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PROCEDIMENTOS PARA A APREENSÃO DAS HISTÓRIAS DE VIDA

A etapa de procedimento para obtenção das histórias de vida desenvolveu-se em três momentos: contato prévio e identificação dos colaboradores do estudo; formação da rede; e apreensão das narrativas dos colaboradores acerca de suas histórias de vidas.

No primeiro momento, as pesquisadoras realizaram visita técnica ao prédio sede da antiga Colônia São Francisco de Assis, buscando conhecer um pouco acerca de sua estrutura e obter informações concretas sobre os egressos. Observou-se o quão amplo era o terreno e o espaço intramuro disponibilizado para os pacientes. Poucas construções estavam preservadas, podendo ser listadas: um prédio que funcionava como farmácia/enfermaria e hoje é utilizado como uma espécie de almoxarifado de um órgão público; uma ou duas casas onde ainda

residia um casal de idosos ex-doentes que, mesmo após a desativação daquela instituição, optou por permanecer em sua casa sob os cuidados de terceiros.

Na oportunidade, após uma apresentação formal, foi possível conhecer o interior da residência e um de seus proprietários, que não pôde dispor de nenhuma informação acerca da vida na colônia e também dos egressos devido às limitações de seu estado de saúde. O outro proprietário do imóvel se encontrava hospitalizado.

No mais, as duas pessoas responsáveis pelos cuidados dispensados ao casal eram filhas de um egresso e viveram muitos anos no educandário. A partir de então, as primeiras informações sobre a colônia e os egressos foram levantadas. A existência e um pouco da história do Conjunto Nova Vida foram registrados.

No segundo momento, foi possível detectar o Conjunto Nova Vida, não mais com trinta casas, e sim com um número maior de residências. Na ocasião, após conversas informais com alguns moradores, identificaram-se os egressos e buscou-se uma aproximação individual e harmoniosa. Fizeram-se as devidas apresentações e orientações acerca dos objetivos e da relevância social do estudo e, em seguida, foram convidados a participarem do mesmo.

Objetivando o desenvolvimento de um vínculo afetivo, de confiança e respeito, realizou-se outro encontro agendado em conformidade com a disponibilidade dos colaboradores. Em um momento posterior, após breve entendimento das histórias de vida dos colaboradores, escolheu-se um destes para representar o ponto zero do estudo por conhecer os nomes e endereços dos outros egressos, considerando-se que foi um dos primeiros moradores da colônia. Desta forma, formou-se a rede do estudo a partir do ponto zero.

No terceiro momento, ocorreu a apreensão das narrativas dos colaboradores acerca de suas histórias de vidas através de entrevistas, de 15 a 18 de abril de 2010, respeitando-se as fases da pré-entrevista, entrevista e pós-entrevista.

A pré-entrevista foi realizada mediante visita domiciliar a cada colaborador a fim de preparar o encontro para aplicação das entrevistas. Neste momento, tais indivíduos foram informados acerca dos objetivos e do caráter científico e confidencial do estudo, da utilização de um recurso de áudio ou multimídia para gravação da narrativa, de um caderno de campo para registro de anotações pertinentes, bem como da necessidade de um ambiente tranquilo, capaz de proporcionar o máximo de privacidade e, principalmente, da importância de sua participação e do envolvimento com o estudo.

Após o aceite do convite, um novo encontro para a realização das entrevistas foi agendado de acordo com a disponibilidade de cada colaborador, determinando, assim, o local, a data e a hora prevista.

Entendendo a necessidade de manter um clima de serenidade sem interferência de sons e ruídos, cada colaborador definiu um cômodo de sua casa para melhor gravação da entrevista. Neste momento, foram solicitados a assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), autorizando o desenvolvimento do estudo.

Conforme Meihy (2002), antes da coleta dos depoimentos, algumas informações pertinentes foram gravadas como a data, o local e a hora da entrevista. Ainda, desejando proteger a identidade do colaborador e também evitar exposição e constrangimento, solicitou- se que cada um escolhesse um nome fictício. Considerando que o surgimento da lepra perpassa pelas histórias bíblicas, sugeriu-se que os homens optassem pelos nomes dos apóstolos e que as mulheres utilizassem qualquer nome bíblico feminino.

No decorrer das entrevistas, perceberam-se as emoções dos colaboradores ao relembrar de forma tão precisa e real os acontecimentos marcantes de suas vidas. As expressões faciais, a entonação da voz, o silêncio esculpido entre as falas, as lágrimas vertidas dos olhos, a mudança repentina do discurso revelaram um jogo paradoxal de sentimentos marcados pela dor, pela angústia, pelo sofrimento, pela alegria, pelo alívio, pelo acolhimento. Ademais, observaram-se nos depoimentos a marcante presença de um passado-presente ou um presente-passado na vida desses indivíduos.

Corroborando tais achados Meihy (2002, p.110) elucida que:

A capacidade de narrar está na anuência e no estado psicológico do depoente, que pode sim, decidir sobre os rumos finais da entrevista. A história oral de vida é o retrato oficial do depoente. Assim, a verdade está na versão oferecida pelo narrador, soberano para revelar ou ocultar casos, situações e pessoas.

Tendo em vista que as questões de corte foram formuladas em grandes blocos e que se disponibilizou tempo suficiente para que os colaboradores discorressem livremente sobre suas experiências pessoais, em alguns momentos, evidenciou-se a fuga nas narrativas desses indivíduos, sendo indispensável a interrupção da entrevistadora.

Ainda, houve interferência da mesma no sentido de esclarecer e até obter o máximo de informações possíveis em cada relato, uma vez que alguns colaboradores foram sintéticos ou mesmo omissos na narração de acontecimentos marcantes de suas vidas.

Ao término de cada entrevista, foram procedidos aos devidos agradecimentos aos colaboradores do estudo pela doação, pelo retorno ao seu passado simbólico e pela narração de suas histórias de vidas. Na oportunidade, agradeceu-se aos familiares pela atenção, receptividade e contribuição significativa para o desenvolvimento deste estudo.