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Procedimentos para a realização das indenizações

O procedimento de remanejamento da população atingida é um processo social muito complexo, devendo ser amplamente planejado pela concessionária responsável pela construção da Usina Hidrelétrica. É Necessário amplo conhecimento da região onde se situa o empreendimento para que se obtenha eficácia no processo de remanejamento.

Para que isso aconteça, o planejamento da construção é dividido em diversas etapas de estudo e programas, visando obter informações detalhadas para estabelecer um perfil socioeconômico e cultural dos grupos afetados, buscando averiguar as peculiaridades de cada caso.

As etapas de estudo e planejamento são: - Estudos de Inventário;

- Estudos de Viabilidade; - Projeto Básico; e

-Projeto Executivo/Construção/Operação.

Nos Estudos de Inventário, deverá ser realizado o exame preliminar de alternativas de tratamento do ambiente regional e da população que poderá ser atingida, incluindo estimativas de custos para a realização do remanejamento dos grupos populacionais, elementos de infraestrutura, dentre outros componentes da vida da comunidade.

Para isso, os estudos deverão considerar, de forma integrada, os aspectos relativos às dinâmicas econômica, social e ambiental, visando à caracterização do potencial de desenvolvimento da região e dos obstáculos à sua realização.

Na etapa de Estudos de Viabilidade, segundo o PDMA/Eletrobrás, os estudos deverão ser aprofundados, de modo a possibilitar:

• a formulação de critérios gerais para o remanejamento da população;

• a elaboração de anteprojetos alternativos de reassentamento; • a caracterização dos grupos sociais, dos atores políticos e dos interesses envolvidos no remanejamento da população;

• a identificação das lideranças e dos legítimos interlocutores com quem a empresa negociará;

• o início das negociações em torno dos critérios básicos e dos anteprojetos;

• a formulação de cronogramas de atividades e a avaliação do custo das alternativas para o remanejamento; e

• o início dos entendimentos com parceiros institucionais envolvidos no remanejamento, visando alocar responsabilidades e custos. (II PDMA, 1990, p. 40)

Ainda, durante essa etapa, deve ser apresentado aos atingidos e a população em geral os impactos, tanto positivos como negativos, gerados pelo empreendimento.

Deverá ser começada, nesta etapa, a participação ativados grupos locais e dos parceiros institucionais, seja na identificação e qualificação dos impactos sociais do intercâmbio empreendimento-região,seja através de auxílios para a concepção e priorização das ações de mitigação e compensação de impactos negativos, ou ainda do aproveitamento das oportunidades de desenvolvimento da atividade econômica regional.

Durante a etapa do Projeto Básico, deverão ocorrer as negociações com os grupos atingidos, definindo os critérios que irão nortear o remanejamento e o projeto de reassentamento da população. Deverão ser firmados os convênios com os parceiros institucionais e assegurados os recursos necessários para o remanejamento da população, onde se destacam providências para aquisição de terrenos para reassentamentos.

Conforme o PDMA/Eletrobrás (1990, p.30), “Deverão ser detalhadas as ações definidas na etapa anterior, além de outras que vierem a ser identificadas como resultado do desenvolvimento dos estudos.Dada a particularidade das ações socioambientais, é imprescindível a adoção de uma estratégia preventiva de forma a assegurar a implantação, já nesta etapa e, portanto,antes do início da construção, de alguns programas e ações que se fizerem necessários.”

Por fim, o Projeto Executivo/Construção/Operação, como o próprio nome já refere, é a etapa na qual ocorre a execução da obra.

Durante o Projeto Executivo/Construção, deverá enfatizar a prática das ações definidas e delineadas nas fases anteriores, podendo – até mesmo – indicar novas ações a serem implementadas.

Já na Operação, estabelece o PDMA/Eletrobrás:

As atividades relacionadas à coordenação permanente de ações entre a concessionária, usuários dos recursos naturais e os parceiros institucionais devem ser enfatizadas, assegurando-se a aplicação do Plano Diretor do Reservatório, assim como de medidas dele decorrentes, tais como as de manejo do reservatório e da bacia hidrográfica, segundo os critérios de uso múltiplo dos recursos hídricos. Ressalta-se a importância, nesta etapa, do monitoramento sócio-ambiental, das medidas de manejo e controle que forem indicadas. Estas ações combinam arranjos legais e administrativos, incentivos ou desincentivos monetários, assistência técnica, educação e pesquisa e investimento público direto, entre outros. (II PDMA, 1990, p. 30).

Desta forma, conclui-se o ciclo de planejamento, com as etapas bem definidas, de modo a possibilitar um processo de remanejamento eficaz e justo.

CONCLUSÃO

Do presente estudo, podemos concluir que o processo de construção da Usina Hidrelétrica Panambi, no município de Alecrim, no Rio Grande do Sul deve trazer profundas mudanças para a comunidade. Essas alterações ocorrem, principalmente, no aspecto econômico e social, trazendo pontos positivos e negativos para os atingidos e a comunidade.

Na parte social, ocorrem as alterações mais preocupantes, uma vez que, devido ao alagamento gerado pela construção da hidrelétrica, as pessoas atingidas devem procurar outros lugares para residir ou laborar, deixando para trás – total ou parcialmente – sua cultura e seus costumes, sendo a comunidade, casas e comercio construídos, na maior parte dos casos, em torno do rio, sua vizinhança e amigos, grupos religiosos, de recreação e lazer da comunidade, dentre outros, há necessidade de reconstruir as relações sociais e culturais em outro local, muitas vezes completamente diferente do que estão acostumados.

Na questão econômica, verifica-se que várias famílias devem perder suas moradias e imóveis utilizados para o labor, principalmente as áreas utilizadas no cultivo de grãos e na pecuária. Além destas pessoas que perdem suas propriedades, existem outras que obtém seu sustento através do Rio Uruguai, através da pesca, turismo, etc., tornando sua atividade laboral prejudicada.

Embora existam impactos malignos na parte econômica, também existem benefícios para todos os agentes da sociedade, desde os municípios com a compensação financeira pela utilização de recursos para a geração de energia e os investimentos em infraestrutura, a comunidade pela geração de empregos e o

impulso ao comércio, indústria e serviço, de modo que vislumbra-se perspectivas econômicas mediante a necessidade de investimentos em infraestrutura para a demanda da indústria.

Com relação as indenizações, concluímos que o processo de indenização/realocação deve observar alguns princípios básicos, dentre os quais se destacam a recomposição dos danos causados e a não redução da renda familiar.Da mesma forma, algumas diretrizes básicas devem ser observadas. Tais normatizações devem abordar os aspectos sociológicos, culturais, econômicos, estruturais e geográficos da região afetada, dentre outros.

Com relação aos critérios para a indenização, compreende-se que está deve ser “justa”, indo ao encontro com os princípios básicos anteriormente referidos, devendo ser adotadas as normas preconizadas pelas NBR 14.653-1, NBR 14.653-2, NBR 14.653-3, NBR 14.653-4 que se referem às avaliações dos bens.

Já do complexo processo de remanejamento da população atingida, compreendemos que é necessário o conhecimento da região onde se situa o empreendimento para que se obtenha eficácia no processo de remanejamento.O planejamento da construção é dividido em diversas etapas de estudo e programas, visando obter informações detalhadas para estabelecer um perfil socioeconômico e cultural dos grupos afetados, buscando averiguar as peculiaridades de cada caso.

Tal processo é dividido em 4 etapas:Estudos de Inventário, Estudos de Viabilidade, Projeto Básico, e Projeto Executivo/Construção/Operação, necessários para fins de continuidade nas atividades. As etapas devem ser bem definidas e esquematizadas, de modo a possibilitar um processo de remanejamento mais justo e eficaz.

Por fim, confirma-se a hipótese apresentada no projeto inicial, uma vez que a indenização deve recompor os danos causados pela construção da hidrelétrica de maneira justa, de forma que suas consequências não acarretem na redução da renda familiar. Ainda, deve buscar a redução dos impactos sociais gerados pela realocação das famílias atingidas.

Portanto, o presente trabalho de conclusão de curso, mesmo não exaurindo a matéria, compõe uma nascente pesquisa para novos estudos futuros, pois transmitem ao leitor um ensinamento normativo e doutrinário atualizado. Almejamos ter conseguido alcançar o objetivo proposto na presente pesquisa, com a abordagem dos critérios e procedimentos para a indenização aos atingidos pela Hidrelétrica Panambi.

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