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Será apresentado também, devido à importância dada ao ambiente no modelo metodológico adotado, o contexto e os procedimentos relacionados ao programa de formação continuada de professores em que IAAQPE foi desenvolvido. Para uma melhor caracterização do ambiente de aplicação, em consonância com a metodologia DBR, a análise dos resultados da utilização do instrumento foi precedida por uma descrição detalhada do desenvolvimento do instrumento e pela análise das respostas dadas ao questionário inicial com a identificação dos participantes, do questionário aplicado no final de cada curso voltado para a avaliação geral do mesmo e das opiniões dos respondentes sobre o instrumento. em “V.Desenvolvimento da avaliação: antecedentes, desafios e consequentes”.

O capítulo “VI.Resultados da utilização de IAAQPE” fará uma análise mais detalhada dos resultados obtidos com o instrumento, focando principalmente na primeira versão dos cursos, pois este foi representativo e houve pouca variação nos demais cursos.

O fechamento se dará em “VII.Considerações finais”, onde também serão apontados possíveis desenvolvimentos futuros tanto para o programa, como para os cursos e para IAAQPE.

I.A evolução da tecnologia originou o MOOC

“quasi in unum connectens, ad modum ligni concavi super extensas chordas simul copulet, earumque sonum recipiens in se, dulciorem auribus referat, quem non solum chorda edidit, sed et lignum modulo corporis sui formavit” (BUTTIMER apud ILLICH, 1994, p. 154)6

É praticamente impossível refletir sobre qualquer sociedade sem levar em consideração o desenvolvimento tecnológico que perpassa vários de seus aspectos, como o social, o cultural, o econômico ou mesmo o educacional. A recente evolução da tecnologia, principalmente a digital, tem causado revoluções em muitos níveis da sociedade e até mesmo na maneira de interpretar o mundo e a realidade. Por exemplo, características fundamentais foram alteradas ao possibilitar o surgimento de mundos virtuais.

Este capítulo aborda reflexos das transformações tecnológicas na sociedade atual, sendo necessário compreender o significado da atual era digital, na qual a concepção analógica da informação foi substituída por formas digitais no tratamento de dados, o que possibilitou a virtualização do mundo real e de mundos nunca imaginados anteriormente. Assim, tanto a interação entre as pessoas como também as formas de produção do conhecimento e as manifestações culturais se modificaram.

Obviamente, diante da alteração nos sentidos, a área da educação também foi influenciada pelas mudanças, as quais possibilitaram o surgimento de um movimento de abertura. Tal movimento conceitualmente amplo, teve início com a intenção de integrar computadores de maneira aberta, isto é, sem restrições físicas ou econômicas. Avançou para o desenvolvimento de software, chegou aos modelos de produção e distribuição do conhecimento, até atingir a área da educação.

Assim, surgiram os ambientes virtuais de aprendizagem para apoiar a EaD e o MOOC enquanto modalidade de EaD, buscava trabalhar as relações pessoais no processo de ensino-aprendizagem, tidas como distantes ao tratar das interações entre o ser humano e computadores.

6 Citação latina traduzida a partir do italiano: “unindo-os, por assim dizer, em um objeto único, reúne tudo na caixa de ressonância sob as cordas esticadas, recebendo o som e o refletindo-o mais doce às nossas orelhas – som produzido não apenas pelas cordas, mas no qual a madeira também contribuiu a modular com a forma do instrumento”.

1.O reflexo das transformações tecnológicas na sociedade atual

A evolução da tecnologia promoveu transformações socioculturais tanto na concepção e produção do conhecimento como na compreensão do contexto atual. Segundo Schwab (2016), vive-se uma nova revolução industrial e as transformações foram tão impactantes que, para Bernheim e Chauí (2008), o atual sistema produtivo passou a basear-se na produção, disseminação e uso intensivo dos conhecimentos e não mais na produção de bens.

De acordo com Tardif e Lessard (2014, p. 18), “a revolução dos serviços suplantou a revolução industrial” e, até como consequência do avanço de ocupações socialmente consideradas cada vez mais importantes, como grupos de cientistas e técnicos – os quais “criam e controlam o conhecimento teórico, técnico e prático necessário às decisões, às inovações, ao planejamento das mudanças sociais e à gestão do crescimento cognitivo e tecnológico” (ibidem, p. 18), os trabalhadores produtores de bens materiais, característicos da revolução industrial, deixaram de constituir o principal vetor da produção e de transformações sociais. Uma nova economia, constituída e constituinte pelas TIC, emergiu neste contexto em que os serviços ultrapassaram em importância o trabalho sobre a matéria inerte e viva, o qual servia como a base para as sociedades industriais modernas.

Diante da valorização social da área dos serviços e com o crescimento dos conhecimentos formais, das informações abstratas, das tecnologias e das atividades burocráticas – necessárias ao controle dos serviços, a sociedade passou a exigir uma formação cada vez mais longa e de alto nível, favorecida e estimulada pelo surgimento da Sociedade do Conhecimento. Assim, ampliou-se a importância social da área da educação e mais especificamente do ensino, que, segundo Tardif e Lessard (2014, p. 17) era visto como “uma ocupação secundária ou periférica em relação ao trabalho material e produtivo”, uma vez que a escolarização, além de dispendiosa e improdutiva, era considerada apenas uma etapa de preparação para o trabalho produtivo. Desta forma, o trabalho docente, longe de ser ocupação secundária, passou a constituir “uma das chaves para a compreensão das transformações atuais das sociedades do trabalho” (TARDIF; LESSARD, 2014, p. 17).

Por exemplo, a noção de aprendizagem tornou-se tão importante na Sociedade do Conhecimento que, conforme apontado por Senge (2013), a partir do início dos anos 1990, passou-se a admitir que as organizações também aprendem. Assim, toda a produção econômica e mesmo a produção do conhecimento se imbricou aos processos

formais de ensino-aprendizagem, pois a sociedade passou a necessitar e valorizar as competências reflexivas de alto nível e as capacidades profissionais para melhor gerir a contingência das interações humanas. “O importante aqui é compreender que as pessoas não são um meio ou uma finalidade do trabalho, mas a ‘matéria-prima’ do processo do trabalho interativo e o desafio primeiro das atividades dos trabalhadores” (TARDIF; LESSARD, 2014, p. 20).

Neste contexto de transformação das relações de produção, de valorização social do conhecimento e do desenvolvimento das TIC, a virtualidade, ao romper com padrões tradicionais espaçotemporais e de formação, passou a afetar diretamente as interações sociais e a formação em todas as áreas, propiciando o surgimento e desenvolvimento da EaD, enquanto uma modalidade referenciada por muitos como “inovadora”.

Apesar de qualificada como “inovadora”, a EaD existe desde os anos 1950 por meio de cursos por correspondência. Passou por uma segunda geração a partir dos anos 1970, caracterizada pela veiculação dos conteúdos através dos meios de comunicação de massa, como a televisão, o rádio, as fitas de áudio e vídeo e até mesmo pelo telefone (LEMGRUBER, 2008). Atualmente, em sua terceira geração, a EaD apenas intensificou a utilização das TIC, principalmente a partir dos anos 1990 com a popularização da internet, a qual passou a ser oferecida comercialmente a partir de 1996, a partir de quando sua utilização vem se tornando cada vez mais intensa por parte de toda a população.

Foram tais transformações que promoveram o que ficou conhecido como Sociedade da Informação ou do Conhecimento, resultado da Terceira Revolução Industrial. Ou seja, a Terceira Revolução Industrial abriu o caminho para o surgimento da Sociedade da Informação (SANTOS; CARVALHO, 2009), na qual a ciência e a tecnologia assumiram um papel central no desenvolvimento de toda a sociedade. Muitos de seus elementos fundantes resultam de avanços técnicos e científicos, os quais somente se tornaram possíveis graças às facilidades de acesso à informação e ao compartilhamento dos resultados das pesquisas científicas.

Para Assmann (2000), enquanto que no passado as tecnologias tradicionais buscavam instrumentos para aumentar o alcance dos sentidos (braço, visão, movimento etc.), as novas tecnologias visam ampliar o potencial cognitivo do ser humano. Assim, a TIC se transformou em elemento constituinte, e mesmo instituinte, de uma nova forma de ver e organizar o mundo, favorecendo o surgimento de cursos e outros modelos de formação on-line.

Em relação à EaD, o marco legal no Brasil foi o artigo 801 da Lei Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394 de 1996 (BRASIL, 1996), a qual já estimulava sua expansão. Por exemplo, um momento histórico de seu crescimento, segundo o INEP, foi entre os anos 2001 e 2010, nos quais, por exemplo, os cursos de pedagogia a distância cresceram quase 45 vezes, passando de 6.077 vagas declaradas em 2000 para mais de 273.000 em 2010 e segundo a Associação Brasileira de Ensino a Distância, a quantidade de cursos a distância continuou a crescer, chegando em 20187 a 232 cursos de pedagogia a distância, com 421.322 vagas oferecidas, o que representa um aumento de aproximadamente 63% em oito anos.

Paralelamente à EaD, a educação passou a ser considerada por muitos como um bem privado e um meio para oferecimento de serviços educacionais. Por exemplo, nos anos 2000, a educação superior tornou-se um mercado estimado em torno dos 750 bilhões de dólares nos Estados Unidos (KAY et al., 2013), com um incremento na ordem de 30% a 35% de matrículas ao ano. Entretanto, em meio à mercantilização e até como forma de contraponto, alguns modelos passaram a oferecer a disseminação do conhecimento gratuitamente. Assim surgiu o que ficou conhecido como “Open Moviment”, do qual MOOC faz parte. Contudo, foi pelas próprias características da tecnologia que este pôde ser viabilizado. É preciso compreender um pouco mais detalhadamente a passagem do analógico ao digital, fundamental no atual desenvolvimento tecnológico, para apreender as características das TIC.

De modo análogo a como Illich (1994) apresentou as diferentes tecnologias que contribuíram para que o livro se tornasse suporte do conhecimento sistematizado e metáfora fundamental de sua época, serão abordadas sucintamente as origens das transformações em relação ao suporte das informações decorrentes da evolução tecnológica, as quais se tornaram a metáfora de nossa época para o suporte do conhecimento sistematizado. O objetivo de abordar a origem do digital é ampliar a compreensão das referências tecnológicas que suscitaram tanto as transformações sociais, políticas, culturais e educacionais como o desenvolvimento do movimento de abertura.

2.A era digital

A utilização do computador e de outros aparelhos eletrônicos torna-se cada vez mais onipresente em toda a sociedade. Porém, não há nenhum tipo de computação sem o processamento digital, ou seja, sem a digitalização. Para entender melhor como o computador se tornou um instrumento imprescindível na atualidade e novo habitat da escrita é preciso compreender a passagem do analógico para o digital, processo fundamental para o tratamento dos dados pelos aparelhos eletrônicos. Como enfatiza Braga (2012, p. 12), “não só o discurso, mas também a história, a economia, a política, a cultura, a percepção, a memória, a identidade e a experiência estão todos hoje mediados pelas tecnologias digitais”.

Contudo, o que é digitalização? De modo técnico, a digitalização pode ser definida como a divisão, mediante a mensuração de valores em intervalos regulares, de uma grandeza física em pequenas frações convertidas em unidades mínimas de informação, ou seja, de modo simplista, é a tentativa de quantificação do real, isto é, a transformação dos sinais contínuos que caracterizam o real em sinais digitais. Assim, elementos concretos passam a ser reconhecidos como abstrações numéricas por meio do processo de quantificação e conversão do real, no formato analógico, para o digital. A digitalização é importante porque possibilita a utilização e armazenamento das informações em aparelhos eletrônicos.

O Gráfico 1 apresenta um exemplo de digitalização, isto é, como o sinal analógico é convertido em sinal digital.

GRÁFICO 1 - A amostragem do sinal analógico

A conversão do sinal analógico em digital é uma tentativa de representação do real da maneira mais fiel possível, uma vez que a amostra digital é formada a partir de fragmentos, obtidos em determinados intervalos de tempo, dos sinais emitidos no plano real. Contudo, sempre ocorre perda de sinais na conversão e o digital é uma fragmentação e simplificação do real.

Para a obtenção do sinal digital são considerados apenas intervalos da medida original, isto é, em se tratando de computadores, que reconhecem apenas se, em determinado intervalo de tempo, a corrente elétrica – convertida em um ou zero, está passando ou não em seus circuitos, a quantificação é binária. Contudo, as conversões também outras fontes como, por exemplo, a intensidade dos sinais sonoros ou a intensidade da luz na conversão do analógico em digital. A linha cinza no Gráfico 1, indica o fluxo contínuo do sinal analógico e as setas vermelhas os pontos considerados na conversão para o digital, evidenciando a perda entre os intervalos de amostragem.

Dessa forma, ainda que a perda não possa ser detectada pelos órgãos humanos do sentido, por mais que o virtual se aproxime do real, nunca será totalmente correspondente ao sinal original e, portanto, nunca será sua reprodução exata, uma vez que depende da conversão entre sinais contínuos e suas representações. Um outro problema da conversão, que confirma o distanciamento do real, é apresentado no Gráfico 2, onde, além do intervalo de tempo mostrado no Gráfico 1, há também o problema em relação à intensidade do sinal.

Assim como há a perda em relação ao intervalo da amostragem, há também a necessidade do sinal ser interpretado em faixas de intensidade, isto é, na “altura” do sinal.

GRÁFICO 2 - A variação na intensidade do sinal

No Gráfico 2, as linhas tracejadas representam as faixas nas quais a conversão consegue reconhecer durante a amostragem. Reparem que a linha cinza, que representa o sinal analógico, não consegue se ajustar totalmente a linha vermelha, que representa o sinal digital. A compreensão da conversão é relevante porque o computador, ou qualquer outro instrumento que armazene o sinal digital, trabalha apenas com a díade 0/1, isto é, reconhece apenas sinais representados por “0”, momento em que não passa corrente elétrica, ou “1”, quando a corrente elétrica está passando no circuito analisado.

Preparando a abordagem sobre o conceito de inteligência artificial que será mais detalhado posteriormente, é importante reconhecer que, ainda que o digital não seja uma cópia exata do real, assim como o pensamento humano também não o é, não deixa de ser sua representação e é por meio de associação entre as representações e suas relações que se reconhece os princípios de funcionamento da inteligência, seja humana ou artificial. Portanto, a digitalização não apenas possibilitou a manipulação de informações pelos equipamentos eletrônicos e tornou os computadores mais funcionais, mas também possibilitou o desenvolvimento de execução de tarefas consideradas inteligentes.

Segundo Teixeira (2004, p. 3), “o digital, ao contrário da comunicação escrita que se encerra no momento da impressão, potencializa o alcance e amplia as opções de leitura, permitindo que o leitor assuma o papel de comando”. Foi nesse contexto que surgiram as mídias digitais e o que ficou conhecido por hipertexto, que possibilitou uma leitura não obrigatoriamente sequencial. Justamente pelo hipertexto e o acesso a outras mídias digitais não serem necessariamente sequenciais, pode-se afirmar que as possibilidades de organização são mais próximas ao modo como o cérebro humano manipula internamente as informações. Por exemplo, os sonhos não são racionais, lógicos ou sequenciais, pois, para haver a sequencialidade, é fundamental a presença de uma ordem imposta pela razão, o que não acontece com os sonhos e tantas outras manifestações humanas, principalmente em relação à produção cultural e que, inevitavelmente, se reflete na produção escrita, tema desta pesquisa e doravante indicada apenas por PE.

O modo diferenciado de manipulação da informação pelos equipamentos eletrônicos também afetou a produção de textos, pois os mesmos passaram a ser elaborados em equipamentos eletrônicos. Para melhor compreender como as produções culturais foram afetadas por TIC, é preciso refletir sobre as vantagens trazidas pela

digitalização. Para tanto, Braga (2012) sintetiza em cinco os princípios básicos relacionados às mídias digitais:

1) a representação numérica, que tem como princípio fundamental da computação a díade 0/1;

2) a modularidade, na qual os elementos podem se juntar em objetos de diferentes escalas sem perderem a identidade;

3) a automação, que propicia a remoção de certa intencionalidade humana, ao ser minimizada durante o processo criativo diante de classificações e da busca pelos objetos adequados em processos repetitivos;

4) a variabilidade, que possibilita assumir que nenhum objeto é imutável, podendo existir, ao menos potencialmente, uma infinidade de versões do mesmo objeto; 5) a transcodificação, que permite a conversão entre códigos de linguagem para

diferentes formatos de apresentação e inclusive entre diferentes códigos de linguagem.

Tais princípios, resultantes e basais para a computação, são importantes porque, antes da era digital, os suportes das diferentes linguagens eram incompatíveis. Existia o papel para o texto, a película química para a fotografia ou filme, ou a fita magnética para o som ou vídeo e assim por diante. Com a digitalização, tornou-se possível fundir as diferentes formas de comunicação em “blocos únicos”, por exemplo, documentos escritos, audiovisuais, telecomunicações e o processamento dos computadores.

Assim, este processo, chamado de “convergência das mídias”, deu origem a manipulação computadorizada das informações, que originou o que ficou conhecido por multimídia. Ou seja, signos híbridos, digitalizados, fluidos e reconfiguráveis passaram a circular no espaço das redes mundiais. E, de maneira semelhante, as redes interativas tornaram-se capazes de intercambiar informação através de oceanos e continentes em frações de segundos, ligando corporações, instituições e indivíduos em todo o mundo, mudando a configuração espaço-temporal do acesso e distribuição de informações.

Em tal contexto, ainda que a leitura e escrita tenham continuado como fator preponderante na comunicação, a sociedade contemporânea passou a requerer a apropriação da informação como forma de se obter conhecimento. As pessoas tornaram- se capazes de, no dizer de Belluzzo e Feres (2011, p. 42), “atualizar, a qualquer momento, os conhecimentos adquiridos no processo de educação formal e dar continuidade, de forma autônoma e autodidata, ao aprendizado ao longo da vida”. Como

consequência, surgiu o “movimento de abertura”, abordado em mais detalhes posteriormente, e a digitalização e a convergência das mídias promoveram a virtualidade.

3.A virtualização

A virtualização foi consequência da digitalização, isto é, o virtual passou a fazer parte do cotidiano dos seres humanos que passaram a se conectar cada vez mais à internet, isto é, a rede mundial de computadores. De modo desejado ou não, a virtualização tornou-se cada vez mais ampla e passou a afetar tanto a produção como a distribuição do conhecimento, se transformando e se adequando ao público (LÉVY, 1996). Comunidades locais tornaram-se globais com a capacidade da informação trafegar livre e rapidamente. Assim, a comunicação entre as pessoas transformou-se e foi incrementada a partir da utilização de TIC. Entretanto, de forma implícita e diante de uma quantidade muito grande de informações, gostos, atitudes e vários aspectos das relações humanas passaram a se assemelhar. Se por um lado ficou mais fácil encontrar pessoas com interesses semelhantes; por outro, os indivíduos fecharam-se em seus grupos de afinidades e concepções diferentes passaram a ser excluídas. Entretanto, a virtualização não pode ser considerada nem boa, nem má, nem neutra (LÉVY, 1996), uma vez que se apresenta como heterogênese do humano, constituindo justamente a essência da mutação em curso.

O virtual, que não é cópia exata do real mas uma tentativa de sua representação, muitas vezes passou a ser visto como real pelos usuários da internet. Contudo, não é antônimo do real nem sinônimo de algo que é irreal e, mesmo que não seja atual, propiciou o surgimento de ambientes virtuais com possibilidades complexas e diferenciadas, que envolvem situações, acontecimentos e objetos de modo diverso do ambiente não virtual (LÉVY, 1999). Uma consequência da ampliação do acesso à informação e da virtualidade foi o advento da contínua necessidade de atualização do conhecimento, uma vez que informação passou a ser compreendida como um recurso estratégico.

O leitor deixou de ser obrigado a seguir sequencialmente um texto, virando páginas, manuseando volumes, percorrendo a biblioteca com seus passos retilíneos. Contudo, teve de passar para um estado de prontidão, conectando-se entre nós e nexos, num roteiro multilinear, multisequencial e labiríntico, construído na interação entre palavras, imagens, músicas, vídeo e tudo o que é possível digitalizar. Como reflexo não

só na área de educação, passou-se a requerer que as aprendizagens fossem “além das capacidades e habilidades adquiridas por meio de memorização e reprodução do que lhes é transmitido e ensinado, como era exigido nas sociedades predominantemente orais” (KENSKI, 2003, p. 53). Tornou-se vital reconhecer e promover a transformação da informação em conhecimento, num processo humano de estabelecimento de relações entre o que já sabe e os novos conteúdos a serem aprendidos, processo que envolve criatividade e inteligência, o qual pode ser reduzido à simples operações de produtos tecnológicos. Ou seja, os ambientes tornaram-se mais dinâmicos e o real e o virtual passaram a se entrelaçar numa organização cada vez mais imbricada, tornando difícil a