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4 FRACASSO ESCOLAR de como se tornou “fracasso” ou como atinge

5.3 Procedimentos

Nosso trabalho foi realizado após a seleção de escolas municipais com base nos índices de reprovação nas 1ª séries. Os índices foram indicados pela Secretaria de Educação Municipal de João Pessoa e se referem ao ano de 2006 que apontaram 35% de reprovação. Como as duas escolas que apresentaram os mais altos índices de reprovação recusaram participar da pesquisa, consultamos outras pela ordem que nos foi apresentada. Após anuência da direção da escola, conversamos com as professoras para a formação de grupos focais de crianças com história de fracasso escolar; as professoras constituíram-se em outro grupo focal. Foram dois encontros para as crianças e dois encontros para os professores, com duração média de 30 minutos para cada encontro; todos foram videogravados. Foi solicitada a autorização dos pais ou responsáveis dessas crianças, e a autorização das professoras. Os nomes das crianças foram substituídos por nomes fictícios para se preservar suas identidades. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisas com seres humanos e a Secretaria de Educação de João Pessoa. A coleta de dados foi concluída no período de 6 meses.

Das três turmas de primeira série existentes na escola I, foram indicadas pelas professoras 14 crianças. Foram 6 crianças na primeira sessão e 8 na segunda. Na escola II participaram 8 crianças.

As vídeogravações permitiram a observação das posturas corporais, e expressões faciais das crianças, como também a movimentação no espaço da sala. Apesar de não ser uma sala de aula, ainda assim se constituiu como observação em seu contexto, para se compreender o real significado de cada uma das manifestações afetivas das crianças (WALLON, 1941/2007). Embora existam argumentos em defesa de que esse instrumento retira espontaneidade, observamos que, de forma geral, isso não ocorreu com as crianças: são comuns, nos momentos iniciais, as manifestações de brincadeira de se “mostrar” para a câmera. Depois de algum tempo, elas se tornam “acostumadas à novidade” e respondem às questões de forma espontânea. Outras crianças, mesmo se apresentando, inicialmente, com timidez, foram, no decorrer do processo, respondendo às questões, e, na encenação, já se apresentaram espontâneas, envolvendo-se no processo. O que pode ser considerado como obstáculo nos

informa o processo emocional tanto para a situação “nova”, que é ser filmado, quanto para o que as questões incitam nas expressões corporais e faciais.

Para as encenações, a orientação dada às crianças era de que elas iriam realizar uma aula de leitura. Inicialmente, a investigadora inquiriu quem gostaria de ser professor (a). Após a escolha pelo grupo, foram mostrados os materiais disponíveis, dando-se início à sessão.

5.3.1 O grupo focal de crianças brasileiras

Constituído por alunos com história de fracasso escolar – crianças com um ou mais de um ano de reprovação –, indicados pelas professoras, esse grupo foi videogravado em duas sessões: uma de discussão e outra de encenação. Para cada encontro, estabelecemos dia e horário específicos de trabalho.

No primeiro encontro, a pesquisadora se autoapresentou aos alunos e expôs os objetivos do estudo, em linguagem adequada, para não prejudicar a espontaneidade de suas respostas. Em seguida, solicitou que as crianças se apresentassem a fim de se manter um clima inicial de descontração, que possibilitasse a verbalização das experiências e sentimentos. Foi solicitado pela investigadora que cada uma falasse seu nome e sua idade.

As questões para o grupo focal foram elaboradas previamente como já mencionado. No processo da discussão, foram surgindo outras questões necessárias ao esclarecimento do que as crianças verbalizavam.

No segundo encontro, foi solicitado ao grupo que organizasse uma encenação (peça teatral) de uma situação de ensino-aprendizagem cujo conteúdo fosse uma aula de leitura, deixando a cargo do grupo como utilizar os materiais e o espaço da sala. Tinha sido solicitado às professoras que os alunos levassem para esse encontro os livros didáticos. A cargo do grupo, ficou a escolha dos personagens a serem apresentados, a razão dessa escolha, o material de que o grupo precisava para a encenação, o que se podia fazer com o material que tinha à mão etc. Todo o processo da organização e planejamento da encenação, ou não, possibilitou reflexões sobre o que as crianças pensam e sentem numa situação de ensino-aprendizagem.

A investigadora informou que seria uma aula de leitura e questionou o que era preciso para se realizar uma aula. As crianças deram respostas variadas, como,

por exemplo, ter professor, brincadeira, etc.. Após o grupo decidir ou, até mesmo, um aluno ou vários querer (em) ser professor (es), iniciava-se o processo. Geralmente, as crianças, independentemente de gênero, optavam pelo desenho, mesmo verbalizando que iam dar uma aula de leitura. Por isso, foram necessárias algumas intervenções da investigadora no momento da encenação, porque as crianças demandavam muito tempo apenas desenhando. As intervenções após algum tempo em que isso acontecia e se mostraram propícias por evocar várias expressões emocionais que não poderiam ser percebidas com o ato de desenhar. Essas interferências foram no sentido de se apontar o livro, de se mostrar que um aluno fez a atividade quando o “professor” não via, e sobre a avaliação. Segundo Gatti (2005), interferências são necessárias para a consecução dos objetivos que são propostos.

5.3.2 Grupo focal de professoras brasileiras

O grupo focal de professoras foi composto por integrantes que aderiram ao convite para participar de dois encontros de discussão sobre crianças que fracassam na escola. Uma professora é parte integrante do Projeto Se Liga (Projeto que agrega crianças com mais de um ano de repetência). O objetivo do trabalho foi anteriormente informado.

Na primeira sessão, houve a apresentação da pesquisadora, seguida da apresentação das professoras, de modo a se criar um clima facilitador para que emitissem opiniões, reflexões, pensamento e sentimentos sobre o fracasso escolar de seus alunos, sobre as estratégias didáticas utilizadas e sobre seu relacionamento com as crianças.

Na segunda sessão, aprofundou-se o tema fracasso escolar, com questões mais amplas que focalizavam a escola, a sociedade, as políticas educacionais e que possibilitavam compreender o ponto de vista dessas professoras a respeito do tema abordado.