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Para realização da presente pesquisa, foram contatadas quatro instituições de Porto Alegre. Dessas, duas são clínicas-escola que trabalham realizando psicodiagnóstico, a saber: o Instituto de Ensino e Pesquisa em Psicoterapia (IEPP) e o Centro de Avaliação Psicológica, Seleção e Orientação Profissional (CAP-SOP) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A pesquisadora realizou contato com as psicólogas responsáveis por esses locais e comprometeu-se em atender os casos que não pudessem ser absorvidos pelas instituições, desde que os mesmos apresentassem sinais e sintomas de ansiedade. As outras duas instituições contatadas são: a Escola Estadual de Ensino Fundamental Professora Maria Thereza da Silveira e a Escola Estadual de Educação Básica Apeles Porto Alegre. Nas escolas, foi realizado um contato com a orientação pedagógica e explicado os objetivos da pesquisa. Assim, as orientadoras puderam conversaram com as professoras das crianças entre 6 e 11 anos, para averiguar quais teriam sinais e sintomas de ansiedade. A partir da indicação de alguns alunos, foi enviada uma carta aos pais, na qual se convidava a criança a participar da pesquisa (Anexo E).

Após a apresentação da doutoranda e o aceite de cada instituição, a pesquisadora atendeu aos seis casos encaminhados em seu próprio consultório. Dentre esses, um caso foi encaminhado pelo IEPP, um pelo CAP-SOP, um pela escola Apeles e os demais pela Escola Maria Thereza da Silveira. Cabe ressaltar que a pesquisadora possui experiência na área da avaliação, e que os atendimentos das seis crianças foram supervisionados por outro profissional também experiente. Em um primeiro contato por telefone, feito pelos pais para marcar um horário com a pesquisadora, foi solicitado a estes que comparecessem para uma entrevista inicial. Nesta, buscou-se esclarecer os objetivos da pesquisa e, assim, obter o consentimento dos genitores através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Anexo F). Em seguida, procedeu-se a investigação dos motivos manifestos dos sintomas de ansiedade das crianças referidos pelos pais e que, após, foram confirmados também por meio das escalas CBCL e SCAS-PAIS. Assim, todas as crianças obtiveram escores em nível clínico para “problemas de ansiedade” no questionário CBCL, e atingiram um nível elevado em, pelo menos, uma subescala da escala SCAS-PAIS.

Depois dessa primeira entrevista, ocorreram duas entrevistas de anamnese com os pais. Em seguida, os mesmos foram submetidos individualmente ao teste Rorschach (em uma sessão) e aos cinco cartões do CAT-A (em outra sessão). Terminada a avaliação dos pais, a criança foi chamada. Ocorreu, então, uma sessão de hora de jogo diagnóstica com a criança para obter informações acerca do motivo consciente e inconsciente da consulta. Cada criança tinha uma caixa standard a sua disposição nos momentos da sessão lúdica de atendimento. Seguiu-se, então, uma sessão de aplicação do teste R2, uma sessão para responder à escala SCAS-CRIANÇA e duas para as técnicas projetivas Procedimento de Desenhos-Estórias e CAT-A. Quanto ao CAT-A, na primeira sessão, ocorreu a aplicação tradicional; na segunda, os resultados foram apresentados e discutidos com a criança, fazendo-se uso de perguntas, associações, assinalamentos e interpretações4.

Ocorrida a coleta de dados, foram realizadas as entrevistas devolutivas, primeiro com os pais e depois com a criança. Nesse momento, a pesquisadora realizou as orientações necessárias para cada caso, bem como trabalhou sobre a indicação terapêutica que, em todos os casos, foi o encaminhamento para psicoterapia. A pesquisadora explicou, ainda, para a criança e seus pais, a última etapa da pesquisa: dentro de uma semana, estaria presente no consultório uma psicóloga (Clara) para conversar brevemente com eles sobre o que pensaram acerca do psicodiagnóstico. A terapeuta mencionou que eles deveriam ficar à vontade e falar tudo que pensaram, tanto aspectos positivos quanto negativos, pois Clara estaria fazendo uma entrevista às cegas, ou seja, não tinha nenhuma informação sobre os casos. Por esse motivo, a pesquisadora denominou essa etapa da pesquisa de “técnica da cabra-cega” (mais detalhes serão explicados na seção dos resultados).

Então, em torno de uma semana após as entrevistas devolutivas, ocorreu a etapa de avaliação do processo de PI. Nesse momento, a pesquisadora apresentou Clara (que também possui experiência na realização de psicodiagnóstico de orientação psicanalítica) aos pais e à criança e dirigiu-se a sala ao lado. Clara fez uma sessão lúdica primeiro com a criança e, logo em seguida, uma entrevista aberta com os pais (todos os encontros foram feitos às cegas)5. Um dos objetivos dessa entrevista foi avaliar a percepção e os sentimentos das crianças e dos pais sobre o processo de PI com outro profissional, para que eles ficassem à vontade para falar livremente. As entrevistas foram livres, na busca de compreensão tanto dos aspectos conscientes quanto inconscientes que pudessem surgir dos pacientes. Essa etapa foi realizada às cegas também para proporcionar a Clara uma experiência baseada fundamentalmente na

4 Apenas em uma criança a testagem não pode ser aplicada, e foram realizadas somente as sessões lúdicas. 5

Como as entrevistas eram em sequência, solicitou-se a presença de um outro familiar neste dia para ficar com a criança, enquanto Clara atendia aos pais.

livre associação, sem a contaminação das vivências da pesquisadora (sem a interferência de um processo racional-teórico prévio). Com isso, Clara ficaria livre para fazer um contato terapêutico “real” e deixar emergir no setting inclusive as representações de nível não-verbal. Ao final das entrevistas com os pais (nessa técnica da cabra-cega), a pesquisadora entregou o informe e o encaminhamento por escrito. Ocorreu, então, um momento de despedida entre a pesquisadora e os pacientes. Como Clara estava no recinto, pode presenciar tal momento e despedir-se também. Transcorridos aproximadamente dois meses, foram realizados contatos telefônicos com os pais para saber se as crianças estavam em processo psicoterápico.

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