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3 O DESENVOLVIMENTO DO DIREITO PROBATÓRIO E DA PROVA

3.3 Os meios probatórios no CPC de 2015 e a prova pericial

3.3.2 O procedimento da produção da perícia

A produção da prova pericial pode ocorrer em três regimes distintos: extrajudicial, simplificada ou formal. A perícia extrajudicial se desenvolve antes do processo ter seu início, logo fora do mesmo, o que pode levar o magistrado até a dispensar a produção de perícia no processo, conforme o artigo 472, se: “as partes, na inicial e na contestação, apresentarem, sobre as questões de fato, pareceres técnicos ou documentos elucidativos que considerar suficientes”129. Já a prova pericial simplificada é caracterizada pelo rito de colhimento da prova

simplificado, conforme o artigo 464 em seus parágrafos 2º em diante do CPC, o magistrado de ofício ou a pedido das partes pode determinar essa modalidade quando se tratar de ponto controvertido de menor complexidade, onde o próprio juiz irá inquirir o especialista, tendo as partes direito à acompanhar e se for o caso nomear assistentes.130

O regime formal da perícia é o mais complexo dos três e tem seu início na fase postulatória do processo131. O perito é nomeado pelo magistrado que deverá fixar a data para

entrega do laudo pericial (que deve ser pelo menos 20 dias antes da audiência de instrução e julgamento conforme os artigos 465 e 477 do CPC), devendo formular os quesitos que entender pertinentes à causa para o seu melhor esclarecimento (conforme artigo 470, inciso II do CPC). As partes têm 15 dias para contados do despacho da nomeação do perito para arguir impedimento ou suspeição, indicar assistente técnico e apresentar quesitos (artigo 465 parágrafo 1º do CPC). O perito deve apresentar sua proposta de honorários, currículo e contatos profissionais no processo, e as partes tem 5 dias para se manifestar sobre a proposta de honorários para os fins do artigo 95 do CPC, que trata do adiantamento da remuneração do assistente técnico das partes e do perito.

127 ARAZI, Roland. La prueba en el processo civil. 2 ed. Buenos Aires: Ediciones La Rocca, 1998. p. 379

128COUTURE, Eduardo J. Estudios de derecho procesal civil.tomo II. Buenos Aires: Ediar. 1948 p. 189

129 BRASIL. Código de Processo Civil. Disponivel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-

2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 28 jan. 2018.

130 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sergio Cruz. MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de Processo

Civil: Tutela dos direitos mediante procedimento comum. v.2. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2015. p.400

Apesar da previsão do CPC, é necessário fazer uma ressalta, pois conforme foi explicado na introdução e será reafirmado no próximo capítulo desse estudo, trata-se de uma explanação sobre ações que discutem a não concessão do auxílio doença pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) o que atrai a competência para a Justiça Federal, conforme artigo 109 da Constituição Federal, e como o valor de diversas causas não ultrapassa 60 salários mínimos, consequentemente haverá a aplicação da lei nº 10.259/2001 que dispõe sobre os Juizados Especiais Federais. Assim, conforme o artigo 12º da referida lei, o perito tem até 5 dias antes da audiência para apresentar o laudo no processo independentemente de intimação das partes, e conforme o parágrafo 1º e 2º do mesmo artigo:132

§ 1o Os honorários do técnico serão antecipados à conta de verba orçamentária do

respectivo Tribunal e, quando vencida na causa a entidade pública, seu valor será incluído na ordem de pagamento a ser feita em favor do Tribunal.

§ 2o Nas ações previdenciárias e relativas à assistência social, havendo designação de

exame, serão as partes intimadas para, em dez dias, apresentar quesitos e indicar assistentes.

Assim, como o objeto desse trabalho trata de ações do juizado especial federal que irão julgar o benefício de auxílio-doença previdenciário, o prazo para quesitos é diferenciado com relação ao CPC, assim como o adiantamento dos honorários do perito e o prazo para indicação para assistentes que é de dez dias e não quinze dias como no CPC.

O laudo pericial é um documento formal no qual o perito irá trazer suas conclusões técnicas e cientificas a respeito do caso estudado no processo e que necessita de sua fundamentação. O artigo 473 do Código de Processo Civil especifica o conteúdo do respectivo laudo que deve trazer:

I - a exposição do objeto da perícia;

II - a análise técnica ou científica realizada pelo perito;

III - a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da qual se originou;

IV - resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes e pelo órgão do Ministério Público.

.

Portanto, os motivos e fundamentação da conclusão do laudo pericial devem ser coerentes, com método utilizado e aceito pela categoria de profissionais da área escolhida, com linguagem simples e sem ultrapassar os limites do que foi pleiteado em juízo (artigo 473 parágrafos 1º em diante do CPC). Sintetizando ainda sobre a linguagem do laudo pericial ela

132 BRASIL. Lei nº 10.259, de 12 de julho de 2001. Dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais Cíveis e

Criminais no âmbito da Justiça Federal. Disponivel em: <

deve ser: clara (evitar palavras de duplo sentido ou linguagem obscura), objetiva (atender especificamente o que foi solicitado, sem expor opiniões pessoais), pertinentes (não tecer comentários a fatos estranhos ao processo) e concisas (evitar a prolixidade).133

As partes terão ciência da data e local da realização da prova pericial, que pode envolver mais de uma área de conhecimento, o que autoriza ao magistrado nomear mais de um perito (artigos 474 e 475 do CPC). Este irá protocolar o laudo no processo no prazo de 20 dias antes da audiência de instrução e julgamento ou 5 dias antes se for no juizado; as partes podem se manifestar sobre o laudo no prazo de 15 dias, e seus assistentes técnicos podem juntar o respectivo parecer, devendo o perito judicial esclarecer ponto que haja divergência ou dúvida das partes, do juiz, do Ministério Público ou dos assistentes das partes, e que caso não ocorra o devido esclarecimento, o magistrado pode determinar a intimação do perito para a audiência de instrução e julgamento com antecedência de dez dias (conforme artigo 477 do CPC).

Por fim, o juiz irá apreciar a prova pericial independentemente de quem a tiver promovido no processo, explanando os motivos que o levaram a fundamentar sua decisão ou não nos argumentos do laudo pericial (já que pelo princípio da persuasão racional o magistrado pode apontar com base em prova que embasa a decisão em sentido diverso do laudo)134,

podendo de ofício ou a requerimento da parte determinar a realização de uma nova perícia quando ainda houver dúvida sobre a matéria suscitada, devendo o juiz apreciar as duas perícias, tendo em vista que a segunda não substitui a primeira (conforme artigos 479 e 480 do CPC).

Dessa forma, denota-se que o juiz é o responsável pela nomeação do perito de forma soberana, e este goza de autonomia na expressão de seus laudos periciais através dos conhecimentos técnicos e científicos pertinentes que serão aplicados. O magistrado tem, por meio de seu livre convencimento, a possibilidade de não seguir o que o perito fundamenta, mas depende muito da produção das provas das partes para que seja levantado algum indício de erro ou omissão no laudo.

O debate acerca dessa matéria reside no fato da pré-compreensão do magistrado ser o meio pelo qual ele mesmo fará um juízo de avaliação de cada caso e de cada laudo. Apesar de contar com o conhecimento reiterado de julgados semelhantes no dia a dia, é uma tarefa complexa ao magistrado perceber de uma forma concreta os erros das perícias médicas judiciais, salvo pela impugnação do advogado do requerente do benefício.

133 MEDEIROS JÚNIOR, Joaquim da Rocha,. A perícia judicial: como redigir laudos e argumentar

dialeticamente . São Paulo: Pini, 1996, p. 32

134 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sergio Cruz. MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de Processo