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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.4 Intoxicações em seres humanos

2.4.5 Aspectos botânicos e clínicos das intoxicações

2.4.5.2 Procedimento médico ao paciente intoxicado

De acordo com Freddi (1999) e Brasil (2006), o atendimento toxicológico é realizado através das seguintes fases: avaliação clínica inicial, estabilização do quadro clínico, reconhecimento da toxíndrome ou síndrome tóxica, descontaminação do agente tóxico,

A avaliação clínica inicial também denominada de pré-atendimento clínico, é realizada para o reconhecimento da toxíndrome. Nesta etapa o médico avalia a situação clínica do paciente através dos sinais e sintomas clínicos apresentados, e verifica se há ou não se há risco de vida. Durante o atendimento clínico, o médico realiza um exame físico detalhado e rápido do paciente, onde observa as condições: respiratória (obstrução das vias aéreas, apneia, bradipnéia, taquicardia, edema pulmonar, insuficiência respiratória); circulatória (pressão arterial, frequência cardíaca, estado de choque e parada cardíaca); neurológica (convulsões, pupilas dilatadas e fixas, agitação psicomotora, etc.) e do estado geral do paciente (temperatura, hidratação, características da pele e mucosas, coloração, odor, etc.).

A estabilização do quadro clínico é obtida através de medidas que visam corrigir os distúrbios apresentados que possam representam risco de vida para o paciente. Estas medidas são idênticas às realizadas em serviços de emergência para qualquer situação clínica grave. Para isto, o suporte básico consiste de três manobras: permeabilização das vias aéreas, ventilação pulmonar e massagem cardíaca externa, quando necessário. Já o suporte vital avançado, requer a utilização de equipamentos para auxiliar a ventilação, monitorização

cardíaca, uso de drogas e desfribilação e manutenção da estabilidade clínica do paciente (FREDDI, 1999).

O reconhecimento da toxíndrome ou síndrome tóxica (conjunto de sinais e sintomas produzido por doses de substâncias químicas) permite a identificação mais rápida do agente causal e, consequentemente, a realização do tratamento adequado. Para que ocorra o reconhecimento da síndrome tóxica é necessário realizar uma anamnese, ou seja, uma entrevista entre o profissional de saúde e o seu paciente. Esta entrevista é o ponto de partida para que o médico possa chegar ao diagnóstico da doença. Somente após este contato o médico realiza o exame físico detalhado no paciente.

Quando o agente tóxico for conhecido, deve-se estimar a quantidade que foi ingerida, o tempo decorrido entre o acidente até o atendimento médico, a sintomatologia inicial apresentada e as providências de primeiros socorros que foram tomadas. Porém, se o agente tóxico for desconhecido (dados suspeitos) as informações do paciente ou de seus amigos e familiares são muito importantes para auxiliar no atendimento e diagnóstico da intoxicação.

A descontaminação do agente tóxico é a etapa em que se procura diminuir a exposição do organismo ao tóxico, quer reduzindo o tempo e/ou a superfície de exposição, quer reduzindo a quantidade do agente químico em contato com o organismo. A conduta para a descontaminação é bastante variável, de acordo com a via da possível absorção do agente tóxico entre elas, as principais são: digestiva, respiratória, cutânea e percutânea. A via digestiva é a mais importante nos atendimentos infantis, pois na maioria das vezes, a intoxicação ocorre após a ingestão de produtos químicos e plantas (BATEMAN, 1999).

Embora os procedimentos de descontaminação sejam conhecidos há muito tempo, percebe-se atualmente, uma tendência em questionar a sua eficácia, particularmente, em virtude da inexistência de evidências científicas válidas. Em relação às medidas usuais utilizadas para provocar vômito, qualquer que seja o procedimento utilizado para este fim, sua validade é bastante discutível, uma vez que a sua eficácia depende da rapidez de sua execução, fato que não ocorre na maioria dos casos emergenciais.

Entre os procedimentos mais comuns incluem a indução do reflexo nauseoso por estimulação mecânica da faringe, o xarope de ipeca, apomorfina. Na indução mecânica, são indispensáveis a colaboração do paciente e um socorrista bem treinado, porém, sua eficácia é duvidosa. Há risco de trauma e de aspiração. O xarope de Ipeca é um medicamento relativamente barato e fácil de usar. Porém, para a American Academy of Clinical Toxicology e a European Association of Poison Control Centers and Clinical Toxicology esse xarope não deve ser administrado rotineiramente no paciente intoxicado, uma vez que não há evidências

de estudos clínicos sobre a sua ação na melhora da evolução do paciente (KREZENLOK, 1997).

Estudos realizados por Saincher et al. (1997) em voluntários humanos, revelam que os resultados da pesquisa não demonstraram benefícios da ipeca quando o xarope é administrado 30 minutos ou mais após a ingestão do tóxico e que o benefício de suas propriedades é perdido em algum momento entre 5 e 30 minutos.

Lavagem gástrica: Embora para este procedimento seja necessário pessoal capacitado, equipamento adequado, ambiente hospitalar, este método ainda é largamente utilizado, porém, não é indicado no tratamento de pacientes intoxicados. Estudos experimentais realizados a quantidade removida é bastante variável e diminui com o tempo, não sendo, portanto, evidenciada melhora da evolução do paciente após o seu uso (VALE, 1997; 2002).

Carvão ativado: O uso clínico do carvão ativado no tratamento de intoxicações deve- se a sua ação adsorvente, ou seja, o carvão ativado adsorve a substância tóxica, diminuindo a quantidade disponível para absorção pelo sistema digestório, mas, também age em substâncias já absorvidas, como nos casos de bases fracas ou aquelas com circulação entero-hepática, a qual é interrompida por ação do carvão ativado. A substância tóxica é retida pelo carvão ativado é eliminada com as fezes (OLIVEIRA et al., 2003).

De acordo com Oliveira et al. (2003); Fonseca (2006); Gaudreault (2005) o carvão ativado pode adsorver o agente tóxico no estômago e também, ao longo do trato gastrintestinal, após a lavagem gástrica (LG). Para este procedimento, o carvão ativado pode ser administrado no início e no final da LG, ou seja, 60 minutos após ingestão do tóxico. Segundo Bateman (1999) o melhor procedimento para descontaminação digestiva é a utilização do carvão ativado. A dose usual é de 1 g/kg, por via oral, em suspensão aquosa, mas não há evidencias de que sua administração melhore a evolução da intoxicação (CHYKA, 1997).

Catárticos: Os catárticos são agentes que promovem e/ou aliviam a defecação acelerando o trânsito das fezes pelo intestino grosso, influenciando a consistência e a quantidade, e facilitando sua eliminação. Os termos laxante e catártico refletem a intensidade e a latência típicas do efeito. O catártico normalmente produz evacuação fluida imediata, enquanto o laxante normalmente produz fezes de consistência mole em período prolongado; a mesma droga pode agir como laxante ou catártico, dependendo da dose administrada, ou ainda da sensibilidade individual do paciente (PDAMED-Dicionário digital de termos médicos). Porém, segundo Barceloux (1997) ainda faltam estudos clínicos que demonstrem a sua capacidade (com ou sem carvão ativado), para reduzir a biodisponibilidade do tóxico ou

para melhorar a evolução do paciente, não sendo, portanto, indicado para descontaminação digestiva. A sua utilização pode ser justificada para contrabalançar os efeitos obstipantes do carvão ativado.

Para Freddi (1999) quando a intoxicação ocorrer por via respiratória a primeira providência que deve ser tomada é retirar o paciente do ambiente contaminado e se necessário, fazer a remoção das vestes. Nos casos de intoxicações cutâneas, deve remover as vestes e lavar o corpo ou a área afetada com água corrente e sabão.