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2 REVISÃO DA LITERATURA

4.5 PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE DOS DADOS

Os procedimentos analíticos aqui expostos para interpretação das narrativas se pautam na Triangulação. Há que se destacar que o termo Triangulação pode ser utilizado em três dimensões diferenciadas, dependendo do contexto em que é empregado, comportando, portanto, divergências conceituais, o que pode levar a equívocos na sua interpretação e compreensão.

Em uma primeira dimensão Triangulação é utilizada para avaliação aplicada a programas, projetos e disciplinas. No processo avaliativo, sua conceituação torna-se abrangente e complexa, abarcando diferentes variáveis, dentre elas, a necessidade de se ter presente avaliadores externos, além dos internos, e que preferencialmente sejam de formações distintas, possibilitando a harmonização e o cruzamento de diversas percepções do assunto estudado; a realização de pesquisas quantitativas e qualitativas; a análise da conjuntura, dos fatos históricos, dos processos relacionais estabelecidos, das representações, percepção de múltiplos informantes e a utilização de uma diversidade de técnicas de coleta de dados inerentes ao trabalho investigativo (MINAYO, 2010).

No que tange à coleta de dados, a Triangulação permite que o pesquisador possa lançar mão de três técnicas, ou mais, com vistas a ampliar o universo informacional em torno de seu objeto de pesquisa, utilizando-se, para isso, por exemplo, do grupo focal, da entrevista, da aplicação de questionário, dentre outros.

Numa terceira dimensão, tem-se o emprego da Triangulação para análise das informações coletadas. Nesse sentido, a técnica prevê dois momentos distintos, que se articulam dialeticamente, favorecendo uma percepção de totalidade acerca do objeto de estudo e a unidade entre os aspectos teóricos e empíricos, sendo esta articulação a responsável por imprimir o caráter de cientificidade ao estudo. O primeiro momento diz respeito à preparação dos dados empíricos coletados, mediante diversos procedimentos a serem adotados. Esses procedimentos são representados por etapas sumárias que visam à organização e ao tratamento das narrativas. Para Minayo (2010), o segundo momento se refere à análise propriamente dita, que implica a necessidade de se refletir sobre: primeiro, a percepção que os sujeitos constroem sobre determinada realidade; segundo, os processos que atravessam as relações estabelecidas no interior dessa estrutura e, para isso, a recorrência aos autores que se debruçam sobre tais processos e a temática trabalhada na pesquisa são imprescindíveis; terceiro, as estruturas que permeiam a vida em sociedade.

Dito isso, conclui-se, portanto, que, na análise por Triangulação, está presente um

modus operandi pautado na preparação do material coletado e na articulação de três aspectos

para proceder ao tratamento dos dados: o primeiro aspecto refere-se às informações concretas levantadas com a pesquisa, ou seja, os dados empíricos, as narrativas dos entrevistados; o segundo aspecto compreende o diálogo com os autores que estudam a temática em questão; o terceiro aspecto refere-se à análise de conjuntura, entendendo conjuntura como o contexto mais amplo e mais abstrato da realidade. Essa articulação entre narrativas dos entrevistados, reflexão teórica dos autores e análise de conjuntura configura-se como uma possibilidade, dentre várias outras, para os que se propõem minimizar a distância que muitas vezes se apresenta entre os fundamentos teóricos e a prática da pesquisa (GOMES, 2004; GOMES et al., 2010).

A partir do entendimento dessas três dimensões, salienta-se que, no estudo em questão, a Triangulação foi utilizada para análise qualitativa das narrativas. Nesse processo interpretativo, realizou-se, primeiramente, um valoroso estudo fenomênico e técnico das informações primárias coletadas, em si mesmas e à exaustão. Posteriormente, num segundo movimento analítico, as narrativas orais foram contextualizadas, analisadas, criticadas, confrontadas e trianguladas.

A organização do primeiro processo interpretativo, qual seja, valorização fenomênica e técnica das informações coletadas, ocorreu mediante três etapas: primeira - preparação e reunião dos dados; segunda - avaliação de sua qualidade; terceira - elaboração de categorias de análise.

Na primeira etapa, houve transcrição das entrevistas gravadas. Aqui se dedicou atenção à entonação da voz, aos silêncios, à ênfase em palavras ou expressões, dentre outras observações compreendidas como importantes. À medida que foram lidas as transcrições, realizaram-se as marcações daquilo que se considerou relevante na narrativa, tendo em conta os eixos estruturadores da pesquisa, seguidos de edição das narrativas e a análise propriamente dita.

Em relação aos aspectos éticos, os documentos coletados, únicos e insubstituíveis, foram copiados em arquivo de papel e mídia digital. Após, foram guardados em lugar seguro por parte da pesquisadora, onde deverão permanecer por cinco anos, quando, então, serão destruídos. Quanto às cópias dos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido assinados pelos entrevistados, foram também guardados, devendo permanecer por cinco anos, assim como os demais documentos.

Na segunda etapa, foi realizada a avaliação dos dados primários coletados, sendo esta fase considerada como uma pré-análise. Os objetivos do estudo foram retomados e, após, dado início à discussão das categorias anteriormente estabelecidas. A seguir, as narrativas orais foram trabalhadas no sentido de refletir, contextualizar, exemplificar e elucidar as diversas dimensões do estudo que se queria realizar. E, por fim, os dados qualitativos foram tratados no sentido de conferir sustentáculos para as conclusões.

No segundo movimento analítico, foi realizado o estudo contextualizado e triangulado das informações, objetivando à reconstrução teórica do contexto.

A primeira etapa deste segundo momento caracterizou-se pela leitura aprofundada do material selecionado de forma a imbuir-se do conteúdo a fim de atingir uma percepção do conjunto e ao mesmo tempo apreender as singularidades contidas nessa totalidade parcial, ou seja, a compreensão da visão que os assistentes sociais têm da educação permanente e de seus reflexos na qualidade dos serviços prestados, no contexto mais amplo das políticas sociais, do SUAS, das mudanças operadas na relação Estado e sociedade desde os anos de 1990, entre outros aspectos.

A elaboração de alguns questionamentos contribuiu para esta investigação, tais como: se existiam elementos ou aspectos que tivessem características comuns nas falas apresentadas, se existiam posicionamentos distintos em decorrência de alguns profissionais pertencerem aos CRAS e outros às organizações sociais, se os temas, assuntos, opiniões ou dificuldades mantinham relação entre si, se a modalidade de capacitação oferecida num município era diferenciada de outro e em que dimensão. Esses questionamentos contribuíram para o aprofundamento das informações coletadas que, uma vez respondidas, permitiram partir para a investigação de um quadro mais resumido e mais claro de categorias e vetores orientadores da interpretação.

Como o propósito desta investigação qualitativa não foi quantificar diferentes pontos de vista e ideias sobre uma mesma realidade estudada, mas sim explorar a sua diversidade, não se justificou, portanto, partir de uma considerável amostra formada por um número expressivo de sujeitos. Acredita-se que opiniões e representações acerca da necessidade e importância da educação permanente dos assistentes sociais têm limites. Embora as necessidades possam parecer únicas aos profissionais, a representação dessas necessidades não surge das mentes individuais, porque em alguma medida elas são resultados de um ideário coletivo, que, no caso do Serviço Social, é o Projeto Ético-Político Profissional. Portanto, as necessidades de uma categoria profissional específica são, em parte, ou talvez, quase na totalidade, partilhadas.

Posteriormente, na segunda etapa, a investigação da percepção que os assistentes sociais possuem da educação permanente e de seus reflexos na qualidade dos serviços prestados foi ancorada no diálogo com autores que tratam questões pertinentes às categorias de análise emergidas das falas dos entrevistados. Portanto, em face da necessidade de esclarecimento tanto das categorias quanto dos diversos elementos que foram compondo as narrativas, dentre outras variáveis analíticas, justifica-se a importância da recorrência aos autores.

Como na investigação científica, a intenção do pesquisador se pauta na ultrapassagem do senso comum, bem como na descentralização das informações coletadas do eixo histórico socialmente condicionado, ou seja, como o propósito é perquirir os sentidos das falas apresentadas e das ações realizadas, para alcance da compreensão e interpretação para além das fronteiras do que é descrito e estudado (GOMES et al., 2010), torna-se imprescindível a interconexão com os autores, aliás, não se alcança tal meta sem o auxílio dos autores que estudam as temáticas pertinentes aos assuntos tratados em qualquer que seja a pesquisa. Nesse sentido, é muito importante ter presente o que Deslandes (2004, p. 36) afirma sobre investigações, ou seja, que independente do tipo de pesquisa científica, ela sempre irá englobar “uma instância coletiva de reflexão.”

Na terceira e última etapa, denominada por Gomes et al. (2010, p. 207) como “ápice da interpretação”, buscou-se trabalhar com as questões mais amplas que articulavam representações não manifestas dos profissionais pesquisados e que foram apresentadas de forma subjacente nas narrativas. Para tanto, procurou-se ir além das narrativas, investigando cuidadosamente as ideias por trás das transcrições das falas, analisando-se, portanto, não somente narrativas orais, mas também o contexto no qual as informações foram geradas. A análise de conjuntura contemplou o contexto societário em termos de análise do sistema capitalista, bem como reflexos dessa realidade macro no cotidiano dos entrevistados, buscou- se também uma articulação entre as informações prestadas pelos profissionais de Serviço Social com as normatizações definidas na NOB-RH/SUAS, no que se referia à educação permanente e com o arcabouço textual da Política de Educação Permanente do conjunto CFESS-CRESS, entendendo que são essas contextualizações que orientaram o olhar sobre os dados.

Na sequência, realizou-se uma reinterpretação, em outras palavras, uma interpretação das interpretações, uma construção de síntese mediante diálogo entre narrativas dos entrevistados, reflexão teórica dos autores e análise de conjuntura, num contínuo movimento dialético, uma análise, que partiu do conhecimento local de como os assistentes sociais

percebem a questão da educação permanente e de seus reflexos na qualidade dos serviços prestados, permitindo que se chegasse, por indução, a uma aproximação com a realidade dos demais municípios do Vale do Paraíba Paulista.

A opção pela análise por Triangulação significou adotar um comportamento reflexivo- conceitual e prático da temática educação permanente sob diferentes perspectivas, o que possibilitou complementar com riqueza de interpretação o objeto de estudo, ao mesmo tempo em que aumentou a consistência das conclusões.

Por fim, partindo-se da compreensão de que os pesquisados são sujeitos históricos e também construtores deste estudo, assumiu-se, diante deles, a postura de responsabilidade, respeito e ética profissional, que transcendeu o contexto da pesquisa. Além disso, tal compreensão levou também a pesquisadora a se comprometer com a devolutiva dos resultados da pesquisa aos profissionais entrevistados, gestores municipais da assistência social e presidentes das organizações sociais.