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Após a transcrição ter sido finalizada, foi realizado um levantamento quantitativo dos

assaltos ao turno no corpus. Para a realização desse levantamento utilizou-se os dados

transcritos, o documento do word, sendo realizado da seguinte forma: todas as vezes em que o

assalto ao turno aparecia, o mesmo era destacado com outra cor (mais especificamente a cor

vermelha) para que, posteriormente, todos fossem contados em ordem crescente. Assim, ao

final dessa primeira etapa, os assaltos ao turno estavam destacados e contados para que fosse

possível ter conhecimento do número de vezes que aconteceram. O resultado desse primeiro

levantamento será trazido no item de Análise deste estudo e será apresentado em forma de

tabela, contendo o número total de assaltos ao turno de cada participante nas duas sessões de

autoconfrontação cruzada.

Para responder a segunda pergunta de pesquisa apresentada na Introdução deste estudo,

que é ‘Quais são os assaltos ao turno identificados e como são caracterizados?’, será

apresentada a categorização dos assaltos ao turno, sendo que ela foi realizada a partir de seis

características principais: 1) assalto ao turno fossilizado, 2) assalto ao turno fossilizado com

deixa; 3) assalto ao turno fossilizado sem deixa; 4) assalto ao turno não fossilizado, 5) assalto

ao turno não fossilizado com deixa e, 6) assalto ao turno não fossilizado sem deixa. Os dados

obtidos através deste levantamento são apresentados no item de Análise e são organizados em

forma de tabela onde a primeira coluna diz respeito à quem assaltou o turno, a segunda ao

número de assaltos de cada um dos participantes, a terceira coluna traz quantos do total de

assaltos são fossilizados, a quarta e a quinta coluna trazem a quantidade de assaltos com deixa

e sem deixa fossilizados, a sexta coluna traz o total de assaltos não fossilizados e a sétima e

oitava colunas trazem quantos desses assaltos não fossilizados são com deixa e sem deixa. Os

dados são divididos em duas tabelas, uma para a autoconfrontação 1 (“PA”) e a outra para a

autoconfrontação 2 (“PG”).

Baseado em Ecker (2016), em sua dissertação de mestrado intitulada “Aspectos do

desenvolvimento da experiência docente na educação superior: um estudo sob a ótica da teoria

dos gêneros de atividade”, que utilizou os mesmos dados deste estudo, a partir de seu

mapeamento tópico, foi realizado um levantamento dos assaltos ao turno através dos tópicos

discursivos, para que fosse possível perceber em que tópico discursivo ocorre a maior parte dos

assaltos dos participantes da autoconfrontação. Os resultados obtidos até o momento serão

apresentados no item de análise. Em seu estudo, Ecker (2016) apresentou categorias

identificadas por meio dos tópicos discursivos. Essas categorias foram consideradas por

estarem presentes em, no mínimo, três das sessões de autoconfrontação e por representarem

grande relevância no que se refere às práticas docentes. As categorias foram: “exemplos,

imprevistos e improvisos”, “chamada no sistema”, “vivência prática” e “humor e

descontração”. Em relação à primeira categoria, “exemplos, imprevistos e improvisos”, foi

possível perceber, nos dois casos estudados, que os professores explicam e revisam a teoria

juntamente com os alunos e, na sequência, utilizam exemplos do cotidiano, da vida real para

expor e explicar os conceitos teóricos, contornando situações de obstáculos que possam vir a

afetar o andamento da aula. Sobre a realização da chamada diretamente pelo sistema, pode-se

observar as facilidades e dificuldades de cada um dos docentes nesse quesito, sendo que “PA”

possui mais dificuldade e “PG” mais facilidade nesse processo. Em relação à categoria de

“vivência prática”, os professores concordaram entre si de que quem possui mais vivência no

mercado tem mais facilidade em lidar com situações de interação com os alunos em sala de

aula. Sobre o “humor e descontração em sala de aula, observou-se que “PG” possui mais

características de descontração em sua prática docente, enquanto “PA” tem um perfil mais sério.

No entanto, ambos os professores lidam com o humor em situações em que há oportunidade de

construir um momento mais descontraído com os alunos (ECKER, 2016).

Então, com base em Ecker (2016) que estudou os mesmos dados deste estudo, foi

utilizado o mapeamento tópico que a mesma realizou em sua pesquisa. Percebeu-se, no entanto,

que após a finalização de seu estudo e o refinamento das transcrições para esta pesquisa, houve

um número maior de assaltos ao turno que antes não haviam sido marcados nas transcrições de

sua pesquisa, isso resultou em uma mudança nos números das linhas das transcrições do estudo

de Ecker e deste estudo. A partir disto, foi realizado um levantamento dos assaltos ao turno

através do seu mapeamento tópico, que será apresentado em forma de tabela no item de análises

do estudo.

Cada um dos participantes das sessões de autoconfrontação cruzada terá uma tabela

própria e ela é dividida em 10 colunas. A primeira coluna da tabela diz respeito aos grupos

tópicos, numerados de 1 a 14, a segunda coluna traz quais são os tópicos discursivos

correspondentes, a terceira diz respeito a localização por linhas da transcrição dos assaltos ao

turno, a quarta coluna traz o número total de assaltos para cada intervalo de linhas da segunda

coluna, a quinta coluna traz o número de assaltos ao turno fossilizados, a sexta e a sétima

colunas dizem respeito a categorização desses assaltos ao turno (fossilizados com deixa e

fossilizados sem deixa), a oitava coluna traz o número de assaltos não fossilizados, e, a nona e

a décima colunas trazem o número de assaltos ao turno não fossilizados com deixa e não

fossilizados sem deixa. Essas tabelas mencionadas aqui estão em anexo ao trabalho.

Para uma visualização mais completa dos dados das tabelas do mapeamento tópico, foi

feito um gráfico de linhas onde foram sobrepostos os números de assaltos ao turno de cada um

dos participantes das sessões de autoconfrontação cruzada e os grupos tópicos. Nesses gráficos

estão demarcados os pontos de “picos” dos diálogos ou os pontos de “acaloramento” da

conversa, onde ocorrem o maior número de assaltos ao turno.

É imprescindível destacar que, durante este processo da implementação da Clínica da

Atividade Docente e com a realização das autoconfrontações, houve sempre uma cautela por

parte dos intervenientes na provocação de “controvérsias” com os docentes. Com isso, buscava-

se evitar que os professores pudessem se desentender de modo irremediável, sendo assim, esse

aspecto tem impacto fundamental sobre os resultados do trabalho, pensando que são colegas de

trabalho e que “PG” ocupava uma posição hierarquicamente superior de “PA”.

4 ANÁLISES

Para a apresentação das análises de dados optou-se por dividir o texto na seguinte

ordem: iniciar-se-á com uma das primeiras tarefas realizadas neste trabalho que foi a contagem

do número de assaltos ao turno de cada participante presentes em todo o corpus nas duas sessões

de autoconfrontação cruzada, com sua respectiva tabela. Em um segundo momento, será

apresentado a categorização do número total de assaltos ao turno da Autoconfrontação do

Professor “A” e na sequência do Professor “G”. Em um terceiro momento, será apresentado,

inicialmente, em forma de gráfico, o total de assaltos ao turno divididos por tópicos na

Autoconfrontação 1 e na Autoconfrontação 2, com suas respectivas discussões e buscando

novamente a fundamentação teórica para dar suporte à análise. Neste momento, busca-se aporte

nas teorias de Clot (2016) e Lima (2015) sobre as questões do afeto e emoções para conectar-

se com os momentos de acaloramento e arrefecimento do diálogo. Em seguida, serão

apresentados excertos das autoconfrontações com assaltos ao turno que tiveram mais ocorrência

baseados nos momentos de acaloramento do diálogo. Percebeu-se também, no decorrer da

análise de dados, que em alguns assaltos ao turno pode-se compreender a intenção de quem

fazia o assalto, dessa forma serão trazidos excertos que justificam as intenções que foram

estudadas. Na sequência, a partir de todo o exposto na análise, serão apresentadas as funções

linguístico-psicológicas do assalto ao turno em situação de autoconfrontação cruzada, buscando

suporte em Brenner (1975), Goffman (1980) e Brown e Levinson (1987). Para finalizar as

análises, serão apresentadas as grandes etapas da autoconfrontação, a forma relativamente

estável da mesma ocorrer. A seguir o primeiro item da análise.