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Quando se pretende saber quais as dificuldades sentidas e como estas influenciam a prestação de cuidados numa determinada realidade para cada pessoa, não se pode ter a pretensão que elas se insiram num determinado padrão de respostas. Assim, tivemos sempre em atenção a liberdade de expressão e o à vontade dos sujeitos, quando escolhemos a entrevista para colher os dados.

A entrevista segundo Gil, enquanto técnica de colheita de dados, “é bastante adequada para a obtenção de informações acerca do que as pessoas sabem, crêem, esperam, sentem e desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem como acerca das suas explicações ou razões a respeito das coisas precedentes...”(35)

Optámos pela entrevista estruturada, pois de encontro ao acima referido, considerámo-la adequada, não sendo dirigida ao ponto de impedir a progressão de

88 ideias, sendo inteiramente aberta, deixando o entrevistado expressar-se livremente sobre a problemática em estudo.

As entrevistas estruturadas são elaboradas mediante questões padronizadas, ou seja, é aquela onde as perguntas são previamente formuladas e tem-se o cuidado de não fugir a estas. O principal motivo da escolha deste tipo de entrevista é precisamente ter a possibilidade de surgirem diversas opiniões e respostas às mesmas questões.

Todo o processo de colheita de dados que se realizou de 12 de Maio a 2 de Junho de 2006, foi antecedido pela autorização dada pelo Conselho de Administração da ULSBA – HJJF (Anexo I).

De acordo com os objectivos estabelecidos, elaborámos algumas questões que favorecessem a expressão dos entrevistados, intervindo o menos possível, mas que não deixassem que os mesmos se perdessem face à problemática em estudo, como se pode ver a seguir:

- Fale da sua experiência ao cuidar do doente oncológico em fase terminal.

- Que dificuldades sente ao cuidar de um doente oncológico em fase terminal?

- De que forma estas dificuldades por si sentidas influenciam a prestação de cuidados ao doente oncológico em fase terminal?

Antes de realizar as entrevistas, foram testadas as perguntas com dois outros enfermeiros, que não faziam parte do estudo mas que reuniam as condições necessárias e idênticas, com a pretensão de verificar se realmente davam resposta ao que se pretendia estudar, o que se verificou, não tendo sido necessário

89 reformulá-las. Assim, para além de testar a validade do instrumento de colheita de dados, houve a oportunidade de treinar o uso do gravador, adequar o tempo das futuras entrevistas e também testar o meu comportamento como entrevistadora. As entrevistas realizaram-se na quase totalidade num gabinete da consulta externa que esteve disponível para esse fim, pois os participantes do estudo consideraram que aí estariam reunidas as adequadas condições para que tal se realizasse, sem interrupções nem ruídos de fundo, apenas uma entrevista foi realizada na casa de um dos sujeitos.

O tempo médio das entrevistas foi 30 minutos, embora nalgumas delas, após o desligar do gravador, se tenha sentido necessidade de estar um pouco mais a falar. O que se revelou importante, pois para além de se continuar a falar da problemática em estudo, permitiu constatar que os sujeitos se encontravam à vontade, não revelando qualquer tipo de inibição.

Todas as entrevistas foram transcritas no dia em que foram realizadas e foi-lhe atribuído um código. A ordem que está atribuída (E1, E2,...) não está relacionada com a ordem em que decorreram as entrevistas, para que não possibilitasse a identificação dos entrevistados.

90 4 - CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

Ao longo do trabalho não foram referidos quaisquer aspectos que possam revelar ou possibilitar a identificação dos entrevistados.

Foi solicitado aos sujeitos do estudo o seu consentimento informado, para entrarem no estudo, tendo sido esclarecidos do tema da pesquisa, quais os objectivos e qual seria o método utilizado para colher os dados. Foi também solicitada a sua autorização para se usar o gravador, tendo sido assegurados a confidencialidade e o anonimato dos dados.

Ficou explícito para todos os entrevistados, que os dados colhidos só seriam utilizados para o fim para que foram destinados, ou seja, para a concretização deste trabalho, e que após a sua conclusão, este seria colocado à disposição dos sujeitos que manifestassem vontade de o consultar.

Por todos os aspectos referidos, quis assumir a minha responsabilidade enquanto investigadora, pois como referem BOGDAN & BIKLEN, é importante “que o investigador tenha consciência acerca do que julga serem os seus comportamentos adequados”.(39)

91 5 - PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DE DADOS

Recorremos à Análise de Conteúdo como método de análise dos dados colhidos. Este método de análise de dados, abordados por alguns autores, como Bardin, Vala, Ghiglione & Matalon entre outros, “permite reduzir a complexidade de um discurso, atribuindo-lhe os seus significados.”(40)

A análise de conteúdo não é uma técnica meramente descritiva dos conteúdos manifestos nos discursos dos sujeitos, ela é essencialmente inferencial. É a partir dessas inferências que a informação contida nesses discursos adquire o verdadeiro sentido/significado. A este método de análise de dados estão subjacentes um conjunto de técnicas, ou fases, as quais devem ser criteriosamente apresentadas, de forma a que numa fase posterior, possa ser indagada a validade e mesmo a fidelidade inerente a todo o processo de pesquisa.

Após leituras repetidas de cada entrevista, e constatando que o que cada sujeito transmitiu era relevante, considerámos que o “corpus” de análise seria constituído por todas as entrevistas (6 entrevistas). Seguiu-se a fase seguinte do processo de pesquisa, ou seja, a codificação.

Estabelecemos uma (1) área temática: Dificuldades ao cuidar o doente oncológico em fase terminal, que confere à intenção principal junto dos enfermeiros participantes, a recolha de informação necessária para a realização deste estudo.

Como unidade de registo optámos pelo tema, que segundo Berelson, citado por Bardin, “é uma afirmação acerca de um assunto. Quer dizer, uma frase, ou uma frase composta, habitualmente um resumo ou uma frase condensada...” (41)

92 Como unidade de contexto, optámos pela totalidade da entrevista. O processo de codificação e categorização foi feito entrevista a entrevista, através de um processo manual, onde foram colocadas a Área Temática, as Categorias, Subcategorias e Indicadores que iam surgindo. Este processo revelou-se frutífero, quer para posterior validação com os sujeitos do estudo, quer para a elaboração da Matriz de Codificação Global, que apresentamos no fim deste capítulo.

Podendo existir unidades de enumeração na análise de conteúdo, não foram valorizadas neste estudo, embora pontualmente sejam mencionadas, pois o propósito não era o de “quantificar”.

Validámos em cada um dos sujeitos do estudo as inferências que conduziram ao processo de categorização, tentando evitar juízos de valor erróneos acerca da realidade transmitida pelos mesmos, e pretendendo acima de tudo, que cada um deles se sentisse identificado nessas atribuições.

As entrevistas foram entregues a dois (2) juízes para aferir a codificação e categorização desenvolvidas, tendo havido convergência entre todos.

93 Matriz de Codificação Global: Distribuição das Categorias, Subcategorias e Indicadores da Área Temática.

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