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2. Metodologia

2.3 Procedimentos

O estudo realizado, de abordagem narrativa, teve a sua amostra recolhida por conveniência. A partir de um primeiro contacto, agendaram-se as entrevistas a dois participantes em diferentes momentos. O local e a hora da entrevista foram acordados com os participantes. Após a aprovação dos participantes em colaborar com a investigação, o projeto do estudo foi-lhes apresentado juntamente com o Consentimento Informado (Anexo – B), de modo a garantir a privacidade e confidencialidade dos participantes e de acordo com os princípios específicos do código deontológico e ético de investigação dos psicólogos portugueses (2011). Foi agendada uma visita com cada participante, conforme a disponibilidade de cada um e o contacto foi realizado com pessoas capacitadas a dar a entrevista, que já tiveram o cancro, entre os géneros masculino e feminino, com idades compreendidas entre os 35 e 55 anos, que não apresentaram déficits cognitivos ou transtornos mentais graves, e que, por fim, se disponibilizaram a colaborar com a investigação.

Na presente investigação, utilizou-se dois métodos de recolha de dados: o método extraído de entrevistas áudio-gravadas e depois transcritas e, as sínteses de dois livros autobiográficos de indivíduos que escreveram sobre a experiência que tiveram com o cancro. No que concerne às entrevistas, a duração variou entre ½ e 1 hora aproximadamente, acompanhadas por um guião de questões abertas semi-estruturadas, aplicadas pelo investigador que explicou o objetivo do estudo aos participantes e solicitou-lhes que narrassem a história das suas vidas a partir do diagnóstico do cancro. As entrevistas foram áudio-gravadas, com a utilização de um gravador e transcritas para um computador. Após as entrevistas, o investigador apontou algumas notas das expressões e a forma como cada entrevistado descreveu a sua experiência de vida. Efetuaram-se três entrevistas, em dois momentos diferentes, sendo duas entrevistas aplicadas a um mesmo participante em duas datas. Num primeiro momento foi aplicada uma questão aberta (anexo B), e

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a partir do conteúdo narrativo desta entrevista, em consonância com a literatura, elaboraram-se mais 6 questões abertas (anexo B), aplicadas num segundo momento e com datas diferentes agendadas aos participantes. Relativamente à síntese dos livros autobiográficos, após uma leitura geral de cada livro e consoante as questões do segundo guião de entrevista (anexo B), com os conteúdos narrativos sublinhados durante uma primeira leitura, o investigador procurou dar respostas às 6 questões abertas do guião. Para a interpretação das narrativas foi efetuada a transcrição integral e exata das entrevistas, abarcando todo o contexto envolvente. Embora o processo da transcrição dos dados possa ser visto de forma demorada e frustrante e, por vezes, aborrecido pode ser um excelente modo de começar a familiarizar-se com os dados (Riessman, 1993). Para além disso, alguns investigadores argumentam que este processo deve ser considerado como uma fase chave da análise dos dados de metodologia qualitativa interpretativa (Bird, 2005) e reconhecida como um ato interpretativo, em que os significados são criados, em vez de um ato simplista de colocar sons falados em papel (Lapadat & Lindsay, 1999).

A Metodologia desta investigação foi realizada à luz da análise temática. Segundo Boyatzis (1998), a análise temática é um método que serve para identificar, analisar e relatar temas no conteúdo dos dados, é organizada minimamente e descreve o conjunto de dados em detalhe. Conquanto, a análise temática também ajuda na interpretação de muitos aspetos da investigação. Alguns destes primeiros códigos vão de encontro às temáticas encontradas na atual revisão de literatura. Na análise dos dados, o investigador optou por utilizar dois modos de análise, o modo indutivo e o modo dedutivo. O modo indutivo corresponde a uma abordagem mais específica, onde os temas estão fortemente ligados aos próprios dados (das entrevistas, e dos extratos dos livros), e o modo dedutivo que está relacionado com questões mais teóricas relacionadas com a investigação e com as questões de investigação da presente dissertação (Braun & Clarke, 2006). As análises das narrativas foram realizadas de acordo com a metodologia narrativa de duas formas diferentes. Primeiro, do ponto de vista estrutural, como as narrativas foram estruturadas, ou seja, como os participantes responderam ao convite para escrever a sua história (Riessman, 1993). A segunda análise centrou-se no conteúdo das narrativas, como os participantes descreveram as suas experiências. Depois de familiarizar-se com os dados e criar os primeiros códigos, o investigador decidiu concentrar-se na codificação seletiva: (1) no que os participantes escreveram sobre suas experiências ao receber o diagnóstico e o impacto causado pela doença; (2) sobre a utilização de descrições emocionais; (3) o que escreveram acerca da família e dos amigos e o acolhimento da equipa multidisciplinar; (4) os efeitos secundários durante e após os tratamentos; (5) as mudanças e transformações que lhes ocorreram a nível pessoal, familiar e social; (6) e outros temas relevantes nas narrativas. Todas as declarações relacionadas com estes temas foram identificadas manualmente e por marcadores coloridos de um computador, de modo

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a criar diferentes códigos, onde todos os relatos foram submetidos aleatoriamente à análise pelo investigador.

Portanto, após ter passado por cinco fases do processo de análise descrito da tabela 3 no ponto 3.4, foi tomada a decisão, pelo investigador, sobre a codificação seletiva, independentemente da qualificação ou classificação dos dados. Numa última fase, comparou-se a análise dos dados e os desacordos encontrados foram submetidos a uma análise, a fim de obter validade dialógica (Kvale, 1996). A investigação dialógica revela-se como uma possibilidade concreta para a realização de um exercício de liberdade de pensamento e de uma experiência de construção de conhecimentos e valores através do diálogo, da investigação, da vivência e do questionamento crítico permanente. Esta tem como princípios metodológicos, o diálogo e a investigação, onde o envolvimento através do diálogo, da troca reflexiva de argumentos e o exercício da investigação como base de aprofundamento temático proporcionam a descoberta das incertezas ao mesmo tempo em que permite também a assunção da perplexidade. No entanto, a investigação e o diálogo promovem um processo de desenvolvimento de habilidades e de competências tanto do ponto de vista da aquisição de conhecimentos, como de habilidades de relacionamento, convivência e autoconhecimento, certamente, abrangidos neste processo de análise das narrativas do cancro (Sofiste, 2007).

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