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III – CONTRIBUIÇÃO EMPÍRICA 1 Objetivos e Natureza do Estudo

4. Procedimentos Gerais

4.1. Procedimentos de Recolha de Dados

O contacto com os participantes ocorreu exclusivamente em contexto clínico por se revelar o mais adequado à natureza dos dados a recolher e da problemática dos participantes. Assim, foi elaborado um pedido de colaboração ao Concelho de Administração do Hospital José Joaquim Fernandes de Beja (Anexo IV), tendo em vista a entrevista de alguns dos pacientes do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do mesmo hospital, sinalizados no Serviço de Urgências com episódios de tentativa de suicídio. Da mesma forma, foi solicitada a colaboração do Departamento de Psiquiatria do Hospital do Espírito Santo em Évora e pedida autorização ao Conselho de Ética do mesmo.

Os participantes foram contactados pessoalmente, tendo este primeiro contacto, servido para lhes apresentar, de forma sucinta, o objetivo da investigação e solicitar- lhes a sua colaboração na mesma. Foi-lhes explicado que o presente estudo teria por objetivo aceder aos significados sobre os quais os sujeitos edificam a sua tentativa de suicídio, tendo sido, igualmente mencionado, que a recolha dos dados compreendia a realização de uma entrevista semi-estruturada gravada, bem como, o preenchimento de um questionário sociodemográfico. Após o primeiro contacto com os participantes, e uma vez, demonstrado o consentimento destes em participar no estudo, procedeu-se ao agendamento de uma sessão para a realização da entrevista, de acordo com a disponibilidade dos mesmos.

Antes de dar início às entrevistas, foram explicados aos participantes, os objetivos do estudo, os procedimentos utilizados e as condições de divulgação dos resultados. Além desta explicação inicial e após o esclarecimento de algumas dúvidas ou questões levantadas pelos participantes, foi-lhes ainda solicitada a assinatura de uma declaração de consentimento informado da sua participação no estudo, garantindo-se-lhes o anonimato e confidencialidade dos dados recolhidos. A realização das entrevistas decorreu maioritariamente entre os meses de Março e Outubro de 2015, em gabinetes hospitalares. A duração global de cada entrevista foi variável, tendo em conta, o tempo que cada

De salientar, que durante a realização das entrevistas, e a par da preocupação com a recolha de dados para a investigação, procurou-se manter uma genuína escuta ativa, dando espaço e tempo ao participante para refletir e responder, intervindo-se unicamente, para clarificar ou validar a informação dada pelos participantes.

Após a realização de cada uma das entrevistas, estas foram codificadas com a letra (E) e numeradas de 1 a 14, correspondendo a cada entrevistado um número sequencial por ordem da realização das entrevistas, respeitando deste modo o anonimato e a confidencialidade das informações prestadas. De seguida, procedeu-se à transcrição de todas as entrevistas para suporte de papel, tendo o cuidado de respeitar na íntegra as palavras utilizadas pelos participantes do estudo.

De modo a proceder à apresentação, análise e discussão dos dados utilizaram-se alguns códigos linguísticos, tais como, as reticências entre parênteses, com o objetivo de indicar que uma parte da informação foi retirada por se revelar irrelevante para a análise em causa.

4.2 Procedimentos de Análise de Dados

As entrevistas foram analisadas através de procedimentos de análise de conteúdo - uma das técnicas de investigação mais importante e usada nas ciências sociais (Krippendorff, 1980; Pais, 2004). Bardin (1977) define a análise de conteúdo como um conjunto de técnicas de análise das comunicações “que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, visando obter indicadores que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/receção (variáveis inferidas) destas mensagens” (p. 42). Segundo a autora, a análise de conteúdo organiza-se em torno de três pólos cronológicos: a fase de pré-análise, a fase de exploração do material e a fase de tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação. Na primeira fase, realiza-se uma “leitura flutuante” dos materiais com vista ao estabelecimento de categorias e das regras de codificação. A segunda fase, consiste na codificação do material, mediante as regras previamente formuladas e, por fim, na terceira fase, os resultados em bruto são tratados de maneira a serem significativos (“falantes”) e válidos (Bardin, 1977).

O Fenómeno do Suicídio no Alentejo: Estudo das Narrativas dos sujeitos que tentaram o suicídio

De acordo com os procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, estes podem ser realizados de duas formas: quer definindo previamente as categorias de análise de conteúdo (procedimentos fechados), quer não se tenha definido previamente qualquer grelha de análise de conteúdo (procedimentos exploratórios). Segundo Ghiglione e Matalon (1977), nos procedimentos fechados de análise de conteúdo parte-se de um quadro teórico e são procuradas categorias pré- definidas, muitas vezes para responder a hipóteses estabelecidas pelos investigadores. Já num procedimento exploratório, a metodologia é auto geradora do sentido do resultado, isto é, não se parte de um quadro de análise pré-definido, deixando as categorias emergir da abordagem ao texto. No presente estudo, utilizámos um procedimento exploratório, tendo as categorias de análise sido definidas após a transcrição das entrevistas.

As entrevistas foram transcritas ipsis verbis para o programa de edição de texto Word 2010. Importa referir que no processo de transcrição, paralelamente aos discursos, foram anotadas todas as pausas, que iam revestindo de significado os relatos dos participantes.

Num primeiro momento de análise, foi feita uma “leitura flutuante”, com vista a estabelecer um contacto mais aprofundado com o material, permitindo uma familiarização com o mesmo. Num segundo momento, deu-se início à exploração propriamente dita do material, onde se procedeu à identificação de temas emergentes do corpus (foi tomado como campo do corpus as entrevistas na sua totalidade), tendo por objetivo, o estabelecimento de categorias e subcategorias, que permitissem o agrupamento diferencial dos dados recolhidos em termos de conteúdo.

Após o processo de categorização e com o intuito de simplificar a análise, foram identificadas subcategorias, enquanto atributos inerentes às categorias. Estas traduzem conceitos de natureza hierarquicamente inferior às categorias e por isso revelam-se unidades mais específicas de análise que deverão dar origem às chamadas unidades de registo, ou seja, aos segmentos mínimos de conteúdo considerados necessários para a análise, colocando-o numa dada categoria (Carmo & Ferreira, 2008). Todo este processo de contacto com os dados recolhidos, com vista à identificação das categorias de análise, desenvolveu-se sem recurso a qualquer software e tendo como orientação os autores

dos dados recolhidos, foram criadas colunas paralelas às da transcrição das entrevistas, onde foram sendo colocadas as unidades de análise mais significativas.

Por último, a terceira fase de análise, onde se procede ao tratamento dos resultados, inferência e interpretação, pretendendo-se tratar os resultados em bruto, de modo a torná-los válidos e significativos, tendo em conta os objetivos do estudo. É de ressaltar, que os dados recolhidos na análise, foram alvo de inúmeras verificações e monitorizações sistemáticas, com o intuito de assegurar, a fidelidade, a validade e o rigor da presente investigação. A codificação foi feita por dois juízes independentes, tendo sido os desacordos resolvidos por consenso.

O Fenómeno do Suicídio no Alentejo: Estudo das Narrativas dos sujeitos que tentaram o suicídio

IV – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS