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COMPREENSÃO DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NA DOCÊNCIA E SEUS FUNDAMENTOS, NO CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS DA

3.3. PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS

A análise dos dados constitui-se em uma das etapas mais importantes da pesquisa na construção do conhecimento.

Analisar os dados qualitativos significa ‘trabalhar’ todo o material obtido durante a pesquisa, ou seja, os relatos de observação, as transcrições de entrevista, as análises de documentos e as demais informações disponíveis (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 45).

Essa tarefa minuciosa e cuidadosa foi em um primeiro momento a organização de todo material que se obteve ao longo do processo e que se intensificou após a coleta total dos dados, identificando partes que podem ser comparadas para evidenciar tendências e aspectos relevantes. Tal análise é realizada sobre os pressupostos da fundamentação teórica da pesquisa à luz da abordagem e método utilizados, a fim de que os dados sejam organizados, analisados e discutidos, a fim de que os resultados apontem para o alcance dos objetivos e do problema pesquisado dentro da realidade do contexto do objeto da pesquisa.

Dessa forma Lüdke e André (1986) fundamentados em Bogdan e Biklen16 (1982) sugerem procedimentos para o melhor direcionamento da análise que começa com a estruturação adequada da coleta de dados, como

1) a delimitação progressiva do foco de estudo; 2) a formulação de questões analíticas; 3) o aprofundamento da revisão da literatura; 4) a testagem de ideias junto aos sujeitos; e 5) o uso extensivo de comentários, observações e especulações ao longo da coleta (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 46).

16

BOGDAN, R.; BIKLEN, S. K. Qualitative Research for Educacion. Boston: Allyn and Bacon, 1982.

Todo esse arcabouço expressa a importância do aspecto processual da pesquisa, cuja atenção não está centrada somente aos resultados, mas ao processo, para que tudo se justifique e relações significativas e coerentes sejam estabelecidas, de forma que não se constituam separações marcadas entre a coleta e a interpretações dos dados.

Assim, possuindo os primeiros dados e na sequência, a coleta de mais informações, e estabelecidas as direções teóricas do estudo, ocorre o primeiro passo da análise que é a construção de um conjunto de categorias descritivas que podem ser categorias teóricas iniciais ou segundo conceitos emergentes, por meio de um dedicado processo de releituras. Porém, a categorização não esgota a análise, na sequência, é necessário que façamos um estudo minucioso e reflexivo balizado na teoria, fundamento da pesquisa no entrelaçamento com os dados a fim de que se acrescente algo a mais nas proposições muito bem concatenadas, como diferentes ou novos aspectos encontrados a fim de que o conhecimento de fato tenha seu caráter científico (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). Para que os resultados tenham valor científico, devemos atentar a certas condições como:

A coerência, a consistência, a originalidade e a objetivação (não a objetividade), por um lado, constituindo os aspectos do critério interno da verdade, e, por outro, a intersubjetividade, o critério externo, [... ] devem estar presentes no trabalho do pesquisador que pretende apresentar contribuições científicas às ciências humanas (TRIVIÑOS, 1987, p. 170).

Dessa forma, a análise se desdobra ao longo do fazer investigativo, através do objeto na inter-relação entre os fundamentos epistemológicos da avaliação do ensino e aprendizagem e os dados de estudo relacionado-o com o seu contexto em que emergiu e aprofundando a análise segundo as bases teóricas adotadas.

Assim, imbuídas de uma análise ética de pesquisa, a identificação dos sujeitos/colaboradores será mantida em sigilo absoluto, e serão dados codinomes alterando a identidade dos sujeitos com o uso de pseudônimos.

Portanto, o tratamento dos dados será realizado através da análise de conteúdo de Bardin (2004, p. 27) por ser “um conjunto de técnicas de análise das comunicações”, e ainda destaca que não é “[...] um instrumento, mas um leque de apetrechos, ou com maior rigor, será um único instrumento, mas marcado por uma grande disparidade de formas e adaptável a um campo de aplicação muito vasto de comunicação” (BARDIN, 2004, p. 23).

O percurso de análise dessa pesquisa e sua temática tomam como referência a obra de Laurence Bardin, uma referência atualmente em análise de conteúdo. No entanto, outros autores, como afirma Chizzotti (2006, p. 98) destacando que “o objetivo da análise de conteúdo é compreender criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas”.

Diante de uma diversificação e também aproximação terminológica, optou-se para a análise dos dados os procedimentos das etapas da técnica e procedimentos, segundo Bardin (2004), o qual as organiza em três fases: 1) pré-análise, 2) exploração do material e 3) tratamento dos resultados, inferência e interpretação.

A pré-análise, seguindo Bardin (2004), é a fase em que se organiza os dados a serem analisados com o objetivo de torná-los operacionais, sistematizando as ideias iniciais. Trata-se da organização propriamente dita por meio de quatro etapas diante dos dados.

A primeira etapa consistiu na leitura flutuante, que é o estabelecimento de contato com os documentos da coleta de dados, momento em que se começa a conhecer os textos; a segunda etapa refere-se a escolha dos documentos, que consistiu na demarcação do que seria analisado e daquilo que se elegeu na análise dos documentos selecionados; em terceira etapa temos a formulação das hipóteses e dos objetivos e, por fim, a quarta etapa, da referenciação dos índices e elaboração de indicadores, que envolveu a determinação de indicadores por meio de recortes de texto nos documentos de análise.

A segunda fase, a da exploração do material, caracterizou-se pela exploração do material com a definição de categorias (sistemas de codificação) e a identificação das unidades de registro na pesquisa (unidade de significação a codificar corresponde ao segmento de conteúdo a considerar como unidade base, visando à categorização e à contagem frequencial, ou seja, a repetição de uma mesma palavra e ou concepção latente em que foram verificados os dados) e das unidades de contexto nos documentos (unidade de compreensão para codificar a unidade de registro que corresponde ao segmento da mensagem, a fim de compreender a significação exata da unidade de registro). A exploração do material consistiu numa etapa importante, porque possibilitou uma rica trajetória das interpretações e inferências. Esta foi a fase da descrição analítica, que diz respeito ao corpus (qualquer material textual coletado) submetido ao estudo que intentamos

ser aprofundado, orientado pelas hipóteses e referenciais teóricos. Dessa forma, a codificação, a classificação e a categorização foram básicas nessa fase, balizados por Bardin (2004).

A terceira fase foi a fase do tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Essa etapa foi destinada ao tratamento dos resultados. Ocorreu nessa fase, a condensação e o destaque das informações para análise, culminando num árduo processo da pesquisa, nas interpretações inferenciais. Foi o momento da intuição, da análise reflexiva e crítica.

Tendo em vista as diferentes fases da análise de conteúdo proposta por Bardin (2004), destacam-se como o próprio autor fez, as dimensões da codificação e categorização que possibilitam e facilitam as interpretações e as inferências. No que tange à codificação, “corresponde a uma transformação – efetuada segundo regras precisas – dos dados brutos do texto, transformação esta que, por recorte, agregação e enumeração, permite atingir uma representação do conteúdo, ou da sua expressão” (BARDIN, 2004, p. 103).

Após a codificação, seguiu-se para a categorização, a qual consistiu na classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, em seguida, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos. As categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão dos caracteres comuns desses elementos (BARDIN, 2004, p. 117).

Cabe salientarmos que tais etapas envolvem diversos simbolismos que precisam ser decodificados. Para tanto, como pesquisadoras precisou-se fazer um esforço para desvendar o conteúdo latente, como refere Triviños (1987, p. 162) ao enfatizar sobre a análise de conteúdo. Nesse sentido, a análise contextual e histórica foi de grande valia, além da criatividade, intuição e crítica. Daí o papel do caráter crítico da pesquisa a que nos propomos no campo epistemológico da pesquisa. No que tange às fases da análise de conteúdo propostas por Bardin (2004), outros autores propõem fases semelhantes, apenas com algumas particularidades diferenciais que não alteram o processo em si.

Também Triviños (1987) lista as diferentes fases, utilizando-se da classificação de Bardin (2004), porém diferenciando-se em alguma nomenclatura e salientando alguns aspectos da própria teoria do autor. Assim, denomina as fases como pré-análise, descrição analítica e interpretação inferencial, chamando a

atenção para um fato: não é possível que o pesquisador detenha sua atenção exclusivamente no conteúdo manifesto nos documentos. O pesquisador deve aprofundar sua análise, tratando de desvendar o conteúdo latente que eles possuem. Os investigadores que só ficam no conteúdo manifesto nos documentos seguramente pertencem à linha positivista (TRIVIÑOS, 1987, p. 162).

Entretanto, por mais que certas “regras” devam ser respeitadas e que sejam destacadas as diferentes fases e etapas no emprego da Análise de Conteúdo (BRADIN, 2004), os pressupostos da mesma não foi tomada por nós como modelo exato e rígido, mas flexível na forma de organizarmos e analisarmos tais dados em relação ao conteúdo, necessitando muitas vezes desvendá-los. Mesmo Bardin (2004) rejeita essa ideia de rigidez e de completude, deixando claro que a sua proposta da Análise de Conteúdo acaba oscilando entre dois polos que envolvem a investigação científica: o rigor da objetividade, da cientificidade e a riqueza da subjetividade.

Nesse sentido, a técnica tem como propósito ultrapassar o senso comum do subjetivismo e alcançar o rigor científico necessário, mas não a rigidez inválida, que não condiz mais com os tempos atuais, o que em muitos momentos teve-se que entrar no dissenso. Como salienta Richardson (1989, p. 176) ao considerar que das muitas concepções dadas para a Análise de Conteúdo, a grande maioria concorda em ser uma técnica de pesquisa ao afirmar: “[...] como tal, tem determinadas características metodológicas: objetividade, sistematização e inferência”.

Assim, ao ter todos os dados pretendidos e a processualidade vivida já colocada acima, nas três etapas da técnica e procedimento da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2004), procuramos realizar, como já referimos acima na análise dos dados, a categorização à luz do método dialético da Teoria Crítica, a Dialética Negativa, com base na categorização das contradições, historicidade e movimento na análise interpretativa e crítica dos dados, o que destacamos como um desafio, apresentado no capítulo seguinte.

CAPÍTULO 4

A AVALIAÇÃO DO ENSINO E APRENDIZAGEM NA DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA