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Procedimentos de Análises: Análise de Conteúdo

A sistematização da análise das entrevistas narrativas foi baseada na proposta metodológica da análise de conteúdo (BARDIN, 2009; GOMES, 2007). Berelson (1948 apud BARDIN, 2009, p. 38) define análise de conteúdo como “[...] uma técnica de investigação que através de uma descrição objectiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto das comunicações tem por finalidade a interpretação destas mesmas comunicações”.

Já Bardin (2009) expande e atualiza o conceito, entendendo-o como

[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2009, p. 44).

Para Bardin (2009), no plano metodológico da análise de conteúdo, o que é levado em consideração “[...] é a presença ou a ausência de uma dada característica de conteúdo ou de um conjunto de características num determinado fragmento de mensagem que é tomada em consideração” (BARDIN, 2009, p. 23).

Ainda de acordo com a autora, a organização da abordagem metodológica da análise de conteúdo é composta por diferentes fases: a pré- análise; a exploração do material; e o tratamento dos resultados, que consiste na inferência e na interpretação.

A pré-análise consiste na “[...] fase da organização propriamente dita. Corresponde a um período de intuições, mas tem por objetivo tornar operacionais e sistematizar as ideias iniciais [...]” (BARDIN, 2009, p. 121). Já a exploração do material é uma etapa “[...] longa e fastidiosa, consiste essencialmente em operações de codificação, decomposição ou enumeração, em função de regras previamente formuladas” (BARDIN, 2009, p. 127). Por fim, a fase do tratamento dos resultados obtidos e interpretação possibilita “[...] estabelecer quadros de resultados, diagramas, figuras e modelos, os quais condensam e põem em relevo as informações fornecidas pela análise” (BARDIN, 2009, p. 127).

Nesta pesquisa, trabalhamos com um conjunto de entrevistas. Partimos do princípio de que as participantes são todas mulheres que estão inseridas em uma mesma cultura; que realizaram um curso normal em comum, o Magistério; e também fizeram o mesmo curso superior, o de Pedagogia. Reconhecemos a experiência individual, que é sempre singular, e está marcada pela totalidade, pelas experiências sociais e pela cultura. Portanto, “[...] a dimensão sociocultural das opiniões e representações de um grupo que tem as mesmas características costumam ter muitos pontos em comum ao mesmo tempo em que apresentam singularidades” (GOMES, 2007, p. 79). Nessa direção, Ferrarotti (2010, p. 46) assevera que “[...] todo ato individual é uma totalização sintética de um sistema social. Toda a narrativa de um acontecimento ou de uma vida é, por sua vez, um ato, a totalização sintética de experiências vividas e de uma interação social”.

Analisamos as entrevistas narrativas segundo a técnica de análise de conteúdo na modalidade temática, o que “[...] consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem a comunicação e cuja presença, ou frequência de aparição podem significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido” (BARDIN, 2009, p. 131).

Na primeira etapa de análise das entrevistas narrativas, identificamos pré- indicadores que emergiram da leitura das narrativas dos sujeitos da pesquisa. Nesse primeiro momento, com a intenção de apreender a totalidade dos dados, optamos por localizá-los não com palavras isoladas, mas a partir de trechos das narrativas, visando a uma maior compreensão dos possíveis sentidos neles inscritos. Em seguida, sistematizamos os indicadores e seus possíveis conteúdos temáticos a partir da aglutinação dos pré-indicadores para, posteriormente, inferir

e sistematizar os eixos de análises. Realizamos esses procedimentos com cada uma das entrevistas para, a partir dos eixos de cada uma delas, sistematizar os que atendem ao conjunto das entrevistas. Acreditamos que esses dados permitem responder a questão e os objetivos da pesquisa.

O primeiro exercício de tratamento dos dados culminou em um conjunto maior de eixos de análises. A título de exemplificação do procedimento, seguem os quadros abaixo:

Quadro 1: Indicadores

De que maneiras as professoras orientadoras de Estágio da Pedagogia vão se formando e se constituindo como formadoras?

Na relação e a partir de suas experiências com...

Ideia de desenvolvimento profissional e formação ao longo da vida

- Referências familiares;

- Modelos de professores ao longo da escolaridade; - Experiências do próprio estágio quando estudantes; - Experiências como professoras da educação básica; - Relação com os licenciandos;

- Experiências como estudantes da educação básica; - Formação continuada;

- Valorização da experiência profissional.

Quadro 2: Indicadores

Quais os sentidos que atribuem à sua função de professoras orientadoras? A partir dessas relações e experiências, vêem-se como responsáveis pela...

- Valorização da prática e do estágio como componentes curriculares;

- Valorização da educação básica (em especial da educação infantil) e conhecimento

da realidade escolar;

- Valorização da reflexão sobre as práticas pedagógicas e problematização das

experiências (ênfase dos estágios);

- Promoção de experiências gratificantes como docentes; - Promoção da relação entre universidade e escola; - Valorização da escrita de si e sentimento de autoria;

- Humanização da docência e apoio e acolhimento dos alunos.

Fonte: A autora.

O esforço empreendido no exercício de aglutinação dos indicadores e seus possíveis conteúdos temáticos garantiu a seguinte apresentação dos eixos de análise:

1. valorização do Estágio Supervisionado enquanto componente curricular; 2. valorização da reflexão sobre as práticas pedagógicas e problematização

das experiências;

3. valorização da educação básica; e

4. promoção da relação universidade-escola.

Esses eixos de análise possibilitaram evidenciar o processo de desenvolvimento profissional de professoras orientadoras de Estágio Supervisionado do curso de Pedagogia, como também analisar os sentidos que elas atribuem à sua função como orientadoras. Com a intenção de situar o contexto da pesquisa, a seguir, descrevemos a universidade onde a pesquisa foi desenvolvida, e ainda caracterizamos o curso de Pedagogia e a disciplina Estágio Supervisionado.