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1. A história dos Rikbaktsa

2.5 Procedimentos metodológicos

Este estudo iniciou-se com a dissertação de Mestrado, Rikbaktsa e português: Atitudes linguísticas, publicada em 2015. A partir deste trabalho surgiram novas indagações e alguns aspectos desenvolvidos de maneira superficial na Dissertação foram retomados nesta tese, com o intuito de aprofundar a pesquisa acerca das atitudes linguísticas dos Rikbaktsa na relação de contato com o português. Os entrevistados não são os mesmos da pesquisa de Mestrado realizada em 2015, pois neste corpus conseguimos abranger as três TI. Diante disso, buscamos aprofundar alguns aspectos, tais como:

1) observar se o sujeito da pesquisa se considera um falante bilíngue;

2) questionar quais são, atualmente, as línguas utilizadas pelos pais e avós para se comunicar com o entrevistado;

3) analisar as efetivas ações de preservação da língua tradicional, assim como a contribuição realizada pelo projeto de pesquisa O uso da tecnologia na preservação da língua Rikbaktsa34.

Esta pesquisa de Doutorado considerou primeiramente um estudo bibliográfico, com o intuito de serem abordados os dados sobre a cultura, os aspectos históricos e demográficos do povo Rikbaktsa. Utilizamos os trabalhos realizados por vários estudiosos que tomam o povo/língua como objeto de seus estudos, tais como: Lunkes (1967), Boswood (1971, 1973, 1974a, 1974b, 1978), Pereira (1973), Dornstauder (1975), Arruda (1992), Silva (2005, 2011a) Athila (2006), Tremaine (2007), Pires (2009), Costa (2010), Almeida (2012), Garcia (2012), Ferrari (2014), Lobato (2014), Pereira (2015), Oliveira (2015), Hora (2016), Pacini (1999, 2015) e Martins (2018). Assim como trechos dos depoimentos dos nossos entrevistados.

Os principais pressupostos teóricos tiveram base nos estudos de Fishman (1972; 1974; 1995) sobre a Sociologia da Linguagem, de Appel e Muysken (1987) e de Weinreich (2011) para a análise do bilinguismo individual e social. Por fim, também nos voltamos a Schlieben-Lange (1993), que nos embasou para o estudo das atitudes linguísticas.

Para além disso, esta pesquisa foi aprovada pelo CEP do IFMT, sendo o número do Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE): 57505616.0.0000.8055, como mencionado na introdução. Nesse sentido, destacamos que o corpus da coleta de dados advindas dos sujeitos foi estratificado pelo sexo dos indígenas e em três gerações. Primeiro buscamos falantes que se consideravam bilíngues e depois aqueles que fossem os mais velhos e que tivessem ido para o Internato. Conseguimos dois sujeitos que ficaram na aldeia durante o período de pacificação (Ukba e Pududu) e oito indígenas que foram para o Utiariti (Ozobim, Mydi, Taibakwy, Opima, Mykzaze, Odomy, Zezeta e Eldo), sendo que estratificamos esses sujeitos como a 1ª geração. Depois buscamos mais indígenas bilíngues que fossem maiores de 18 anos e conseguimos mais 20 sujeitos, os quais dividimos em 2ª e 3ª geração.

34 Esse projeto de pesquisa foi aprovado pelo edital 036/2017 PROPES/IFMT, também recebeu a aprovação do

CEP/IFMT (Comitê de Ética) com o número do Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE): 71287917.8.0000.8055. Foi coordenado pela professora Mileide Terres de Oliveira, autora da referida Tese. Iniciou-se em agosto de 2017 e terminou em janeiro de 2018, contando com a colaboração da bolsista (FAPEMAT) indígena Izaudrelia Samasaik Rikbaktsa.

O grupo da 1ª geração contempla indígenas de 54 a 78 anos, sendo a 2ª geração composta pelos sujeitos entre 38 a 53 anos – todos filhos de indígenas que estiveram no Utiariti. A 3ª geração contempla a faixa etária de 18 a 37 anos, com sujeitos nascidos depois do período de pacificação dos Rikbaktsa, caracterizando a geração mais nova, sendo que alguns pais deste grupo não foram para o Internato.

O nosso quadro de sujeitos corresponde a 30 indígenas, pois nossa metodologia de estudo buscou um recorte das atitudes linguísticas dos Rikbaktsa a partir da situação de contato entre a língua rikbaktsa e o português. Assim, de acordo com os dados esboçados, organizamos o quadro 5:

Origem Identificação do sujeito

Sexo Mulher Homem

1ª geração:

54-78 anos Ukba Ozobim Mydi Taibakwy Opima Pududu Mykzaze Odomy Zezeta Eldo 2ª geração:

38-53 anos

Tsutsuba Maudu Waoho Tabatsau Abiktsai Awvik Matxie Peronui Damião Tabita

3ª geração:

18-37 anos Mapy Myda Tukdu Samasai Paitopi Byzyk Iskepy Tamatsi Skipuk Wakze

Total: 30 sujeitos

Quadro 5: Estratificação dos sujeitos

Referimo-nos aos sujeitos como Ozobim, Awvik, Mapy etc. visto que são nomes fictícios criados para designar os entrevistados. Além disso, os cinco primeiros de cada geração são mulheres e os cinco últimos são homens.

Para o trabalho de campo, primeiro elaboramos uma ficha pessoal com dados dos sujeitos; em seguida, aplicamos um questionário fechado com 24 perguntas (disponível no apêndice 4). Além disso, durante as entrevistas, os Rikbaktsa fizeram alguns comentários informais que também foram transcritos ao longo do trabalho e as partes que mais nos chamaram a atenção destacamos em negrito. Ademais, esta pesquisa limitou-se à coleta de dados com moradores das três terras indígenas, das seguintes aldeias: Primavera, União, Boa Esperança, Cerejeira, Vale do Sol, Pé de Mutum, Aldeia Velha, Barranco Vermelho, Escolinha, Curvinha, Curva, Laranjal, Japuíra e Jatobá.

A coleta de dados foi realizada durante o mês de junho de 2017, no município de Juína (MT), quando os indígenas saem de suas aldeias e vão para o centro urbano. Todas as entrevistas foram realizadas no IFMT, Campus Juína, em língua portuguesa. Os indígenas eram acomodados em uma sala e individualmente respondiam as perguntas dos questionários, sendo que, em seguida, gravávamos os seus comentários. Para fazê-lo, utilizamos o gravador digital SONY, que permitiu realizar gravações diretamente no sistema sonoro WAV.

Posteriormente esses dados coletados foram inseridos no programa Pratt e transcritos para que pudéssemos selecionar algumas falas e transcrevê-las neste trabalho. Durante a coleta de dados não consideramos aspectos fonéticos-fonológicos, sendo que a maioria das respostas foram curtas e diretas. Assim, na próxima seção apresentamos a análise desses dados.

3 Análise dos dados

Nesta seção, a partir das respostas dos sujeitos, apresentamos as análises das atitudes linguísticas dos Rikbaktsa, considerando o saber a respeito da língua e o discurso público, assim como os domínios linguísticos e as consequências desse contato de línguas na comunidade de fala. Destacamos em negrito alguns trechos das respostas que consideramos importante para análise. Além disso, também trazemos alguns dados da pesquisa de Mestrado realizada em 2015 para compararmos os resultados obtidos neste trabalho.

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