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Procedimentos de pesquisa: definição do corpus

3. METODOLOGIA

3.4. Procedimentos de pesquisa: definição do corpus

3.4.1. A escolha da sala de bate-papo

Para preservar a privacidade do grupo, foi necessário escolher uma sala de bate-papo, cujos diálogos fossem públicos, ou seja, disponíveis para qualquer participante da sala de bate- papo. Dentre mais de três mil salas disponíveis no portal UOL, escolhemos a sala de número 11, para os maiores de cinqüenta anos.

A escolha dessa sala deveu-se às seguintes observações: a) a maioria das salas de bate-papo dispõem as conversas no ambiente reservado, pois com o surgimento de programas que permitem a comunicação direta entre pessoas ou grupos de pessoas, entre eles o MSN da Microsoft, houve de certa forma uma cisão entre usuários, que buscam manter o contato com amigos, parentes e parceiros de trabalho, e as pessoas que buscam novos relacionamentos; b) em outros segmentos etários, assim como temáticos, foi difícil encontrar uma sala que comportasse pessoas que conversassem no ambiente aberto e periodicamente; c) o segmento proposto pelo provedor (maiores de 50 anos) demonstrou-se como um dos poucos ambientes em que seus usuários se sentem à vontade para conversar periodicamente no aberto e assim constroem seus papéis na interação, aspecto importante no tocante à polidez lingüística.

3.4.2. A coleta dos dados

As técnicas de coleta de dados tiveram como ponto de partida a observação da pesquisadora, em visitas realizadas na sala de bate-papo de número 11, para pessoas com idade superior a 50 anos do portal UOL (Universo On Line), no período de dezembro (2006) a abril de

2007.

A maioria das conversas foi coletada no período de segunda a sexta-feira, durante três meses, com início por volta das 20h e 30 min e término entre 22h e 23h. O tempo de coleta foi estabelecido com base na observação da periodicidade de participação de alguns integrantes desta sala de bate-papo. Deste modo, o corpus consistiu de 50 diálogos estabelecidos entre os participantes da sala referida. O número de participantes girava em torno de 30 no horário estabelecido. Depois de coletadas, as conversas foram copiadas integralmente no editor de textos Word.

3.4.3. Filtro da pesquisa

Como o foco desta pesquisa se encontra na mensagem verbal enunciada pelos participantes da sala, os seguintes tipos de mensagens foram desconsiderados da análise: a) mensagens enviadas pelo provedor de internet; b) spans24; c) figuras, sons, imagens, caracteres que venham atrelados ou independentes do conteúdo da mensagem.

Além desses elementos, outro aspecto foi desconsiderado da pesquisa. Observou-se que, periodicamente, em determinados horários, os participantes habituais da sala de bate-papo participavam de encontros religiosos, nos quais havia uma sistematização corrente de enunciados, fenômeno não apreciado por esta investigação, pois nosso foco orientava-se em identificar as manifestações espontâneas de polidez lingüística .

Deste modo, após o período de coleta de dados, foram analisadas vinte e três conversas mediante as categorias definidas no tópico 4.5 deste capítulo.

3.4.4. A problemática do anonimato

Como esta se caracteriza como uma pesquisa de cunho virtual, em que as pessoas constroem a sua identidade segundo os seus interesses comunicativos, algumas variáveis se tornaram problemáticas para a observação devido ao anonimato.

Observamos que a variável sexo poderia ser mudada no decorrer da interação com

24 Consiste em mensagens não-solicitadas, enviadas para um grande número de destinatários desconhecidos, via

propósitos diversos, ou seja, um usuário poderia se dizer homem para uma determinada interlocutora e, para outra, se dizer mulher e em muitos momentos o gênero do interlocutor não era mencionado, dado o conhecimento compartilhado ou a própria falta de motivação para explicitá-lo.

Procurando evitar o mesmo problema, buscamos restringir nosso corpus para uma sala da categoria idade, supondo que nessa as pessoas se uniriam pela afinidade etária, mas, como veremos na análise, o mesmo problema que ocorreu com relação à variável sexo também ocorreu com a idade, pois apesar de ser uma sala direcionada para pessoas com idade superior a cinqüenta anos, muitos que ali interagiam, assumiam ter idade menor que a estipulada pela sala. Ou seja, os motivos que agregavam essas pessoas estavam além da proposta da sala.

Nesse sentido, pudemos observar que: a) a maioria dos participantes mantinha o apelido e conversava entre si; b) muitos procuravam o bate-papo como uma forma de conhecer pessoas, mas também compartilhar de midis25, sendo esse o foco de muitas conversas; c) no horário estabelecido, entre as pessoas presentes na sala virtual, no máximo quinze pessoas conversavam abertamente entre si.

3.4.5. Os participantes da sala de bate-papo

Nesses vinte e três encontros foi possível observar e identificar a postura dos interlocutores mais assíduos da sala de bate-papo pesquisada. Apesar de o número de participantes da sala chegar a trinta, na maioria dos encontros, no máximo doze usuários desenvolviam seus diálogos no ambiente público de interação.

A maior parte deles, na época, tinham idade igual ou superior a cinqüenta anos, mantinham contato com os participantes da sala em outros ambientes de interação virtual, assim como face a face. Como veremos no próximo capítulo, esses encontros fora do ambiente virtual tornavam-se freqüentemente alvos de conversas estabelecidas entre eles.

O grupo mais assíduo era constituído de oito participantes: Lina; Candice; Silencio(M); Quase anja; Professora Guerreira; Tranqüilo; Noisédaroçanarede; Traído. As conversas eram estabelecidas entre os membros deste grupo, mas também com outros participantes da sala, novatos e pouco assíduos.

No decorrer desses encontros, observou-se que as mulheres detinham o maior volume de conversas, principalmente entre elas mesmas, estreitando vínculos de amizade e cumplicidade, proporcionando aos homens pouco ou nenhum poder no interior dos diálogos.

3.4.6. A abordagem inicial e a postura da pesquisadora

Apesar da proposta da pesquisa ser basicamente um acompanhamento sem a interseção da figura do pesquisador com o objetivo de flagrar a espontaneidade da interação social estabelecida naquele ambiente (observação não participante), foi preciso estabelecer uma interação com os freqüentadores da sala, nas duas primeiras conversas, com o intuito de conhecer a dinâmica do grupo e obter uma permissão para acompanhar os diálogos realizados publicamente.

Com relação à dinâmica do grupo, a pesquisadora verificou a sistemática dos diálogos, observando que o fato de conversarem abertamente era algo restrito àquele horário, eventual, se acontecia entre todos os usuários e se os apelidos destes eram mantidos. Depois de observados esses elementos, a pesquisadora não interagiu mais, apenas observou e coletou as conversas.

Como forma de estabelecer ligação com o primeiro contato, no qual foi dada publicamente a permissão para a realização da pesquisa, a pesquisadora decidiu manter o apelido ou nickname adotado no primeiro encontro.

Ao contrário de uma pesquisa etnográfica tradicional, não foi criado um diário de campo, pois devido à natureza singular da internet, e principalmente no bate-papo, seria impossível acompanhar diversas conversas que ocorrem paralelamente em uma estrutura conversacional especializada, que muitas vezes confunde até mesmo os freqüentadores mais assíduos. Sendo assim, as observações da pesquisadora serão norteadas exclusivamente pela teoria da polidez lingüística sob a abordagem de Brown; Levinson (1987) e Leech (2005).