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Procedimentos de codificação

No documento TD Ana Garrett (páginas 121-125)

PARTE II: ESTUDO EMPÍRICO

1.2. Grounded Theory (Teoria Fundamentada nos Dados)

1.2.3. Procedimentos de codificação

Os procedimentos de codificação na Grounded Theory têm como objectivo a construção da teoria, em detrimento de testá-la. À medida que se vai construindo a teoria, identifi- cam-se, desenvolvem-se e relacionam-se os conceitos que daí emergem. Com estes pro- cedimentos, os investigadores munem-se de ferramentas analíticas para organizarem um extenso volume de dados brutos, considerando significados alternativos para os fenó-

a criatividade. Os códigos preliminares transformam-se em códigos conceptuais e, pos- teriormente, em categorias10 (Dantas et al., 2009). A criação de categorias deriva da necessidade de agrupar conceitos com o objectivo de reduzir o volume de fenómenos ou ideias analíticas que emergem dos dados em análise e uma vez identificadas podem ser desenvolvidas em termos de propriedades11 e dimensões12 específicas (Strauss & Cor- bin, 2008).

1.2.3.1. Codificação aberta

Consiste na primeira etapa do processo de análise de dados. A codificação aberta pres- supõe a separação dos dados em partes distintas, rigorosamente examinados e compara- dos, à procura de similitudes e disparidades (Dantas et al., 2009). São agrupados em ideias mais abstractas acontecimentos, acções e interacções, ponderados conceptual- mente como comparáveis em termos de significado e de propriedades. (Strauss & Cor- bin, 2008).

Existem diversas formas de elaborar o processo de codificação aberta. A análise linha a

linha envolve a observação atenta dos dados, nomeadamente, de uma frase do texto ou

de cada palavra. Este método é descrito como sendo o mais completo, pois permite ao investigador gerar múltiplas categorias. Outra forma é a de categorizar um parágrafo inteiro e daí extrair a ideia principal ou conceito subjacente ao discurso do sujeito. Por fim, poder-se-á categorizar um documento no seu todo e, após a elaboração de uma ideia geral do conteúdo, dividi-lo mais especificamente em conteúdos semelhantes e/ou diferentes (Cassiani et al., 1996; Strauss & Corbin, 2008).

10 As categorias constituem uma palavra ou conjunto de palavras com elevado nível de abstracção, que

pode transformar-se em fenómeno, contendo características comuns que conduzem à elaboração da teoria (Dantas, Leite, Lima, & Stripp, 2009).

11 Características e atributos, gerais ou específicos, de uma categoria, conferindo-lhe significado (Strauss

& Corbin, 2008).

12

Âmbito, ao longo do qual, as propriedades gerais de uma categoria variam, tornando essa categoria específica e dando variedade à teoria (Strauss & Corbin, 2008).

1.2.3.2. Codificação axial

Com a finalidade de reagrupar os dados que são divididos durante a codificação aberta, este processo implica a relação das categorias com as subcategorias. Este agrupamento é uma forma teórica de análise, dado que logo que as integrações emergem, as categorias reunidas anteriormente dão lugar a outras mais gerais (Cassiani et al., 1996). Comum- mente ocorre em torno de um eixo de uma categoria, sendo-lhe associadas subcategori- as13, em termos de propriedades e dimensões, como forma de gerar esclarecimentos mais precisos sobre os fenómenos (Strauss & Corbin, 2008). Dantas et al. (2009) apon- tam para a possibilidade de uma categoria poder, a qualquer momento dependendo da reflexão do investigador, assumir a forma de código conceptual ou preliminar, após no- vas leituras e análises dos dados.

1.2.3.3. Codificação selectiva

Conhecido por Strauss e Corbin (2008) como o processo de integração e refinação da teoria, a codificação selectiva tem origem ao emergir da categoria central. Esta categoria central, ao surgir da investigação, não é mais do que uma abstracção que possui a capa- cidade de reunir outras categorias para formar um todo explicativo, representando o tema principal da investigação. Mills et al. (2006) apontam a categoria central como identificadora do papel do investigador como construtor da teoria, já que integra todos aspectos e ocorre durante o processo de codificação selectiva.

Strauss (1987), citado por Strauss e Corbin (2008), apontou critérios essenciais para a escolha de uma categoria central: a) a centralidade, isto é, todas as categorias podem estar relacionadas com ela; b) deve aparecer frequentemente nos dados; c) revela lógica e consistência na relação com outras categorias; d) deve ser abstracta ao ponto de origi- nar uma teoria mais geral; e) a teoria vai ganhando poder explicativo à medida que a categoria central é integrada noutros conceitos e f) através da categoria central, podem ser explicados casos contraditórios, dado que mesmo que existam variações, as explica- ções permanecem válidas.

Transversalmente ao processo de codificação a elaboração de memorandos poderá ser útil para compreender melhor o significado de cada categoria. Estes memorandos pode- rão ter a forma de notas teóricas, notas metodológicas e notas de observação14 (Dantas et al., 2009) e onde deverão ser incluídas ideias, pensamentos, interpretações e hipóteses que servirão de guia para uma eventual recolha de dados adicionais (C. Fonte, 2005; Strauss & Corbin, 2008).

Dantas et al. (2009) sugerem que os dados depois da sua categorização devem ser apre- sentados através de diagramas com o objectivo de facilitar a reflexão e permitir uma visão global do fenómeno em estudo, embora o pensamento crítico-reflexivo deva ser uma constante ao longo da investigação. Estes autores referem, ainda, que a subjectivi- dade é imprescindível para compreender os pontos de ligação entre as categorias, de forma a atingir a sua integração.

1.2.3.4. Saturação teórica

O encerramento da amostra por saturação teórica15 é operacionalmente definido como a suspensão de inclusão de novos sujeitos quando os dados obtidos passam a apresentar, na avaliação do investigador, uma certa redundância ou repetição, não sendo considera- do relevante persistir na recolha de dados (Fontanella et al., 2008).

Glaser e Strauss (1967) originalmente conceptualizaram a saturação teórica como sendo a constatação do momento de interromper a recolha de informações (obtidas junto a uma pessoa ou grupo) pertinentes à discussão de uma determinada categoria, dentro de uma investigação qualitativa sociológica. Na expressão dos autores, tratar-se-ia de uma confiança empírica de que a categoria está saturada, levando-se em consideração uma combinação dos seguintes critérios: os limites empíricos dos dados, a integração de tais dados com a teoria que, por sua vez, tem uma determinada densidade e a sensibilidade

14 As notas teóricas demonstram as inferências que o investigador fez após o reconhecimento dos factos

que encontrou, as notas metodológicas reportam-se às estratégias metodológicas utilizadas pelo investigador e, por fim, as notas de observação revelam a menor interpretação possível do que foi observado e experimentado pelo investigador (Dantas, Leite, Lima, & Stipp, 2009).

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Turato (2003) descreve como homogeneidade ampla a situação que corresponde ao conjunto de características e variáveis que compõem o grupo de indivíduos que integram a amostra por saturação.

teórica de quem analisa os dados. Strauss e Corbin (2008) acrescentam que a saturação teórica acontece quando, durante a análise, não surgem nos dados novas propriedades nem dimensões.

A constatação de saturação depende dos objectivos do investigador: se o objectivo é a compreensão daquilo que caracteriza o grupo, a saturação da amostra acontece num determinado nível. Este nível poderá garantir maior validade externa, ou seja, maior transmissibilidade das interpretações para contextos mais amplos. A constatação da re- dundância das informações depende directamente de uma certa quantidade de entrevis- tas realizadas posteriormente à saturação. Assim, o ponto exacto da saturação da amos- tra é determinado, logicamente, sempre a posteriori. Importa realçar que as ferramentas utilizadas na constatação da saturação não são de ordem matemática, mas sim cognitiva, envolvendo a percepção do investigador e do seu domínio teórico (Fontanella et al., 2008).

No documento TD Ana Garrett (páginas 121-125)