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Por considerarmos um percurso possível para a elucidação das nossas questões de pesquisa, utilizamos a triangulação de procedimentos na coleta dos dados (entrevista, videografia e autoconfrontação). Assim, os dados foram coletados através de:

1) Entrevista com as professoras;

2) Videografia de atividades de produção coletiva de textos conduzidas pelas educadoras;

3) Grupos de discussão, realizados com as docentes.

A Figura 1sintetiza a sequência dos procedimentos metodológicos utilizados no presente estudo:

FIGURA 1: Esquema do percurso metodológico adotado na pesquisa

ENTREVISTA 1

GRUPO DE DISCUSSÃO 1 PRODUÇÃO DE TEXTO COLETIVO 1

ENTREVISTA 2

GRUPO DE DISCUSSÃO 2 PRODUÇAÕ DE TEXTO COLETIVO 2

ENTREVISTA 3

GRUPO DE DISCUSSÃO 3 ENTREVISTA 5

PRODUÇAÕ DE TEXTO COLETIVO 3 ENTREVISTA 4

Como se pode ver, foram realizados ao todo três grupos de discussão, três atividades de produção coletiva de textos conduzidas pelas docentes e cinco entrevistas com as mesmas. A seguir, descreveremos em mais detalhes os procedimentos utilizados:

3.3.1 As entrevistas com as professoras

As cinco entrevistas tiveram um roteiro semiestruturado e foram audiogravadas e posteriormente transcritas. A entrevista 1 foi realizada com as professoras antes da primeira atividade de produção coletiva. Além de coletar dados referentes à trajetória profissional de cada docente, buscamos conhecer/registrar durante essa primeira entrevista os saberes verbalizados por elas relativos à proposta de produção de textos em situações de escrita coletiva com crianças da Educação Infantil (ver Apêndice A). O tempo gasto na entrevista realizada com a professora A foi de 43 minutos e com a professora B foi de 27 minutos.

As entrevistas 2, 3 e 4 foram realizadas após as atividades de produção textual com o objetivo de apreender a avaliação feita por cada professora sobre o seu trabalho momentos depois da sua realização (ver Apêndice B). Essas entrevistas tiveram uma duração média de 8 minutos com a professora A e de 5 minutos com a professora B. Por fim, a entrevista 5, conduzida com as duas professoras simultaneamente, foi feita no final do último grupo de discussão. Essa última entrevista durou 22 minutos e objetivou apreender a avaliação das docentes da experiência de participar na pesquisa. Além disso, foram feitas duas perguntas que já tinham sido formuladas na entrevista 1. Dessa forma, buscamos verificar possíveis modificações nas respostas das docentes em relação aos conhecimentos que, segundo elas, as crianças poderiam construir durante o processo de escrita coletiva, bem como explorar suas reflexões sobre o papel da professora ao mediar esse tipo de atividade (ver APÊNCIDE C).

3.3.2 As atividades de produção coletiva de textos

Conforme foi combinado com as docentes, os dias em que as atividades de escrita coletiva de textos estavam previstas foram comunicados pelas professoras para que a atividade pudesse ser observada. Com o intuito de atingirmos de maneira mais eficiente os nossos objetivos, as três atividades de produção coletiva foram videogravadas, transcritas e analisadas numa perspectiva qualitativa. Assim, foi possível “capturar múltiplas pistas visuais e auditivas que vão de expressões faciais a diagramas no quadro-negro, e do aspecto geral de uma atividade a diálogos entre professor e alunos” (Roschelle et al., 1991 apud MEIRA, 1994, p. 61).

A videogravação das atividades foi realizada pela pesquisadora e teve como foco as ações da professora, tendo em vista que o trabalho docente constitui o ponto central do estudo. O tempo médio gasto pela professora A nas atividades foi de 32 minutos e pela professora B foi de 19 minutos. Antes da primeira produção textual, a pesquisadora fez algumas visitas às turmas para que as crianças pudessem se familiarizar com sua presença na sala e com a câmera filmadora.

3.3.3 Os grupos de discussão

Chamamos aqui de “grupos de discussão” os encontros que reuniram as duas professoras e a pesquisadora. Tais encontros foram realizados entre uma produção textual e outra, como mostra a Figura 1, apresentada anteriormente. Esse procedimento, também chamado de Focus Group, visa à discussão de um tópico específico em que

os participantes influenciam uns aos outros pelas respostas às ideias, às expectativas e aos eventos colocados pelo moderador, e dessa maneira são registradas as opiniões-síntese das discussões estimuladas/orientadas pelo mediador, que em Estudo de Caso deverá ser o próprio investigador (MARTINS, 2008, p. 28).

Os três encontros realizados tiveram o objetivo de estimular um processo reflexivo sobre as ações das professoras, proporcionando o espaço para que as

docentes pudessem falar sobre as suas ações e estabelecer trocas discursivas, por meio das quais explicitavam os saberes relativos à prática de produção coletiva de textos. Esses momentos duraram em média 3 horas e 40 minutos.

As reuniões foram planejadas pela pesquisadora seguindo um roteiro de discussão tendo como base algumas questões problematizadoras formuladas pela pesquisadora para serem discutidas nos encontros. Tais questões eram geradas em função das atividades encaminhadas por cada docente, registradas nos vídeos. Os grupos de discussão também contemplaram a reflexão sobre alguns textos que tratavam da produção textual coletiva na Educação Infantil e a técnica da autoconfrontação, procedimento em que as educadoras são incentivadas a comentar sobre a sua prática restaurada pelo vídeo.

A técnica da autoconfrontação começou a ser utilizada na França pela Psicologia Ergonômica (Clot e Faïta, 2000 apud GOIGOUX, 2002), mas vem sendo incorporada aos estudos que investigam a atividade docente e aos momentos de formação de professores. Nas palavras de Goigoux (2002, p. 127, tradução nossa),

se o confronto da mestra com seu próprio discurso e com sua imagem tem enriquecido o seu conhecimento sobre sua própria atividade, ele tem contribuído, sobretudo, para compreender suas intenções e as razões que a fizeram agir da forma como agiu.

No presente estudo o procedimento da autoconfrontação foi utilizado com o objetivo de facilitar a explicitação dos saberes estruturantes do ensino (em relação à produção coletiva de textos), aprofundando a entrevista 1, no sentido de captar aspectos que não tivessem sido explicitados pelas professoras nesse primeiro momento. Alguns pontos revelados nas entrevistas foram, então, retomados nos encontros para confrontar, enriquecer e aprofundar a discussão.

Desse modo, as educadoras assistiram à atividade que realizaram com as crianças, através do vídeo, sendo, ao mesmo tempo, encorajadas a comentar sobre a sua prática, refletindo, conjuntamente, acerca da condução do seu trabalho durante a produção do texto, por meio de ações que incluem descrever, informar, confrontar e reconstruir a prática docente (Smyth apud IBIAPINA; LOUREIRO JÚNIOR; BRITO, 2007).

Em síntese, durante os grupos de discussão, as docentes foram mobilizadas a assumir uma postura ativa e crítica, atuando como protagonistas da sua atividade,

em situação de diálogo com a pesquisadora. Embora ainda não seja usado com frequência como procedimento metodológico em pesquisas brasileiras na área educacional, o confronto de educadores com a própria prática através do vídeo ou de protocolos de transcrição de atividades tem revelado resultados interessantes (SOARES, 1998; GOIGOUX, 2002; NASCIMENTO; BRANDÃO, 2010).

Além de permitirem a análise dos saberes docentes, os procedimentos descritos acima possibilitaram a identificação das mudanças e regularidades apresentadas pelas professoras em sua prática entre uma produção textual e outra, bem como as estratégias utilizadas pelas mesmas na gestão das suas ações.

Embora nossos objetivos estejam ligados à investigação científica na condução dos grupos de discussão, não podemos deixar de considerar que esses momentos tiveram uma dimensão formativa assumindo um caráter de videoformação, já que contaram com a reflexão sobre a prática através do vídeo além de promoverem a interação entre as docentes na troca de saberes. Conforme Ibiapina, Loureiro Junior e Brito (2007, p. 55), a utilização da videoformação em trabalhos de pesquisas contribui “tanto com a formação do professor quanto para a produção de conhecimentos científicos. Essa produção ocorre a partir da parceria que se estabelece entre os professores, os pares e o pesquisador.”

Considerando essa dimensão formativa e o papel ativo das docentes como colaboradoras da pesquisa, participando de uma parte da análise da sua mediação durante as atividades e da avaliação dos procedimentos utilizados, podemos afirmar que o estudo caminhou numa perspectiva de pesquisa colaborativa. No entanto, entendemos que o presente estudo não se enquadra no modelo de pesquisa-ação colaborativa descrito por Zeichner (1998) em que as docentes participam de todas as etapas da pesquisa, incluindo a definição de objetivos e métodos.

Os três grupos de discussão foram realizados no horário de trabalho das professoras, com autorização da Secretaria de Educação. As reuniões foram agendadas com as educadoras e com as gestoras das escolas no intuito de que as instituições pudessem se organizar previamente para a ausência das docentes nos dias marcados.

As reuniões foram realizadas em uma sala da UFPE e também foram videogravadas com a ajuda de uma assistente. Desse modo, a pesquisadora pôde resgatar as falas/comentários/análises/reflexões considerados mais relevantes nesses encontros. A estrutura dos grupos de discussão será tratada de forma mais

detalhada na seção 4.2.1. Optamos por incluir essa descrição na seção referente à apresentação dos resultados para facilitar a compreensão do leitor sobre a análise dos dados.