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4. METODOLOGIA

4.3 Procedimentos metodológicos

De modo geral, os procedimentos metodológicos adotados na pesquisa privilegiam a investigação das ações observáveis nos vídeos que fazem parte do corpus. Sendo assim, a descrição se coloca como uma ferramenta importante de manejo da empiria, em que podemos detectar "padrões, repetições e regularidades para articulá-las com os conceitos operadores, gerando dados para reflexões e considerações mais gerais e abrangentes sobre a empiria" (CORRÊA, 2013, p. 144). Reconhecemos, no entanto, as limitações deste método, que, mesmo quando utilizado com rigor, não deixa de ser permeado pelas interpretações subjetivas da pesquisadora.

Para tratarmos os vídeos selecionados, elaboramos quadros descritivos que têm como base a estrutura proposta por Corrêa (2011), para a análise de comerciais televisivos, e tal escolha se deu pela semelhança do corpus selecionado para esta pesquisa – os comerciais dos

produtos da linha Seda Boom veiculados no YouTube – com essa materialidade. Sendo assim, tivemos como ponto de partida a seguinte tabela:

Tabela 4 Quadro descritivo utilizado para a descrição dos vídeos

Imagem Som Tomada Apresentação da youtuber Situação/ação Cenários /objetos Efeitos visuais Atmosfera /

impressão Texto Trilha Tom/ clima

Fonte: Adaptado de Corrêa (2011, p. 127)

Nas colunas verticais, constam os elementos formais e de conteúdo dos anúncios, divididos em imagem e som. Assim como argumenta Corrêa (2011), a partir da descrição desses elementos conseguimos destacar as normas e valores que permeiam a relação entre as

youtubers e o(s) produto(s) anunciados. Nas colunas relativas à imagem, descrevemos a apresentação de cada youtuber, destacando quais características (aparência, idade, etnia, corpo, vestuário, gestos e etc) são mais presentes nos vídeos e ajudam a construir o ideal de feminilidade proposto pela marca. Utilizando-se dessas mesmas ferramentas descritivas, podemos detectar ainda quais os papeis destinados a cada youtuber e como elas o performam, como exemplo, o papel de modelo, amiga confidente, consumidora, etc.

Já nas colunas relacionadas à descrição do som, observa-se a locução utilizada em cada vídeo, se ela se dirige ao público direta ou indiretamente. Essas informações, de acordo com Corrêa (2011, p. 126),

são importantes para que detectemos as maneiras de dizer, isto é, a enunciação. Observa-se como se dá a interação entre a peça e o público, a partir do posicionamento dos agentes do discurso. Buscamos descobrir aqui quem fala, como fala, e para quem fala.

Neste sentido, demonstramos a nossa preocupação com a linguagem utilizada nos vídeos, pois, de acordo com Quéré (2018, p. 38),

a linguagem também desempenha um papel importante na compreensão que temos de nós mesmos e de nossas práticas ordinárias. Na verdade, é nela e por ela que se torna possível formular o horizonte de valores, a textura das pertinências ou as caracterizações do desejável em função das quais nos orientamos e qualificamos nossas ações e nossas condutas interiores.

Laura Corrêa (2011, p. 126) argumenta, ainda, que o som possui função de texto, e que deve-se prestar especial atenção aos verbos utilizados em cada comercial, pois estes

dizem de “práticas adequadas aos sujeitos nessas construções midiáticas”. Neste sentido, assumimos nossa inspiração na perspectiva pragmatista, que, conforme França (2016), trata da investigação das gestação das ideias, discursos e representações no campo da prática, das ações. Simões (2012, p. 107), destaca que, na abordagem pragmatista, "é fundamental que o pensamento se realize ancorado na ação, tendo sempre em vista os seus desdobramentos possíveis".

Ainda na segunda fase, também adotamos como prática descritiva a observação das informações quantitativas disponíveis em cada vídeo postado no YouTube, como número de

likes, dislikes, visualizações e comentários, e também as informações quantitativas relativas à presença de cada youtuber na plataforma, como o número de inscritos e data de criação do canal. Tal procedimento tem o objetivo de fornecer informações contextuais sobre a recepção/repercussão de cada comercial, auxiliando na compreensão do contexto de cada vídeo.

Ao final da elaboração de cada quadro descritivo, fizemos observações gerais sobre o vídeo analisado, unindo novamente imagem e som e observando aspectos como a abordagem, a intertextualidade – isto é, o reconhecimento de outros textos aos quais ele faz referência, posto que, numa perspectiva bakhtiniana, nenhum texto é completamente autônomo nem vinculado e está sempre em interação com outros textos (MARTINO, 2017) –, o contexto criativo principal e a argumentação utilizada.

Para a terceira fase, cada quadro descritivo elaborado teve como procedimento inicial a observação das semelhanças e diferenças encontradas em cada vídeo, em que o contraste é utilizado como método (CORRÊA, 2011). Na empiria a ser contrastada, observamos as confluências e divergências encontradas em “falas, gestos, ações, palavras, adjetivos, verbos, posições, de forma a identificar as diferenças e as relações entre os discursos sobre a campanha pesquisada” (ibidem, p. 130).

Nesta etapa, construímos parâmetros de comparação que se estruturam em três eixos exploratórios, que, por sua vez, se baseiam na discussão teórico-conceitual apresentada no terceiro capítulo dessa dissertação. São eles:

A) A representação (O que é feito? Como é feito? Como aparece? O que aparece?) B) Os valores (O que é colocado como desejável/indesejável?)

Para evidenciarmos especificamente a emergência de posições valorativas nas interações dos vídeos analisados, elaboramos, ainda, um quadro de identificação das expressões positivas (o que é colocado como desejado) e negativas (o que é colocado como indesejado) que aparecem em cada vídeo analisado. A organização dessas expressões em quadros nos auxilia, ainda, a identificar a frequência com que determinadas expressões, positivas ou negativas, aparecem nos vídeos, nos ajudando a compreender como determinados comportamentos, características e/ou práticas podem ser consideradas como normativas ou não.

Tabela 5 – Quadro de identificação de expressões valorativas

Expressões positivas (o que é incentivado, desejado, valorizado) Expressões negativas (o que é desencorajado, indesejado, desvalorizado) YouTuber/Vídeo analisado Fonte: A autora (2019)

Ademais, munidas dessas ferramentas analíticas, esperamos atingir nosso objetivo geral de observar quais valores e representações de mulher negra são acionados por Seda e por suas embaixadoras em torno da temática da transição capilar. A seguir, apresentaremos os resultados encontrados no processo de análise.