conforme citados em Fávero, 2005, p. 23).

Assumimos, nesse trabalho, que os processos de internalização e externalização do

sujeito humano ativo estão presentes nessa proposta (Fávero, 2005, 2012). Entretanto,

como veremos na apresentação dos resultados, as transcrições evidenciam que a

interlocução entre os professores e alunos apresenta uma característica particular: na maior

parte do tempo, apenas o (a) professor (a) tem voz no processo comunicacional. Ou seja, a

comunicação entre esses sujeitos se apresentou pautada na transmissão de regras

matemáticas por parte do (a) professor (a), dentro da categoria contratual de atos da fala.

A análise de Fávero (2005, 2012) se articula perfeitamente com a análise de

Leinkin (2005). Em seus trabalhos, Leinkin (2005) analisa o ensino como um ambiente de

aprendizagem para professores e alunos. A estrutura e as propriedades das interações

instrucionais foram detalhadas por meio de um modelo desenvolvido a partir de vários

estudos de caso (Leinkin, 2005). Esse modelo permite descrever a proficiência de um

professor ao interagir com os alunos e demonstrar o potencial das interações para novas

aprendizagens dos próprios professores de matemática. Interações mais proficientes entre

um professor e seus estudantes mostraram que têm maior potencial de desenvolvimento

para ambos os envolvidos nessas interações.

Para a autora, interações são geralmente definidas como um processo recíproco

pelo qual a informação é trocada entre indivíduos através de um sistema comum de

símbolos, sinais, ou comportamentos (Leinkin, 2005). De acordo com esta definição, por

meio de interações instrucionais, que são orientados para a aprendizagem do aluno, o

professor aprende também por meio da troca de informações com os alunos.

Sua proposta apresenta um modelo de interações instrucionais que caracteriza a

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qualidades dessas interações se relacionam com o desenvolvimento de professores de

matemática. Leinkin (2005) desenvolve um modelo que torna possível uma análise

detalhada dessas interações em um sistema de seis temas (big themes), conforme citado a

seguir:

(1) O propósito da interação do (a) professor (a) com os estudantes; (2) iniciação da interação pelo (a) professor (a) ou pelos alunos; (3) motivos, que podem ser externos se eles são designados por um dado sistema educacional, ou internos, incluindo conflito cognitivo, incerteza, desacordo ou curiosidade; (4) reflexão sobre como nas experiências prévias de professores (as) ou estudantes; (5) ações que fundamentam o processo interativo, isto é, aviso, apresentação, questionamento e discussão; (6) foco na interação que pode ser de natureza matemática ou pedagógica. Cada um destes temas pode ser subdividido em outras categorias, de modo que qualquer interação pode ser vista como um vetor construído de seis coordenadas (Leinkin, 2005, p. 1, tradução nossa).

Dessa forma, inicialmente, procedemos a uma leitura integral das transcrições de

cada aula registrada em vídeo. Em seguida, sublinhamos no texto da transcrição as

categorias de interação em sala de aula, tendo por base, como já foi dito, as categorias

propostas por Leinkin (2005). Com base nessa proposta, construímos, para cada série, duas

tabelas: uma referente à situação em sala de aula com o professor de matemática e a outra

com a professora de matemática.

Com relação à proposta de Fávero (2005), submetemos as transcrições à teoria que

considera os atos da fala como unidade de análise. Assim, estruturamos os dados de cada

conteúdo de aula gravada em tabelas, nas quais expusemos os trechos das transcrições, as

esferas e as categorias dos atos da fala presentes nesses dados. A seguir, mostramos os

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