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A análise de conteúdo é uma técnica que busca viabilizar o método de investigação. Tem em Laurence Bardin sua maior expressão, pesquisador que aplicou as técnicas de análise de conteúdo em pesquisas psicossociológicas e estudos da área de comunicação de massas. Bardin (1977) configura a análise de conteúdo como um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utilizam procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens.

A análise de conteúdo se estabelece sempre pela prática, escutando a realidade e estabelecendo um processo de associação de palavras. A aplicabilidade coerente do método se faz a partir de pressupostos que permitem a interpretação das mensagens e dos enunciados, organizando-se em torno de três momentos: “1 – a pré- análise; 2 – a exploração do material e 3 - o tratamento dos resultados tendo por base a inferência e a interpretação” (BARDIN, 2009, p. 121).

A pré-análise se caracteriza pela organização e sistematização para que o pesquisador possa conduzir as outras fases. Isto implica na escolha do material a ser analisado, sendo requisito que este se preste a esclarecer o fenômeno pesquisado. Pois “nem todo material de análise é suscetível de dar lugar a uma amostragem, e, neste caso, mais vale a pena abstermo-nos e reduzir o próprio universo se este for demasiado importante” (BARDIN, 2009, p. 123).

A análise de conteúdo é um método capaz de produzir sentidos e verificar os significados presentes nas amostras. Hoje sua utilização é bastante ampla e pressupõe a inclusão de novas perspectivas nas pesquisas de abordagem dialética e clínico-qualitativo ratificadas por Minayo (1996) e Turato (2003).

A análise de conteúdo possui fases pré-concebidas em seu processo:

1- Fase pré-exploração de material – este momento é também chamado de leituras flutuantes, pois o pesquisador, após selecionar as partes a serem analisadas, procede às leituras flutuantes de todo o material, com o objetivo de apreender quais são os aspectos importantes da próxima fase da análise, e deixa-se

“tocar” pelas impressões captadas do material. Fazem-se, nesse momento, várias leituras de todo o material, com o objetivo de captar as ideias principais que vão emergindo dos conteúdos e de seus possíveis significados gerais. Neste momento, ocorre contato significativo do pesquisador com o material, aflorando lembranças, sensações, e percepções que podem auxiliar na condução da análise.

2 -Seleção das unidades de análise - este trabalho realizado permite ao pesquisador a eleição da seleção das unidades de análise enquanto partes do conteúdo que buscam responder as perguntas da pesquisa. As unidades de análise incluem palavras, frases, sentenças, parágrafos ou um texto completo de entrevistas, diários ou livros. Como na maioria dos interesses por análise temática escolhem-se sentenças, frases ou parágrafos para análise.

A escolha do tema se dá pelos objetivos da pesquisa e pelo levantamento feito pelo contato com o material e com as teorias nas quais se embasa a pesquisa, podendo abranger vários temas em uma mesma pesquisa. Assim, a escolha das unidades de análise se dá por um processo dinâmico que se concentra, às vezes, na mensagem explícita e, às vezes, nos significados ocultos ao contexto. Neste momento, a busca por neutralidade do pesquisador deve-se centrar nos objetivos de seu trabalho e nas teorias norteadoras que adota. É na reunião desses vários fatores que surgem as unidades de análise.

3 - Processo de categorização e subcategorização –a categorização pode ser definida como uma “classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e seguidamente por reagrupamento segundo o gênero” (BARDIN, 1977, p.117).

As categorias podem ser consideradas segmentos que podem estar relacionadas a vários temas, estando mais próximas de exprimirem significados que atendam aos objetivos, apontando estas para uma visão maior dos temas propostos. As categorias ainda podem ser apriorísticas ou não apriorísticas (BARDIN, 2009).

A escolha por categorias apriorísticas se dá por pesquisadores relativamente experientes, o que lhes permite um embasamento para escolha das categorias. O risco deste modelo é o de limitar o surgimento de novos conteúdos importantes.

A escolha da categorização apriorística emerge do contexto da resposta dos sujeitos da pesquisa, exigindo destes um trabalho mais intenso de ir e vir do material analisado sem perder de vista os objetivos da pesquisa. O modo como as categorias

podem ser organizadas será por frequência/quase quantitativa (repetição do conteúdo comum na maioria dos respondentes) ou por relevância implícita, onde o assunto não se repete tanto, mas possui grande relevância para o estudo.

Os dois modos de agrupamento não são excludentes. Codificar as unidades é transformar os dados brutos em categorias que permitirão a discussão de características importantes do conteúdo.

Nesta pesquisa, optou-se pela categorização apriorística de risco e proteção e reagrupamento dos dados, originando, assim, as categorias e subcategorias, de acordo com a frequência e o grau de importância.

Este momento da análise exigiu do pesquisador concentração em seus objetivos, em seu corpo teórico, além de uma análise pormenorizada dos conteúdos.

A transcrição das entrevistas com os casais não se encontram aqui anexadas por questões de ética. Estando em posse da pesquisadora para quaisquer esclarecimentos que se fizerem necessárias.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para efeito da discussão, os casais foram nomeados de um a oito, pela ordem de realização das entrevistas(pois foram indicando uns aos outros, independentemente da fase em que estavam) e seus dados, na discussão, foram catalogados como: H= homem e M= mulher; M1mulher do casal 1 e H1 homem da

casal 1 e, assim, sucessivamente.

A discussão dos resultados foi ilustrada com alguns relatos dos entrevistados e ancorada por autores da área. Os casais foram divididos nas quatro fases do casamento, sendo dois para cada fase, totalizando oito casais. Realizou-se, também, a exclusão de dados como: nomes, lugares, nomes de estabelecimentos e locais de trabalho, por considerarmos esta cidade do Vale do Paraíba paulista pequena, preservando, assim, também a identidade dos entrevistados.

Preliminarmente, apresenta-se o perfil dos casais.

Tabela 1- Perfil dos casais pesquisados TEMPO

DE UNIÃO

CASAIS* IDADES ESCOLARIDADE/PROFISSÃO

NÚMERO DE FILHOS FASE 1 2 anos Casal 1 H - 30 M - 24

H – Sup. Incompleto/ Mecânico M – Sup. Completo/ Adm. Empresas

nenhum 5 anos Casal 8 H - 38 M - 33 H – Pós-graduação/ Engenheiro M – Pós-graduação/ Engenheira nenhum FASE 2 10 anos Casal 7 H - 37 M - 34

H – Med. Incompleto/ Pedreiro M – Med. Completo/ Do lar

1 filho

15 anos Casal 6

H - 40 M - 44

H – Fund. Completo/ Soldado M – Fund. Incompleto/ Diarista

2 filhos

FASE 3

25 anos Casal 2

H - 54 M - 58

H – Fund. Completo/ Eletricista M – Fund. Incompleto/ Do lar

3 filhos

35 anos Casal 3

H - 63 M - 64

H – Médio Completo/ Aposentado M – Médio Completo/ Do lar

3 filhos

M - 77 M – Sup. Completo/ Aposentada

60 anos Casal 5

H - 80 M - 76

H – Fund. Incompleto/ Aposentado M – Sup. Completo/ Aposentada

4 filhos

* A ordem numérica dos casais se refere à ordem de realização das entrevistas pela técnica

Snowball, aqui agrupados de acordo com o tempo de união, perfazendo as quatro fases do ciclo vital

do casamento.

Para melhor compreensão dos resultados, dividiu-se a apresentação das categorias nas quatro fases do ciclo vital, em relação às quais as características específicas de cada fase foram agrupadas e discutidas. A análise desses resultados foi feita sem perder de vista as perguntas que analisavam os contextos e as suas variáveis, as estratégias de ação/interação, a fim de compreender o caráter processual do fenômeno (DANTAS et al., 2009).

As fases são apresentadas com suas especificidades,em termos dos fatores de risco e os de proteção centrais desses momentos. Em virtude de a grande maioria das categorias serem comuns às várias fases, escolheu-se, aquelas que apareceram mais vezes.

Para finalizar a discussão, são apresentadas as categorias de proteção que se mantiveram ao longo de todo o ciclo vital, analisando-se os vários modos pelos quais as categorias foram se entrelaçando em relação aos desafios encontrados pelos casais e formas de enfrentamento utilizado para superá-los.