• Nenhum resultado encontrado

5 A DELEGACIA ESPECILAIZADA EM CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE

5.2 DOS PROCEDIMENTOS POLICIAIS

A notícia do crime chega à DEMA através do público, que comparece à delegacia para registrar Boletim de Ocorrência Policial, através da transferência de BO`s de outras unidades policiais, através de ofício do Ministério Público ou outros órgãos ligados ao meio ambiente como o IPAAM e a SEMMAS e apresentações dos infratores realizadas, principalmente, pelo Batalhão Ambiental da Polícia Militar.

O Ministério Público Estadual, através das promotorias de defesa do Meio Ambiente, recebem denúncias de crimes ambientais e solicitam via oficio sua apuração e levantamento dos elementos probatórios para embasar Ação Civil Pública ou Inquérito Civil.

No âmbito da Secretaria Estadual de Segurança Pública, tem-se as ocorrências de crimes ambientais que chegaram à DEMA através de memorandos das delegacias do interior do Estado ou através de transferência de Boletins de Ocorrência (BO`s) por meio do

36 INFOPOL (sistema anterior) e atualmente apenas pelo SISP, oriundos dos diversos distritos policiais da capital.

Outra fonte de comunicação e registro de crimes ambientais é a apresentação junto à DEMA de presos em flagrante delito que são feitas pelo Batalhão Ambiental da Policia Militar. Todas essas informações são também registradas em BO`s na DEMA ou recebidas via sistema eletrônico, no campo de BO`s transferidos de outras distritais.

Registrados os delitos, inicia-se a apuração que ocorre da seguinte forma: se for através de apresentação do autor do fato delituoso à autoridade policial, verificada a materialidade do fato, providencia a lavratura do Auto de Prisão em Flagrante ou Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e encaminha os autos à Justiça, Vara Especializada do Meio Ambiente (VEMAQA); se for informações recebidas via oficio ou transferência de B.O através do sistema SISP, a autoridade policial emite uma ordem de serviço para constatação do crime ambiental, requisita a perícia do Instituto de Criminalística que emitirá um laudo e, tão logo possível, colhe o depoimento do noticiante e testemunhas.

A referida ordem de serviço é expedida para uma equipe de investigadores que se deslocam até o lugar da suposta prática do crime ambiental a fim de fazer um levantamento da situação, tirar fotos e colher informações que contribuirão para a elucidação da infração. Ao final, é emitido um relatório de constatação de crime ambiental, que juntamente com o laudo de perícia e depoimentos colhidos, servirão de subsídios para que a autoridade policial se convença da pratica ou não do crime ambiental.

Verificada a existência de provas ou indícios suficientes da pratica de crime ambiental a autoridade policial instaura o procedimento que pode ser: Inquérito Policial4 ou Termo Circunstanciado de Ocorrência5. Os Termos Circunstanciados de Ocorrências (TCO) são instaurados nos casos de infrações ambientais de menor potencial ofensivo, ou seja, nas contravenções penais e nos crimes em que a lei comina pena máxima não superior a 02 (dois) anos, cumulada ou não com multa (Lei 11.313/06).

4 Inquérito policial é o procedimento administrativo inquisitorial e consiste em um conjunto de diligências

realizadas pela polícia investigativa para apuração da infração penal em relação à materialidade e à autoria do delito (Art. 4º e seguintes do Código de Processo Penal).

5O termo circunstanciado de ocorrência (TCO) veio com a lei do Juizados Especiais Criminais (Lei 9.099/95) e

serve para infrações de menor potencial ofensivo, que de acordo com o art. 61 da mencionada lei são as contravenções penais e crimes cuja pena máxima não seja superior a 2 anos, cumulada ou não com pena de multa, submetidas ou não a procedimento especial.

Ainda, de acordo com o art. 69 da lei 9.099/95, a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.

37 Os TCO‟s ambientais, instrumento legal importante de informação para repressão e reparação de infrações penais perpetradas contra o meio ambiente é um registro de ocorrência similar ao Boletim de Ocorrência, que dispensa a instauração e substitui o Inquérito Policial (art. 77, § 1º da Lei 9.099/95), com o escopo de substituir o auto de prisão em flagrante delito, limita-se a narrar os fatos e identificar as partes envolvidas em possível infração penal, pautados nos princípios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e na celeridade. É uma peça informativa ao Juizado Especial Criminal. No Amazonas, a Vara Especializada em Meio Ambiente e Questões Agrárias (VEMAQA) consolida as informações essenciais através de procedimentos sumaríssimos.

Jesus (2009) afirma que o legislador teve em mente reduzir a intervenção do Direito Penal e Processual Penal para os delitos menores, a fim de permitir um controle mais eficiente da criminalidade ambiental.

Realizados, os procedimentos legais junto à DEMA, os mesmos são enviados à justiça (Vara do Meio Ambiente/VEMAQA) para serem julgados. Anteriormente, no período de 2008 a 2012, esses procedimentos eram enviados da DEMA para um departamento da própria Polícia Civil encarregado da distribuição dos mesmos à justiça (Departamento de Recebimento, Análise e Distribuição-DRAD).

Atualmente, a partir de março de 2013, os procedimentos criminais lavrados no cartório da Delegacia do Meio Ambiente (DEMA), quais sejam: auto de prisão em flagrante, inquéritos e TCO‟s, são encaminhados eletronicamente à Justiça (VEMAQA), através de um acordo celebrado entre a Corregedoria do Tribunal de Justiça e a Polícia Civil, tendo por escopo o projeto-piloto que une, virtualmente, a DEMA à VEMAQA. Sendo aquela delegacia a pioneira do Estado do Amazonas a virtualizar seus procedimentos, dando-lhes celeridade e transparência, com o objetivo de combater a prescrição processual (causa de extinção do processo pelo decurso do tempo) 6.

6O projeto-piloto que une, virtualmente, a Delegacia do Meio Ambiente do Amazonas (Dema/AM) e a Vara

Especializada do Meio Ambiente e Questões Agrárias (Vemaqa), do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), foi tema de entrevistas concedidas pelo corregedor geral de Justiça do Estado, desembargador Yedo Simões, no último dia 07 , à emissora de rádio e de televisão da capital.

A Vara Ambiental vai trabalhar em parceria com Polícia Civil do Amazonas para que os TCO`s (Termos Circunstanciados de Ocorrência) sejam virtualizados e as audiências designadas imediatamente. Na prática, ao cometer um crime ambiental, o cidadão vai sair da delegacia ciente da data da audiência com o juiz. Segundo o desembargador, a integração das ações evita que os procedimentos legais de tramitação de documentos entre delegacia e Justiça, devido ao tempo, acabem prescrevendo os crimes de menor potencial ofensivo.

Yedo Simões, que também é o coordenador de Tecnologia da Informação do Tribunal, destacou na entrevista que esse projeto trata de um salto de qualidade importante no Judiciário amazonense e que faz parte do processo, inevitável, de virtualização da Justiça. "A importância é que o processo virtual permite celeridade. Traz qualidade na prestação jurisdicional do Tribunal. O processo físico já teve seu tempo. A Vara do Meio Ambiente vai dar o exemplo às demais Varas do Estado e está se adequando com a Polícia Civil para trabalhar com a

38 Se improcedentes, os procedimentos também são enviados para a Justiça para que sejam arquivados. Outro procedimento tomado é o envio das informações colhidas para o órgão solicitador da informação, que em geral é o Ministério Público.

A figura abaixo ilustra o conteúdo esquemático de apuração dos crimes ambientais.

Figura 8 - Procedimentos de Apuração dos Crimes Ambientais pela DEMA.

Fonte: Couto Valle, Izolda, 2012.

Delegacia Ambiental, que enviará os Termos Circunstanciados de Ocorrência (TCOs) totalmente virtualizados", explicou o coordenador, durante entrevista, ao vivo, no programa Bom Dia Amazônia, veiculado na TV Amazonas, emissora que transmite a programação da Rede Globo em canal aberto, no dia 7 de março de 2013.

39 Neste contexto, antes do exame dos crimes ambientais nas Unidades de Conservação da Região Metropolitana de Manaus, é importante que sejam apresentados os dados dos crimes ambientais mais comuns registrados e contabilizados pelo Centro Integrado de Operações de Segurança do Estado do Amazonas, para o período de 2008-2012, conforme se observa na tabela a seguir:

Tabela 1

Registro Anual das ocorrências registradas no CIOPS de Crimes Contra o Ambiente de 2008- 2013 no município de Manaus.

Fonte: CIOPS, 2013

Gráfico 1 - Registro Anual das ocorrências registradas no CIOPS de Crimes Contra o Meio Ambiente de 2008-2013 em Manaus.

Fonte: CIOPS, 2013.

Analisando os dados anteriores (Tabela 1), verifica-se que o ano de 2009 foi o de maior incidência de crimes ambientais; porém a partir desde ano, o número de crimes foi decrescendo. Observa-se, ainda que os meses de agosto e setembro, de 2008 a 2013, são os

Serviço Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez TOTAL

2008 0 0 3 1 3 6 35 32 37 19 18 12 166 2009 13 29 22 23 16 14 36 125 173 97 54 38 640 2010 29 14 31 20 19 44 33 78 112 65 40 33 518 2011 20 18 23 36 36 49 69 121 68 44 23 21 528 2012 20 13 23 9 19 23 32 68 58 34 28 9 336 2013 5 3 6 5 13 24 18 50 79 43 15 15 276

40 que mais registraram crimes. Essa incidência de crimes pode ter sido ocasionada pelas queimadas, que é típica nesta época do ano.

Quadro 1 - Registro Anual das ocorrências registradas no CIOPS de Crimes Contra o Meio Ambiente de 2008-2013 de acordo com a natureza do delito, no município de Manaus.

NATUREZAS 2008 2009 2010 2011 2012 2013

INCÊNDIO EM VEGETAÇÃO 63 409 177 215 203 118

CRIME AMBIENTAL 63 191 323 307 126 9

INFRAÇÃO DE AMBIENTAIS 28 20 9 4 0 0

POLUICAO/DANOS A SAUDE DO HOMEM,

ANIMAIS OU DA FLORA 0 0 0 0 0 51

CORTE DE ARVORES EM FLORESTA DE

PRESERVACAO PERMANENTE 0 0 0 0 0 38

INCENDIO EM MATA OU FLORESTA 0 0 0 0 0 37

DANOS À FAUNA 6 17 5 2 0 0

CORTAR OU TRANFORMAR MADEIRA

EM CARVAO ILEGALMENTE 0 0 0 0 0 10 INVASÃO EM UNIDADE DE CONSERVAÇÃO 6 0 0 0 2 0 INCENDIO FLORESTAL 0 0 0 0 0 8 CAUSAR POLUICAO 0 3 4 0 1 0 DESMATAMENTO 0 0 0 0 3 0

DANO A VEGETACAO DE DUNAS OU

MANGUES 0 0 0 0 0 2

CRIME A FAUNA 0 0 0 0 1 0

EXTRACAO DE MINERAIS IRREGULAR

EM FLORESTAS 0 0 0 0 0 1

COM./USO DE MOTOSSERRA EM

FLORESTA, SEM LICENCA OU REG. 0 0 0 0 0 1

EXP. PARA O EXTERIOR DE PELES E

COUROS DE ANFIBIOS E REPTEIS 0 0 0 0 0 1

41 Gráfico 2 - Ocorrências Registradas no CIOPS de Crimes Contra o Meio Ambiente de 2008 a 2013 de acordo com a natureza do delito.

Fonte: CIOPS, 2013.

Conforme os dados disponibilizados pelo CIOPS, verifica-se que o crime de maior incidência foi o de queimada em vegetação e da análise das informações, 2009 foi ano com o maior índice de registro de crimes ambientais. Quanto aos crimes cometidos em Unidades de Conservação, observa-se que em 2008 foram registradas seis invasões e em 2012 este número caiu para dois registros.

Cabe ressaltar, analisando as informações fornecidas pelo CIOPS, que ao processar os dados estatísticos não foi feita a distinção e nem elencados quais são os crimes ambientais mencionados (Quadro 01). Assim, tais dados não fazem menção ao tipo de crime, se é contra a fauna, flora ou de poluição de qualquer natureza. Como se refere apenas às ocorrências registradas, por exclusão, aplica-se a todos os outros crimes ambientais não inseridos no referido quadro.

Documentos relacionados