PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS

Considerando que os 10 (dez) casais sujeitos do estudo puderam expressar-se livremente acerca dos tópicos levantados tanto pelo instrumento da abordagem indireta quanto da abordagem direta, as transcrições realizadas produziram um amplo conjunto de dados, os quais foram submetidos a uma análise de conteúdo. Destaca-se que o texto transcrito das falas refere-se aos pensamentos, sentimentos, memórias, planos e discussões dos indivíduos respondentes, dizendo muitas vezes mais do que se imagina e sua análise constituindo-se em uma ferramenta flexível e vasta (THOMAS, 1974; ANZIEU, 1989; BAUER, 2002).

Ainda sobre a análise de conteúdo, Bauer (2002) afirma que esta se constitui em um método desenvolvido dentro das ciências sociais empíricas onde, embora a maior parte das análises clássicas culminem em descrições numéricas de algumas características do corpus do texto, significativa atenção tem sido dada aos tipos, qualidades e distinções presentes nos dados coletados. Portanto, realizar a análise de conteúdo significa utilizar-se de um conjunto de técnicas de análise das comunicações a fim de se obter indicadores (quantitativos ou não) que possibilitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens (BARDIN, 2000).

3.4.1 Transcrição

Após a aplicação dos instrumentos de pesquisa, as gravações realizadas foram transcritas de forma integral, gerando o que se denomina corpus da análise (BARDIN, 2000). Salienta-se que para a realização de uma boa análise de conteúdo se faz essencial o registro detalhado das falas a serem analisadas, ou seja, a transcrição não pode sintetizar o que foi dito pelos sujeitos da pesquisa, nem mesmo “limpar” ou corrigir (BAUER, 2002).

Para a realização da transcrição do material coletado foi consumido um significativo tempo, visto que mais de uma vez se fez necessário retomar a audição da fala dos sujeitos a fim de não se perder as informações presentes nos discursos, tanto nos decorrentes da complementação de histórias quanto nos decorrentes das entrevistas em profundidade. Destaca-se que, como muitas vezes algumas das intuições analíticas mais relevantes se dão no momento da transcrição da fala (GILL, 2002), o autor produziu notas analíticas enquanto realizava a transcrição, as quais foram resgatadas no momento da interpretação.

3.4.2 Pré-análise

Uma vez realizada a transcrição do conteúdo, uma leitura geral do corpus da análise foi feita. Durante esta leitura, a autora procurou identificar elementos comuns nos diferentes discursos, isto é, que fizessem sentido para a contextualização das respostas frente aos objetivos propostos pelo estudo, e não apenas no seu enunciado particular. Conforme Moraes (2003), os materiais textuais são os significantes aos quais o analista deve atribuir sentidos e significados.

3.4.3 Codificação e Categorização

A codificação e a categorização do material textual, advindo da coleta em dados primários e posterior transcrição, constitui uma tarefa de construção na qual se busca estabelecer a relação entre a teoria e o material de campo (BAUER, 2002). Tal processo é exigente e trabalhoso (MORAES, 2003), e deve evidenciar a coerência e o rigor esperados de uma análise qualitativa (OLIVEIRA, 2007).

Assim sendo, nesta etapa fez-se um exame detalhado do discurso, onde as transcrições foram lidas e relidas até que se tornassem familiares. Após, procedeu-se a separação e o isolamento de cada fração significativa, as quais foram sendo codificadas. De acordo com Bauer (2002), um referencial de codificação constitui-se em um modo sistemático de comparação, ou seja, um conjunto de questões (códigos) com o qual o codificador trata os materiais e através do qual consegue respostas. Portanto, embora o corpus das transcrições dos dados deste trabalho permita uma multidão de possíveis questões, a análise de conteúdo realizada manteve-se norteada pela seleção teórica que incorpora o objetivo da pesquisa.

Após a codificação, foi realizada a categorização. Como as categorias podem ser produzidas através do método indutivo ou do método dedutivo (MORAES, 2003), torna-se relevante mencionar que para a realização da categorização dos dados desta pesquisa utilizou- se o método dedutivo, isto é, as categorias foram estabelecidas tendo-se por referência as variáveis conhecidas através de pesquisa bibliográfica realizada (ver Quadro 07).

3.4.4 Interpretação

Tendo completado a codificação e a categorização dos dados, realizaram-se então as inferências do autor sobre o material, levando-se em consideração para isso os

conhecimentos advindos da pesquisa bibliográfica realizada (OLIVEIRA, 2007). Neste momento, criaram-se as condições para a emergência de interpretações decorrentes da capacidade do autor para estabelecer e identificar relações entre as partes e o todo (MORAES, 2003).

Dessa forma, e levando-se em conta os objetivos do presente estudo, a inferência possibilitou a passagem dos significantes para os significados, gerando-se assim respostas ao problema de pesquisa. Na análise de conteúdo, o resultado deve apresentar produções de interesse e que resistam a um minucioso exame (BAUER, 2002). Considerando-se isso, o procedimento de interpretação utilizou-se de três blocos para unidade de análise (OLIVEIRA, 2007).

Isto é, primeiramente o autor interpretou os resultados da abordagem indireta, verificando a incidência das emoções da Escala CES (desenvolvida por Richins, 1997) no processo de compra de imóveis por casais; em um segundo momento realizou-se a interpretação dos resultados oriundos da abordagem direta, elucidando as manifestações cognitivas e os conflitos que ocorrem ao longo das etapas do processo de decisão de compra investigado (de acordo com modelo proposto por Engel, Blackwell e Miniard, 2005); e por fim, num terceiro momento, estabeleceu-se uma relação entre as emoções vividas pelos indivíduos respondentes da pesquisa com os aspectos cognitivos das etapas seqüências do processo de decisão de compra complexo investigado.

Assim sendo, destaca-se que o pesquisador buscou interpretar a realidade dos dados coletados dentro de uma visão sistêmica (OLIVEIRA, 2007). Na seqüência, tem-se o capítulo IV, onde se apresentam os resultados e as análises realizadas.