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O procedimento para fiscalização dos processos de desestatização pelo TCU

3. A atuação do TCU nos processos de desestatização: fundamentos e críticas

3.3. O procedimento para fiscalização dos processos de desestatização pelo TCU

A Lei nº 8.031/90 instituiu o Programa Nacional de Desestatização - PND. Com o advento da Lei nº 9.491/97129, a Lei nº 8.031/90 foi revogada e foram alterados os

128 CUNHA. Luiz Filippe Esteves. Saímos do nirvana? A operacionalização do argumento das capacidades

institucionais no STF. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado na FGV Direito RIO para obtenção de grau de bacharel em Direito. 2017, p. 21.

129 Art. 1º O Programa Nacional de Desestatização – PND tem como objetivos fundamentais:

I - reordenar a posição estratégica do Estado na economia, transferindo à iniciativa privada atividades indevidamente exploradas pelo setor público;

II - contribuir para a reestruturação econômica do setor público, especialmente através da melhoria do perfil e da redução da dívida pública líquida;

III - permitir a retomada de investimentos nas empresas e atividades que vierem a ser transferidas à iniciativa privada;

IV - contribuir para a reestruturação econômica do setor privado, especialmente para a modernização da infra- estrutura e do parque industrial do País, ampliando sua competitividade e reforçando a capacidade empresarial nos diversos setores da economia, inclusive através da concessão de crédito;

V - permitir que a Administração Pública concentre seus esforços nas atividades em que a presença do Estado seja fundamental para a consecução das prioridades nacionais;

VI - contribuir para o fortalecimento do mercado de capitais, através do acréscimo da oferta de valores mobiliários e da democratização da propriedade do capital das empresas que integrarem o Programa.

procedimentos relativos ao PND, tendo a concessão de serviço público passado a ser objeto de desestatização130-131.

Nesse contexto, a norma infraconstitucional reconheceu a competência da Corte de Contas para fiscalizar os processos de desestatização previstos na lei. A despeito de a concessão de atividade petrolífera não ser concessão de serviço público, o fundamento para a fiscalização do TCU reside na conjugação do art. 2º da Lei nº 9.491/97 com instrução normativa de sua lavra, que define os procedimentos que devem ser observados para a fiscalização dos processos de desestatização (Instrução Normativa TCU nº 27/98)132.

Assim, o artigo 7º da IN nº 27/98 divide o acompanhamento do processo de fiscalização de uma concessão, em quatro estágios: (i) 1º estágio: relatórios prévios (viabilidade técnica e econômica, estudos vinculados à outorga e impacto ambiental)133; (ii) 2º estágio: edital

e minuta de contrato134, devendo tais instrumentos se adequar ao Manual para

Acompanhamento de Processos de Outorga de Concessão de Direitos de Exploração e Produção

130 Art. 2º Poderão ser objeto de desestatização, nos termos desta Lei:

I - empresas, inclusive instituições financeiras, controladas direta ou indiretamente pela União, instituídas por lei ou ato do Poder Executivo;

II - empresas criadas pelo setor privado e que, por qualquer motivo, passaram ao controle direto ou indireto da União;

III - serviços públicos objeto de concessão, permissão ou autorização;

IV - instituições financeiras públicas estaduais que tenham tido as ações de seu capital social desapropriadas, na forma do Decreto-lei n° 2.321, de 25 de fevereiro de 1987.

V - bens móveis e imóveis da União.

131 Segundo Barroso, o programa de desestatização é levado a efeito por mecanismos como “(a) a alienação, em

leilão de bolsas de valores, do controle de entidades estatais, tanto as que exploram atividades econômicas como as que prestam serviços públicos e (b) a concessão de serviços públicos a empresas privadas.” (In BARROSO, Luis Roberto. Temas de Direito Constitucional, Tomo II, Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 277)

132 Art. 1º Ao Tribunal de Contas da União compete acompanhar, fiscalizar e avaliar os processos de

desestatização realizados pela Administração Pública Federal, compreendendo as privatizações de empresas, inclusive instituições financeiras, e as concessões, permissões e autorizações de serviço público, nos termos do art. 175 da Constituição Federal e das normas legais pertinentes.

§ 1º Para os fins do disposto nesta Instrução Normativa, considera-se:

I -– desestatização: a transferência para a iniciativa privada, de participações societárias e da execução dos serviços públicos explorados pela União por intermédio das entidades da Administração Pública Federal;

133 No primeiro estágio, devem ser analisados os seguintes elementos:

(a) relatório sintético sobre os estudos de viabilidade técnica e econômica do empreendimento, com informações sobre o seu objeto, área e prazo de concessão ou de permissão, orçamento das obras realizadas e a realizar, data de referência dos orçamentos, custo estimado de prestação dos serviços, bem como sobre as eventuais fontes de receitas alternativas, complementares, acessórias e as provenientes de projetos associados;

(b) relação dos estudos, investigações, levantamentos, projetos, obras e despesas ou investimentos já efetuados, vinculados à outorga, de utilidade para a licitação, realizados ou autorizados pelo órgão ou pela entidade federal concedente, quando houver;

(c) relatório sintético sobre os estudos de impactos ambientais, indicando a situação do licenciamento ambiental.

134 No segundo estágio são examinados os seguintes documentos: (a) edital de pré-qualificação; (b) atas de

abertura e de encerramento da pré-qualificação; (c) relatório de julgamento da pré-qualificação; (d) recursos eventualmente interpostos e decisões proferidas referentes à pré-qualificação; (e) edital de licitação; (f) minuta de contrato; (g) todas as comunicações e esclarecimentos porventura encaminhados às empresas participantes da licitação, bem como as impugnações ao edital, acompanhadas das respectivas respostas.

de Petróleo e Gás Natural elaborado pelo TCU; (iii) 3º estágio: habilitação135; e (iv) 4º estágio:

outorga136.

Em sessão realizada em 20.06.2018, foi aprovado, no Plenário do TCU, o projeto de Instrução Normativa (IN 81, de 20.06.2018) que instituiu novo modelo sobre o acompanhamento dos processos de desestatização pelo Tribunal de Contas da União, revogando as IN TCU 27/1998, 46/2004 e 52/2007, tendo sido publicado em 25.06.2018.

Esclareça-se que os processos de desestatização analisados nessa pesquisa foram realizados sob a égide da IN 27/98, pois as regras estabelecidas na nova IN 81/2018 passaram ser aplicáveis somente para os editais publicados a partir de 01.01.2019. Assim, a análise das minutas de editais e de contratos de oferta pública de blocos exploratórios e estratégicos realizadas pela ANP no âmbito dessa pesquisa, praticamente em sua totalidade, observaram o procedimento previsto na IN 27/98 – somente um único acórdão, o de nº 139/2019, foi analisado pelo TCU sob a égide na IN 81/2018, o que, no entanto, não afetou o resultado obtido nesta pesquisa.

Em linhas gerais, a IN 81/2018 institui um novo modelo de processo de desestatização realizado pelo Poder Público, voltado para o aprimoramento da dinâmica de acompanhamento das desestatizações, especificamente no tocante aos ritos processuais internos e à seletividade da atuação do TCU.

A IN 81/2018 passa a disciplinar, de forma clara, a fiscalização de processos de desestatização envolvendo as contratações de parceria público-privadas (PPP) e a outorga de atividades econômicas monopolizadas pelo Estado. Com o seu advento, se encerram os múltiplos estágios de acompanhamento dos processos na forma prevista na IN 27/1998 e se antecipam os prazos de envio de documentação para análise do TCU. Relativamente aos

135 Neste estágio, exige-se que sejam examinados os seguintes documentos: (a) atas de abertura e de

encerramento da habilitação; (b) relatório de julgamento da habilitação; (c) questionamento das licitantes sobre a fase de habilitação, eventuais recursos interpostos acompanhados das respostas e decisões respectivas; (d) atas de abertura e de encerramento da fase de julgamento das propostas; (e) relatórios de julgamento e outros que vierem a ser produzidos; (f) recursos eventualmente interpostos e decisões proferidas referentes à fase de julgamento das propostas.

136 O quarto estágio tem por objetivo verificar se o Contrato de Concessão assinado está de acordo com as

características pré-definidas do empreendimento, devendo estar o contrato em consonância com a minuta previamente aprovada e o resultado do leilão.

processos licitatórios, as minutas de edital e de contrato deverão ser encaminhadas ao órgão de controle com antecedência de 90 (noventa) dias à publicação do edital (artigos 3º e 8º).137

137 Art. 3º O Poder Concedente deverá disponibilizar, para a realização do acompanhamento dos processos de

desestatização, pelo Tribunal de Contas da União, os estudos de viabilidade e as minutas do instrumento convocatório e respectivos anexos, incluindo minuta contratual e caderno de encargos, já consolidados com os resultados decorrentes de eventuais consultas e audiências públicas realizadas, materializados nos seguintes documentos, quando pertinentes ao caso concreto:

I - deliberação competente para abertura de procedimento licitatório; II - objeto, área de exploração e prazo do contrato ou do ato administrativo;

III - documentos e planilhas eletrônicas desenvolvidos para avaliação econômico-financeira do empreendimento, inclusive em meio magnético, com fórmulas discriminadas, sem a exigência de senhas de acesso ou qualquer forma de bloqueio aos cálculos, e, quando for o caso, descrição do inter-relacionamento das planilhas apresentadas;

IV - relação de estudos, investigações, levantamentos, projetos, obras e despesas ou investimentos já efetuados, vinculados ao objeto a ser licitado, quando houver, com a discriminação dos custos correspondentes;

V - estudo de demanda atualizado e desenvolvido a partir das características do empreendimento a ser licitado; VI - projeção das receitas operacionais, devidamente fundamentada no estudo de demanda previsto no item anterior;

VII - relação de possíveis fontes de receitas alternativas, complementares, acessórias ou decorrentes de projetos associados, bem como a descrição de como serão apropriadas durante a execução do contrato a fim de promover a modicidade tarifária;

VIII - relação das obras e dos investimentos obrigatórios a serem realizados pela delegatária durante a execução do termo de ajuste, acompanhados dos respectivos cronogramas físico-financeiros, bem como das obras e dos investimentos que caberá ao Poder Concedente realizar, se for o caso;

IX - relação de obras e investimentos não obrigatórios, mas que são vinculados ao nível de serviço, acompanhados da estimativa de sua implantação, por meio de cronogramas físico-financeiros sintéticos; X - orçamento detalhado e atualizado das obras e dos investimentos a serem realizados obrigatoriamente pela delegatária, de forma que os elementos de projeto básico e o nível de atualização dos estudos apresentados permitam a plena caracterização da obra, do investimento ou do serviço;

XI - discriminação fundamentada das despesas e dos custos estimados para a prestação dos serviços; XII - discriminação das garantias exigidas da delegatária para cumprimento do plano de investimentos do empreendimento, adequadas a cada caso;

XIII - definição da metodologia a ser utilizada para a aferição do equilíbrio econômico-financeiro no primeiro ciclo de revisão do contrato de concessão ou permissão e sua forma de atualização, bem como justificativa para a sua adoção;

XIV - definição da metodologia para recomposição do equilíbrio econômico-financeiro afetado;

XV - descrição da metodologia a ser utilizada para aferir a qualidade dos serviços prestados pela delegatária, incluindo indicadores, períodos de aferição e outros elementos necessários para definir o nível de serviço; XVI - obrigações contratuais decorrentes de financiamentos previamente concedidos por organismos ou instituições internacionais que tenham impacto no empreendimento;

XVII - cópia da licença ambiental prévia, das diretrizes para o licenciamento ambiental do empreendimento ou das condicionantes fixadas pelo órgão ambiental responsável, na forma do regulamento setorial, sempre que o objeto da licitação assim o exigir;

XVIII - relação das medidas mitigadoras e/ou compensatórias dos impactos ao meio ambiente, inclusive do passivo ambiental existente, acompanhada de cronograma físico-financeiro e da indicação do agente responsável pela implementação das referidas medidas;

XIX - discriminação dos custos para adequação do projeto às exigências ou condicionantes do órgão competente de proteção ao meio ambiente;

XX - relatório com manifestação do órgão gestor acerca das questões suscitadas durante a audiência pública sobre os estudos de viabilidade, caso ocorra, e sobre a minuta do instrumento convocatório e anexos;

XXI - estudo contendo descrição exaustiva de todos os elementos que compõem a matriz de repartição de riscos do empreendimento, fundamentando a alocação de cada risco mapeado para cada uma das partes envolvidas no contrato a ser firmado.

Parágrafo Único. O Poder Concedente poderá disponibilizar e/ou o Tribunal de Contas da União poderá solicitar outros documentos que entenda necessário para o complemento das informações tratadas neste artigo.

3.4. A outorga de contrato de concessão para o exercício das atividades de exploração e