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Entendemos a interpretação de dados como um

[...] processo de busca e de organização sistemático de transcrições de entrevistas, de notas de campo e de outros materiais que foram sendo acumulados, com o objectivo de aumentar a sua própria compreensão desses mesmos materiais e de lhe permitir apresentar aos outros aquilo que encontrou (BIKLEN; BOGDAN, 1994, p. 205).

Desse modo é que pretendemos apresentar os dados produzidos no campo que se mostraram interessantes na elucidação das questões suscitadas no decorrer do trabalho, levando em consideração a necessidade de nos cercarmos de alguns cuidados sob pena de não conseguirmos compreendê-los ou então compreendê-los de uma maneira que leve a uma conclusão que comprometa a qualidade do trabalho. A leitura dos dados permitiu percebermos uma repetição de determinados fatores, como, palavras, frases, comportamentos, acontecimentos, que por sua vez geraram um sistema de codificação, desenvolvido a partir da busca e do encontro de regularidades dos fatores supracitados. A partir da regularidade desses fatores foram criadas as categorias de codificação, categorias essas que “[...] constituem um meio de classificar os dados descritivos que recolheu (...), de forma a que o material contido num determinado tópico possa ser fisicamente apartado dos outros dados” (BIKLEN; BOGDAN, 1994, p. 221). Porém, mesmo que estejam apartados fisicamente, não foram analisados de maneira estanque e desconexa dos outros dados e/ou contextos. Sendo assim, explicitamos os tipos de códigos que trabalhamos na interpretação, assim como, a maneira como utilizamos os dados produzidos e coletados no campo.

Portanto, no próximo capítulo, os dados produzidos no campo foram interpretados tendo como referência as questões levantadas no início do trabalho: Como a Capoeira adentra as escolas? Quais fatores são capazes de modificar a própria Capoeira ao adentrar as instituições escolares? O que significa para a Capoeira tornar-se uma dimensão da cultura legitimada no contexto escolar? Ou seja, os dados produzidos no campo, em

diálogo com o referencial teórico debatido no capítulo 2 foram fundamentais para refletirmos as questões supracitadas, nos possibilitando a compreensão do processo de inserção da Capoeira no ambiente escolar. Sendo assim, dividimos o terceiro capítulo em quatro pontos principais: o processo de inserção da Capoeira na escola, a oficina de Capoeira, o espaço utilizado pela Educação Física na escola e a Capoeira na Educação Física, sendo que esses pontos estão relacionados com a interpretação feita dos dados referentes à escola “Barracão do Miranda”. Os dados produzidos na escola “Barracão da Coelho” foram interpretados tendo como foco o viés esportivo presente na Capoeira, sendo o mote da análise o campeonato de Capoeira organizado na escola. Essa discussão abarca o capítulo 5 da presente dissertação. A discussão acerca das questões levantadas juntamente com o referencial teórico e os dados produzidos nos levou a subdividir os pontos de discussão supracitados no intuito de melhor compreendermos o objeto de estudo do presente trabalho. Sendo assim, apresentamos, no próximo capítulo, as interpretações acerca dos dados produzidos na escola “Barracão do Miranda” e, no capítulo seguinte, apresentamos as interpretações acerca dos dados produzidos na escola “Barracão da Coelho”.

4 CONHECENDO A CAPOEIRA NO AMBIENTE ESCOLAR: O CASO DA E.M.E.F. “BARRACÃO DO MIRANDA”

Neste primeiro momento do capítulo centramos esforços em responder à primeira questão levantada no início do trabalho: Como a Capoeira adentra a escola? Para tal, necessitamos compreender o cotidiano escolar, no sentido de entender suas necessidades, para então analisarmos a inserção da referida manifestação cultural na comunidade escolar. No item 2.3 do capítulo 2, refletimos (pautados em BAUMAN, 1999, 2001) acerca do Estado Moderno e de como ele busca caminhos para a construção e manutenção de uma sociedade ordeira, sem brechas para a ambivalência, a contingência ou algo que o valha. Acreditamos que a escola pesquisada trabalha com uma tese semelhante a do Estado Moderno, sobretudo pelo caos que nela se encontra, como os próprios agentes escolares afirmaram repetidas vezes durante nosso período de observação. Vale ressaltar que nossa reflexão acerca do Estado Moderno (espaço macro), nos possibilitou a compreensão de uma sociedade pautada em uma modernidade líquida, ou melhor, numa transição entre a modernidade sólida e a modernidade líquida e que, ao analisarmos o espaço micro (a escola e sua sociedade), entendemos que ela (a escola), mesmo situada na modernidade líquida, ainda trabalha (ou age) sob os pressupostos da modernidade sólida. Sendo assim, nesse capítulo voltamos a nos apoiar em Bauman (2005) para respondermos à questão supracitada, uma vez que nesta obra ele trata das consequências da busca por uma sociedade ordeira, a saber, os refugos (sobretudo o refugo humano). Portanto, trazemos o “refugo” como categoria de análise acerca do processo de inserção da Capoeira na escola, pois se a escola tem como um dos objetivos que sua comunidade escolar se torne ordeira, isso pode produzir também o fenômeno dos alunos refugados.

Em seguida, refletimos o cotidiano da prática da Capoeira na escola, assunto que trata a segunda questão levantada no início do trabalho: Quais fatores são capazes de modificar a própria Capoeira ao adentrar nas instituições escolares? Essa questão foi levantada porque acreditávamos que a Capoeira, tendo seus próprios meios de tratar seus saberes, ao entrar na escola, seria modificada pela estrutura escolar, mas nos surpreendemos ao constatar, não pela análise do grupo (estudado) de Capoeira fora da escola, e sim, por meio de estudos em Marinho (1981) e Itapoan (1982), dentre outros, além de nossa própria vivência no mundo capoeirano, que ela (a Capoeira) entra na escola com alguns

aspectos da “forma escolar”, sendo, portanto pouco modificada. Também percebemos que a Capoeira atende não só às demandas da escola, como também as suas próprias demandas, valendo-se de uma constante ambiguidade: conformismo e resistência. Sendo assim trabalhamos com a categoria “forma escolar” para entendermos a dinâmica interna da Capoeira presente na escola estudada.

Fruto da análise da Capoeira na escola, elencamos mais uma categoria, mais específica ao mundo capoeirano: “deslocamento”. Tal categoria se mostrou relevante, pois por muitas vezes presenciamos o mestre dizer que é preciso que o capoeirista viaje, visite outras rodas ao invés de ficar apenas em seu local de aprendizado (a escola), enfocando assim a discussão acerca dos deslocamentos virtuais característicos da modernidade líquida e a necessidade do deslocamento físico dos corpos dos capoeiristas para a materialização do jogo da Capoeira.

Diante do exposto, iniciamos a discussão (pautada na interpretação dos dados produzidos no campo e no referencial teórico) acerca do processo de inserção da Capoeira na escola, com a questão acerca do modo como a Capoeira adentra as escolas, pela categoria denominada refugos e de seus desdobramentos.